Lúcio: “Ninguém pode pensar que tem vaga em 2014”
Conquistar uma Copa do Mundo é o patamar máximo de um jogador de futebol. Ganhar uma Liga dos Campeões é a ambição de qualquer atleta que defende um time europeu. Vencer o campeonato nacional é marcante para qualquer jogador. O zagueiro Lúcio já conseguiu a façanha de ter realizado os três feitos.
Mesmo com uma carreira repleta de títulos, ele garante ter novas motivações e ambições no futebol. “Quem já ganhou Copa do Mundo e Liga dos Campeões, faria tudo de tudo para conquistar mais uma vez. Esses são os meus grandes sonhos: conquistar novamente”, declarou o jogador da Internazionale, em entrevista exclusiva à Trivela.
Além de repetir essas conquistas, Lúcio tem mais um desejo na carreira: retornar ao futebol brasileiro. “Fiquei só dois anos no Brasil: em 1999 e 2000. Acho que é por isso que eu quero um dia voltar e passar um pouco mais de tempo jogando no futebol brasileiro”, disse. Mas o zagueiro ressaltou que só analisaria essa possibilidade depois de junho de 2014, quando termina o seu contrato com os nerazzurri.
Ainda nesta entrevista, Lúcio falou da sua transferência do Bayern Munique para a Inter e contou que ficou surpreso ao saber que ele não estava nos planos do treinador Louis van Gaal, que assumiu o clube alemão na temporada 2009/10.
O jogador afirmou não ter ficado magoado por ter saído do Bayern e falou o que sentiu ao enfrentar a ex-equipe na final da Liga dos Campeões em 2010. “Eu tive a oportunidade de mostrar o meu valor e o que o Bayern deixou de ter naquele momento”. Confira a entrevista completa.
Quais são os objetivos da Inter nesta temporada?
Como nas últimas temporadas: Campeonato Italiano, Liga dos Campeões… A gente espera repetir a façanha de 2010.
Na temporada 2009/10, a Internazionale venceu a tríplice coroa: ganhou a Liga dos Campeões, o Campeonato Italiano e a Copa da Itália. No mesmo ano, a equipe ainda venceu o Mundial de Clubes e a Supercopa da Itália.
No Campeonato Italiano, quem você acha que serão os principais adversários?
Acho que os tradicionais. A Juventus se reforçou muito para esta temporada. O Milan… Além de Roma e Lazio, que mostraram força no último campeonato.
Como foi ter trabalhado com Leonardo?
Foi uma experiência nova na minha carreira. Acho que ele teve um pouco de dificuldade no início porque veio do Milan. Mas depois conseguiu confiança e força e conquistamos a Copa da Itália. Foi uma experiência muito boa.
Em 2010, a Inter ganhou a tríplice coroa. Qual foi o papel de José Mourinho nisso?
Foi fundamental. Ele é um treinador que sempre está motivando. Ele sempre está falando com a equipe, nos preparando e poupando os jogadores na hora certa. O papel dele foi muito importante para a equipe, além dos jogadores, claro. É uma das principais características dele passar essa motivação e a vontade de vencer, que acaba contagiando a todos. É no dia-a-dia que ele vai plantando essa motivação. Ele faz esse trabalho com os jogadores durante toda a temporada. Mourinho fazia com que acreditássemos nos nossos sonhos e pensássemos que podíamos conquistar a Liga dos Campeões. A Inter estava há 45 ou 46 anos sem ganhar, então ele fazia com que a gente acreditasse que era possível. Claro que também houve a ajuda tática, a escalação no momento certo.
Desde que se transferiu para a Inter, você teve duas oportunidades de enfrentar o Bayern Munique. Como foi jogar contra a sua ex-equipe, sendo que um dos jogos foi a final da Liga dos Campeões?
A final para mim foi a mais complicada. Foi o primeiro jogo depois que eu saí do Bayern e foi um confronto direto com o Van Gaal e com vários dirigentes do Bayern. Os outros dois jogos foram mais fáceis. E já tinha quebrado aquele gelo da transferência.
Da forma como você saiu do Bayern, ficou alguma mágoa com Van Gaal ou os dirigentes do Bayern?
