Argentina

Entenda a ‘guerra’ entre principal torcida do Boca Juniors e o Governo da Argentina

Líder da La 12, barra brava dos Xeneizes, afirmou 'ir a guerra' contra ministra da segurança argentina após banimento de lideranças da torcida

Neste momento, há uma “guerra” entre o governo da Argentina, mais especificamente o Ministério da Segurança, e a liderança da principal torcida organizada do Boca Juniors, a La 12.

E não é exagero o termo bélico, foi desta forma que definiram o cenário a ministra Patricia Bullrich e o líder da “barra brava”, Rafael Di Zeo.

O início da guerra foi uma briga entre as torcidas do Boca e do Gimnasia y Esgrima, em 23 de outubro, quando as equipes duelaram pela Copa da Argentina.

Na ocasião, os fãs do time de Buenos Aires derrubaram uma divisória no Estádio Marcelo Bielsa e partiram para cima dos adversários. Para amenizar o clima quente, quem apareceu o presidente do Boca Juniors, Juan Román Riquelme, no meio das arquibancadas e “negociando” a paz com lideranças de La 12.

A emissora argentina TyC Sports identificou com quem o mandatário conversou naquele momento, e os problemas entre governo e a organizada começaram.

Governo baniu dois dirigentes da La 12, do Boca Juniors, e iniciou ‘guerra'

Riquelme conversou com os principais “braços direitos” de Di Zeo na La 12 durante a briga do mês passado: Fabián “Topadora” Kruger e Fernando “Lana” Gatica.

Com os nomes divulgados pelo veículo, a ministra da segurança, Bullrich, suspendeu a dupla dos estádios em toda Argentina por dois anos, motivo que fez o presidente da barra brava atacá-la e declarar guerra.

— O que ela quer? Quer guerra? Vamos para a guerra. Deixe ela fazer o que quiser. Ela é estúpida. Se isso for real. Não falamos mais, não falamos mais, faça o que quiser. Gosto mais da guerra do que de entrar no estádio. Quando sairmos das arquibancadas chegaremos ao Ministério. — iniciou o mandatário da La 12 em áudio vazado na última sexta-feira (1).

Di Zeo também apontou a importância de Topadora e Lana, os banidos, para evitar confusões no estádio, dando a entender que poderia ter sido avisado pelo governo e ele daria o nome de outras pessoas na organizada, menos importantes, para serem suspensas.

— O problema é que preciso deles [Topadora e Lana] lá dentro, porque são os garotos que vão e colocam a camisa em tudo para que não haja caos e eu mando para eles. Vamos ter confusão. […] Antes de fazer algo que vai ser estúpido, você [Bullrich] tem que me dizer ‘Magro, olha, preciso conseguir três direitos de admissão'. Vou te dar os nomes, idiota. E eles levam isso para todos os lugares. Eles são idiotas… Eles fazem as coisas ao contrário, dão a bola a [Gustavo] Grabia [jornalista do TyC Sports que revelou as identidades] — finalizou

No mesmo dia do vazamento, a ministra da Segurança na Argentina denunciou o presidente por “por ameaças e intimidação pública” e alertou em sua conta no X (ex-Twitter) que ninguém “a ameaça”.

Patricia Bullrich responder às falas de Di Zeo no último domingo (3) ao La Nacion, reforçando uma guerra contra “todas as máfias” e negando qualquer possível acordo com o mandatário da torcida.

— Vamos fazer guerra a todos aqueles que não cumprem a lei, a todas as máfias, contra todos aqueles que fazem coisas fora da lei. [Sobre o governo poder avisá-lo] Não sei do que ele está falando. Ele fala sobre querer chegar a um acordo, que quer chegar a um acordo. Ele fala sobre algo que não existe. — criticou Bullrich.

Em publicação no Diário Oficial argentino nesta segunda (4), o presidente da La 12 foi proibido de ingressar em qualquer evento esportivo no país por tempo indeterminado.

Conheça Di Zeo

Aos 61 anos, Di Zeo tem um histórico daqueles. Ele voltou às arquibancadas da Bombonera recentemente, já que foi banido por seis anos porque encobriu Maximiliano “Mey” Oetinger, outro membro da barra brava, acusado de sequestro e extorsão em 2017.

Ainda passou quatro anos preso, entre 2007 e 2011, por participação em uma briga de torcedores do Boca e do Chacarita Juniors em 1999.

Em fevereiro do ano passado, foi absolvido da acusação de envolvimento nas mortes dos torcedores Marcelo Carnevale e Ángel Díaz, em 2013, quando aconteceu uma briga interna na barra brava.

No livro “La Doce”, do jornalista Gustavo Grabia (o mesmo que revelou os nomes dos torcedores banidos pela Ministra da Segurança), é relatado que o crescimento do crime organizado na La 12, seja de tráfico de drogas ou cambismo, aconteceu especialmente durante a presidência de Di Zeo entre 1994 e 2006.

O líder da organizada até chegou a se lançar como candidato às eleições dos Xeneizes no ano passado, mas a disputa ficou limitada a Andrés Ibarra e Riquelme, vencida pelo último.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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