Palmeiras bancou crias e titulares, mas ficou sem reservas para mudar jogos
Abel Ferreira tem garotos de muito talento, mas que a comissão do Palmeiras ainda avalia como crus para jogos importantes
O banco de reservas do Palmeiras em La Bombonera, na última quinta-feira, no jogo contra o Boca Juniors, tinha 12 jogadores. Destes, seis eram atletas formados na base do clube, promovidos definitivamente na atual temporada: Vanderlan, Fabinho, Jhon Jhon, Endrick, Kevin e Luis Guilherme.
Exceto por Endrick, que começou jogando até mesmo finais de campeonatos – Supercopa e Paulistão desta temporada -, nenhum deles passou perto de ser titular com Abel Ferreira.
Tal fato não é culpa dos jogadores, mas escancara uma questão: a decisão de apostar nas categorias de base para formação do elenco deve passar mais pelo perfil dos atletas do que por questões ideológicas.
E na hora em que o Palmeiras mais precisa ter opções para mudar rumo de partidas e substituir peças em momentos cruciais, ficou sem reservas de peso.
Turma de 2020 estava pronta
Quando Abel chegou ao Palmeiras, em novembro de 2020, pegou um elenco em transição da filosofia comandada pelo ex-diretor Alexandre Mattos para o modelo anunciado na data de sua demissão do clube: o Palmeiras passaria a aproveitar mais os atletas de sua base, em vez de negociá-los, muitas vezes sem nem entrar em campo como profissionais, a fim de fazer caixas para contratações.
Deu certo. Com uma safra que tinha nomes como Renan, Danilo, Gabriel Menino, Patrick de Paula, Wesley e Gabriel Veron, a base vitoriosa do Alviverde fez a transição para o profissional como protagonista em 2020 e na temporada seguinte, quando o clube conquistou nada menos que duas Copas Libertadores.
Em 2022, parte desse grupo de garotos perdeu um pouco de espaço, mas uma parte seguiu com a confiança de Abel.
Danilo seguiu titular absoluto. Veron era titular com frequência quando foi negociado com o Porto. Menino era utilizado com certa frequência, bem como Wesley. Enquanto Renan, que seria posteriormente desligado por envolvimento em um acidente, e Patrick de Paula foram negociados.
Turma de 2022 encontrou mais dificuldades
Os promovidos em 2022, Endrick, Giovani, Gabriel Silva e Naves, já não tiveram o mesmo espaço encontrado por seus antecessores – exceto pelo atacante que seria negociado ao Real Madrid, a partir de outubro.
E a safra de 2023 chegou à última quinta-feira como opção de elenco, mas sem colocar em risco a posição dos titulares absolutos.
Maturidade e postura no mercado
O Palmeiras vive hoje um terceiro estágio em relação ao uso da base. Que foi do pensamento negociador dos “Anos Mattos” para a fase de máximo aproveitamento em campo das Crias da Academia, até chegar no que acontece hoje.
No momento, o Palmeiras tem como meta manter seus titulares tanto quanto possível. Do time campeão brasileiro de 2022, Danilo e Scarpa só foram negociados porque assim desejaram, acima de tudo.
O Palmeiras tampouco está focado em fazer caixa com suas revelações. Quem tem desejo e mercado, sai com propostas. Caso de Giovani, por exemplo – além de Endrick, ponto fora da curva.
Os demais emprestados, como Pedro Lima, mais recentemente, estão deixando o clube para adquirir rodagem. E não para gerar recursos para contratações e manutenção de atletas mais experientes, necessariamente.
Só que a safra atual do Palmeiras é talentosa, mas ainda não está madura para desbancar medalhões e assumir o time, aos olhos da comissão técnica.
E desse modo, a conclusão a que se chega é que entre manter o máximo possível de atletas titulares e aproveitar a base, faltou um terceiro elo: ter mais jogadores no meio do caminho como reservas que acrescentam ao time.
Abel tem hoje um “onze” de primeira linha e garotos de muito talento que evoluem pouco a pouco e um grupo de reservas confiáveis, como Lomba, Luan e Breno Lopes – mais rodados, mas que não entram no time para mudar o rumo de um jogo.
A frase de Abel Ferreira durante a entrevista coletiva após a derrota para o Bragantino no domingo resume a questão:
“Acho que qualquer dia vou ser acusado por trabalho forçado de crianças, porque eles não são maiores de idade e serei acusado por colocar moleques para trabalhar sem idade”