Não diria mágoa, mas acho que poderia ter sido conduzida de uma outra forma e que tivesse havido um pouco mais de respeito. O Van Gaal não me conhecia, não sabia como eu trabalhava, então não tinha a necessidade de ele me julgar sem me conhecer. Mas não ficou nenhuma mágoa. Tudo foi resolvido. Claro que, quando você se transfere para uma outra equipe, você vai mostrar o seu valor. Agora eu procuro estar com a minha cabeça sempre voltada para a Inter. Do Bayern, apenas procuro apenas recordar os bons momentos.
Faltou o Van Gaal conversar mais com você e o Bayern ter explicado por que foi dispensado?
Para mim foi uma surpresa [a dispensa]. Não posso te dizer ao certo o que aconteceu internamente e o porquê do Bayern ter tomado essa decisão, até porque a decisão foi dele [Van Gaal]. Então não posso dizer exatamente o que passou na cabeça dele e da direção do Bayern.
Então você não esperava ser dispensado?
Eu estava jogando a Copa das Confederações naquele momento e chegou a notícia de que ele [Van Gaal] não contaria comigo no Bayern Munique. Mas depois tudo se resolveu de uma forma muito boa tanto para mim quanto para o Bayern. Para mim, foi um presentão ter me transferido para a Inter e um ano depois ter ganhado o título da Liga dos Campeões.
Por ter enfrentado o Bayern na final da Liga dos Campeões, houve um sentimento de “vingança”?
Não diria de vingança. Mas eu tive a oportunidade de mostrar o meu valor e o que o Bayern deixou de ter naquele momento. Sempre fica no ar essa pergunta sobre vingança ou algo desse tipo. Mas não. No futebol sempre vence quem está jogando melhor. E, naquele momento, nós estávamos melhor e ganhamos. Acredito que tenha ficado mais do lado do Bayern esse sentimento de arrependimento, perda… Mas, do meu lado, não teve nada desse tipo voltado para a vingança.
O primeiro clube que você defendeu na Europa foi o Bayer Leverkusen. Como foi a sua adaptação à Alemanha?
Foi um pouco difícil no início. É uma cultura totalmente diferente, o clima, a língua. Foi difícil. Quanto ao futebol, já estava jogando bem depois de alguns meses.
No Bayer Leverkusen e no Bayern Munique, você jogou com Michael Ballack. Como é a personalidade dele?
Ele é uma pessoa muito tranquila. Gosta sempre de vencer, o que é uma das grandes qualidades dele. É uma pessoa de boa índole e bom caráter.
Na final da Liga dos Campeões de 2002, você marcou o gol do Bayer Leverkusen na final contra o Real Madrid. Este foi o gol mais importante da sua carreira?
Não. O gol mais importante foi aquele da Copa das Confederações. Até porque, mesmo com aquele gol na final da Liga dos Campeões, a gente perdeu.
Na final da Copa das Conderações de 2009, o Brasil enfrentou os Estados Unidos e ganhou o duelo por 3 a 2. Lúcio fez o gol da vitória aos 39 minutos do segundo tempo.
Dos treinadores com quem já trabalhou, quem foi o melhor?
É difícil falar. Não gosto de comparar trabalho ou modelo de treinador. Cada um tem a sua característica e eu respeito o estilo de cada treinador.
Quais são principais diferenças entre o futebol alemão e o italiano?
O futebol italiano é muito técnico e tático. Eles dão muito valor a isso. O futebol alemão é de mais força e vigor físico.
Você já conquistou Copa do Mundo, Liga dos Campeões… Falta alguma coisa na sua carreira?
Eu sempre procuro novas motivações. Com certeza, quem já ganhou Copa do Mundo e Liga dos Campeões, faria tudo de tudo para conquistar mais uma vez. Esses são os meus grandes sonhos: conquistar novamente.
Quais são as suas expectativas para 2014? Acredita que será o titular?
É difícil dizer sobre isso. Faltam três anos para a Copa do Mundo e muita coisa pode acontecer. Como falei, esse é um objetivo que eu tenho e irei em busca dele.
O Mano Menezes te dá alguma pista se ele pretende contar com você para 2014?
