Argentina

Ex-presidente da Argentina se junta a Milei em críticas a Riquelme no Boca Juniors

Derrota no clássico contra o River Plate rende questionamentos 'pesados' ao presidente dos Xeneizes

Eliminado nas oitavas de final da Copa Sul-Americana pelo Cruzeiro e apenas o 11º no Campeonato Argentino, o Boca Juniors vive momento de crise com o técnico Diego Martínez.

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E nada para agravar ainda mais um momento complicado do que perder para o maior rival em casa, exatamente o que aconteceu no último sábado (21), quando o River Plate venceu por 1 a 0 na Bombonera.

No coro das críticas pintaram dois nomes pesadíssimos: o atual presidente da Argentina, Javier Milei, e Mauricio Macri, ex-mandatário do país (2015-2019) e do clube xeneize (1995-2007), ambos contrários à gestão comandada por Juan Román Riquelme, eleito em dezembro do ano passado.

Milei e Macri, aliados na última eleição, pressionam Boca Juniors de Riquelme

O presidente da Argentina, Javier Milei, em discurso no congresso argentino
O presidente da Argentina, Javier Milei, em discurso no congresso argentino (Foto: IMAGO)

A primeira reação veio do mandatário atual território argentino.

Após o revés para o River, Milei, em post no X (ex-Twitter), incluiu uma foto na qual a torcida do Boca levantou um bandeirão em apoio a Riquelme: “Román. Nasci bostero [apelido dos torcedores] graças ao meu pai e vou morrer bostero como todos vocês”.

O presidente também incluiu uma legenda que dá a entender que estão pagando os custos por apoiá-lo.

— Não existe almoço grátis. Na economia, como na própria vida, você pode fazer tudo o que quiser, o que não pode é evitar pagar os custos. — escreveu Milei.

A frase “Não existe almoço grátis” é conhecida entre economistas ortodoxos e é o nome de um livro de Milton Friedman, referência econômica do líder do partido La Liberdad Avanza.

A fala vem apenas alguns dias após Riquelme mostrar que não guarda ressentimentos de Milei depois das eleições e lhe desejar sorte na Casa Rosada, sede do governo argentino.

— Desejo-lhe boa sorte. Sou bostero e argentino. Adoro viver no meu país e adoro Don Torcuato [cidade na província de Buenos Aires]. — disse Riquelme.

O ataque de Milei também acontece porque o presidente é a favor da implementação das Sociedades por Ações Esportivas (SAD, a SAF argentina), enquanto boa parte dos clubes, incluindo o Boca, são contrários.

Publicação de Javier Milei contra Riquelme, presidente do Boca Juniors
Publicação de Javier Milei contra Riquelme, presidente do Boca Juniors (Reprodução/X)

Além de Milei, Macri, vice de Andrés Ibarra na derrota na última eleição para o ex-meia, criticou duramente a gestão atual do Boca Juniors.

— Me dói, não acredito o quanto transformaram o Boca. [O problema no clube] vai muito além do que acontece em campo. — atacou Macri nas redes sociais.

O ex-presidente da Argentina e do clube também compartilhou um vídeo de Ibarra trazendo mais ataques para Riquelme.

— Ontem foi um exemplo claro do que prevíamos: falta de gestão e improvisação total por parte de Riquelme à frente do nosso querido Boca: futebol profissional sem resultados e sem direção, parceiros de fora, esgueiras por toda parte, ingressos para os amigos. — escreveu Ibarra, na legenda da publicação.

No vídeo, há denúncias de revenda de ingressos e da relação com o jornalista Flavio Azzaro, que “tem camarote e traz amigos”, além de criticar a ausência de participação de sócios e que não se pode criticar a atual presidência.

A barra brava La 12, principal torcida do clube, também não escapou dos ataques por conta dos posicionamentos a favor de Riquelme.

A chapa Ibarra-Macri foi derrotada em 17 de dezembro ao somar apenas 15.949 votos (ou 32%), contra 30.318 de Riquelme (68%).

À época, Milei, um suposto torcedor dos Xeneizes, foi votar na chapa derrotada e foi hostilizado. O presidente atual da Argentina possui um histórico no mínimo questionável com sua torcida ao Boca.

Mauricio Macri, então presidente da Argentina, recebe homenagem do Boca Juniors em 2015
Mauricio Macri, então presidente da Argentina, recebe homenagem do Boca Juniors em 2015 (Foto: IMAGO)

O histórico controverso de Javier Milei no futebol

Como qualquer sul-americano, Milei nasceu com o sonho de ser jogador do futebol e quase alcançou, sendo goleiro do Chacarita Juniors, hoje na segunda divisão, nas categorias de base.

Era conhecido como “El Loco Milei” por suas defesas diferenciadas, incluindo com a cabeça, mas não seguiu carreira,

Como torcedor, o líder de La Liberdad Avanza dizia que apoiava o Boca Juniors, mas “decisões populistas”, como trazer Riquelme de volta, em 2013, para a quarta passagem, o fizeram desistir do clube.

Ironicamente, analistas políticos apontam que o presidente argentino é um populista.

— Não quero torcer para um time que toma decisões populistas. Já basta viver em um país populista. — revelou ao jornal El País.

Mas ele pareceu não desistir de vez em 2013 e deixou isso para cinco anos depois. Em 2018, Boca e River disputaram a final da Libertadores em Madri.

Neste jogo, o Boca, com um a menos, colocou Fernando Gago no fim do segundo tempo, só que o jogador se lesionou na prorrogação, deixando os Xeneizes com nove jogadores e abrindo caminho para vitória dos Millonarios.

Javier Milei novamente tratou como uma decisão populista e se tornou “anti-Boca”.

— Eu estava torcendo pelo Boca. Na verdade, eu estava assistindo ao jogo. Mas quando entrou o Gago, que foi mais um ato de populismo, passei a torcer pelo River. Para mim, [Gago] foi um péssimo jogador, uma das grandes mentiras do futebol argentino. Ali eu me tornei anti-Boca. — contou também ao El País.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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