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Boletim da CAN 2022, Grupo E: Costa do Marfim atropela a Argélia e encerra a vexatória campanha dos atuais campeões

A Argélia chegou com status de favorita, mas acumulou tropeços e, quando precisava da vitória a qualquer custo, acabou engolida por Costa do Marfim

A Argélia chegou à Copa Africana de Nações com o status merecido de favorita. As Raposas do Deserto reuniam grandes jogadores, eram os atuais campeões, apresentavam um futebol ofensivo e vinham de uma sequência invicta de 34 partidas. Três jogos bastaram para que o time de Djamel Belmadi ruísse e se tornasse uma das maiores decepções da história da CAN. Depois do empate com Serra Leoa e da derrota para Guiné Equatorial, os argelinos chegaram com a corda no pescoço na última rodada. Precisavam da vitória sobre Costa do Marfim para se classificar. Os Elefantes terminaram de implodir os adversários, com a vitória por 3 a 1 que garantiu a liderança do Grupo E. Pior, os magrebinos terminaram na lanterna.

Nem se a Argélia vencesse passaria na primeira posição, aliás. Guiné Equatorial se confirmou mesmo como uma das gratas notícias dessa Copa Africana e avançou em segundo, ao vencer Serra Leoa por 1 a 0. Apesar da queda precoce, os serra-leoneses também fizeram um papel digníssimo no retorno à competição após 26 anos e ficaram na terceira posição, com dois pontos. Não podem mais avançar entre os melhores terceiros colocados, porém. Quem se confirma nas oitavas dessa maneira é Comoros, zebraça do Grupo C que eliminou Gana.

Costa do Marfim não terá vida fácil nas oitavas de final e já sabe que está no caminho do Egito, mas é favorita pela bola apresentada até o momento. Já Guiné Equatorial ainda aguarda seu oponente, que será o líder do Grupo F.

Classificação fornecida por

Costa do Marfim 3×1 Argélia

Diante do caráter decisivo de seu jogo, a Argélia contou com mudanças. Said Benrahma e Ramiz Zerrouki eram duas novidades importantes na escalação. Ainda assim, Costa do Marfim era um adversário que merecia cuidados, com Sébastien Haller e Franck Kessié como principais figuras. Sem tanta responsabilidade, com a classificação já garantida pelo menos entre os melhores terceiros, os Elefantes pareciam jogar mais leves. Os marfinenses exploravam os ataques rápidos e davam trabalho com Max Gradel. A primeira chance seria criada pelo ponta, aos oito minutos, mas Nicolas Pépé errou o alvo. Os argelinos dependiam das bolas paradas, sem muitas brechas da defesa adversária. Quando finalmente levaram perigo, Ismaël Bennacer recebeu um escanteio curto e mandou uma pancada na trave. A história do jogo seria outra se entrasse.

Afinal, justo no momento em que a Argélia começava a se sentir mais à vontade no jogo, Costa do Marfim abriu o placar. O gol saiu aos 23 minutos, numa boa tabela pela direita. Pépé recebeu e devolveu logo para Kessié, que chegou rasgando na área e mandou para o fundo das redes. Por conta dos resultados anteriores, só a virada interessava aos argelinos. Porém, os atuais campeões tinham dificuldades para criar e só responderiam com Youcef Belaïli aos 35. Costa do Marfim controlava o meio e, mais contundente, ampliou aos 40. Numa falta cobrada na intermediária, Serge Aurier cruzou com qualidade e Ibrahim Sangaré cabeceou para as redes.

A Argélia precisaria de uma reviravolta imensa no segundo tempo. Até por isso, veio com Islam Slimani no lugar de Benrahma. Contudo, Costa do Marfim voltou melhor e queria mais. Aurier beliscou a trave aos cinco minutos, antes de Raïs M'Bolhi salvar o chute de Pépé. Os Elefantes fizeram por merecer o terceiro gol aos dez minutos, com Pépé. O contra-ataque puxado por Haller pegou a defesa argelina totalmente exposta e Pépé foi avançando até invadir a área. Então, só deu um tapa no canto e aumentou a humilhação da Argélia. Restava às Raposas do Deserto jogarem pelo mínimo de honra.

A Argélia poderia ter descontado na sequência, num pênalti sobre Belaïli. Para aumentar o vexame, Mahrez desperdiçou a cobrança, ao acertar a trave. A angústia tomava conta de vez dos argelinos, que ainda dependiam das bolas paradas e só descontaram aos 28, após um escanteio que Aïssa Mandi ajeitou e Sofiane Bendebka concluiu para dentro. As Raposas do Deserto insistiam, mas o goleiro Badra Ali Sangaré também estava inspirado, com duas grandes defesas contra Slimani e Yacine Brahimi. Com o passar do tempo, as dificuldades dos magrebinos nas finalizações voltavam a atrapalhar, como em toda a CAN. Costa do Marfim, por sua vez, levava perigo nos contragolpes e não desistia da goleada. Até teve um tento de Haller anulado por impedimento nos acréscimos, pouco antes que o apito final encerrasse o vareio.

A Argélia ser eliminada na fase de grupos da Copa Africana não é algo raro. Isso aconteceu com certa frequência inclusive nos últimos anos, com as quedas precoces em 2013 e 2017. Porém, as Raposas do Deserto não tinham expectativas tão grandes quanto as atuais e nem vinham com o rótulo de atuais campeãs. O impacto pode ser desastroso, ainda mais às vésperas da fase decisiva das Eliminatórias para a Copa do Mundo. Já a Costa do Marfim, com sete pontos, avança com moral. Os Elefantes não têm mais chances de ir ao Mundial de 2022, mas mostram que o bom elenco pode render bem mais do que nos últimos meses.

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Guiné Equatorial 1×0 Serra Leoa

A vitória de Guiné Equatorial sobre a Argélia deixava a situação do time tranquila, dependendo apenas de um empate para se classificar. Já Serra Leoa precisava da vitória para evitar qualquer risco. Melhor para os equato-guineenses, que fizeram um grande primeiro tempo e venceram por 1 a 0. A primeira etapa teria um baile dos Relâmpagos Nacionais. Foram dez finalizações, que de novo deram trabalho ao goleiro Mohamed Kamara. O gol da vitória saiu aos 38 minutos, numa cobrança de escanteio ensaiada. A bola rolou nos arredores da área até que Pablo Ganet mandasse um míssil de média distância, que entrou no cantinho da meta.

O segundo tempo seria mais equilibrado. Serra Leoa saiu mais ao ataque durante os primeiros minutos e Steven Caulker quase empatou numa cabeçada que saiu ao lado da trave. Na sequência do jogo, Guiné Equatorial voltou a crescer e a responder, sem ampliar. E os Estrelas Leoas poderiam ter marcado aos 40 minutos, quando ganharam um pênalti. Porém, o goleiro Jesús Owono defendeu muito bem a cobrança do veterano Kei Kamara e frustrou as esperanças dos serra-leoneses. Serra Leoa ainda terminou com um a menos, depois da expulsão de Kwame Quee aos 45. Fim de linha numa campanha que, ao menos, ofereceu empates memoráveis contra Argélia e Costa do Marfim. Já Guiné Equatorial será uma surpresa em potencial por aquilo que tem apresentado.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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