Arqueólogos descobrem placar de mais de mil anos usado em “jogo maia ancestral do futebol”
Peça de 40 quilos foi encontrada em Chichen Itza, no México, e representa dois jogadores chutando uma bola

O futebol pode ter sido formalizado pelos ingleses através da unificação de suas regras em 1863, mas possui diversos ancestrais ao redor do mundo. A prática de jogos com bolas, aliás, sequer é exclusividade dos europeus. Há origens mais antigas em diversos continentes, inclusive na América Pré-Colombiana. Os Maias, por exemplo, possuíam sua versão boleira praticada séculos antes das invasões espanholas na América Central. E um placar de pedra usado no esporte foi descoberto nesta semana, no importante sítio arqueológico de Chichen Itza, na península de Yucatán, no México.
Segundo informações do Instituto Nacional de Antropologia e História do México, a peça circular de pedra possui 32 centímetros de diâmetro e pesa 40 quilos. Há uma imagem de dois jogadores, bem como de uma bola sendo chutada pelos “futebolistas originários”. Os arqueólogos estimam que o placar tenha sido feito entre os anos 800 e 900. Chichen Itza é um dos principais centros arqueológicos da civilização maia, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
“Neste sítio arqueológico maia, é bastante raro encontrar uma escrita hieroglífica, muito menos um texto completo”, explica Francisco Pérez, um dos responsáveis pela descoberta, em entrevista à agência Reuters. A partir de agora, o Instituto Nacional de Antropologia e História do México se prepara para captar imagens em alta resolução do texto e da iconografia presentes no placar. A partir de então, será realizado um estudo detalhado para averiguar os símbolos. A peça também passará por um processo de conservação.

Os jogos dos Maias eram praticados com bolas de borracha, em grandes quadras de pedra, que muitas vezes simbolizavam o poder de uma cidade. O formato mais comum das quadras era o de uma letra “I maiúscula”, com um grande corredor que ligava áreas paralelas nas pontas. As paredes incluíam murais pintados com figuras que representavam a mitologia maia. Existiam também espaços para os espectadores. Locais do tipo foram registrados nos atuais territórios de México, Belize, Guatemala, El Salvador e Honduras – o campo mais famoso é exatamente o de Chichen Itza.
As regras dos jogos variaram através dos séculos. As equipes poderiam ter de dois até seis componentes, inclusive com a presença de árbitros e de capitães. O objetivo era fazer com que a defesa adversária perdesse o controle da bola no alto e a forçasse tocar o chão. Porém, além dos pés, era comum que os jogadores usassem o quadril, o cotovelo e o joelho para os golpes. A duração dos jogos também poderia se estender até por dias. Mesmo o tamanho e o peso das bolas eram variáveis, com os tipos mais comuns chegando a quatro quilos. Já os uniformes incluíam proteções de couro às partes do corpo mais usadas, como braços e pernas, além de adereços na cabeça, como crânios de animais.
As estimativas são de que essas práticas maias começaram há mais de três mil anos. Os jogos possuem inclusive uma lenda sobre suas origens, que envolveria uma luta entre luz e trevas, com significados religiosos. Rituais de sacrifício estavam atrelados às práticas, que serviam para representar a devoção e a relação com a existência. Também existiam troféus, como estatuetas e cabeças. A decapitação era um dos métodos de sacrifício, representado em artes da época.
Além dos Maias, outros povos originários das Américas praticavam jogos com bolas. Há registros de atividades do tipo entre outras grandes civilizações, como os Incas e os Aztecas. Da mesma forma, outros povos também possuíam suas expressões, inclusive alguns que habitavam o Brasil. No atual estado de Mato Grosso, o jikunahaty era praticado com a cabeça e existia antes da chegada dos colonizadores portugueses. Já no Paraguai, os Guaranis praticavam o mangai, em que chutavam uma bola feita de resina. Há inclusive um documentário local que reivindica o reconhecimento da modalidade como uma das origens do futebol.