Inexperiente e identificado: quem é o novo treinador do Napoli que seguirá trabalhando em seleção classificada à Eurocopa
Francesco Calzona foi auxiliar de Sarri e Spalletti, e terá a missão de fazer o Napoli subir na tabela em seu primeiro trabalho à frente de um clube

São tempos de novos, mas breves recomeços no Napoli. Campeão italiano após bater tantas vezes na trave na última temporada, o clube do sul da Itália faz uma decepcionante campanha até aqui na Serie A de 2023/2024. Os partenopei ocupam apenas a 9ª posição na tabela, com 36 pontos, quase a metade da líder Inter de Milão, que possui 63.
A principal explicação para uma temporada tão decepcionante passa sem dúvidas pelas escolhas no comando técnico. Após a saída de Luciano Spalletti, que pediu para deixar o clube após o título italiano, e que pouco tempo depois assumiu o comando da seleção italiana, o Napoli resolveu apostar em Rudi Garcia para o início de temporada com uma defesa de título e uma Champions League para jogar. Porém, as 8 vitórias 4 empates e 4 derrotas fizeram com que a presidência demitisse o francês em novembro do ano passado ainda, e contratasse Walter Mazzarri.
Mas a tentativa de uma volta a um passado deu menos certo ainda. Treinador do Napoli entre 2009 e 2013, quando o clube ganhou uma Copa da Itália em 2012, Mazzarri não foi capaz de levantar a moral do seu elenco. Em que pese a falta de um substituto a altura para Kim Min-jae, que foi para o Bayern de Munique, e a ausência de Victor Osimhen, que passou as últimas semanas jogando a Copa Africana de Nações, o treinador italiano conseguiu apenas 6 vitórias e perdeu 8 jogos à frente do Napoli. O estopim veio no último fim de semana, em um empate por 1 a 1 contra o Genoa, que fez o presidente Alfredo Di Laurentiis demitir Mazzarri e ir atrás de um novato, mas velho conhecido.
Quem é Francesco Calzona?
No mesmo dia em que demitiu Mazzarri, na última segunda-feira (19), Di Laurentiis anunciou a chegada de Francesco Calzona como treinador do Napoli até o restante desta temporada. Mas quem é esse italiano que vai manter o cargo de técnico da Eslováquia e assumir o comando do Napoli logo na sua primeira oportunidade como treinador efetivo de um clube?
Atualmente com 55 anos, Calzona foi um meio campista com uma curtíssima carreira nos anos 1980. Após abandonar as chuteiras, ele trabalhou como técnico de times amadores e vendendo grãos de café na década seguinte. Mas a partir do fim dos anos 2000, ele realmente passou a viver de sua paixão pelo futebol ao trabalhar como auxiliar técnico de Maurizio Sarri, que assim como ele, também treinou equipes amadoras. O trabalho da dupla começou em 2008, no Perugia, e durou até 2018, após a traumática campanha em que o Napoli fez 91 pontos, mas ainda assim foi vice-campeão da Serie A.
Ele também trabalhou como auxiliar técnico de Eusebio di Francesco no Cagliari e voltou ao Napoli para ser o assistente de Luciano Spalletti, em 2021. Porém, Calzona não participou da campanha do Napoli campeão porque em 2022, assumiu pela primeira vez um trabalho como técnico profissional. Indicado por Marek Hamsik, que o conhecia do primeiro trabalho no clube italiano com Sarri, ele assumiu o comando da seleção da Eslováquia em busca de uma classificação para a Eurocopa deste ano.
E a chegada do italiano se mostrou uma decisão mais do que acertada. Sob o comando de Calzona, a Eslováquia conseguiu a classificação direta junto com Portugal para a competição continental deste ano. Em 14 jogos, foram 7 vitórias, 4 empates e apenas 3 derrotas, o que instantaneamente chamou a atenção de Di Laurentiis, que agora com um novato mas identificado técnico, busca a recuperação do Napoli.
