Azarões Eternos

Relembramos 11 torneios internacionais amistosos entre seleções que marcaram época

Bastante populares especialmente na segunda metade do século 20, os torneios amistosos entre seleções rarearam nos últimos anos, principalmente em virtude do calendário cada vez mais apertado do futebol internacional. Entretanto, muitos destes triangulares ou quadrangulares, em geral comemorativos ou preparatórios para competições oficiais, promoveram duelos marcantes. Relembraremos 11 desses torneios aqui, num apanhado de seus melhores momentos.

Não foram incluídos aqueles cujas histórias já foram contadas aqui, como o doMundialito de 1981, conquistado pelo Uruguai, além da , disputada em duas edições e antecessora da Copa das Confederações. Nem a gigantesca Taça Independência (ou Minicopa) disputada no Brasil em junho e julho de 1972, que por seu tamanho merecerá um texto próprio para breve.

Taça das Nações (Brasil, 1964)

Ao celebrar seus 50 anos de fundação, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), antecessora da CBF, decidiu organizar um quadrangular em meados de 1964, para o qual convidou Argentina, Inglaterra e União Soviética, substituída mais tarde por Portugal. De novo treinada por Vicente Feola, após ter dado lugar de última hora a Aymoré Moreira na Copa de 1962, a Seleção Brasileira iniciava um processo de renovação e usou o torneio para testar novos nomes.

Na estreia, com os novatos Carlos Alberto Torres, Brito, Joel Camargo e Rinaldo, o time esmagou a Inglaterra no Maracanã por 5 a 1. Rinaldo abriu o placar, Jimmy Greaves empatou no começo da etapa final, mas o Brasil logo dispararia a goleada com mais um gol do ponteiro palmeirense e um de Pelé, Julinho e Roberto Dias. No dia seguinte, também no Rio, a Argentina bateria Portugal de Eusébio e Mário Coluna por 2 a 0, gols de Alfredo Rojas e Alberto Rendo.

A segunda rodada foi disputada no Pacaembu, onde a Albiceleste não tomou conhecimento da torcida e sapecou 3 a 0 na Seleção, que manteve o mesmo time. Ermindo Onega abriu o placar e Roberto Telch, que entrara no intervalo, anotou outros dois, com o goleiro Amadeo Carrizo defendendo um pênalti de Gerson. No outro jogo, a Inglaterra trocou de goleiro (saiu Tony Waiters, entrou Gordon Banks) e ficou no 1 a 1 com Portugal: marcaram Roger Hunt e Fernando Peres, meia que dez anos depois seria campeão brasileiro com o Vasco.

Para o terceiro jogo, de volta ao Maracanã, Feola mexeu no time e promoveu mais três estreias: a dos rubro-negros Carlinhos e Aírton e a do botafoguense Jairzinho, que entraram nos lugares de Roberto Dias, Vavá e Julinho, respectivamente. Com eles, o Brasil goleou Portugal por 4 a 1, com dois gols de Gerson, um de Pelé e um do futuro “Furacão”, com Coluna descontando. Mas a vitória não adiantou: na véspera, também no Rio, a Argentina batera a Inglaterra por 1 a 0, gol de Rojas em partida muito disputada, e garantira a taça.

Torneios preparatórios para a Copa de 1986 (México, 1985)

Preparando-se para receber pela segunda vez a Copa do Mundo em 1986, o México promoveu ao longo do ano anterior uma série de torneios amistosos como testes para o evento principal. O primeiro deles foi realizado em fevereiro, marcando a inauguração do estádio La Corregidora, de Querétaro. Contou com a participação de Polônia, Bulgária e Suíça, além dos anfitriões, e foi disputado no sistema de eliminatória dupla.

Na abertura, os mexicanos (sem Hugo Sánchez) golearam os poloneses (sem Boniek) por 5 a 0, enquanto os búlgaros bateram os suíços por 1 a 0. Já na segunda e última rodada, enquanto a seleção B do México era surpreendida pela Suíça, perdendo por 2 a 1, a Bulgária conquistava o título ao arrancar um empate em 2 a 2 com a Polônia, com todos os tentos marcados na etapa inicial. Das três convidadas, só a Suíça não voltaria para o Mundial.

