Alemanha

De esquerda, St. Pauli abandona X (ex-Twitter) e se opõe a Elon Musk: ‘Máquina de ódio’

Historicamente ligado à esquerda no espectro político, St. Pauli realiza protesto contra Elon Musk, dono do X (ex-Twitter)

Historicamente ligado à esquerda no espectro político, o St. Pauli usou suas redes sociais oficiais para anunciar que não estará mais presente no X (ex-Twitter) como forma de protesto ao momento da plataforma sob o comando Elon Musk, que é dono da plataforma.

Os Piratas, como são conhecidos na Alemanha, divulgaram um comunicado nesta quinta-feira (14) no BlueSky — rede que ficou famosa quando o X foi bloqueado no Brasil — para se opor ao bilionário, argumentando que o antigo Twitter se tornou uma “máquina de ódio”:

Estamos saindo do X e apelamos a todos os seguidores para nos seguirem no BlueSky. Elon Musk converteu o espaço de debate do Twitter numa máquina de ódio que também pode ter um impacto negativo nas eleições federais.

O St. Pauli usou como argumento as eleições presidenciais dos Estados Unidos, realizadas no último dia 5. O republicano Donald Trump derrotou a democrata Kamala Harris e foi eleito para um mandato dos próximos quatro anos.

Em meio a esse cenário, Trump já anunciou que Elon Musk vai chefiar o Departamento de Eficiência Governamental dos EUA. Para os Piratas, a presença do bilionário na gestão republicana foi potencializada pelo ambiente instaurado no X:

Após a vitória eleitoral, Donald Trump também anunciou que faria de Musk o chefe de uma autoridade recém-criada. Musk já tinha apoiado ativamente Trump durante a campanha eleitoral, também com a ajuda de X. Pode-se presumir que X também promoverá conteúdo autoritário, misantrópico e radical de direita na campanha eleitoral federal e, assim, manipulará o discurso público.

Elon Musk acumula polêmicas no X desde a aquisição do Twitter

Foto: (Imago) - Elon Musk, dono do X, antigo Twitter
Foto: (Imago) – Elon Musk, dono do X, antigo Twitter

Elon Musk adquiriu o Twitter e alterou seu nome para X no dia 24 de julho de 2023. Desde então, o bilionário esteve envolvido diversas polêmicas, incluindo o bloqueio da plataforma no Brasil por 39 dias.

No dia 30 de agosto deste ano, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão total do X no país após Elon Musk descumprir a ordem de indicar um representante legal no Brasil.

À época, Alexandre de Moraes argumentou que o bilionário estava instituindo “um ambiente de total impunidade e ‘terra sem lei' nas redes sociais brasileiras, inclusive durante as eleições municipais de 2024”.

O ministro ressaltou o perigo iminente da instrumentalização do antigo Twitter por “grupos extremistas e milícias digitais nas redes sociais, com massiva divulgação de discursos nazistas, racistas, fascistas, de ódio e antidemocráticos”.

Posteriormente, Elon Musk cumpriu as determinações impostas pelo STF, incluindo o pagamento de R$ 28,6 milhões em multas e a indicação da advogada Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição como responsável legal do X no Brasil, que voltou a operar no dia 8 de outubro.

Por que o St. Pauli é de esquerda?

Foto: (Imago) - Conheça a história política do St. Pauli
Foto: (Imago) – Conheça a história política do St. Pauli

O St. Pauli foi o primeiro clube da Alemanha a banir torcedores que apoiavam o nazismo, proibindo a entrada dos extremistas no Estádio Millentor. Desde então, os Piratas adotaram um posicionamento de esquerda, manifestando suas ideologias políticas no futebol.

As décadas de 1980 e 1990 foram um marco para o St. Pauli, que deixou de ser um time comum e adotou a identidade militante. Naquele período, a cidade de Hamburgo virou palco sobre discussões de terrenos sem uso serem ocupados por movimentos sem teto e trabalhadores em geral.

Parte desse grupo passou a frequentes as arquibancadas dos Piratas, liderando um movimento para expulsar o fascismo dentro da própria torcida, o que acabou acontecendo. Dali para frente, proibiu-se a venda de ingressos ou a aceitação de sócios para pessoas que tivesse alguma conexão com ideais da extrema-direita.

Não é incomum ver bandeiras de Che Guevara, a figura da Revolução Cubana em 1959, do arco-íris do movimento LGBTQIA+, com mensagens contra o capitalismo, com suásticas nazistas destruídas, contra todo o tipo de preconceito entre os torcedores do St. Pauli.

Foto: (Imago) - St. Pauli levanta bandeira de Che Guevara, figura importante na Revolução Cubana de 1959
Foto: (Imago) – St. Pauli levanta bandeira de Che Guevara, figura importante na Revolução Cubana de 1959

Em seu estatuto, os Piratas reforçam sua luta contra qualquer tipo de preconceito, como machismo, homofobia e racismo. Por oito anos, o St. Pauli também teve um presidente assumidamente gay: Corny Littman, que comandou o time até à Bundesliga, em 2011.

Atualmente, os Piratas estão na 16ª posição Campeonato Alemão, com oito pontos em 10 rodadas. O St. Pauli foi campeão da segunda divisão em 2023/24, retornando à elite do país após 13 anos. Fora de campo, o compromisso segue o mesmo:

O FC St. Pauli já havia restringido o uso do X e, acima de tudo, postado declarações políticas pela diversidade e inclusão para se posicionar contra o ódio. Agora o clube encerrará suas atividades no X. A conta não é mais usada. Contudo, o conteúdo dos últimos 11 anos deve permanecer online porque tem valor histórico.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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