O ano do Boca Juniors
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Depois de duas finais 100% brasileiras em 2005 e 2006, cresceu no Brasil a sensação de que havia uma hegemonia incipiente na Libertadores. Pois a edição 2007 do torneio serviu para acabar com essa tese. Não que os brasileiros tenham naufragado. O país ainda é uma das potências sul-americanas e suas equipes entram como candidatas ao título em qualquer competição do continente.
O que ficou evidente é que o Brasil não é intocável. O Boca Juniors se impôs na competição, deixando claro que, entre os clubes, o melhor do futebol sul-americano está no bairro portuário da Boca, em Buenos Aires. Pelo menos no primeiro semestre de 2007, enquanto Riquelme não retorna à Europa.
Ter um argentino como campeão não chega a ser uma grande surpresa. Mas a falta de um poder concentrado ficou evidenciada também pelo fato de a Argentina não ter sido a única rival à altura dos brasileiros. Pelo contrário, pois havia apenas um time argentino entre os oito melhores e dois entre os 16 classificados ao mata-mata.
As novidades foram times de países menos cotados, que se organizaram e mostraram capacidade de, ao menos, protagonizar jogos interessantes contra os favoritos de plantão. O São Paulo não conseguiu vencer o Audax Italiano e perdeu do Necaxa, o Paraná foi eliminado pelo Libertad, o Flamengo foi barrado pelo Defensor Sporting, clube que só caiu contra o Grêmio nos pênaltis, e o Internacional não passou da primeira fase em um grupo que tinha Emelec e Nacional de Montevidéu.
Para mostrar como foi a Libertadores 2007 em detalhes, com pontos positivos e negativos, curiosidades e o balanço de cada time, a Trivela montou um especial. Veja abaixo o desempenho dos times participantes, divididos pela fase da competição em que foram eliminados, e, nos links do início desta apresentação, links para as curiosidades e o que já temos certo para 2008.
O campeão
Boca Juniors: O bicho-papão voltou com apetite
Dos seis títulos da Libertadores em sua estante, o Boca Juniors celebrou a conquista de quatro deles nos últimos sete anos (2000, 2001, 2003 e 2007). É uma marca que reforça a hegemonia recente do clube argentino na América do Sul, para terror dos clubes brasileiros (Palmeiras, Santos e agora o Grêmio perderam finais para eles).
A ausência da Libertadores em 2006 foi compensada com a montagem de uma equipe equilibrada. A simbólica volta de Juan Román Riquelme transformou-se no ponto de partida para a formação de um elenco no melhor estilo argentino de jogo: um toque de bola inteligente, capaz de hipnotizar o adversário, aliado a um incrível espírito de luta.
Na primeira fase, o Boca caiu em uma chave complicada, nem tanto pela qualidade técnica de seus adversários. Cienciano, Toluca e Bolívar contavam com uma ‘ajudinha’ extra: a tão temida altitude. Exatamente por essa dificuldade, os Xeneizes adotaram uma tática que mais tarde se revelou de extrema importância: para os jogos fora de casa, pouparam seus principais atletas. O descanso dado a Riquelme e Palacio foi providencial.
Embora tenha garantido vaga para as oitavas-de-final somente na última rodada, o time argentino fez valer sua força quando em seu país. Em sete jogos como mandante (mesmo sem jogar os primeiros em La Bombonera, devido a uma punição), o Boca venceu seis e empatou um, tendo sofrido apenas um gol. A vitória mais emblemática veio nas semifinais, contra o surpreendente Cúcuta. Sob uma forte neblina, os Xeneizes ganharam por 3 a 0 (na ida, haviam perdido por 3 a 1), em jogo no qual sufocaram o time colombiano desde o começo.