Em junho, houve dois torneios triangulares emendados, inclusive com um jogo valendo para ambos: na Copa Cidade do México, os anfitriões receberam Inglaterra e Itália, que levou o caneco. Após empate em 1 a 1 entre mexicanos e italianos, ambos bateram os ingleses, mas a Azzurra por um gol marcado a mais (2 a 1 contra 1 a 0), faturando o título pelo critério de desempate.

A vitória mexicana sobre os ingleses em 9 de junho também abriu o torneio seguinte, o “Azteca 2000”. Três dias depois, a Inglaterra se recuperou vencendo bem a Alemanha Ocidental por 3 a 0, com dois gols de Kerry Dixon e um de Bryan Robson. Mas o título ficaria mesmo com os donos da casa, que também bateriam os germânicos, mas por 2 a 0, gols de Negrete e Lucho Flores.

O último dos torneios aconteceu apenas em dezembro, após os fortes terremotos ocorridos no país em setembro daquele ano. E serviu para reiterar a confiança na estrutura local, com as seis partidas do quadrangular realizadas cada uma em uma cidade-sede. A competição foi disputada por México, Hungria, Coreia do Sul e Argélia e também terminou em título para os anfitriões, que venceram as três partidas e bateram os húngaros, vice-campeões, por 2 a 0 na decisão.

Copa Stanley Rous (Inglaterra e Escócia, 1985-1989)

Com o fim do tradicional Campeonato Britânico, em 1984, a Football Association escocesa sugeriu a sua contraparte inglesa a criação de um novo torneio, com o objetivo de manter a realização anual do clássico mais antigo do futebol de seleções. Em suas duas primeiras edições, a Copa Stanley Rous (batizada em homenagem ao inglês ex-presidente da Fifa, que faleceria em 1986) se resumiu a um confronto entre os velhos rivais, com um título para cada lado.

Mas a partir de 1987, o torneio virou um triangular, com a presença de uma seleção convidada. E a primeira foi a brasileira, treinada por Carlos Alberto Silva e que excursionava pela Europa. Na abertura, empate em 1 a 1 entre Brasil e Inglaterra em Wembley. Os ingleses saíram na frente com gol de Gary Lineker após cruzamento de Peter Beardsley. Mas logo após o reinício, a Seleção empatou com Mirandinha – gol que lhe renderia uma transferência para o Newcastle.

No segundo jogo, o clássico britânico terminou num empate sem gols no Hampden Park. Diante disso, bastava ao Brasil vencer a Escócia no mesmo local para ficar com a taça. E ela veio com um 2 a 0, gols de Raí e Valdo. As duas outras edições, realizadas em 1988 e 1989, terminaram com título inglês. A primeira delas teve a Colômbia como convidada, e os ascendentes sul-americanos saíram invictos, com dois empates. Mas a vitória da Inglaterra por 1 a 0 sobre a Escócia em Wembley, gol de Beardsley, deixou o caneco em Londres.

Na derradeira, o convidado foi o Chile, que estreou surpreendendo ao segurar o 0 a 0 com os ingleses em Wembley. O time de Bobby Robson, no entanto, se recuperou batendo a rival Escócia por 2 a 0 em Glasgow, com Chris Waddle e Steve Bull marcando. E na última rodada, o Tartan Army acabaria dando uma mãozinha aos vizinhos, batendo os chilenos também por 2 a 0, com gols de Alan McInally e Murdo MacLeod.

Torneio Quadrangular de Berlim (Alemanha Ocidental, 1988)

Ao contrário do que aconteceu quando a Alemanha Ocidental sediou a Copa do Mundo em 1974, Berlim ficou de fora do grupo de cidades-sede da Eurocopa de 1988. Como uma espécie de compensação, a federação germânica organizou no fim de semana da Páscoa de 1988 um mini-torneio em sistema eliminatório chamado “Four Nations Cup”. A grande atração era a presença da campeã do mundo Argentina, que trouxe Diego Armando Maradona e apresentou aos europeus uma revelação no ataque chamada Claudio Caniggia.

