Daniel Alves conseguiu piorar ainda mais a imagem da seleção brasileira ao responder sobre polêmica do agasalho
Daniel Alves pediu respeito em resposta a críticas de Bruno Fratus, depois da polêmica sobre agasalho do Time Brasil, exigência na Olimpíada
O lateral direito Daniel Alves teve um fim de semana que foi de glória em campo e de mais um título na sua impressionante carreira como jogador, o 42º (ele contabiliza 43 pelo Mundial sub-20 de 2003) com a medalha de ouro olímpica. Além da medalha, o lateral resolveu se envolver na polêmica sobre o agasalho do Time Brasil. Conseguiu piorar ainda mais a imagem já desgastada da seleção brasileira diante da atitude ridícula de não vestir o agasalho do COB na cerimônia de premiação, como é exigido de todos os atletas da Olimpíada, em todos os países.
A atitude de não vestir o agasalho do Time Brasil no pódio olímpico foi vergonhosa, fruto de uma briga nos bastidores entre a CBF e o COB. A federação de futebol queria valorizar o seu patrocinador no pódio, a Nike, ignorando o protocolo que todos os países devem respeitar, de vestir o uniforme do Comitê Olímpico do seu país. No caso do Brasil, o agasalho do Time Brasil, do COB, que é da Peak, fabricante chinesa.
É liberado que cada modalidade tenha seus patrocinadores e fornecedores de material esportivo e podem usar durante a disputa, como o Brasil fez ao usar os uniformes da Nike ao longo dos jogos. Não é permitido que o símbolo das confederações apareça no uniforme (o símbolo do Time Brasil substitui o escudo da CBF na camisa no masculino e no feminino) e na premiação, os jogadores devem estar com o agasalho do Time Brasil.
Apesar do pedido do COB para cumprir o protocolo, a CBF decidiu ignorar e fez o que quis. Os jogadores colocaram o agasalho na cintura, por orientação da entidade. O COB, repudiou a atitude da CBF e diz que resolverá o caso na Justiça – já que pode ser punido pelo COI e ser processado pela Peak, empresa fornecedora de material esportivo do Time Brasil. Caso haja punição do COI, ela será ao COB, não à CBF, o que gera ainda mais insatisfação na entidade que gere o esporte olímpico brasileiro.
A Peak também se manifestou a respeito no se Instagram. “Parabenizamos o time brasileiro de futebol. No entanto, esperamos que este jogo não esteja nas manchetes amanhã. Confirmamos que houve um rumor que a Nike seja uma marca secundária da Peak e que fazemos parte da mesma companhia. Aqui confirmamos que somos empresas diferentes e não tínhamos nenhuma intenção de combinar a camisa deles com nossas calças no pódio. Alguém deve ser responsabilizado por isso e por colocar a Nike em uma situação embaraçosa. Somos a Peak. Eles são a Nike… De qualquer forma, os atletas estão de parabéns”, escreveu a empresa no seu Instagram, em inglês.
O nadador Bruno Fratus, medalha de bronze na prova dos 50 metros rasos em Tóquio 2020, criticou a atitude da seleção brasileira. “A mensagem foi clara: não fazem parte do time e não fazem questão. Também estão completamente desconexos e alienados as consequências que isso pode gerar a inúmeros atletas que não são milionários como eles”, escreveu o atleta, em resposta a uma publicação de Marco Antônio La Porta, chefe de missão do Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Não foi o único. Poliana Okimoto, medalhista olímpica e campeã mundial na maratona aquática, criticou a atitude da seleção brasileira de futebol masculino. “Um dos conceitos básicos do esporte é a disciplina, seguir as regras não deveria ser tão difícil. O que o futebol fez, em não vestir o uniforme oficial, no pódio ficou feio pro Brasil. A punição vai pro COB, não pra CBF”, escreveu a nadadora no seu Twitter.
Daniel Alves: “Não aceitamos algumas imposições“
Diante das críticas, recebidas não só desses atletas, mas de muitos torcedores nas redes sociais e do próprio COB, Daniel Alves foi ao seu Instagram e falou sobre o caso. Cobrou respeito dos outros atletas e ainda endossou a atitude que foi orquestrada pela CBF e foi apoiado por alguns dos jogadores do elenco nos comentários. Pior ainda, se desvinculou do Time Brasil ao dizer para respeitar o esporte dele “quando exigir algo nos seus esportes”.