Muito da força do Boca veio, sem dúvida, da qualidade técnica de Riquelme. O camisa 10 provou estar em um nível acima dos demais atletas em ação na América do Sul. Com uma motivação que não tinha no Villarreal, ele fez a diferença com seu estilo refinado, sua capacidade para ditar o ritmo de uma partida conforme a exigência da situação, suas cobranças de falta precisas e sua frieza, capaz de irritar um adversário ao prender a bola ou tocá-la com inteligência. As atuações irrepreensíveis diante do Grêmio apenas coroam sua excelência como maestro de um elenco equilibrado. [RE]
O vice-campeão
Grêmio
Uma campanha excelente. Mesmo que a torcida tenha saído triste do Olímpico depois da notória superioridade do Boca Juniors, o saldo final é ótimo. O time de Mano Menezes tem potencial, bons jovens e o apoio incondicional da torcida. A final da Libertadores era muito mais do que o Grêmio esperava e com alguns ajustes, pode abrir um ciclo. [CRG]
Eliminados nas semifinais
Cúcuta
A sensação do torneio, com um futebol atraente e efetivo. Na primeira fase, arrancou um empate com o Grêmio em Porto Alegre e venceu por 3 a 1 em casa. Classificou-se na última rodada com uma dramática vitória por 4 a 3 sobre o Tolima, time que já havia batido na final do campeonato nacional do ano passado. A confirmação de que o Cúcuta tinha algo mais veio nas oitavas-de-final, quando goleou o Toluca por 5 a 1. Outro favorito, o Nacional de Montevidéu, caiu nas quartas. Na semifinal, venceu o Boca por 3 a 1 na ida, mas sucumbiu em La Bombonera (3 a 0), quando estava desfalcado de seu principal jogador: o atacante Blas Pérez, convocado pela seleção do Panamá. [LB]
Santos
Sob o ponto de vista de resultado, não há do que reclamar. Foi um passeio até a viagem para o Olímpico. Em Porto Alegre, o Santos desnudou todas as suas fraquezas sem mais nem menos. Tirando Zé Roberto e Kléber, bem pouco se salvava. Vanderlei Luxemburgo até maquiava os problemas, mas a casa cairia mais cedo ou mais tarde. Fechar as mazelas durante o Brasileiro não será uma tarefa simples. [CRG]
Eliminados nas quartas-de-final
América
Apesar de uma campanha um pouco irregular, o América confirmou a reputação de ter um dos times mais fortes do continente. Na primeira fase, sofreu um pouco para passar em um grupo duro, que tinha Libertad e Banfield. À medida que a competição avançou, o time ganhou ritmo e eliminou o Colo Colo com autoridade nas oitavas-de-final. Nas quartas, o América foi prejudicado pelo horrível calendário mexicano e teve que se dividir entre as semifinais do torneio nacional e a Libertadores – inclusive, com jogos em dias consecutivos. Mesmo assim, a equipe por muito pouco não eliminou o Santos da competição. [TRA]
Defensor Sporting
Os violetas mostraram que o futebol uruguaio pode, sim, ter futuro. Com boa organização tática e sabendo fazer os resultados em casa, o Defensor Sporting só foi eliminado nas quartas-de-final, contra o Grêmio, no Olímpico, e nos pênaltis. No meio do caminho, deixou um time argentino (Gimnasia La Plata) e um brasileiro (Flamengo). Um belo currículo. [UL]
Libertad
O objetivo inicial era repetir a campanha de 2006, quando foi semifinalista da Libertadores. A meta não foi cumprida, mas dá para dizer que o Libertad saiu satisfeito da competição. O time paraguaio fez apresentações mais que dignas, como as vitórias fora de casa sobre América (4 a 1), Banfield (1 a 0) e Paraná (2 a 1) e o empate em 1 a 1 com o Boca Juniors em La Bombonera (única partida que os boquenses não venceram em casa). Considerando a má campanha de Cerro Porteño e Tacuary, o Libertad é, no momento, o time paraguaio com mais condições de ter um brilhareco no cenário internacional. [UL]
Nacional
Uma das gratas surpresas da competição. Mesmo com um grupo reformulado e que não inspirava confiança, o Nacional souberespeitar sua tradição e compensou a falta de técnica com muita raça e determinação. Com o promissor goleiro Muslera e o bom atacante Gonzalo Castro na frente, os bolsos passaram em um grupo com Interncional e Vélez Sársfield na segunda fase, venceram duas vezes o Necaxa nas oitavas-de-final. Nada mal. [UL]
Eliminados nas oitavas-de-final
Caracas
Grande zebra do torneio. Eliminou os bons River Plate (vencendo, inclusive, o duelo no Monumental de Núñez) e LDU Quito na primeira fase e deu muito trabalho ao Santos nas oitavas-de-final. O goleiro Toyo se mostrou bastante ágil (apesar de estabanado), a dupla de zaga Rey e Vizcarrondo foi uma das mais entrosadas da competição, Vera comandou o meio-campo com experiência, acionando o rápido atacante Carpintero. Deixa uma nova imagem do futebol venezuelano. [UL]
