Libertadores

Surgida para burlar proibição, ‘Ruas de Fogo’ do Internacional terá edição histórica contra o Fluminense

13 anos após surgir devido à proibição de sinalizadores no estádio, "Ruas de Fogo" do Internacional terá proporção recorde no jogo contra o Fluminense, pela semifinal da Libertadores

Virou tradição. Antes de partidas decisivas no Beira-Rio, a chegada do ônibus do Internacional é acompanhada por festa absurda da torcida colorada, que, com sinalizadores vermelhos, transforma os arredores do estádio no palco de espetáculo visual. A cena será vista, em proporção recorde, na noite desta quarta-feira (4), antes do jogo de volta da semifinal da Libertadores, contra o Fluminense.

Surgimento a partir de proibição

As famosas ‘Ruas de Fogo' da torcida do Internacional surgiram há 13 anos, a partir da proibição do porte e uso de fogos e sinalizadores nos estádios brasileiros, conforme a Lei nº 12.999, de 27 de julho de 2010, do Estatuto do Torcedor.

— Quando começou a proibição dos fogos dentro do estádio, a torcida do Inter, de forma pioneira, levou a festa de dentro para fora, para os jogadores sentirem aquele clima que eles sentiam no recebimento dentro do estádio. O Inter é precursor nessa festa. Tanto que várias torcidas tentaram fazer igual, e não conseguiram. Foi uma forma criativa de burlar a proibição — recorda Max Peixoto, fotógrafo e torcedor colorado.

As vaquinhas de Max Peixoto

Desde o ano passado, Max é responsável por organizar vaquinhas que possibilitam a realização das “Ruas de Fogo”. Depois de ficar adormecida por conta da pandemia da Covid-19, a festa foi retomada em 2022, no jogo de volta das oitavas de final da Copa Sul-Americana, contra o Colo-Colo. Na ocasião, após derrota por 2 a 0 no Chile, o Inter conseguiu remontada ao golear por 4 a 1.

— Em 2022 eu já estava com apelo bem legal com a torcida, e muita gente de fora, que não vem ao Beira-Rio, queria participar de alguma maneira. Muitos seguidores começaram a dar a ideia de vaquinha, para o pessoal se sentir representado — conta Max.

Em sua conta no Twitter, que tem mais de 45 mil seguidores, além dos 108 mil no Instagram, o fotógrafo traz todas informações sobre as vaquinhas, inclusive com prestação de contas. Também detalha a preparação para o espetáculo, com instruções para a torcida.

— Eu sou praticamente um elo dessas pessoas que querem ajudar de alguma maneira a fazer a festa acontecer, mas não sabem como, às vezes não podem frequentar o estádio. Não sou o criador das ‘Ruas de Fogo', mas talvez sou o cara que está dando uma potencializada na festa — argumenta Max.

Preparação para o jogo contra o Fluminense

A preparação para a festa antes do jogo contra o Fluminense começou há um mês, desde que a CONMEBOL confirmou o horário das 21h30min para a partida de volta da semifinal da Libertadores. Diferentemente do confronto das quartas de final, contra o Bolívar, que aconteceu às 19h e impediu a realização das ‘Ruas de Fogo'.

— A gente presta muita atenção no horário, para ser à noite. Não adianta fazer Ruas de Fogo às 17h, quando o ônibus chega para um jogo às 19h. Quando confirmou o horário das 21h30min, começamos a fazer a vaquinha, já entramos em contato com os órgãos públicos, porque é muito importante trabalhar em parceria, para tudo sair com segurança — explica Max.

A EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), que fiscaliza e regula o trânsito em Porto Alegre, solicitou, nas últimas partidas, a mudança do local da festa. Inicialmente, ela acontecia na Avenida Padre Cacique, e foi transferida para a Rua Nestor Ludwig. Porém, contra o Fluminense, voltará a ser na famosa avenida, que permite maior fluxo de pessoas.

Afinal, a promessa é de que esta seja a maior ‘Ruas de Fogo' de todos os tempos. R$ 61.036,20 foram arrecadados em vaquinha. Com este dinheiro, foram comprados 876 sinalizadores grandes, além de foguetes, fumaças, entre outros.

Doação para afetados por ciclone, e festa no Rio

Como o objetivo era arrecadar R$ 50 mil, R$ 11 mil foram utilizados para auxiliar as vítimas do ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul no início de setembro. Com ajuda da Guarda Popular, principal torcida organizada do Inter, foram doadas 100 cestas básicas de alimentos, 100 kits higiene/limpeza e 100 cobertores.

Parte dos sinalizadores já foram usados no Rio de Janeiro, na chegada da delegação para o jogo de ida, na semana passada. Mais de 200 colorados transportaram as Ruas de Fogo da Padre Cacique para a beira-mar de Copacabana, onde o Inter ficou hospedado.

Motivação para os jogadores do Internacional

No jogo de volta, além do espetáculo nos arredores do Beira-Rio, está sendo preparado outro dentro dele, onde estarão 50 mil torcedores. R$15 mil reais da vaquinha foram destinados à festa nas arquibancadas, que deverá contar com um mosaico, mantido em sigilo.

Apoio não faltará aos jogadores do Inter. E eles reconhecem que a torcida pode fazer a diferença.

— Sem dúvida é um jogador a mais. Torcida, fator casa. Ainda mais aqui dentro. É muito bom para a gente, nos sentimos muito motivados. Também temos a responsabilidade de dar o máximo dentro de campo. Conto com a presença de todos, que dedicação e raça não vão faltar para ir em busca da classificação — destacou o zagueiro Vitão em entrevista antes do jogo.

Foto de Nícolas Wagner

Nícolas WagnerSetorista

Gaúcho, formado em jornalismo pela PUC-RS e especializado em análise de desempenho e mercado pelo Futebol Interativo. Antes da Trivela, passou pela Rádio Grenal e pela RDC TV. Também é coordenador de conteúdo da Rádio Índio Capilé.
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