Alemanha

‘Ganha com guerra’: Torcida do Borussia Dortmund pede fim de acordo com empresa de armas

Torcedores do clube alemão criticam contrato de publicidade com Rheinmetall, companhia que explodiu em faturamento após guerra na Ucrânia

A forma de torcer na Alemanha parece ser um mundo a parte e a participação do torcedor é quase única em todo o mundo. Um exemplo é a pressão que a torcida do Borussia Dortmund tem feito contra o próprio clube por conta do contrato com um patrocinador controverso.

Desde maio, poucos dias antes do vice da Champions League 2023/24, o time aurinegro, conhecido por ser progressista e ligado a pautas sociais, anunciou o acordo com a empresa de armamento Rheinmetall, uma das maiores fabricantes de tanques de guerra e material para carros de combate em todo o mundo.

A companhia explodiu em faturamento e ganhou maiores holofotes a partir da guerra na Ucrânia. O acordo publicitário, válido até 2026 e sem valores revelados, garante a exibição do logo da empresa no estádio do time alemão e em entrevistas à imprensa.

A torcida do Borussia se posicionou diversas vezes contra o acordo. Já na decisão continental estenderam faixas com as frases “Rheinmetall: com futebol para limpar a imagem?” e “Proteger o BVB do sportwashing (prática de empresa ou estado limpar a imagem com investimentos no esporte) é nossa missão”.

Nesta temporada, a Muralha Amarela também levantou no Westfalenstadion mais reclamações: “Dinheiro primeiro, valores depois” e “20 milhões cheios de sangue”.

Mais um episódio das críticas veio no último domingo (17), uma semana antes da assembleia-geral anual do clube.

Torcida do Dortmund quer o fim do patrocínio

Em comunicado publicado pelo jornal da torcida aurinegra Schwatzgelb Dortmund, escrito pelo torcedor Wilfried Harthan, membro do grupo de fãs BVB Heinrich Czerkus, eles desaprovam o contrato com a Rheinmetall e dizem que “deve ser rescindido o mais rapidamente possível”.

— O acordo publicitário entre o Borussia Dortmund e a Rheinmetall foi uma surpresa completa para a maioria dos sócios do clube e moldou a imagem externa do clube desde então. Para muitos aurinegros, isso põe em causa a sua autoimagem como membro do Borussia Dortmund. […] Não é função de um clube de futebol promover a aceitação social de uma empresa de armas. — apontou Harthan na nota.

Protesto de torcedores do Borussia Dortmund contra a empresa de armas Rheinmetall
Protesto de torcedores do Borussia Dortmund contra a empresa de armas Rheinmetall (Foto: IMAGO)

O torcedor ainda traz números para reforçar como a empresa cresceu a partir da invasão da Rússia no território ucraniano, em fevereiro de 2022, um exemplo para mostrar que lucram com a guerra, não com a paz.

— A Rheinmetall é agora um dos maiores beneficiários da guerra na Ucrânia. O preço das suas ações subiu mais de 500% desde o início do conflito. […] A Rheinmetall não ganha dinheiro com a paz, mas com a guerra. […] Essa lavagem esportiva é incompatível com o código de valores básicos do nosso clube. — escreveu.

O tópico deve ser discutido no próximo domingo (24), quando acontece a assembleia.

A história da Rheinmetall

Fundada em 1889, a empresa também participou das duas guerras mundiais, utilizando trabalho escravo durante a Segunda Guerra Mundial para armar o exército alemão.

Atualmente em crescente, a Rheinmetall anunciou a construção de mais uma fábrica no norte da Alemanha, onde terá uma instalação com produção anual de 200 mil projéteis de artilharia e 1900 toneladas de explosivos, além da possibilidade de motores de foguete e ogivas, segundo a agência Associated Press (AP).

Em 2024, a companhia líder em munição de artilharia espera faturar 10 bilhões de euros (mais de R$ 60,5 bilhões), valor recorde.

Leia na íntegra o comunicado dos torcedores do Borussia Dortmund 

O acordo publicitário entre o Borussia Dortmund GmbH & Co. KGaA e o fabricante de armas de guerra Rheinmetall foi uma surpresa completa para a maioria dos sócios do clube e moldou a imagem externa do clube desde então. Para muitos aurinegros, isso põe em causa a sua autoimagem como membro do Borussia Dortmund.

O direito indiscutível da Ucrânia à autodefesa é o alicerce mais importante para justificar este acordo. A guerra na Ucrânia e o subsequente aumento global de armas são temas discutidos de forma extremamente controversa, inclusive entre os membros do Borussia Dortmund. Não é função de um clube de futebol promover a aceitação social de uma empresa de armas, especialmente porque a Rheinmetall é uma moeda de duas faces.

Como qualquer outro setor industrial, a indústria de defesa vive da venda e do consumo dos seus produtos. Aqueles que produzem armas de guerra não ganham dinheiro com a paz, mas com a guerra. E assim a Rheinmetall é agora um dos maiores beneficiários da guerra na Ucrânia. O preço das suas ações subiu mais de 500% desde o início da guerra. Através de uma rede global de empresas de investimento, a Rheinmetall consegue facilmente contornar a Lei de Controle de Armas de Guerra, o que já aconteceu com bastante frequência no passado. A Rheinmetall não ganha dinheiro com a paz, mas com a guerra.

Este é o lado sujo da moeda que deveria ser coberto com o logotipo do Borussia Dortmund. Essa lavagem esportiva é incompatível com o código de valores básicos do nosso clube.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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