O ódio mútuo entre Mihajlovic e Stimac não ficou no passado
Várias histórias cercam o Croácia x Sérvia desta sexta. É o primeiro encontro das duas seleções após a guerra que culminou com a separação dos croatas da então Iugoslávia. No meio disso está Sinisa Mihajlovic, treinador da seleção sérvia e que por muitos anos jogou pela Iugoslávia. Filho de mãe croata e pai sérvio, o ex-meia e exímio cobrador de faltas teve sua infância vivida em grande parte na região de Vukovar, cidade que é situada em território da Croácia, na fronteira com a Sérvia.
Mihajlovic começou sua carreira pelo Borovo, em 1986, e em meados de 87 quase assinou com o Dinamo Zagreb, mas desistiu ao saber que o treinador Mirko Jovic, croata treinador da seleção iugoslava sub-20 só o convocaria para o Mundial da categoria caso Sinisa assinasse com os Azuis. Essa e outras revelações foram feitas em uma entrevista concedida à Gazzetta Dello Sport.
Em 1991, Borovo Selo foi disputada pelos dois países, em época marcada pelo início das sangrentas batalhas territoriais travadas em nome da independência croata. Em sua juventude, Mihajlovic já jogava no Estrela Vermelha (de Belgrado, Sérvia) e disputava o título da Copa dos Campeões quando casas vizinhas foram atingidas pelo bombardeio das forças armadas sérvias.
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Uma semana depois de avançar até a decisão europeia, o Estrela Vermelha fez a final da Copa da Iugoslávia. Do outro lado estava o croata Hajduk Split, que alinhava com Igor Stimac, hoje treinador da seleção da Croácia. O sérvio recorda até hoje uma provocação pesada de Stimac no início do confronto. “Em determinado momento, estávamos cara a cara. Ele se inclinou e disse cheio de ódio: ‘Rezo para Deus que sua família em Borovo seja assassinada’. Senti que poderia tê-lo matado com os meus dentes”, conta Sinisa. Os dois seguiram cometendo faltas duríssimas um contra o outro e acabaram expulsos.
“Ele é um homem que espalhou várias mentiras sobre mim. Tal qual a que sou gay. Ele também comentou que me enforcaria com as próprias mãos. Mas sua mãe é croata, sua esposa é italiana, ele casou e batizou suas crianças na Igreja Católica [a Sérvia é um país de maioria ortodoxa]. Acho que ele precisa tentar duas vezes mais do que todos quando quer provar seu alinhamento com a Sérvia. Eles nunca o aceitarão, não importa quanto ele carregue a imagem de Arkan [comandante de uma tropa paramilitar sérvia e ex-líder de uma torcida organizada do Estrela Vermelha] por aí”, rebateu Stimac.
Não como em outros tempos, quando disputava cada bola como se fosse a última diante de seus vizinhos e rivais, Mihajlovic explica seu plano como comandante da Sérvia. “Aceitei virar técnico da seleção levando em conta este jogo contra a Croácia. Eu deixaria de lado três anos da minha vida para estar neste confronto. E espero poder transportar minha paixão por meio dos meus jogadores. O duelo não será uma continuação da guerra. Já testemunhamos a realidade, a dura, cruel e horrível guerra, ainda carregamos a cicatriz e as feridas. É uma partida importantíssima, passional, e que desperta muitas emoções nas pessoas”, concluiu Mihajlovic.