Brasileirão Série A

Atlético está em péssima fase, mas de quem é a culpa pela bagunça?

Galo ainda não venceu sob o comando de Luiz Felipe Scolari e alguns pontos explicam a turbulência atual

O Atlético-MG atravessa seu pior momento na temporada, somando oito jogos sem vencer. São quase dois meses sem vitórias, e o volante Otávio apontou que os jogadores são os culpados pela fase negativa. Mas será que realmente são?

Luiz Felipe Scolari assumiu o comando do Galo há sete partidas e ainda não venceu no clube — quatro empate e três derrotas. A Trivela analisa os principais motivos para a atual turbulência.

– O principal culpado pelos resultados hoje são os atletas. Nós que temos que fazer as vitórias acontecerem. A gente se sente incomodado sim. Jogar no Galo e estar a oito jogos sem vencer não tem como não estar incomodado – disse Otávio.

Problemas ofensivos

É verdade que os jogadores não estão cumprindo seus papéis. São apenas seis gols nesses oito jogos sem vitórias, sendo que não tirou o zero do placar nos últimos três. Falta de finalização não é o motivo, já que o time tem uma média de 14,5 chutes por jogo, chutando mais a gol que a maioria dos adversários. Mas a falta de pontaria, sem dúvidas é, pois a média de chutes ao gol é de apenas quatro por jogo.

O atacante Paulinho, por exemplo, já ganhou fama na torcida por ser um jogador que perde muitas chances de gols. No Brasileirão, por exemplo, ele tem média de três chutes por jogo, sendo apenas um no gol. Ele marcou apenas três gols na competição, mesmo tendo uma expectativa de gols (xG) de 6.25, segundo dados do SofaScore.

Além disso, apesar de finalizar muito, o Atlético tem clara falta de criatividade. O time muitas vezes não consegue desenvolver jogadas para gerar grandes chances de gol. Na maior parte do tempo, o perigo é gerado por chutes de fora ou jogadas individuais. Nesse ponto, Felipão também tem uma boa parcela de culpa, já que é ele quem arma o time.

Problemas defensivos

Um problema defensivo que o Atlético tem desde o início da temporada é a bola na área, e com Felipão isso não mudou. Dos nove gols sofridos na sequência sem vitórias, seis foram nesse estilo. Ao todo, quase metade (16) dos gols sofridos (33) pelo alvinegro no ano são de bola na área.

Outro problema é que o Galo não consegue ser sólido defensivamente. O time muitas vezes deixa espaços para o adversário jogar e parece ter alguns apagões em alguns momentos. Além disso, enquanto o alvinegro parece que precisa escalar uma montanha para chegar a um gol, os adversários conseguem isso contra ele de forma mais fácil. Nos dois pontos, Felipão também tem parcela de culpa.

Mudança brusca de rota

Otávio pode até estar certo sobre os jogadores serem os culpados, mas a diretoria, sem dúvidas, também tem grande parcela nesse ponto. O Atlético começou o ano com Coudet e montou um time nos moldes do estilo de jogo do treinador. O clube se desfez de todos os seus pontas, por exemplo, já que o argentino usa formação com dois atacantes. Além de ter contratado jogadores a pedidos do treinador, como Patrick e Edenilson.

No entanto, essa mesma diretoria, não cumpriu promessas feitas a Coudet, como de reforçar o time e montar um bom elenco para disputar títulos, pelo contrário, vendeu peças importantes, como Nacho Fernandez e Allan, o que fez o treinador deixar o clube após alguns episódios.

Para o lugar de Coudet, a diretoria optou por Felipão pensando apenas no estilo “paizão” do experiente treinador, mas esqueceu que, em campo, as filosofias de jogo são completamente diferentes. Com isso, o Atlético praticamente está começando do zero no meio da temporada, com um treinador (que estava aposentado) tendo um elenco que não foi ele que montou e não tem todas as características que ele gosta.