Com a definição dos confrontos, a expectativa era a de que alemães e argentinos repetiriam na decisão a final da última Copa do Mundo, no México. Mas aconteceu tudo ao contrário: primeiro, os soviéticos atropelaram os sul-americanos, com El Pibe e tudo. Em 15 minutos, já venciam por 2 a 0, gols de Aleksandr Zavarov e Gennady Litovchenko. A Albiceleste descontou com Pedro Troglio, mas na segunda etapa Oleg Protasov voltou a ampliar. Maradona diminuiu mais uma vez, mas no fim, Protasov converteu pênalti para selar a vitória categórica.

Na outra semifinal, foi a vez da dona da casa decepcionar: abriu o placar com gol de falta de Klaus Allofs diante dos suecos, mas sofreu o empate com Peter Truedsson no segundo tempo. Sem prorrogação, o jogo foi direto para os pênaltis. Foi quando a zebra passeou: enquanto os suecos acertaram todas, Lothar Matthäus isolou sua cobrança e Rudi Völler parou no goleiro Jan Möller, que garantiu a surpreendente passagem dos escandinavos à final.

Dois dias depois, Alemanha Ocidental e Argentina enfim se enfrentaram, mas numa humilhante preliminar decidindo o terceiro lugar – que ficou com os germânicos graças à vitória por 1 a 0 em belo gol de Matthäus, puxando e concluindo um contragolpe. Já na final do pouco prestigiado (e hoje esquecido) torneio, a surpresa voltou a dar o tom: a Suécia bateu a União Soviética por 2 a 0, ambos os gols anotados na etapa final pelos atacantes Hans Eskilsson (em falha do grande Rinat Dasaev) e Hans Holmqvist (em cobrança de falta que desviou na barreira).

Torneio Bicentenário da Independência (Austrália, 1988)

Assim como os Estados Unidos, a Austrália promoveu um torneio de futebol para celebrar os 200 anos de sua independência, em julho de 1988, e convidou Brasil (que se preparava para os Jogos Olímpicos de Seul), Argentina (com uma seleção mesclando alguns campeões mundiais a novas apostas) e Arábia Saudita (treinada por Carlos Alberto Parreira) para um quadrangular no qual os dois primeiros colocados fariam uma final e os outros dois disputariam o terceiro lugar.

Na rodada de abertura, enquanto os argentinos tropeçavam empatando com os sauditas em 2 a 2, o Brasil batia os anfitriões com gol de Romário. Dois dias depois, os australianos se redimiam fazendo 3 a 0 na Arábia, enquanto os rivais sul-americanos não saíam do 0 a 0. Na última rodada, uma surpresa: enquanto os brasileiros passavam fácil pela seleção do Oriente Médio (4 a 1), a Argentina de Luis Islas, Oscar Ruggeri e Sergio Batista, mais os novatos Hernán Díaz e Diego Simeone era goleada pelo mesmo placar pelos donos da casa.

Na decisão do terceiro lugar, em 16 de julho, a Argentina bateu a Arábia Saudita por 2 a 0 em Canberra com gols de Simeone e Oscar Dertycia. E no dia seguinte, o Brasil de Carlos Alberto Silva contou novamente com um Romário inspirado para derrotar pelo mesmo placar os embalados australianos no Sydney Football Stadium: o Baixinho marcou o primeiro gol e fez a assistência para Müller anotar o segundo e fechar o placar e assegurar o caneco.

Torneio Centenário da Dansk Boldspil Union (Dinamarca, 1989)

Em mais uma competição comemorativa de data redonda, a federação dinamarquesa de futebol celebrou seu centenário de fundação organizando um triangular em junho de 1989 e convidando a rival Suécia e o Brasil de Sebastião Lazaroni. Depois de empatar seus dois primeiros jogos nas Eliminatórias para a Copa da Itália, a Dinamáquina vinha se recuperando, com direito a vitória arrasadora sobre a Grécia por 7 a 1, e se apresentou confiante.

