Russas dando abraços? Concurso de beijos? Copa para Jesus? Em Cuiabá tem

CUIABÁ – Passei os últimos dias procurando clima de Copa em Cuiabá. Como eu disse ontem, a . Mas, tal como um raio em dia de céu azul, teve muita Copa na capital de Mato Grosso nesta terça-feira. Foi uma explosão rápida e repentina de empolgação no dia em que o Brasil jogou (mal) contra o México e Rússia e Coreia do Sul protocolaram futebol em três vias e 32 carimbos, burocraticamente falando.
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A Fan Fest da Fifa recebeu cerca de 43 mil pessoas para ver o Brasil consagrar o goleiro do México – um público maior do que o recebido pela Arena Pantanal para Rússia e Coreia do Sul. Havia uma empolgação tremenda com a seleção, o que tornou a vida de um sujeito vestido com a camisa do México um pouquinho difícil depois da sequência de defesas do goleiro Ochoa – nada violento, só zoeira mesmo. Debaixo de um sol cuiabano, as pessoas não paravam de cantar o infame “sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor” (um dia a gente ainda descobre outra música para cantar nos estádios. EU ACREDITO!), e eu me perguntava de onde vinha tanta energia, senhores, de onde poderia vir algum canto depois que as cordas vocais são ressecadas. Admiro essa saúde. Só que a picardia não pode parar. A gente não é muito bom de música de torcida. No resto, sim. Aquele não era só mais um espetáculo canarinho de 43 mil em ação.
A organização da Fan Fest estava distribuindo ingressos para a partida entre Rússia e Coreia do Sul. E o que você faz quando precisa fazer um sorteio? Organiza um concurso do beijo, é claro. E lá se foram centenas de casais, todos descobrindo seu corpo, suas línguas expostas em um telão, salivas flutuando ao vento… Afinal, ganhar ingresso é bom, amigos… mas ganhar ingresso beijando na boca é muito melhor, como disse um casal severamente empolgado ao meu lado (eles mereciam ganhar, mas a câmera os ignorou. Pior para a câmera).
Não sei se os beijos voaram da Fan Fest para a Arena Pantanal. Mas o fato é que por lá o amor continuou no ar. Um grupo de torcedoras russas estavam com cartazes, em inglês, distribuindo abraços grátis para quem chegava ao estádio. Era o abraço pelo abraço, o abraço pelo afeto, o abraço agradecendo ao tradicional carinho do povo brasileiro (se elas pudessem falar português, certamente diriam isso). E, se algum engraçadinho quisesse fazer alguma coisa, eram reprimidos pelas forças russas organizadas em torno delas. Mas ninguém se atreveu (embora os russos ficassem lá, fiscalizando). As coisas continuam tranquilas, sossegadas.

E, mais tarde, depois do jogo, os russos se tornaram atração turística para gente de todo o Brasil. Todo mundo queria tirar fotos com os russos e com as russas, mesmo com aquelas que não distribuiam abraço grátis. Era só pela graça de abraçar, mesmo, de agradecer pela visita, de pedir volte sempre. O governo de Cuiabá não terminou as obras, sinalizou mal as saídas para o estádio e tornou a vida de quem mora aqui e de quem veio visitar bem difícil. Mas, tal qual em outras cidades da Copa, as pessoas resolvem aquilo que o governo estragou.
A empolgação estava tão reprimida em Cuiabá nestes dias que foi se manifestando de tudo quanto é jeito – e o concurso do beijo e a distribuição de abraços foram só mais um capítulo de um dia intenso de Copa. Mas quem disse que só vale se empolgar descobrindo seu corpo? Às vezes, a graça é justamente o oposto – parece.
Um grupo de jovens evangélicos protagonizou uma cena que eu nunca tinha visto antes de uma partida de futebol. De longe, vejo uma galera cantando, pulando, fazendo coreografia. Pensei comigo, ah, é um grupo de dança local que vai animar a torcida durante a partida – e já pensei que eles fariam uma espécie de versão alternativa de “sou brasileiro com muito orgulho”. Mas, não. Era um flash mob de jovens, que defendem a Copa para Jesus. Eu tenderia a ficar irritado com proselitismo antes da partida, mas não foi agressivo. Foi divertido, até. Eles foram lá, cantaram e foram embora – assim como o clima de Copa em Cuiabá à noite, quando todo mundo se dispersou. As pessoas, de vários jeitos, estão fazendo o que podem e o que não podem para tornar a vida de quem viajou até 25 horas para chegar aqui um pouquinho melhor. E conseguiram – com beijo, com abraço e com Copa para Jesus.
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