Não são pelos 20 centavos, mas pelos mortos do atentado que liga Argentina e Irã

Eram poucas pessoas, cerca de 60. Eles estavam na avenida Paulista, em São Paulo, com faixas e roupas pretas. Em uma Copa com uma quantidade considerável de protestos pelas cidades, uma manifestação tão reduzida receberia pouca atenção. Mas não deveria. Essas seis dezenas queriam apenas que o maior atentado terrorista da América Latina fosse lembrado antes de Argentina e Irã se enfrentarem no Mineirão.
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A história começou em 18 de julho de 1994 em Buenos Aires. Uma bomba explodiu na sede da Associação Mutual Israelita-Argentina, destruindo o prédio e matando 85 pessoas (67 dentro do edifício e o restante na vizinhança) e ferindo mais de 300. A conta ainda cresce se forem incluídos os imóveis danificados.
Apesar da gravidade, o caso nunca avançou na Justiça. Durante anos, os responsáveis eram trocados e surgiam acusações de acobertamento. Em 2005, o cardeal Jorge Mario Bergoglio (atual Papa Francisco) deu a primeira assinatura de uma petição por justiça. Em 2006, os promotores Alberto Nisman e Marcelo Martínez Burgos acusaram formalmente o governo do Irã de ordenar a ação, e o Hezbollah por executá-la. A versão é contestada, mas ganha força pelo fato de que um grupo ligado ao Hezbollah havia assumido um atentado contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992, dois anos antes do ataque à Amia.

A questão é que, até hoje, ninguém foi punido. Um acordo entre Argentina e Irã limitou as investigações a quem já estivesse na lista de procurados pela Interpol e os interrogatórios foram realizados pelos iranianos. A Justiça argentina ficou fora de boa parte do processo.
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A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, até hoje organiza grandes manifestações todo 18 de julho (veja algumas fotos abaixo). O próximo, em menos de um mês, marcará o 20º aniversário do atentado. Claro que um encontro entre Argentina e Irã na Copa do Mundo não podia passar batido.
Por isso, a comunidade judaica brasileira realizou o protesto deste sábado. O pedido era que o caso fosse lembrado. O Congresso Judaico Latino-Americano criou campanha – inclusive enviando cartas para Joseph Blatter e Dilma Rousseff – para que houvesse um minuto de silêncio antes da partida no Mineirão. Não foram atendidos.
Provavelmente eles não esperavam ter sucesso. Mas só queriam que a sociedade não esquecesse que, até hoje, o maior atentado terrorista da América Latina segue impune.