Na abertura do triangular, a equipe de Sepp Piontek voltou a encantar como fizera na primeira fase da Copa do Mundo de 1986, humilhando a Suécia com estonteantes 6 a 0 (nada menos que sua maior goleada no clássico desde 1913), com Lars Elstrup (dois), Flemming Povlsen, Henrik Andersen, Jan Bartram e Michael Laudrup anotando os gols. Dois dias depois, os suecos se reabilitaram batendo os brasileiros por 2 a 1, tentos de Stefan Rehn e Roger Ljung, de pênalti, com o meia Cristóvão (Borges) descontando para a Seleção.

A derrota complicou os brasileiros, que precisariam vencer os donos da casa por quatro gols de diferença para abiscoitarem a taça. Mas o que aconteceu foi o oposto: com a Dinamáquina ainda em clima de festa, o veterano Morten Olsen abriu o placar cobrando pênalti e, na etapa final, Michael Laudrup (duas vezes) e Lars Olsen completaram o segundo massacre e mantiveram o troféu em Copenhague. Lazaroni, por sua vez, importaria uma ideia do país escandinavo para adotar na Seleção pelo resto de seu período no cargo: o líbero.

Torneio Scania 100 (Suécia, 1991)

Em outro torneio-teste para uma competição oficial (no caso, a Eurocopa de 1992), a federação da Suécia organizou em junho de 1991 um quadrangular em mata-mata reunindo Itália, União Soviética e sua rival Dinamarca. A competição, que teve cada um de seus jogos disputado numa cidade diferente, contou com o patrocínio da Scania, fabricante sueca de ônibus e caminhões, que completava então seu centenário de fundação – daí o nome.

Na abertura, em Malmö, a Itália bateu a Dinamarca por 2 a 0 na prorrogação (que se tornaria a tônica do torneio) com gols de Ruggiero Rizzitelli e Gianluca Vialli, depois de Peter Schmeichel ter feito milagres para evitar a derrota no tempo regulamentar. No dia seguinte, em Gotemburgo, a União Soviética surpreendeu a dona da casa, vencendo por 3 a 2 de virada e também no tempo extra. Nos 90 minutos houve empate em 1 a 1: Tomas Brolin abriu o placar para os suecos aos quatro minutos e Sergei Yuran empatou no segundo tempo.

Já na prorrogação, Dmitri Kuznetzov deixou os soviéticos em vantagem logo no início e Brolin tornou a empatar. Mas a três minutos do fim do tempo extra, o meia Igor Korneev deu a vitória à União Soviética. Na decisão do terceiro lugar, em Norrköping, os suecos descontaram sua decepção nos rivais dinamarqueses – enfraquecidos pela ausência temporária dos irmãos Laudrup, que haviam abandonado a seleção – e sapecaram um 4 a 0, com dois gols de Martin Dahlin, um de Kennet Andersson cobrando pênalti e outro de Tomas Brolin.

A final em Estocolmo também foi movimentada: logo aos dois minutos, Korneev acertou um chutaço de longe, indefensável, abrindo a contagem. No fim do primeiro tempo, a Itália empatou com um golaço: Vialli bateu falta com cavadinha para a área e Giuseppe Giannini emendou de primeira. No intervalo, o lesionado Walter Zenga foi substituído na meta italiana por Gianluca Pagliuca. O placar, no entanto, não foi alterado, e a decisão foi para os pênaltis.

Na primeira série de cobranças, Igor Shalimov acertou o travessão, enquanto Nicola Berti teve seu chute salvo por Stanislav Cherchesov. Após Dimitri Kuznetsov e Franco Baresi converterem, Pagliuca deteve o tiro rasteiro de Vasili Kulkov. Em seguida, Luigi De Agostini, Andrei Kanchelskis e Pietro Vierchowod também marcaram. E quando Aleksandr Mostovoi chutou sua cobrança para fora, o título ficou com os italianos, que nem precisaram bater o quinto pênalti.