E na sua estreia, já um empate contra o Barcelona pela Champions League por 1 a 1. Mesmo não satisfeito com o resultado em casa no primeiro jogo das oitavas de final, o novo treinador exaltou o espírito de seus novos comandados em entrevista ao canal Sky Sport.
– Poderíamos até ter vencido na final e é um sinal importante porque normalmente nos últimos minutos há uma espécie de declínio. Os jogadores deram o coração e a alma para evitar a derrota frente a um adversário muito forte. Sofremos muito na primeira meia hora, depois a equipe reagiu. Foi uma reação desorganizada, mas ainda assim uma reação. Isso é fundamental, lutar até ao fim contra uma equipa desta qualidade deixa-me satisfeito -, disse o treinador, que também jogou limpo sobre o trabalho que terá pela frente.
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Ídolo foi chamado, mas recusou o convite de volta no momento
E para arrumar a casa e ao mesmo manter o espírito napolitano dentro dos atletas, Calzona chegou inclusive a convidar Hamsik para fazer parte de sua comissão técnica. Porém, o ex-jogador, que é o atleta que mais vezes vestiu a camisa do time italiano e que atualmente trabalha como gerente de futebol da seleção eslovaca, recusou o convite ao menos por enquanto.
– Só tenho a agradecer ao treinador por me querer no seu plantel, e até o presidente falou comigo sobre esse fato hoje. Mas eu me sinto assim, na minha cabeça talvez ainda não esteja pronto para isso. Aos trinta e seis anos ainda dá tempo de vir a Nápoles, onde penso e espero ter sempre as portas abertas.
– Para ele é a realização de um sonho. Para mim, Calzona é um treinador extraordinário, mesmo que esteja nesta profissão há pouco tempo. Ele tem uma grande personalidade, e na seleção os jogadores o amam por isso e pela forma como ele e sua equipe trabalham. Se ele trouxer isso também para o Napoli, o time crescerá -, finalizou Hamsik, que esteve presente na estreia de Calzona contra o Barcelona.
O que esperar do Napoli nos próximos meses?
Mas enquanto vive o sonho, claramente Calzona terá muito trabalho pela frente até o fim da temporada, quando acaba o seu contrato com o Napoli e ele voltará as atenções para a Eurocopa, que será jogada na Alemanha, à frente da seleção eslovaca.
Assim como os treinadores do qual ele foi auxiliar, Calzona também é adepto do 4-3-3, esquema que usou já contra o Barcelona. Para a partida, ele também deu uma oportunidade ao brasileiro Juan Jesus no time titular para jogar com Rrahmani na defesa, e também para Mathias Olivera, que vinha sendo preterido na lateral-esquerda na época de Mazzarri. Mesmo assim, ele disse que precisa entender melhor as características do grupo que tem, e que acima de tudo, espera ver espírito de luta em campo.
– Gosto do 4-3-3 mas me adapto às características dos jogadores. E gosto que o time jogue futebol e saiba fazer isso. Quero que ele tenha uma identidade e jogue em equipe. Tenho consciência de que não há tempo para isso e vou pedir um sacrifício para que eles entendam o que peço no menor tempo possível: bom jogo e resultados, não temos outro jeito.
Mesmo sem Hamsik, Insigne, Mertens e outras lideranças da sua época com Sarri, Calzona conta com a confiança de outros jogadores como o capitão Di Lorenzo e também de Lobotka, volante que é peça fundamental na seleção da Eslováquia e também titular absoluto do Napoli.
O novato treinador terá pouquíssimo tempo para colocar em prática seu estilo de jogo. Faltam apenas 14 jogos para o fim da Serie A e o primeiro é já neste domingo (25) contra Cagliari. Além disso, seu time ainda terá que vencer o Barcelona fora de casa para seguir sonhando com uma campanha melhor na Champions League. Com muito trabalho e identificação com o clube e com a torcida, o italiano espera começar com o pé direito sua primeira e breve experiência como treinador de um grande clube.