De Plzen para o mundo
A maioria das pessoas nunca ouviu falar nesse time. No entanto, quando o nome da cidade é pronunciado os olhos se arregalam, ou melhor, a boca saliva. O glorioso Viktoria Plzen, atual campeão tcheco, garantiu na quarta-feira uma inédita vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões, e de quebra ganhou também a simpatia de milhares de torcedores mundo afora. Graças à cervejaria local.
Plzen é o berço da cerveja pilsen, um estilo da família lager, extremamente consumido no hemisfério sul. Lá, em 1842, surgiu a Pilsner Urquell, e desde então a produção não parou mais.
Já conhecendo toda essa história – coloque o Viktoria aí -, no início de 2010 programei uma passagem por Plzen. Praga estava no meu roteiro e a capital tcheca fica somente 90 km distante. Cedinho peguei o ônibus para a cidade de 172 mil habitantes. Era inverno, e o inverno no Leste Europeu costuma castigar demais os brasileiros que se aventuram por lá. Mas a combinação futebol + cerveja é algo fundamental em qualquer viagem.
A neve fazia todos os moradores da cidade se esconderem em casa, deixando as ruas vazias, sombrias. A praça central parecia abandonada. Em frente à estação rodoviária, pegamos, eu e minha esposa, o trem (ou tram) indicado para a fábrica da Pilsner Urquell. Na verdade, ele passa em frente à ela e para bem depois…
Para quem gosta de cultura cervejeira, a visita à cervejaria é um dos melhores passeios do mundo. Plzen é uma cidade com diversas galerias subterrâneas, e estas se estendem à Pilssner Urquell. No passado, todo processo de fermentação era produzido a alguns metros abaixo da terra, até para conservar bem o produto.
Hoje, comprada pela SABMiller, toda produção é industrializada e boa parte exportada, até para atender a vontade de pessoas como eu, que não têm condições de viajar para Plzen semanalmente.
No entanto, e felizmente, o passeio pelas instalações da fábrica reserva uma grata surpresa. É possível beber uma Pilsner Urquell fabricada como antigamente. Sem filtros, sem o processo industrial, apenas guardada nos barris, aguardando a fermentação, pura como a mais angelical prece. E garanto para vocês: é um sabor único.
Para completar a visita a Plzen, a passagem pelo estádio do Viktoria era obrigatória. E para facilidade geral, a “arena” fica logo ali. Não na África do Sul, mas ao lado da Pilsner Urquell, do outro lado do rio Radbuza.
O Stadion mesta Plzne é modesto, comporta pouco mais de 7 mil pessoas. Quando passei por lá, estava fechado, não consegui nada além de fotos do lado de fora. Hoje está sendo reformado, irá atender às exigências da Uefa, mas talvez nem seja usado na Liga dos Campeões. Até agora, nas eliminatórias, ele sediou os triunfos sobre Pyunik Yerevan, da Armênia, e Rosenborg, da Noruega, pelas fases eliminatórias. Já contra o Kobenhavn, da Dinamarca, o mando de campo foi no estádio Eden, em Praga. Tudo isso com um time modesto, com veteranos como o goleiro Marek Cech e o meia Pavel Horváth, e promessas como o jovem atacante Václa Pilar.
Detalhes, apenas. Nada que afete o torcedor de Plzen. Afinal, o time local, fundado em 1911, pode não ser tão glorioso assim – um título nacional e duas Copas na República Tcheca, além de um vice-campeonato na antiga Tchecoslováquia -, mas história é o que não falta para a cidade. Muito menos motivos para celebrar.