O peso de 22 anos sem taças nas costas de Messi, Higuaín e Tata Martino
Seis finais, seis vice-campeonatos. O retrospecto da Argentina é tenebroso desde 1993, quando desfrutou de sua última conquista com a seleção principal. As duas derrotas em Copa das Confederações nem seriam tão doloridas, não fosse a forma como caiu diante do Brasil em 2005. A maior veio na Copa do Mundo de 2014, dentro do Maracanã. E a chance de redenção do mesmo time seria no Chile, mas, pela terceira vez, o 15º na Copa América não se concretizou. A derrota tem os méritos dos adversários, é claro. Porém, também deméritos da Albiceleste, que jogou muito abaixo do que fez nas quartas e nas semifinais. E três protagonistas principais da tragédia que se repete.
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Obviamente, os holofotes se voltam a Lionel Messi. É frustrante que um craque com quatro taças da Liga dos Campeões pelo Barcelona e quatro Bolas de Ouro na estante só tenha medalhas com as seleções menores da Argentina – a dourada das Olimpíadas e do Mundial Sub-20. Muito pouco, para quem já está entre os melhores da história. Neste sábado, mais uma vez, se esperava muito do camisa 10. Ele até apareceu e chamou a responsabilidade em muitos lances. Mas ficou muito aquém do que pode. Muito aquém do que todos estão acostumados a ver com a camisa blaugrana, como aconteceu semanas atrás.
Messi viveu uma grande tarde também porque estava muito bem marcado pela defesa chilena, com Aránguiz entregue a bloquear o lado direito do ataque adversário e Medel mordendo a todo momento. Pouco arriscou a gol, apareceu um pouco mais nas bolas paradas e só teve mesmo um lance em que destoou. A arrancada no último lance do tempo normal, aos 46 do segundo tempo. Passou por dois e deu a bola a Lavezzi. Ao invés de chutar, o atacante passou. Para Higuaín acertar o lado de fora da rede. Outro nome vilificado.
O lance não foi simples, em uma bola veloz que o centroavante precisou se esticar. Mas Higuaín poderia ter feito melhor. E não fez. Assim como não fez nas cobranças de pênalti, quando isolou o seu chute e deixou o troféu nas mãos do Chile. Assim como não fez na final da Copa do Mundo, quando perdeu aquela chance na frente de Neuer, após o erro de Kroos, que deve remoer em sua cabeça até hoje. Assim como não fez nem pelo Napoli na temporada, perdendo lances decisivos nas semifinais da Liga Europa e no jogo que deixou a terceira vaga na Liga dos Campões com a Lazio. Higuaín não é mau atacante. Tem suas qualidades, assim como já viveu bons tempos. Mas o seu momento é péssimo. Nada explica a sua presença em campo na final. Apenas uma pessoa: Tata Martino.
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O técnico esteve longe de ser feliz nesta final. Ao longo da Copa América, o time não foi brilhante, mas viveu seus bons momentos nos mata-matas, quando os craques conseguiram brilhar. Desta vez, porém, precisaram mais do dedo do técnico além da escalação. E Martino não ajudou. Com a lesão de Di María, botou Lavezzi, e até deu sorte do Chile não aproveitar mais as brechas pela esquerda. Tirou Pastore, um dos melhores na final e no torneio, para a entrada de Banega, seu homem de confiança, mas que acrescenta pouco em criatividade. E, na opção de tirar Agüero, que caiu de rendimento, preferiu a draga de Higuaín ao invés da raça de Tevez, brilhante em toda a temporada com a Juventus. Justo quem mais tem condições de chamar a atenção e dividir a responsabilidade com Messi. Não trouxe variações táticas. E, tirando momentos esparsos, foi inferior ao Chile, com Sampaoli lhe dando um banho no xadrez dos técnicos.
A Argentina terá mais uma chance em 2016, com a Copa América do Centenário – se o torneio realmente acontecer, em xeque pelas investigações à Conmebol. Terá que olhar para frente agora e tentar aprender com os erros, que recorrentemente se repetem. Para se corrigir os detalhes, não dá para voltar no tempo. E há 22 anos os argentinos sabem disso cada vez mais.