Ironicamente, a conquista não seria suficiente para manter o técnico Azeglio Vicini no cargo. Em outubro, um empate sem gols com os mesmos soviéticos em Moscou pelas Eliminatórias da Eurocopa provocaria sua demissão e a chegada de Arrigo Sacchi. A Itália acabaria de fora do torneio europeu, eliminada justamente pelo rival batido em Estocolmo – que viria a disputar a Eurocopa já sob o nome de Comunidade dos Estados Independentes.

US Cup (Estados Unidos, 1992-2000)

Criada com o objetivo de popularizar o “soccer” nos Estados Unidos com vistas à Copa do Mundo a ser sediada no país em 1994 e também de experimentar a seleção nacional frente a adversários mais tarimbados, a US Cup teve ao todo sete edições – realizadas entre 1992 e 2000, com exceção dos dois anos de Mundial neste interim – e entregou algumas grandes partidas, além de uma certa dose de resultados surpreendentes.

A começar pela edição inaugural do quadrangular, vencida pelos anfitriões após baterem Irlanda (3 a 0) e Portugal (1 a 0) e empatarem em 1 a 1 com a Itália. A Azzurra, que empatou com os lusos (1 a 1) e derrotou os irlandeses (2 a 0), ficou com o segundo lugar, enquanto a Irlanda terminou em terceiro ao vencer os portugueses no último jogo (2 a 0). Mas a edição mais forte e mais memorável acabou sendo a próxima, disputada um ano antes da Copa no país.

Os convidados eram nada menos que Brasil, Alemanha e Inglaterra. E, apesar da tabela um tanto desconjuntada, foi uma edição de grandes jogos. Na abertura, dia 6 de junho, a Seleção de Carlos Alberto Parreira, que testava vários nomes que atuavam no futebol brasileiro, bateu os donos da casa por 2 a 0, gols de Careca e Luís Carlos Winck. Três dias depois, os norte-americanos voltavam a campo para repetir seu resultado histórico da Copa de 1950 e bater a Inglaterra, desta vez por 2 a 0, complicando ainda mais a posição do técnico inglês Graham Taylor.

No dia seguinte, 10 de junho, o RFK Stadium de Washington D.C. assistiu a um épico: o Brasil abriu foi para o intervalo vencendo a Alemanha por espantosos 3 a 0, com um gol contra de Thomas Helmer, outro de Careca batendo pênalti e um do volante Luisinho. Até que, na etapa final, os alemães começam a reagir: Jürgen Klinsmann aparece livre no meio da defesa e diminui. Aos 35, numa confusão geral na defesa brasileira, Andreas Möller desconta outra vez. No último minuto, após cobrança de lateral na área, Klinsmann consegue o empate improvável.

No dia 13, enquanto o Brasil empata em 1 a 1 com a Inglaterra em seu último jogo (David Platt marca para os ingleses e Márcio Santos empata para a Seleção), os alemães quase entregam o jogo para os Estados Unidos, mas vencem por 4 a 3 depois de terem estado com três gols de vantagem. E a decisão do torneio só sai seis dias depois, num jogo isolado em que a Alemanha bate a eliminada Inglaterra por 2 a 1 e enterra as chances brasileiras: Stefan Effenberg abre o placar, Platt empata, mas o artilheiro Klinsmann faz o gol da vitória e do título.

Os Estados Unidos voltariam a vencer o torneio em 1995, superando Colômbia, México e Nigéria, antes de um tricampeonato dos astecas em 1996/97/99. Mas o nível técnico já estava em declínio (na edição do tri mexicano, as outras duas seleções convidadas foram Guatemala e Bolívia). Na derradeira, em 2000, os donos da casa voltaram a triunfar, enfrentando México, Irlanda e África do Sul. Houve ainda uma versão feminina do torneio, disputada entre 1995 e 2002 e que sempre terminou em título para o Team USA.

Copa Umbro (Inglaterra, 1995)

Considerada de modo equivocado uma edição da Copa Stanley Rous por alguns meios de comunicação quando de sua realização, a Copa Umbro também foi um torneio-teste, agora para a Eurocopa de 1996, a ser realizada na Inglaterra, e que levou o nome do fornecedor de material esportivo da seleção inglesa. O Brasil, campeão mundial e que também vestia a marca, foi um dos convidados, juntamente com a Suécia e o Japão.

