Há 20 anos, França entrava para os campeões mundiais com vitória marcante sobre o Brasil

É Copa do Mundo, amigo! Dia 12 de julho de 1998, Stade de France, em Saint-Denis, imediações de Paris. A França chegava à final do torneio que recebeu contra o atual campeão e, mais do que isso, o maior vencedor do Mundial, o Brasil. Por mais que a França tivesse um time capaz de jogar bem e vencer, o mais otimista francês acharia otimista demais dizer que os Blues dariam um baile no Brasil, vencendo por 3 a 0 e perdendo outras tantas chances. Mas foi exatamente o que aconteceu.
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A França tinha superado uma semifinal dura contra a Croácia, de virada, algo inédito até então. Um 2 a 1 que veio com dois gols de Lilian Thuran, um jogador uqe jamias marcava gols. O Brasil tinha superado a fortíssima Holanda, nos pênaltis, em mais um capítulo heróico de Taffarel. Na final, porém, as coisas ganharam um ar misterioso desde o começo. Ronaldo, o principal nome daquele Mundial, melhor jogador do mundo, fenômeno de marketing, passou mal, teve uma convulsão que assustou outros jogadores. Não seria escalado. A primeira divulgação dos titulares no Stade de France trazia Edmundo como titular. O jogador não tinha sido titular em nenhum jogo até então. Mas isso acabou não se confirmando. Depois de alguns minutos, a escalação foi alterada. Ronaldo entrou em campo. Mas havia algo errado.
Em um choque com o goleiro Barthez, Ronaldo caiu no chão. Vários jogadores foram até o atacante, demonstrando preocupação. Ronaldo talvez não estivesse em plenas condições, talvez os outros jogadores não estivessem tranquilos com o Fenômeno jogando, depois de cenas de convulsão assustadoras naquela tarde. Tudo isso é possível. O que é fato, porém, é que vimos a França amassar o Brasil naquele dia. A começar pelo lance que gerou o primeiro gol, algo que a narração de Galvão Bueno eternizou.
Roberto Carlos tenta fazer uma embaixadinha na bola antes de afastá-la e acaba cedendo um escanteio. O narrador da rede Globo, então, dá um sermão ao vivo no lateral – que, claro, não estava nem ouvindo àquela altura. Era uma bola na ponta direita do ataque da França, com Karembeu. Ao tentar ajeitar a bola, ela vai para trás, e sai em escanteio. Roberto chuta a bandeirinha, descontente. “Essa gracinha que às vezes custa”, diz o narrador. Quem cobra o escanteio é Petit. Zidane sobre de cabeça e marca o gol da França. “Olha o que aconteceu, olha o que aconteceu! Goooool da França, Zidane. Aos 27 minutos do primeiro tempo”, diz Galvão, antes de iniciar uma sequência. “Copa do Mundo é coisa séria. Final de Copa do Mundo é coisa muito séria. Não é lugar de gracinha nem malabarismo. Na tentativa do malabarismo pintou o escanteio. Do escanteio, o que aconteceu? Cabeça de Zidane, bola no chão, gol da França”.
A bronca era só um dos pontos que Galvão mostrava insatisfação. Até ali, a França tinha criado boas chances. “O que aconteceu com a Seleção brasileira”, disse o narrador, ainda antes do gol. Guivarch tinha perdido gol, assim como Petit. Os franceses jogavam melhores naquele jogo. O Brasil, atordoado, levou algum perigo em cruzamentos ruins ou escanteios. E antes do fim do primeiro tempo, veio o segundo golpe. Escanteio de Djorkaeff, desta vez do lado esquerdo. Zidane, desta vez, nem precisou saltar: cabeceou no chão, com Roberto Carlos sem conseguir impedir a bola de entrar, por baixo das suas pernas. Era o 2 a 0, antes mesmo do apito do intervalo, aos 47 minutos do primeiro tempo.
O segundo tempo não teria o mesmo vigor. A França não pressionou tanto assim, mas o Brasil também nem. Nem Denílson, o maior reserva de todos os tempos nas Copas do Mundo (em número de jogos saindo do banco em Copas, o brasileiro é recordista), foi capaz de mudar o jogo. Ainda teve o episódio Rivaldo x Edmundo. O segundo, escalado inicialmente, depois desescalado pela volta de Ronaldo, entrou já na etapa final. Quando Zidane se jogou no chão para ganhar tempo e Rivaldo, em um ato de Fiar Play e uma inocência grande chuta para fora, Edmundo fica possesso. Grita com o companheiro.
Quando o jogo já estava nos acréscimos e o Brasil só buscava um gol de honra, veio o gol final. Em contra-ataque de um escanteio brasileiro, os franceses avançaram com velocidade e Petit recebeu em profundidade para tocar no canto e selar uma vitória histórica, que marcaria também a entrada da França no seleto clube de campeões do mundo. A partir daquele 12 de julho de 1998, a França era campeã do mundo e passou a fazer companhia a Uruguai, Itália, Alemanha, Inglaterra, Argentina e Brasil. A Espanha só entraria mais tarde, em 2010.
“É impressionante que 20 anos depois nós vermos como aquela vitória foi mais que um evento esportivo. Foi nossa maior vitória. Foi só logo depois que nós percebemos o escopo do que nós fizemos, quando nós vimos o surgimento de torcedores, um pouco como um tsunami humano. Você nunca pode prever isso. Isso apenas te acerta, mas as emoções são extremamente positiva e tão intensa que no fim isso será tudo que se vê. A coisa mais difícil quando você é um jogador é ganhar o coração das pessoas”, afirmou Emmanuel Petit ao site da Fifa.
“Vinte anos depois, nós ainda vendo em termos da magnitude daquela vitória. 1998 ainda é totalmente maluco. Nös ainda temos um lugar no coração das pessoas 20 anos depois e nós temos também uma ligação especial um com o outro. Na época, não percebemos isso. Passou despercebido. Você não pode saber o que milhões de pessoas estão pensando. Nós estamos jogando o jogo, uma Copa do Mundo, e nós tentamos ganhar as partidas por nós mesmos e pela torcida. Além disso, porém, não depende de nós o que as pessoas sentem”, disse Bixente Lizarazu.
“Nós conseguimos dar alegria para nós mesmos e nós fizemos 99% ou talvez 100% do país feliz. Nós experimentamos todas essas emoções juntos e eu ainda acho isso hoje”, contou Fabian Barthez. “Eu acho que nós demos alegria às pessoas e isso não pode ser subestimado. Eu lembro do árbitro apitando e eu dizendo a mim mesmo: ‘Somos campeão do mundo'. Talvez isso pareça como uma coisa pequena, ou até boba, mas eu disse para mim mesmo: ‘Nós somos campeões do mundo'. Antes disso, eu vi que faltava um minuto e disse para mim mesmo: ‘Talvez o Brasil vire', mas quando o árbitro apita, esse é o momento que você percebe”, afirmou Thierry Henry.
Um dia enorme na história da França. E do futebol.