Por “sorte”, Felipão encarou um mês inteiro com jogos apenas nos fins de semana, o que serviu para ele tentar implementar seu estilo de jogo. O Atlético foi muito mal em três dos últimos quatro jogos, mas mostrou uma pequena evolução no último, contra o Grêmio.

+ LEIA MAIS: O Atlético-MG piorou sob o comando de Felipão? Veja a comparação

Atlético vs VAR

Além da sequência ruim de atuações e resultados, o Atlético tem tido problemas também com a tecnologia do VAR. No primeiro e no último jogo da sequência ruim atual, o Galo poderia ter tido resultados diferentes se gols não fossem anulados.

No primeiro, contra o Bragantino, ainda com Coudet no comando, o Atlético marcou o gol da vitória aos 41 minutos do segundo tempo, mas o zagueiro Mauricio Lemos, que participou do início da jogada, foi pego em impedimento. Apesar de visualmente ele parecer em condição legal, as linhas do VAR mostraram uma boa diferença entre ele e o último defensor.

Impedimento de Maurício Lemos em Atlético-MG x Red Bull Bragantino
O impedimento que anulou o possível gol da vitória do Atlético contra o Bragantino (Reprodução/Premiere)

Já no último jogo, contra o Grêmio, uma grande polêmica. Alan Kardec marcou para o Galo também já na parte final da segunda etapa, mas teve o gol anulado por impedimento. Visualmente, o jogador parece na mesma linha, mas o VAR traçou as linhas e viu ele à frente. A diferença para o impedimento de Lemos é que não há espaço entre as linhas, ou seja, milímetros de distância fazem diferença e poderiam validar o gol. O Atlético acusa que a linha foi marcada erroneamente.

VAR analisa impedimento em Grêmio x Atlético-MG
O gol que daria o empate para o Atlético contra o Grêmio (Reprodução/Premiere)

Em explicação de Wilson Seneme, chefe de arbitragem, e Péricles Bassols, gerente técnico do VAR, sobre o lance no canal da CBF, eles mostram que a linha do defensor seria inicialmente marcada no calcanhar, mas foi marcada no glúteo, que estava mais a frente. Já a linha de Kardec foi marcada no ombro do jogador.

— Foi um trabalho muito bem feito. Todas as referências de solo e aéreas foram corretas. Não tem retoque no que foi feito – disse Bassols.

Gramado do Mineirão

Outra situação que atrapalha o Atlético nessa sequência é a condição do gramado do Mineirão. O estádio vem sofrendo inúmeras críticas desde o início do ano pelo estado ruim do campo, principalmente de jogadores de Galo e Cruzeiro, que atuam mais vezes por lá.

É claro que o gramado é ruim para os dois times, tanto para o Atlético quanto para o adversário, como já disseram os próprios jogadores. Mas é algo que definitivamente não ajuda o alvinegro a tentar praticar um bom futebol e consequentemente alcançar vitórias.

No próximo jogo, contra o Flamengo, no sábado (29), o Atlético jogará no Independência, já que o Mineirão estará recebendo um show (que vai desgastar ainda mais o gramado). Para Otávio, essa é uma notícia: “A gente sempre fala do Independência pela qualidade do gramado. A gente compara com o Mineirão, que não está nas condições favoráveis nesse momento”.

Os culpados pelo mal momento do Atlético

  • Diretoria: por planejar mal o ano, montar o time para um treinador, perdê-lo por não cumprir promessas e contratar um outro técnico que não tem nada a ver com o que saiu
  • Jogadores: pelo desempenho ruim nos jogos, com vários deles, que já demonstraram qualidade, fazendo partidas bem abaixo do esperado
  • Felipão: apesar de ter “caído de paraquedas” no Atlético, tem culpa pois teve quatro semanas para treinos e fez o time não evoluir quase nada, mantendo os antigos problemas
  • VAR: cumpre seu papel, mas precisa ser mais certeiro, para evitar discussões e polêmicas
  • Mineirão: entrega um dos piores gramados da elite no Brasil, fazendo com que se tenha jogos ruins em seu estádio
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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