México
Tendência

O Tigres buscou uma virada épica em Guadalajara e se proclamou campeão do Clausura após quatro anos sem o título

O Chivas ganhava em casa por dois gols de diferença até o meio do segundo tempo, quando o Tigres buscou o empate e depois decretou a virada na prorrogação

O Tigres se estabeleceu como uma força recorrente no Campeonato Mexicano desde a última década. Os Felinos conquistaram quatro troféus nacionais de 2015 a 2019. As últimas temporadas, porém, não tinham sido tão prolíficas em Nuevo León. Com o envelhecimento da espinha dorsal da equipe, as taças minguaram. Mas, neste domingo, o Tigres voltou aos seus melhores tempos e reconquistou a Liga MX depois de quatro anos. E foi com enorme emoção: os felinos faturaram o Torneio Clausura em Guadalajara, de virada e na prorrogação, para cima do favorito Chivas. O Rebaño Sagrado vencia por dois gols de vantagem até os 20 minutos do segundo tempo, quando se iniciou a reação dos auriazuis. Depois do empate no tempo normal, a vitória por 3 a 2 se confirmou no segundo tempo extra e garantiu a festa dos visitantes no Estádio Akron.

O Tigres vinha em jejum no Campeonato Mexicano desde a conquista do Clausura 2019. Os auriazuis tiveram o ápice do período com o título da Concachampions em 2020, mas não conseguiram mais repetir o sucesso nos torneios domésticos. O fim de uma era no clube aconteceu em 2021, quando o técnico Tuca Ferretti deixou o comando depois de 11 anos. Sem conseguir emplacar um substituto na casamata, o Tigres continuava batendo cartão nos mata-matas da Liga MX, mas não passava das semifinais. Já não existia mais aquele domínio da década anterior, mesmo que muitos jogadores importantes permanecessem no clube.

A volta por cima no atual Clausura teve seus caminhos tortos. O Tigres fez uma campanha morna na fase de classificação. A equipe até começou bem, ocupando os primeiros lugares, mas o rendimento despencou e derrubou os felinos para a sétima colocação. A explicação disso está na dança das cadeiras no comando técnico. Diego Cocca vinha credenciado por um trabalho histórico no Atlas, mas durou apenas cinco partidas em Nuevo León. Preferiu aceitar o convite da seleção mexicana para se tornar o treinador no novo ciclo após a Copa do Mundo. Seu substituto foi o antigo assistente Marco Antonio Ruiz, que não resistiu a uma sequência de cinco derrotas em seis rodadas. Foi então que o uruguaio Robert Siboldi assumiu, após trabalhos relevantes por Santos Laguna e Cruz Azul.

Siboldi estancou a sangria na fase de classificação do Clausura e garantiu a sétima colocação. Também colocou o time nas semifinais da Concachampions, apesar da queda para o León. A volta por cima se deu mesmo nos mata-matas da Liga MX. O rendimento do Tigres deu uma guinada, mesmo em cenários desfavoráveis. Na fase de reclassificação, uma espécie de “play-in”, os felinos encararam o Puebla e avançaram com a vitória por 1 a 0 no jogo único. Depois, nas quartas de final, o Tigres goleou o Toluca na ida em casa por 4 a 1, suficiente para a classificação apesar da derrota por 3 a 1 fora. Já nas semifinais, aconteceu o clássico contra o rival Monterrey, que vinha com a melhor campanha até então. O Tigres segurou o empate por 0 a 0 em casa e garantiu a festa na casa dos Rayados, com o triunfo por 1 a 0 assinalado por Sebastián Córdova.

A finalíssima se deu contra o Chivas Guadalajara, que também vinha embalado. O Rebãno Sagrado tinha eliminado o rival América com um épico ainda maior no Estádio Azteca durante as semifinais. Além do mais, tinha a vantagem de fazer o segundo jogo em casa. Na ida, prevaleceu o empate por 0 a 0 no Estádio Universitário de la UANL. O Tigres teve mais motivos para lamentar o resultado, não apenas pela pressão favorável da torcida, mas também porque criou bem mais ocasiões cristalinas para marcar.

A conquista, então, precisava acontecer no Estádio Akron. O Tigres até criou as primeiras chances, mas o Chivas abriu o placar logo aos 11 minutos, numa ótima jogada de Roberto Alvarado, abrindo a marcação e finalizando no cantinho. E o segundo gol do Rebaño Sagrado nem demorou a vir, aos 20 minutos. Numa cobrança de escanteio, o capitão Víctor Guzmán cravou um forte chute de primeira no meio da área. Nada parecia dar certo para os felinos, que ainda tinham perdido uma grande chance com André-Pierre Gignac entre um tento e outro.

O início da reação do Tigres começou aos 20 do segundo tempo, num pênalti. Gignac converteu e diminuiu a diferença no marcador. E a pressão deu resultado com o empate aos 26. Sebastián Córdova, que tinha sido herói contra o Monterrey, marcou um gol fundamental de cabeça. Antes do fim do tempo normal, os dois times criaram boas chances de vencer, com destaque às defesas de Nahuel Guzmán na meta dos felinos. Já na prorrogação, Miguel Jiménez faria milagres na meta do Chivas e ainda contaria com a ajuda da trave num lance. Porém, no segundo tempo extra, o capitão Guido Pizarro deu a virada aos auriazuis no meio de uma série de rebatidas na área. O gol dramático que valeria o título. Restavam mais dez minutos no relógio para o Chivas tentar reagir, mas furou suas duas melhores chances. Ainda ocorreriam duas expulsões, uma para cada lado.

Robert Siboldi chegou faz poucos jogos, mas consegue um grande feito como técnico do Tigres. O ex-goleiro tinha sido campeão do acesso com os felinos nos anos 1990, assim como da Copa México. Agora, complementa seu ciclo de conquistas no clube. Além disso, é seu segundo troféu como treinador na Liga MX, após ter levado o Clausura de 2018 com o Santos Laguna. Já em campo, o Tigres conta com um número expressivo de jogadores que voltam a botar a faixa no peito. Nahuel Guzmán, André-Pierre Gignac, Javier Aquino, Luis Quiñones, Rafael Carioca e Guido Pizarro, todos titulares neste domingo, estão no clube pelo menos desde 2018. Formam uma espinha dorsal que volta a ser campeã, com adições bem-vindas como o zagueiro Diego Reyes e o meia Sebastián Córdova – este, o grande protagonista do Clausura, com cinco dos oito gols do time nos mata-matas.

Até pela idade de alguns jogadores, essa talvez seja a última conquista do Tigres neste período excepcional do clube. Gignac e Guzmán estão com 37 anos, enquanto Rafael Carioca, Pizarro e Aquino chegaram aos 33. Fato é que, mesmo com as desconfianças e com as dificuldades na campanha, os felinos mostraram o espírito vencedor. Presente em cinco dos oito troféus do Tigres na história do Campeonato Mexicano, sem dúvidas esse grupo de atletas marca o futebol em Nuevo León. É a maior formação da história dos auriazuis e também uma das melhores que o futebol de clubes da Concacaf já presenciou.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo