América do Sul

Marcelo Moreno, no adeus à seleção: ‘Saí ovacionado pelo Centenario, foi incrível’

Marcelo Moreno recebeu belíssimas homenagens em sua despedida da seleção boliviana, tanto em La Paz quanto em Montevidéu

As duas últimas partidas da Bolívia foram bastante emotivas. La Verde se despedia de Marcelo Moreno, que anunciara sua aposentadoria da seleção nesta Data Fifa. O centroavante é um jogador muito representativo para a equipe nacional, como recordista em partidas (108) e em gols (31). Com quatro participações em Copas América, Moreno pode ser considerado o maior nome do futebol boliviano desde a geração que disputou o Mundial de 1994. Assim, a reverência seria constante em suas duas últimas aparições – em casa, na vitória por 2 a 0 sobre o Peru no Hernando Siles, e mesmo fora, na derrota por 3 a 0 para o Uruguai no Centenário. Aos 36 anos, o medalhão seguirá seu trabalho por clubes, com contrato com o Independiente del Valle até dezembro.

Os tributos em La Paz foram constantes na última quinta-feira. Marcelo Moreno foi bastante festejado pelos torcedores e também pelos companheiros, inclusive ao usar uma camisa autografada pelos colegas. Emocionou-se no hino nacional e pôde comemorar a última vitória, inclusive com assistência para o primeiro gol nos 2 a 0 contra os peruanos. Já no Centenário, o tributo se ampliou. O momento em que Moreno foi substituído rendeu uma bela homenagem. O atacante abraçou praticamente todos os companheiros e passou a braçadeira de capitão. Chorava copiosamente em sua caminhada ao banco de reservas.

“Não tenho como não me emocionar em um momento tão lindo. Saí ovacionado pelo Estádio Centenário. O respeito que tiveram comigo foi incrível. Levarei isso no meu coração”, comentou Marcelo Moreno. “Penso sobre os 16 anos de seleção, sobre saber que deixei tudo em campo. Literalmente, deixei tudo pela minha seleção e pelo meu país. Tenho muito orgulho de poder representar a Bolívia, de representar os meus companheiros”.

Marcelo Moreno ainda deu uma assistência contra o Peru, mas não conseguiu balançar as redes pela última vez com a seleção boliviana. Apesar disso, o veterano preferiu valorizar o momento: “Às vezes você não tem oportunidade de marcar os gols. Hoje, não foi possível. Fazer os gols sempre foi resultado de muito sacrifício, de jogadas preparadas. Assim, fico orgulhoso de poder ter feito tantos gols ao longo da minha trajetória”.

Bielsa também exalta Moreno

A reverência a Marcelo Moreno se refletiu entre os grandes nomes da seleção do Uruguai. O centroavante cumprimentou diversos jogadores em campo antes de ser substituído, inclusive adversários. Deu um longo abraço em Luis Suárez, seu constante concorrente nas artilharias sul-americanas. Quem também prestou tributo ao boliviano foi Marcelo Bielsa, treinador do Uruguai e uma referência no continente. O argentino ofereceu palavras de grande respeito ao matador.

“Particularmente, eu vivo esse momento como uma grande perda, porque sempre tive contato com o futebol sul-americano. Moreno era uma referência na Bolívia. O tempo passa. Moreno foi emblemático não só para a Bolívia, mas para todo o futebol da América do Sul”, salientou Bielsa.

Chances de voltar atrás?

Enquanto isso, a Bolívia ainda tem esperanças de convencer Marcelo Moreno a mudar de ideia no futuro. Fernando Costas, presidente da Federação Boliviana de Futebol, disse que “tentaria persuadir Marcelo, porque La Verde precisa dele”. Companheiros como Ramiro Vaca e Roberto Fernández também conversaram com o atacante, assim como o técnico Antônio Carlos Zago. O próprio Moreno também indicou, após a vitória sobre o Peru, que poderia repensar o caso após uma conversa com dirigentes locais.

“Vamos ter uma conversa com o presidente da federação no Uruguai e veremos o que se passa. Fiquei muito emocionado por minha última partida no Hernando Siles. Desde que pisei em campo foi uma emoção linda. Não tenho palavras para descrever tudo o que senti. Eu me sinto orgulhoso de ter defendido esta camisa com garra, amor e sacrifício”, declarou Moreno, na última semana. “Sempre vale a pena vestir a camisa da seleção e da pátria. Não me arrependo de nada, porque fiz isso com amor, deixei tudo em campo e sempre tentei fazer da melhor maneira. Vou com a cabeça erguida”.

Durante os compromissos da Bolívia nesta Data Fifa, Marcelo Moreno foi substituído por Jair Reinoso. O novo centroavante disputou suas duas primeiras partidas por La Verde, mas, curiosamente, é mais velho que o antigo artilheiro. Aos 38 anos, Reinoso nasceu na Colômbia e rodou por diferentes clubes bolivianos durante os últimos 15 anos. Teve maior sucesso por San José de Oruro e Strongest, enquanto continua acumulando seus gols na atual temporada pelo Aurora. Com cidadania boliviana desde 2017, aceitou o chamado para encorpar o elenco de Antônio Carlos Zago. Ao que tudo indica, deve tomar a posição nos próximos compromissos da Bolívia.

A história de Moreno na seleção

Embora tenha atuado pelas seleções de base do Brasil, por ter pai brasileiro, Marcelo Moreno optou no nível adulto pela Bolívia, seu país de nascimento. Estreou em setembro de 2007, pelas mãos do técnico (e antigo ídolo da seleção) Erwin Sánchez. Logo passou a acumular seus gols pelas Eliminatórias da Copa de 2010, presente na marcante destruição da Argentina por 6 a 1 em La Paz. Moreno fez o seu, o primeiro da equipe, e deu uma assistência. Naquela edição do qualificatório, também balançou as redes no triunfo por 2 a 1 sobre o Brasil no Hernando Siles. A partir de então, o atacante de sucesso no futebol brasileiro virou uma constante em La Verde.

Moreno teria outro momento especial na Copa América de 2015, quando a Bolívia fez bom papel. O atacante liderou a vitória sobre o Equador na fase de grupos, a primeira do país no torneio desde 1997, e marcou o seu na eliminação diante do Peru nas quartas de final. Já nas Eliminatórias da Copa de 2022, Moreno alimentou o sonho dos bolivianos de voltarem a um Mundial depois de quase três décadas. Apesar da queda de rendimento de seu time na reta final, o veterano anotou dez gols e foi o artilheiro geral do certame. Foi durante a campanha que superou Joaquín Botero como maior artilheiro da história de La Verde. Com 22 gols por Eliminatórias, Moreno é o terceiro maior goleador da história da competição na América do Sul.

Já o último dos 31 tentos de Marcelo Moreno pela Bolívia ocorreu em março de 2023, numa vitória sobre a Arábia Saudita. Aquele amistoso marcou seu centésimo jogo pela seleção, logo ultrapassando Ronald Raldes como recordista de La Verde no quesito. Marcelo Moreno seguia como figura onipresente neste início das Eliminatórias, mas sem a efetividade de outros tempos, com dificuldades em meio ao time enfraquecido dos bolivianos. Saiu de cena sem muitas esperanças de que o país possa voltar à Copa do Mundo de 2026, mas com cenas que relembraram como o artilheiro foi gigante para a Bolívia.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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