Ver o Brasil na Copa também pode ser uma experiência solitária

ALGUM LUGAR ENTRE SÃO PAULO E MINAS GERAIS – Pessoas gritando em suas casas, bares com multidões fazendo barulho, cornetas soando. Nas cidades, dos vilarejos às metrópoles, é impossível ignorar uma partida da Seleção em Copa do Mundo. É como se o universo parasse, e apenas sons revelassem a existência de ocupação humana. Mas, como perceber que o Brasil está em campo quando se está no meio da estrada, com pista, morros e fazendas para todo lado?
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Mesmo em um ambiente tão pouco adequado à experiência coletiva que é o futebol dá para se ver a presença do Mundial. Sempre dentro da lógica que pauta as pessoas que têm na estrada a sua companheira constante. Como ocorreu com a Fernão Dias, rodovia que liga São Paulo a Belo Horizonte, nesta segunda.
O tráfego era tranquilo para o início de uma semana. Claro, muita gente adaptou planos para evitar uma viagem no dia em que o Brasil fechava sua participação na primeira fase da Copa. Mas nem sempre essa é uma opção. Alguns veículos circulavam, como poderia se esperar, mas o cenário mudou perto das 17h. Carros de passeio começavam a rarear. Só caminhões insistiam em rodar. Nem sempre o prazo para a entrega da carga permite o luxo de se parar por duas horas para ver futebol.

Mas os caminhoneiros fazem o que podem. Quem tinha alguma margem de tempo tentava dar um jeito. Parecia que os caminhões ganharam vida e resolveram fazer um rolezinho nos postos de gasolina: dezenas estacionados, colados, em fila dupla ou tripla, como se fosse o pátio de alguma montadora. Dentro dos restaurantes, seus motoristas davam uma conferida no time de Felipão.
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O dono do estabelecimento não devia gostar muito. Todas as mesas ocupadas, cada uma com uma pessoa, e ninguém consumia nada. O objetivo era apenas sentar e olhar para a TV pelo máximo de tempo que o prazo das entregas permitissem.

Mas o dever chama. Do mesmo jeito que a reportagem da Trivela precisa seguir para chegar a Belo Horizonte, onde acompanhará Inglaterra x Costa Rica, os caminhoneiros devem seguir. O segundo gol de Neymar, o que dá a certeza que o gol de Matip foi um acidente de percurso, e o final do primeiro tempo são os avisos. Hora de voltar para a estrada e se isolar do mundo. A vitória já está encaminhada, e o Brasil pode se virar bem sem esses solitários torcedores.
