Atalanta: O celeiro da Europa

Alguns anos atrás, uma pesquisa feita na Europa tentou descobrir qual era o principal clube europeu formador de jogadores. O critério foi pegar os atletas em ação pelos campeonatos mais relevantes e descobrir qual era o clube que tinha 'produzido' o maior número deles. A Atalanta, time da cidade de Bérgamo, na Lombardia, foi a escolhida.

As divisões de base do clube são famosas em todo o continente. Como não tem uma base financeira de peso, a sociedade se apega a uma cuidadosa formação de jogadores, que tem sido a mais vitoriosa do país nos últimos anos. Na temporada passada, a Atalanta venceu os 'scudettos' nas categorias juvenis e juniores. E isso não é novidade. Aliás, o clube tem mais sucesso nas divisões inferiores do que no time principal, onde nunca venceu o título italiano da Série A.

Aqui não foram os ingleses…

Em 1904, uma fabricante de produtos têxteis suíço foi o responsável pelo surgimento de um clube chamado 'Bergamo FC', junto com outros apaixonados. Três anos mais tarde, um grupo de ilustres da cidade empreendem uma cisão originando a Atalanta, nome de uma ninfa da mitologia grega. Nos seguintes anos, as duas agremiações começam a alimentar uma rivalidade, mas em 1920 se fundem. A primeira partida viria somente em 1928, contra o Mestre, sendo vencida pelos 'Orobici' por 4 a 1.

O clube era pequeno e tinha poucos recursos, mas sonhava com a primeira divisão nacional. Em 1925, chega um par de húngaros ao clube, os primeiros estrangeiros até então. Lukatz e Hauser eram atacantes. O esforço levaria tempo para ser coroado. Somente em 1937 que o clube Bergamasco, sempre tingido de preto e azul, chegaria à Série A e, de lá para cá, uma das marcas do clube foi a alternância entre as duas divisões, como a maioria das equipes provinciais.

Nessa época, o aparecimento do atacante Giulio Panzeri deixaria uma marca na cidade, como um dos primeiros ídolos. Panzeri fez 46 gols com a camisa da Atalanta e até hoje está entre os maiores goleadores do time na Série A. O leitor pode se perguntar como um clube pode ficar com goleadores de números tão pequenos, e se explica: os grandes da Itália sempre se serviram da Atalanta para preencher suas filas e quando um deles chamava a atenção, era logo 'fisgado'.

Série A!

No final da década de 30, com a estréia na divisão máxima, a Atalanta se apresentava com um time quase todo formado de atletas da cidade. Cominelli, Schiavi e Salvi eram alguns dos destaques, sendo que Cominelli é, até hoje, o maior artilheiro do clube, com 58 gols. O clube permaneceu sem cair durante 16 anos e, em 1948, terminou a temporada na quinta colocação, um recorde que permanece até hoje.

Em 1949, desembarca em Bergamo um certo Berttil Nordahl, irmão do goleador lendário do Milan. Berttil era sueco e zagueiro e marcaria uma época no clube. Fortíssimo na marcação, seria o comandante da defesa bergamasca e iniciaria uma série de escandinavos na sociedade. Anos depois, Hasse Jepson também faria história na Itália, jogando também pelo Napoli, anos depois. Na década seguinte, o maior nome atalantino seria Stefano Angeleri, 319 jogos pelo clube, uma marca não batida até hoje. Mesmo sem glórias, Bérgamo firmou-se como um estádio muito hostil aos adversários, característica que mantém atualmente.

Domenghini e a Copa Itália

Em 1963, a Atalanta conheceria sua primeira glória, vencendo a Copa Itália. Em seu caminho até a conquista, ainda teve também uma participação excelente na Mitropa Cup (uma competição internacional que tinha alguma relevância à época). Mas a grande glória mesmo era a presença de Domenghini, centroavante clássico que fez os três gols na final da competição e que seria uma das estrelas da Inter de Milão montada por Helenio Herrera, lendário treiandor argentino.

No ano seguinte, morreria o presidente Daniele Turani, político local de grande intimidade com o clube. A Atalanta sempre seguiu a tradição de ter seu nome ligado a uma família tradicional da cidade. A morte de Turani causou alguma instabilidade ao clube, a pesar da aparição de Beppe Savoldi, atacante que chegaria à seleção e teria destaque no melhor time do Bologna de todos os tempos, naquela mesma década. Mesmo com os rebaixamentos, a Atalanta ainda é a equipe com mais participações na Série A entre as chamadas 'provinciais' (42 campeonatos ao todo).

A gestão seguinte, da família Bortolotti, veria o nascimento de um dos maiores jogadores italianos de todos os tempos, Gaetano Scirea, líbero espetacular que fez carreira na Juventus, onde passou a maior parte de sua vida profissional. Uma curiosidade: os hoje técnicos Emiliano Mondonico (Cosenza) e Giovanni Vavassori (da própria Atalanta) jogaram em Bergamo nessa época. A Atalanta viveria um ano de Série C para prontamente se recuperar. No início da década seguinte, outro astro italiano surgiria nas divisões de base: Roberto Donadoni, jogador que venceria tudo pelo Milan de Sacchi.

Agora é produção industrial

Da década de 80 em diante, a Atalanta não parou mais de fornecer jogadores aos clubes maiores: depois de Donadoni, vieram o sueco Stromberg e o goleiro Ferron (campeão pela Sampdoria), além do brasileiro Evair e do argentino Caniggia, ainda um jovem promissor. Em 1986, o clube teve uma participação na Recopa européia que não rendeu troféus, mas foi considerada uma grande honra à sociedade.

Marcello Lippi, hoje treinador da Juventus, passou pelo banco da Atalanta, e muitos outros nomes têm brilhado no clube, mesmo sem recursos para contratações: Pippo Inzaghi (Milan), Paolo Montero (Juventus), Maurizio Ganz (ex-Inter e Milan), Alessio Tacchinardi (Juventus), Paolo Poggi (ex-Roma e Udinese), Christian Vieri (Inter), Domenico Morfeo (Inter), Tomas Locatelli (Bologna e ex-Milan) e tantos outros. Não há nenhum clube com produção tão rica. O único senão é a violência de sua torcida, considerada uma das mais perigosas do país, mas sempre bem controlada. O 'scudetto' de fábrica de craques é sempre da Atalanta.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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