Isso é uma coisa que ninguém pode garantir. Sem dúvida, acredito que nenhum jogador que está na atual Seleção pode pensar que já tem vaga. Até 2014 tantas coisas podem acontecer que podem influenciar nas decisões.
Como se sente sendo o capitão da Seleção?
É uma sensação muito boa. É com felicidade, responsabilidade e com compromisso ajudar. É uma satisfação ser o capitão da Seleção Brasileira.
Como você avalia a atuação do Brasil na Copa América deste ano? O que o Brasil pode melhorar?
O Brasil jogou muito bem da forma como estávamos em campo. O nosso time jogou muito mais que o Paraguai e teve muito mais chances. Mas infelizmente a partida foi para os pênaltis e perdemos. Mesmo assim, acho que a Seleção está no caminho certo. É a primeira competição da qual alguns jogadores participam e é difícil que no primeiro torneio tudo dê certo. A gente tem um objetivo maior que é a Copa do Mundo de 2014. Espero que a cada dia a equipe possa estar melhorando.
Durante uma entrevista coletiva na Copa América, você cobrou seriedade dos jogadores, afirmando que “o símbolo que está na frente da camisa é mais importante do que o nome que está atrás” e que “aqui não é só vitrine, cada um tem de saber o peso da camisa e a responsabilidade que tem aqui dentro”. Esses comentários foram uma crítica a algum jogador da Seleção?
Não. Se você parar para analisar, primeiramente não foi uma crítica. Segundo, eu não citei nome de ninguém e não direcionei para ninguém. Foi para todos, inclusive para mim, que estávamos na Seleção Brasileira. Estava apenas relembrando não só ali, mas todos os dias, a responsabilidade de jogar pela Seleção. Todos os jogadores têm que estar felizes e orgulhosos em defender a Seleção, mas também têm que ter responsabilidade e compromisso em representar bem o Brasil.
Em relação à Copa do Mundo de 2010, como considera a atuação da Seleção Brasileira?
A Seleção tinha jogado muito bem. Mas, no segundo tempo, foram dois detalhes que podem acontecer no futebol e a Holanda aproveitou esses dois momentos. O Brasil não conseguiu reagir. Somente no segundo tempo a nossa equipe foi inferior à Holanda. Mas a participação do Brasil tinha sido muito boa. Até ali, a gente tinha ganhado todas as competições que jogamos [Copa América em 2007 e a Copa das Confederações em 2009] e, na maioria dos jogos, conseguimos nos classificar bem. Infelizmente, nesses dois detalhes, a Holanda foi melhor que o Brasil.
O que os jogadores pensavam sobre o técnico Dunga?
A gente foi um grupo muito feliz. Jogamos uma Copa do Mundo e nos entendemos muito bem. Nunca houve atrito e todos os jogadores respeitavam e consideravam muito ele [Dunga].
O próximo amistoso do Brasil será contra a Alemanha. Quais são as qualidades da Nationalelf?
A Alemanha ultimamente tem jogado um futebol de velocidade e de ataque. Essas são as principais qualidades da equipe alemã. É uma seleção que tem boa marcação e tradição mundial. Não será uma partida fácil, mas será um bom jogo para acrescentar experiência.
Qual foi o momento mais marcante na sua carreira?
O Mundial de 2002, disputar a Copa de 2010 e ganhar a Liga dos Campeões.
O que o Internacional significa para você?
Foi onde tudo começou e o time que me deu destaque no futebol brasileiro. O Internacional significa muito para mim.
Você pensa em voltar para o Brasil?
Agora não. Acabei de renovar com a Inter até 2014 e até lá a minha cabeça está voltada ao clube. Depois disso, tudo pode acontecer. Mas todo jogador sonha em voltar a jogar no Brasil.
O seu sonho é voltar para o Internacional?
Eu disse algumas vezes que, no Brasil, a prioridade seria voltar para o Internacional. Claro que, se isso não fosse possível e se houvesse possibilidade de voltar a jogar no futebol brasileiro, não excluiria nenhum outro time.
O que você sente falta do futebol brasileiro?
Eu posso dizer muito pouco. Fiquei só dois anos no Brasil, em 1999 e 2000. Acho que é por isso que eu quero um dia voltar e passar um pouco mais de tempo jogando no futebol brasileiro.