Na abertura, a Inglaterra de Terry Venables sofreu para vencer o Japão em Wembley: Darren Anderton abriu o placar no começo do segundo tempo, Masami Ihara empatou, e só um pênalti convertido por David Platt a dois minutos do fim tirou os ingleses do sufoco. No dia seguinte, no Villa Park, em Birmingham, o Brasil também teve dificuldades, mas venceu a Suécia por 1 a 0, gol de Edmundo. Os dois favoritos largavam na frente.

Dois dias depois, o Brasil voltou a campo e venceu fácil o Japão por 3 a 0 no Goodison Park, em Liverpool. Roberto Carlos marcou o primeiro e Zinho fez os outros dois. No dia seguinte, um jogaço em Elland Road, na primeira partida da Inglaterra como mandante fora de Wembley em quase 30 anos. A Suécia abriu 2 a 0 com gols do meia Hakan Mild no primeiro tempo. Os ingleses descontaram pouco antes do intervalo com Teddy Sheringham, mas logo os suecos outra vez ampliaram no primeiro minuto da etapa final com Kennet Andersson.

Depois de pressionarem por todo o segundo tempo, os donos da casa acabaram conseguindo a reação de modo dramático, antecipando os minutos finais frenéticos que se tornariam comuns na Premier League: aos 44, Paul Gascoigne cobrou falta da lateral da área e o capitão David Platt cabeceou para descontar. Dois minutos depois, após lançamento, Alan Shearer recebeu passe de cabeça e aparou para a chegada de Darren Anderton. O meia deixou a bola quicar e acertou um chutaço, que bateu nas duas traves de Thomas Ravelli antes de entrar. Era o empate.

Na última rodada, depois que Suécia e Japão empataram em 2 a 2 no City Ground de Nottingham, Brasil e Inglaterra decidiram o título em Wembley, e os donos da casa foram para o intervalo em vantagem, com um golaço de fora da área do lateral Graeme Le Saux. Na etapa final, porém, veio a virada brasileira, iniciada com gol de falta de Juninho Paulista – que dentro de alguns meses se transferiria para a Premier League onde faria história no Middlesbrough.

Sete minutos depois, o jovem Ronaldo seria lançado nas costas da defesa inglesa antes de driblar o goleiro Tim Flowers tocar para as redes, colocando o Brasil em vantagem. E aos 32 minutos, chegaria o terceiro gol, selando a conquista: Roberto Carlos faria o lançamento, Stuart Pearce não conseguiria cortar e Edmundo pegaria a sobra, avançando até a área e tocando por entre as pernas de Flowers para fechar o placar em 3 a 1.


Troféu Rei Hassan II (Marrocos, 1996-2000)

Disputado em Casablanca, o troféu que levava o nome do antigo monarca do Marrocos (no trono de 1961 até seu falecimento em julho de 1999) teve três edições bianuais no fim dos anos 1990. A primeira delas foi disputada em dezembro de 1996, em mata-mata simples: nas semifinais, a Croácia eliminou os donos da casa nos pênaltis após empate em 2 a 2, enquanto a República Tcheca, vice-campeã europeia, bateu a Nigéria por 2 a 1.

No duelo africano que valeu o terceiro lugar, os marroquinos superaram os nigerianos por 2 a 0. E na final, os tchecos saíram na frente dos croatas com Radek Drulak, mas os balcânicos igualaram com Nenad Pralija e venceram nos pênaltis por 4 a 1. A segunda edição, a mais lembrada de todas, viria em 1998, duas semanas antes da Copa do Mundo da França, e disputada em eliminatória dupla, com pontos atribuídos inclusive para as decisões nos pênaltis.

Na abertura, em 27 de maio, Michael Owen fez o gol da Inglaterra sobre o Marrocos e Zinedine Zidane deu à vitória à França sobre a Bélgica. Dois dias depois, a preliminar entre ingleses e belgas terminou sem gols e foi para os pênaltis. Na quinta e última cobrança, o herói dos Diabos Vermelhos foi o goleiro Philippe Vande Walle, que se apresentou para bater, converteu seu chute e, em seguida, defendeu o de Les Ferdinand (que ainda tocou na trave).

