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Tigres e River Plate prometem uma final de Libertadores para exaltar o futebol ofensivo

A Libertadores é um torneio de máximas. Algumas delas realmente verdadeiras; outras, nem tanto. Por exemplo, quando se diz que um campeão se faz a partir de um jogo viril, de muita rispidez na defesa. Acontece (ou melhor, acontecia muito no passado), mas não é regra, como a final de 2015 está aí para provar. River Plate e Tigres são times de muita entrega, só que de um jeito diferente do que muitos gostam de pregar na cartilha clássica sul-americana. E a maior prova disso está na forma como ambos os times se portam em campo. Nada de retrancas: argentinos e mexicanos possuem grande vocação ofensiva, buscando sempre o ataque. O que aumenta as expectativas para duas grandes partidas na decisão: de adversários que se encarem e partam para cima um do outro, como pugilistas de guarda baixa.

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Os ideais ofensivos de River e Tigres, aliás, vão em caminhos diametralmente oposto ao que San Lorenzo e Nacional propunham há um ano. Enquanto os cuervos acabaram com a taça graças ao futebol pragmático e de poucos gols, os tricolores fizeram sua campanha muito além das expectativas voltados à solidez na defesa e à disciplina tática. No caminho até a decisão, juntos, os finalistas anotaram 28 gols – e isso porque o Ciclón resolveu enfiar 5 a 0 no primeiro jogo da semifinal contra o Bolívar. Desta vez, millonarios e felinos já contabilizam 40 bolas nas redes. E que se pese a péssima primeira fase do River, além do jogo pela metade contra o Boca Juniors nas oitavas de final.

Durante a fase de grupos, o Tigres contou com o segundo melhor ataque. Sinal evidente da postura do time de Tuca Ferretti, que costuma se impor no ataque trabalhando bem a bola, ainda que nem sempre com a mesma intensidade para finalizar. Desde o início da campanha, Rafael Sóbis aparece entre os melhores jogadores da Libertadores. O brasileiro tem chamado a responsabiilidade, sobretudo na hora de armar o jogo para os seus companheiros balançarem as redes. E passou a contar com companhias ainda melhores a partir das semifinais.

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Os próprios reforços do Tigres evidenciam a mentalidade voltada ao ataque. Os três principais nomes que desembarcaram no Estádio Universitário se encaixaram na linha de frente. André-Pierre Gignac tornou-se a grande referência na frente, se combinando bem com os companheiros e se movimentando para abrir espaços. Já pelas pontas, Javier Aquino (ausente do primeiro jogo da final, por problemas físicos) e Jürgen Damm oferecem muita velocidade para as jogadas rumo à linha de fundo. Mesmo Egídio Arévalo Ríos, jogador mais famoso pelo combate defensivo, tem ganhado muita liberdade para aparecer como elemento surpresa – e, não à toa, já soma três gols na competição.

A prova maior da força do ataque do Tigres veio contra o Internacional. Os mexicanos atropelaram no segundo jogo, quando a diferença de gols só não foi mais alta porque Alisson evitou o pior aos colorados. Os felinos atuaram em ritmo fortíssimo, aproveitando muito bem a movimentação de seus homens de frente com as brechas nas laterais coloradas. Além disso, os mexicanos ainda tem grande capacidade para decidir nas bolas paradas – assim, fizeram gols fundamentais contra Emelec e Inter.

O River Plate, por sua vez, segue a filosofia de Marcelo Gallardo. O ex-meia preza pela qualidade de jogo que apresentava em campo quando atuava, deixando sua equipe com o peito aberto para atacar. Os millonarios têm os seus predicados da defesa e não são daqueles que se postam no ataque com muita posse de bola. Contudo, a pressão alta na marcação e a verticalidade nas ações marcam o estilo do time. Especialmente pela maneira como os jogadores atacam em número. Não à toa, é o clube que mais finaliza nesta Libertadores.

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Ajuda bastante a mobilidade que o River tem em sua linha de frente. Rodrigo Mora não é um homem de referência fixo e se combina muito bem com Lucas Alario. O garoto, aliás, é uma grata surpresa pela forma como vem rendendo de imediato, logo após ser contratado e colocado na fogueira de substituir Teo Gutiérrez. Além disso, o meio-campo é bastante versátil. Possui jogadores voluntariosos no trabalho defensivo, mas que também aparecem muito no apoio. Neste sentido, quem mais se sobressai é Carlos Sánchez, que está suspenso para o primeiro duelo da final. O uruguaio possui uma capacidade física enorme e surge bem na área para ajudar nos arremates e na criação.

Contra o Guaraní, sobretudo, o River Plate praticamente só atacou. Mesmo quando tinha a vantagem do empate e jogava fora de casa, colocou os paraguaios contra a parede, o que explica a classificação relativamente tranquila contra um adversário que se defende muito bem. Mesmo vigor que já tinha sido visto, com diferentes níveis, diante de Cruzeiro e Boca Juniors nas fases anteriores. E também na Copa Sul-Americana de 2014, conquistada pelos millonarios de maneira irrefutável.

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Conhecidos entre si desde a fase de grupos, Tigres e River fizeram dois duelos abertos. Após o empate por 1 a 1 no Monumental de Núñez, o Estádio Universitário recebeu uma partida de alto nível, com os argentinos buscando o empate no final para manterem vivas as suas esperanças – o que só se concretizou graças aos 5 a 4 dos mexicanos contra o Juan Aurich. Velhos conhecidos, mas nem tanto, já que também se reforçaram muito bem durante a pausa para a Copa América. Enquanto os felinos torraram uma boa grana, os millonarios mesclaram apostas e medalhões, além de terem crescido na competição.

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E, agora sim, como mandam as tais máximas da Libertadores, ambos os confrontos decisivos devem contar com festas imensas nas arquibancadas. A expectativa é de quase 110 mil pessoas, entre o clima efervescente do El Vulcán em Nuevo León e a gigantesca vibração do Monumental de Núñez. Ambientes ideais para que os times honrem dentro de campo, atuando de maneira aberta e ofensiva. Por mais que uma final quase sempre peça cautela, isso não parece ser do feitio de Tigres e River Plate. O que só enfatiza as chances de uma decisão de alto nível – e, se possível, com muitos gols.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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