Völler, diretor da seleção alemã: “Demos um golpe de sorte ao conseguir Nagelsmann”
Rudi Völler rasgou elogios a Julian Nagelsmann e indicou confiança de que o novo técnico poderá recuperar o time rumo à Eurocopa

A seleção da Alemanha tentará encontrar um caminho nesta Data Fifa. Setembro foi um mês caótico para o Nationalelf, com a demissão de Hansi Flick depois da acachapante goleada aplicada pelo Japão. Um breve respiro veio na vitória sobre a França, em amistoso dirigido por Rudi Völler, ídolo histórico da equipe nacional e treinador vice-campeão do mundo em 2002. O veterano já retomou o cargo de diretor de seleções, a partir da contratação de Julian Nagelsmann para ser o novo técnico. E os elogios são amplos ao comandante, que terá uma delicada missão de recobrar o prestígio dos alemães.
Em entrevista à revista Kicker, Völler falou sobre a chegada de Nagelsmann à seleção da Alemanha. O dirigente exaltou bastante as qualidades do novo técnico e classificou a oportunidade de contratá-lo como um “golpe de sorte”: era o nome ideal à disposição no momento da troca, independentemente das turbulências. Há uma natural pressão sobre o Nationalelf, entre os fracassos recentes na Copa do Mundo e a próxima Eurocopa a ser realizada no país. Mesmo assim, Völler indica que há confiança para um papel digno, mesmo que os alemães não apareçam necessariamente entre os favoritos.
Os elogios a Nagelsmann
“Sei que é meio batido falar em golpe de sorte, mas, com Nagelsmann, é realmente o que aconteceu. Sei o que acontece quando você está procurando um novo treinador, do ponto de vista dos clubes. Muitas vezes, não há no mercado o técnico que você gostaria. É por isso que foi muito especial ter Julian livre. Eu sei que ele recebeu propostas boas de clubes europeus há poucas semanas e poderia ter outras em pouco tempo. Nossa relação foi ótima desde o primeiro momento. Senti que ele não precisava pensar muito sobre nossa proposta e realmente queria treinar a seleção. Estava claro para mim que ele era o homem certo”, apontou Völler.
Para o diretor, o primeiro desafio de Nagelsmann será moldar a forma como a Alemanha encara as partidas, com um futebol atrativo, mas também de pegada: “Temos um novo treinador, que traz suas próprias ideias e conhecimentos, que pode inspirar os rapazes com seu estilo. Logicamente, você quer ganhar todos os jogos. Mas, mais importante, é a maneira como você joga: para nós mesmos, para a imprensa e para os torcedores. Temos que trabalhar isso agora, nos últimos jogos do ano. Os franceses ainda são os favoritos na Eurocopa, apesar da derrota contra a gente. Mas nós queremos estar entre os seis ou oito países que desejam ir longe”.
Völler pensa que a pouca idade de Nagelsmann não é problema para assumir a seleção. Pelo contrário, aponta como o novo treinador tem mais experiência na casamata do que ele mesmo, quando se tornou técnico do Nationalelf no início do século. O dirigente promete seu apoio ao novo comandante, mas com total autonomia na condução do trabalho.
“O currículo de Julian o credencia. Não entendia as discussões sobre sua suposta falta de experiência. Ele treinou Hoffenheim, Leipzig e Bayern de Munique, onde ganhou muita experiência. Ok, as coisas não terminaram tão bem em Munique, mas o que ele conseguiu nos dois trabalhos anteriores foi sensacional. A sua forma de envolver as pessoas, as suas habilidades futebolísticas e a sua maneira de ler os jogos fazem dele um treinador excepcional e uma dádiva para nós. Claro que será um pouco diferente como técnico da seleção, o ajuste fino virá só na preparação final à Eurocopa”, assinalou.
O veterano preferiu não fazer uma análise tão crítica à demissão de Nagelsmann no Bayern de Munique: “Você sempre precisa levar em conta que o Bayern é um clube especial. E não quero concordar com a avaliação de que Julian falhou. Mesmo Carlo Ancelotti saiu prematuramente. As demandas no Bayern são completamente diferentes do resto da Bundesliga. Não basta apenas ser campeão alemão, você precisa da dobradinha, chegar pelo menos nas semifinais da Champions, empolgar as pessoas”.
