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Noriega: Tragédia de Izquierdo faz lembrar de Serginho

As duas mortes que abalaram o mundo do futebol são separadas por quase 20 anos

A imagem é arrepiante. Do nada, o lateral Juan Izquierdo, do Nacional, cambaleia pela faixa central do gramado do Morumbis. Em segundos, ele cai e instala-se o pânico entre os atletas de seu time e do São Paulo.

O drama, iniciado em 22 de agosto, teve triste desfecho na noite gelada do dia 27, com a morte de Izquierdo, aos 27 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Quando vi a cena do dia 22 de agosto de 2024, imediatamente minha memória me trouxe o arquivo de outra cena, envolta em uma série de tristes coincidências. Também num dia 27, mas de outubro de 2004, o zagueiro Serginho, do São Caetano, caiu próximo ao gol defendido pelo seu time.

O mesmo gol para onde atacava o Nacional de Izquierdo, que utilizava um uniforme muito parecido com o do São Caetano.

Serginho tinha 30 anos, era um atleta forte, que vivia o melhor momento da carreira, e morreu horas depois no hospital São Luiz do Morumbi. Posteriormente descobriu-se que ele tinha problemas cardíacos, mas optou por seguir atuando como jogador profissional.

À época, houve grande debate sobre exames prévios realizados por clubes de futebol e discutiu-se até a incidência de casos de problemas cardíacos em jogadores provocados pela Doença de Chagas.

Em 2004, eu atuava como comentarista e chefe de reportagem dos canais SporTV e Première. Usávamos rádios comunicadores para acionar repórteres. Imediatamente, eu chamei o repórter Carlos Cereto, que estava trabalhando no jogo entre São Paulo e São Caetano.

Ele tinha sido orientado por um editor a ficar no estádio e fazer a reportagem do jogo para o jornal da noite. Imediatamente, eu pedi que ignorasse essa ordem e rumasse para o hospital.

Providenciei baterias extras para o rádio e enviei celulares e baterias para que ele pudesse entrar ao vivo na programação. Eram outros tempos, não existia a facilidade de se emitir imagens via celular por conexão 5G de qualquer parte.

Bom repórter, Cereto tinha fontes e foi fundamental naquela triste cobertura, inclusive trazendo a notícia confirmada que ninguém queria dar, a da morte de Serginho, com bastante antecedência em relação à nave-mãe, a TV Globo.

Todo aquele drama me veio à lembrança agora. O sofrimento de amigos e familiares. A busca por explicações, a apuração e a checagem dos fatos. O Jornalismo responsável, feito sem sensacionalismo e com respeito.

Problemas cardíacos são uma questão recorrente no futebol

Aguero se aposentou do futebol por conta de uma arritmia (Foto: Iconsports)

Problemas cardíacos em atletas de alto rendimento são relativamente comuns. Apenas médicos especializados podem avaliar exames e diagnosticar se um atleta, amador ou profissional, deve continuar em atividade, em virtude dos riscos.

Ainda assim, existe a vontade do atleta. É uma decisão individual seguir em frente.

Há vários casos envolvendo jogadores de futebol. O camaronês Marc-Vivien Foé morreu em campo. O espanhol Iker Casillas infartou num treino e abandonou a carreira.

O argentino Sérgio Aguero teve problemas cardíacos detectados em exames quando se transferiu para o Barcelona e optou pela aposentadoria precoce.

O atacante brasileiro Washington Coração Valente tinha problemas cardíacos, sabia disso, e optou por continuar atuando após tratamento, assumindo a responsabilidade pela decisão. O dinamarquês Eriksen foi ressuscitado em campo durante a Euro de 2020/21 e segue jogando bola.

As mortes de Foé, Serginho e Izquierdo jamais serão esquecidas. São casos tristes, dolorosos.

Tragédias em todas as atividades costumam deixar como legado a evolução nos protocolos de segurança e atendimento.

No caso de atletas profissionais, a tecnologia contribui para exames cada vez mais precisos, que possam detectar o perigo de expor o coração a atividades que o coloquem em risco.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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