“Eu como capitão dessa equipe respeito todas as opiniões de atletas de outros esportes, porém tem coisas que nós também não aceitamos dentro do esporte. Não queremos ser diferente de ninguém, mas não aceitamos algumas imposições. Favor quando forem exigir alguma coisa pro seus esportes, respeitar o nosso…. Até mesmo porque presamos (sic) para que haja uma igualdade dentro das modalidades ou pelo menos um equilíbrio. Não se faz reivindicações criticando outros esportes, devemos criar uma base sólida nas nossas teses para defender as nossas solicitações. Obrigado”, escreveu o lateral direito.
O problema é que esse tipo de acordo existe para que todos possam fazer parte de um mesmo time, o Time Brasil, e é parte de um protocolo que vale para todos os países do mundo. É uma exigência do COI, que inclusive é quem aprova os uniformes de cada delegação. É assim em todos os países. O desrespeito a isso é uma atitude mesquinha, instruída pela CBF, se sobrepondo às outras modalidades. Não há nenhuma justificativa plausível para que a CBF não usasse o agasalho do Time Brasil e ignorasse uma recomendação de forma deliberada, como a CBF fez, desrespeitando um acordo que já é sabido. Não querer cumprir as regras combinadas previamente para todos os países parece uma atitude completamente fora do espírito olímpico.
Há um detalhe interessante na fala de Daniel Alves. Ele escreve que não aceitam “algumas imposições”. Ele usa o termo algumas, o que é curioso. Muitas imposições os jogadores aceitam sim e aceitam calados. Recentemente tivemos episódios assim. Os jogadores manifestaram que manifestaram insatisfação com a CBF e deixaram no ar a possibilidade de não jogar a Copa América. Um movimento que eles mesmos esvaziaram dias depois, aceitando, sim, jogar a Copa América no Brasil. Esse é uma imposição que os jogadores aceitam. Tal como tantos outros que acontecem no futebol brasileiro, como o calendário insano, especialmente no Brasil onde Daniel Alves joga, que sequer respeita data Fifa.
É normal que haja um certo temor em reagir contra a imposição da CBF sobre alguma coisa, como este exemplo do agasalho, e parece injusto cobrar que eles peitem esse tipo de orientação de, por exemplo, não vestir o agasalho. É compreensível o temor de ser deixado de lado na Seleção, perder uma Copa do Mundo. Isso vale só até quando o jogador resolve se manifestar publicamente não para criticar sobre a atitude ridícula, mas para defendê-la. Quando o jogador vai ao seu Instagram e escreve o que ele escreveu, ele está se colocando do lado da CBF em uma atitude que é errada, mesquinha e desrespeitosa. Reforçou a própria crítica feita contra os jogadores da Seleção.
Daniel Alves saiu em defesa do seu esporte, ao menos imagino que ele acredita nisso. Validou uma atitude da sua confederação que não só não merece defesa, como deveria ser criticada por qualquer atleta. Com isso, a mesquinharia da CBF derrama também no jogador e em todos que foram ao seu post apoiar as palavras do capitão, como Paulinho, Reinier, Matheus Cunha e Bruno Guimarães. Como dissemos no texto sobre a polêmica do agasalho, a atitude reforça ainda mais a sensação que o futebol não se sente e nem quer fazer parte do esporte olímpico. Piora não só a imagem da Seleção, mas a distancia do torcedor, e nem só do torcedor de futebol, mas de quem aprecia esporte e curte as Olimpíadas.
Além da polêmica do agasalho que Daniel Alves fez questão de se envolver e defender a CBF, o jogador tinha também disparado contra o seu clube. Em entrevista ao jornalista Demétrio Vecchioli, do UOL, no Japão, o jogador fez críticas ao clube e se mostrou muito incomodado com as críticas que recebeu de alguns torcedores por ter ido para a Olimpíada e não jogar pelo São Paulo em jogos importantes. Afirmou que o clube tem falhado com ele, e ele não falha com o clube. Pediu respeito aos torcedores e lembrou que tirou o time da fila — conquistou o Campeonato Paulista neste ano de 2021. As críticas do jogador deixaram o São Paulo incomodado nos bastidores, segundo o ge.globo.
No fim de semana que Daniel Alves conquistou a medalha de ouro olímpica sendo o capitão e uma referência da seleção brasileira, também aumentou a sua coleção de bobagens ditas ao longo da carreira ao defender uma atitude minúscula da CBF. Ainda criou um clima péssimo com seu clube, errando na crítica mesmo tendo razão.
Logo após uma Olimpíada que teve tantas histórias bonitas, o futebol masculino termina com uma imagem ruim, de mesquinharia, pequenez e, como disse Bruno Fratus, desconexos e alienados. Uma imagem da qual o jogador não só não se desvinculou da palhaçada da CBF, como se misturou mais ainda ao defendê-la.