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A saída de Hansi Flick
Völler também falou sobre a saída de Hansi Flick da seleção alemã. O dirigente reafirmou que confiava numa volta por cima do comandante, mas que todos fizeram uma avaliação errada. Para o veterano, olhando para trás, o ideal seria mesmo uma troca de técnico depois da Copa do Mundo. O peso do fracasso no Mundial se manteve sobre o Nationalelf e atravancou qualquer tentativa de Flick em dar a volta por cima.
“Achei que conseguiríamos progredir com Hansi, mas o fardo da eliminação na Copa do Mundo era muito grande, bem maior do que pensávamos. Às vezes você usa as estatísticas como guia e pensa que não falta tanta coisa para melhorar. Pensa que criou mais chances, que concedeu menos. Mas, no fim, temos que ser honestos e ver que não defendemos bem. E isso num país que já foi terra de grandes defensores”, comentou. “Depois da Copa, havia um sentimento geral e uma expectativa de que tudo deveria funcionar perfeitamente de imediato. Conheço esse sentimento pessoalmente e posso dizer: é desagradável e pode ser estressante”.
Völler não negou o desgaste de ter que conduzir a mudança de treinador no meio de uma Data Fifa, antes que ele mesmo assumisse o comando do time no amistoso contra a França: “Uma mudança de treinador sempre te afeta. A goleada do Japão foi um momento difícil, talvez o mais desgastante. Porque, depois do jogo, ficou claro o que ia acontecer – as conversas com Hansi, as mudanças na organização, um completo realinhamento. Tinha mil coisas na minha cabeça”.
A identidade da seleção
“A vitória contra a França foi muito importante, depois de um período em jejum, quando a opinião pública estava no chão. Nem tudo fica bem de uma só vez, mas o clima é diferente de novo e esperamos que fique ainda melhor. As pessoas na Alemanha querem nosso sucesso, com um futebol empolgante – especialmente antes de uma Eurocopa em casa. Já tinha notado isso em Wolfsburg, contra o Japão, embora a atmosfera tenha mudado depois da goleada”, comentou Völler. “Contra a França, você tinha a sensação de uma libertação para os torcedores. A famosa faísca foi acesa. Não colocamos a França contra a parede, mas o time jogou como num mata-mata, foi para todas as divididas e se empenhou. É isso que as pessoas querem ver, passam por cima quando algo dá errado”.
Questionado sobre a perda de identidade da seleção alemã, Völler analisa que o bom combate defensivo é uma das chaves para a recuperação do time. Além disso, Julian Nagelsmann se torna um trunfo para aquilo que poderá oferecer de recursos ao Nationalelf.
“Já discutimos bastante sobre a identidade e isso tem muito a ver com a preparação. Vale a pena buscar um jogo bonito, claro, e o espírito mudou. Mas ir com força nas divididas e nas disputas pelo alto permanece a base da seleção. Fomos vice-campeões em 2002 quando não tínhamos o melhor time, mas éramos estáveis e compactos. Podemos ter sucesso com uma combinação de estabilidade e firmeza na defesa, como vimos contra a França, além da criatividade de Julian. É isso que o torna especial”, pontuou.
Além disso, o veterano reforça como a seleção precisa de um ambiente saudável, que não bote pressão demasiada sobre os jogadores: “É claro que queremos aproveitar o fator casa na Eurocopa, mas essa expectativa não deve se tornar um fardo. Apesar de toda a importância de um torneio em casa como este, a pressão não deve ser tão grande. No fim das contas, é apenas futebol, você precisa transmitir isso para os jogadores mais jovens”.
A Alemanha faz uma turnê pela América do Norte nesta Data Fifa – em viagem bastante criticada no país, pelo desgaste que gera. O Nationalelf enfrenta no sábado os Estados Unidos, em Connecticut. Já na quarta-feira, o oponente será o México, na Filadélfia. Na Data Fifa de novembro, a equipe de Julian Nagelsmann ainda encara Turquia e Áustria nos últimos amistosos do ano.