No jogo de fundo, os franceses estiveram duas vezes atrás no marcador diante dos marroquinos, com dois gols de Salaheddine Bassir. Mas por duas vezes foram buscar o empate, primeiro com Laurent Blanc e depois com Youri Djorkaeff. Nos pênaltis, os donos da casa venceram por 6 a 5, mas o troféu ficou com os Bleus, que superaram a Inglaterra no número de gols marcados. Aos marroquinos, restou o orgulho da grande atuação contra os futuros campeões mundiais.

A última edição aconteceu em junho de 2000, pouco antes da Eurocopa daquele ano, e se mostrou um verdadeiro pé de coelho para os franceses, que, como em 1998, conquistaram tanto o torneio amistoso quanto a competição principal que se seguiu. Em Casablanca, porém, tiveram de bater o Japão nos pênaltis, de novo após ficarem duas vezes atrás no placar em uma das semifinais. Na outra, o Marrocos derrotou a Jamaica por 1 a 0.

Na decisão do terceiro lugar, os nipônicos golearam os Reggae Boyz por 4 a 0, com dois gols de Shoji Jo, um de Atsuhiro Miura e outro de Kazu Miura, ficando em terceiro. Os Bleus levaram a taça também com goleada: 5 a 1 no Marrocos, gols de Thierry Henry, Youri Djorkaeff, Christophe Dugarry, Nicolas Anelka e Sylvain Wiltord. Nourredine Naybet descontou.

Tournoi de France (França, 1997)

Finalizamos com outro torneio de aquecimento para uma grande competição, no caso a Copa do Mundo de 1998, e talvez o mais lembrado da lista. Não à toa, já que se tratou de um dos mais fortes tecnicamente. Os Bleus receberam Brasil, Itália e Inglaterra para duelos épicos no Parque dos Príncipes e nos renovados estádios de Lyon, Nantes e Montpellier.

E a competição já começou à toda, com o golaço de falta de Roberto Carlos no empate em 1 a 1 entre a Seleção Brasileira e os donos da casa, que igualaram a contagem com Marc Keller. No outro jogo da rodada de abertura, em Nantes, a Inglaterra bateu a Itália por 2 a 0 com dois gols na etapa inicial: Paul Scholes fez lindo lançamento para Ian Wright abrir o placar e, logo depois, o atacante retribuiu com a assistência para o meia marcar o segundo.

O jogo da segunda rodada entre Brasil e Itália em Lyon – o primeiro reencontro entre os dois finalistas da Copa anterior – foi um capítulo à parte: a Azzurra abriu 2 a 0 com uma cabeçada de Alessandro Del Piero e uma cobrança de falta de Demetrio Albertini que desviou em Aldair. O Brasil descontou num chute de Roberto Carlos que também desviou em Attilio Lombardo, antes de a Itália anotar o terceiro, com Del Piero cobrando pênalti.

Quando a derrota brasileira já parecia certa, veio a reação na segunda metade da etapa final, com Ronaldo se livrando da marcação para diminuir aos 27 minutos e Romário, driblando o goleiro Gianluca Pagliuca, para empatar as 39. O empate, porém, acabou eliminando as duas seleções e entregando o troféu de bandeja para a Inglaterra, que na véspera vencera a França por 1 a 0 em Montpellier, quando Fabien Barthez soltou um cruzamento nos pés de Alan Shearer.

Na última rodada, em dois jogos protocolares no Parque dos Príncipes, o Brasil venceu a campeã Inglaterra por 1 a 0, gol de Romário, enquanto no dia seguinte a França, após estar duas vezes na frente com Zinedine Zidane e Youri Djorkaeff, cedeu o empate à Itália primeiro com Pierluigi Casiraghi e depois com Alesandro Del Piero cobrando pênalti.

Foto de Emmanuel do Valle

Emmanuel do Valle

Além de colaborações periódicas, quinzenalmente o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas.
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