Colo-Colo
Se não fosse o azar nos cruzamentos, poderia ter ido mais longe. Depois de um início de campanha ruim (duas derrotas seguidas), o time embalou e assegurou a classificação com antecipação em uma chave que tinha River Plate e LDU Quito. Time talentoso, rápido e confiante, poderia até chegar entre os quadrifinalistas se não caísse com o América nas oitavas. No jogo de ida, sentiu a altitude e a experiência do adversário e perdeu por 3 a 0. Pressionou de modo comovente no jogo de volta, mas seria muito difícil reverter tal placar. Ficou no 2 a 1 apenas. [UL]
Flamengo
A primeira fase serviu apenas para iludir os rubro-negros, que dominaram um grupo fraco. Os inexpressivos Real Potosí e Maracaibo não impuseram grande resistência – e nem o Paraná, derrotado nos dois jogos. O Defensor tratou de reconduzir o time de Ney Franco à realidade, com um 3 a 0 no jogo de ida das oitavas. Depois, o Fla fez 2 a 0 no Maracanã, mas o orgulho pela luta não supera a decepção pelo fracasso. [LB]
Necaxa
O Necaxa, de certa forma, era uma incógnita: no papel, um time forte, mas que vinha fazendo campanha irregular domesticamente. Na primeira fase, o time mexicano até que foi melhor que o esperado e ficou em primeiro lugar no grupo que tinha o favorito São Paulo. A partir daí, a perspectiva parecia boa para a equipe, mas o Necaxa decepcionou: foi eliminado pelo limitado Nacional, do Uruguai, com derrotas nas duas partidas. [TRA]
Paraná
Para quem era considerado azarão até na fase preliminar, ter chegado às oitavas-de-final pode ser visto como êxito. O Paraná passou bem pelo Cobreloa, e – ajudado por um sorteio favorável, é verdade – só não foi melhor que o Flamengo no grupo. Contra um Libertad nitidamente superior, a eliminação com 3 a 2 no placar agregado é aceitável. Valeu como primeira experiência. [LB]
São Paulo
Como sempre vai para a Libertadores buscando o título, a campanha desta temporada não pode ser considerada menos que frustrante. Com um elenco desequilibrado e abandonado pela torcida (graças a aumentos radicais nos preços dos ingressos), o Tricolor jamais jogou bem no torneio. Quando saiu, diante de um determinado Grêmio, ninguém estranhou. [CRG]
Toluca
Na primeira fase, o Toluca mostrou força. Classificou-se com tranquüilidade em primeiro lugar, num grupo que tinha nada menos que o campeão Boca Juniors. O time mexicano realmente parecia um candidato ao título, mas uma noite desastrosa contra o Cúcuta acabou com suas pretensões. Jogando fora de casa, o Toluca levou quatro gols num espaço de 12 minutos, perdendo a partida por 5 a 1. Assim, a vitória por 2 a 0 na volta não foi suficiente para evitar a eliminação frente a uma das surpresas do torneio. [TRA]
Vélez Sársfield
A exemplo do que aconteceu no ano passado, o Vélez terminou a primeira fase em primeiro e jogando bom futebol. Desta vez, entretanto, o time caiu mais cedo do que em 2006: pegou logo nas oitavas o rival Boca, que avançou graças a um gol marcado no José Amalfitani. [CEF]
Eliminados na primeira fase
Alianza Lima
Para variar um pouco, o clube da capital peruana foi eliminado ainda na primeira fase da Libertadores (fato repetido em 16 das 20 participações da equipe no torneio). Desta vez, o Alianza Lima caprichou: perdeu seus seis jogos e acabou como um dos piores clubes da competição. Os problemas defensivos, principalmente a insegurança do goleiro George Forsyth, foram cruciais para a péssima campanha. [RE]
Audax Italiano
Com um time novo, sem torcida e sem dinheiro para investimentos de vulto, esperava-se do Audax Italiano muita vontade e poucos resultados. Tendo esse ponto de partida, foi uma participação mais que honrosa a dos chilenos. O time arrancou dois empates do São Paulo, sendo que quase conseguiu uma vitória no Morumbi, o que desclassificaria os são-paulinos. Alguns jogadores, como o goleiro Peric, o lateral Rieloff o atacante Di Santo se destacaram. [UL]
Banfield
O sonho do “Taladro” era repetir 2005, quando chegou às quartas-de-final, mas, era sabido, a tarefa seria das mais difíceis. Teve pela frente dois adversários acima de seu nível – América e Libertad – e caiu na primeira fase. Ter vencido o América, na Argentina, por 3 a 1, foi o único resultado significativo da equipe, que terminou a primeira fase com seis pontos. [CEF]
Bolívar
