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Vieira: “As portas não estão abertas para treinadores negros, o número atual não é suficiente”

"Quando você olha para as cinco grandes ligas do mundo e analisa o número de treinadores negros na primeira ou na segunda divisão, não é suficiente", diz Vieira

O baixo número de treinadores negros no futebol de elite deveria mais questionado e debatido. Segundo dados do futebol inglês, 43% dos jogadores são negros na Premier League, em parcela que chega a 34% nos níveis abaixo da Football League, da segunda à quarta divisão. Enquanto isso, apenas 4,4% dos técnicos são negros. Conforme os dados do país, 23% dos treinadores formados na Inglaterra desde 2004 são negros, assim como 14% dos profissionais ingleses que se licenciaram nos cursos da Uefa. Todavia, eles ocupam apenas 8,9% de cargos administrativos nos clubes e somente 1,6% dos postos executivos. Atualmente, Patrick Vieira é o único treinador negro da Premier League. E se coloca como uma voz importante na discussão.

Em entrevista à BBC, Vieira pediu mais oportunidades a treinadores negros. Para o francês, os números atuais são insuficientes: “Temos que dar oportunidades às pessoas de cor. Somos tão bons quanto qualquer outra pessoa. Quando você olha para as cinco grandes ligas do mundo e analisa o número de treinadores negros na primeira ou na segunda divisão, não é suficiente”.

Vieira pediu uma unidade maior entre os treinadores e jogadores negros. Para o veterano, é a partir de uma ação em conjunto que as entidades diretivas poderão encontrar caminhos mais efetivos: “Há uma falta de oportunidades aí. Há uma falta de coesão dos jogadores negros, para nos conectarmos um pouco mais com as pessoas que tomam decisões”.

Além disso, Vieira deixa claro que os números baixos não passam apenas pela área técnica, mas também pelos cargos diretivos do futebol: “No geral, eu acredito que as portas não estão abertas para fazermos o que podemos fazer e entrarmos na gestão. Quando eu falo sobre gestão, estou pensando nos times, mas também de um nível superior de gerenciamento. Precisamos ter mais oportunidades para mostrarmos que somos tão bons quanto qualquer outra pessoa”.

Vieira iniciou sua trajetória como treinador logo após pendurar as chuteiras no Manchester City. O histórico meio-campista trabalhou nas categorias de base dos celestes, antes de ganhar sua primeira oportunidade no New York City FC. Foi incentivado por Brian Marwood, dirigente do clube. Depois de boas campanhas na MLS, o francês assumiu o Nice. Já a mudança para a Premier League aconteceu em 2021, à frente do Crystal Palace. O aproveitamento não é tão alto, mas o comandante sustenta a meta do clube no meio da tabela e acumula bons resultados nessa passagem pela Inglaterra.

“Falei muito com Brian Marwood e ele me fez entender que ter a carreira que tive como jogador não era suficiente. Decidi seguir em frente na minha formação, começar na base do Manchester City e ir para Nova York. Precisava construir essa credibilidade e essa experiência para realmente acreditar que era isso o que eu queria fazer. Tive boas pessoas ao meu redor, que me deram a plataforma para aprender, cometer erros e estar hoje no Palace, com crença e confiança em minha habilidade para ser um bom técnico”, afirmou.

Além de Vieira, o outro treinador negro nas cinco grandes ligas europeias na atualidade é Antoine Kombouaré, do Nantes. Já na Championship, a segunda divisão inglesa, Paul Ince (Reading) e Vincent Kompany (Burnley) são as exceções.

Em 2020, a Football Association lançou um projeto assinado por 50 clubes da Inglaterra que visa combater a desigualdade racial no comando do esporte. Entretanto, os resultados são tímidos. Diretor esportivo do Queens Park Rangers desde 2015 e um dos raros negros em postos de comando, Les Ferdinand criticou publicamente a iniciativa na última semana. Segundo o veterano, “são apenas palavras bonitas, muita conversa e muito politicamente correto, mas os números não mudaram”. Para ele, também faltam oportunidades para os negros. O QPR conta com Chris Ramsey como diretor técnico e Paul Hall como coordenador da base, outros dois negros, enquanto Jimmy Floyd Hasselbaink chegou a treinar o clube mais recentemente.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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