O empate em casa com o Boca Juniors e a surpreendente vitória sobre o Toluca no México deram a falsa impressão de que o Bolívar poderia se lutar pela classificação. Depois desses resultados, o time naufragou em sua crise interna, com jogadores deixando a equipe e derrotas até em casa para Cienciano e Toluca. [UL]
Cerro Porteño
O Cerro Porteño fez o que se esperava de um time em cosntrução. Começou muito mal e cresceu com o passar do tempo. Depois de um primeiro turno muito fraco, os paraguaios venceram duas partidas em casa contra Cúcuta e Tolima e estava próximos de classificação. No entanto, tiveram de decidir contra o Grêmio no Olímpico. Daí… [UL]
Cienciano
O clube de Cuzco quase conseguiu a façanha de se classificar para as oitavas-de-final em um grupo no qual tinha o Boca Juniors pela frente. O Papá, que contava com a ‘mãozinha’ da altitude para se dar bem, viu seus planos estragarem com uma derrota diante do Toluca por 2 a 1. Longe de sua torcida, o clube peruano não foi páreo para a melhor qualidade técnica de Boca e Toluca, como era de se esperar. Apesar de chegar à última rodada de sua chave com chances de passar de fase, o Cienciano perdeu para o clube mexicano por 3 a 0. No entanto, o terceiro lugar ficou de bom tamanho. [RE]
Deportivo Pasto
Sem meias palavras, o pior time da competição. Perdeu os seis jogos e não disse a que veio. Nem de fiel da balança serviu. [LB]
El Nacional
Que o time do exército equatoriano perderia os três jogos como visitante, já era de se esperar. Desta vez, nem a altitude de Quito ajudou. Perdeu em casa para América do México e Banfield, e só empatou com o Libertad. Saldo da campanha: um empate e cinco derrotas. [LB]
Emelec
Em um grupo com o campeão Internacional e os fortes Vélez Sársfield e Nacional, havia pouco que os Eléctricos pudessem fazer. E pouco fizeram mesmo. Foram presa fácil em todos os jogos, com exceção da vitória por 1 a 0 sobre o Nacional, em Guayaquil. [LB]
Gimnasia La Plata
Os Lobos repetiram em 2007 o desempenho de 2003, sua primeira participação na Libertadores, quando caíram na primeira fase. Desta vez, porém, só não se classificaram para as oitavas-de-final por não ter marcado mais um gol no Defensor, na última rodada, quando venceu por 3 a 0. Contra o Santos, não teve chances. [CEF]
Internacional
A expressão mais leve para definir a campanha do Inter na Libertadores é “fracasso completo”. O campeão de 2006 falhou em todos os aspectos: tático, técnico, psicológico, pessoal e de resultados. Abel Braga não tinha um elenco do Milan, mas sua condução do time foi desastrosa. Pior para Alexandre Pato, que entrou de vez no time numa baita roubada. [CRG]
LDU
Os Universitarios sofreram com a suspensão de vários jogadores após uma briga generalizada em jogo pelo campeonato nacional no fim do ano passado. Os desfalques se fizeram sentir, pelo que mostra a campanha irregular da equipe. A LDU venceu o Colo Colo em casa e empatou os dois jogos com o River Plate, mas a derrota para o Caracas na estréia pesou. Ao ser goleado por 4 a 0 pelo Colo Colo, em Santiago, o time foi desclassificado com uma rodada de antecipação. [LB]
Real Potosí
O time é tecnicamente fraco, mas tem quase 4 mil m de altitude a seu favor quando joga em casa. Assim, até dava para o Real Potosí ter ido mais longe em um grupo com Paraná, Unión Maracaibo e Flamengo. Depois de ouvir muita reclamação rubro-negra sobre a altitude após o empate em 2 a 2 na estréia, os potosinos caíram de rendimento e só reagiram no final. Se tivessem vencido o acessível Unión Maracaibo na Bolívia, teriam passado. [UL]
River Plate
O bom início de ano, nos “Torneos de Verano”, foi apenas fogo de palha. Os “Milllonarios” decepcionaram como nunca e sequer avançaram às oitavas-de-final. Perderam as duas partidas para um time da Venezuela – inclusive em casa –, o que os eliminou com uma rodada de antecedência. Pior do que isso, só ver o Boca conquistar o título. [CEF]
Tolima
Não teve problemas para superar os venezuelanos do Táchira na fase preliminar. Na fase de grupos, as vitórias em casa sobre Cerro Porteño e Grêmio mantiveram o time na briga pela classificação até a rodada final. Um empate em casa contra o Cúcuta – contra quem já havia segurado um 0 a 0 fora – teria bastado. O Tolima vencia por 3 a 2 até os 25 minutos do segundo tempo, mas levou a virada e frustrou seus torcedores. [LB]
Unión Maracaibo
Os venezuelanos tiveram bons momentos na competição, mas faltou um pouco mais de brilho e confiança para se impor em casa. Empate com Real Potosí e derrotas domésticas para Paraná e Flamengo sabotaram qualquer perspectiva de classificação do time azulgrana. [UL]