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O Verona de 1986/87: Após o Scudetto histórico, o último grande momento

Maior momento da história do Verona, a conquista surpreendente do Scudetto na temporada 1984/85 foi o auge de um grande período dos gialloblù dentro da chamada Era de Ouro do Calcio. Porém, inevitavelmente, ela ofusca outras grandes campanhas cumpridas pelos Scaligeri naquela época. Dois anos depois do título, por exemplo, o time dirigido por Osvaldo Bagnoli voltou a se colocar entre os primeiros colocados da Serie A e, de quebra, carimbou o passaporte para sua melhor campanha europeia em todos os tempos na temporada seguinte.

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PRÓLOGO: O PÓS-SCUDETTO

O ponto de partida para esta história é o dia 19 de maio de 1985, quando, diante de sua torcida, o Verona comemorou o Scudetto conquistado na semana anterior derrotando o Avellino por 4 a 2. Com seus craques cobiçados pelos gigantes do Calcio, mas também com a participação na Copa dos Campeões despontando no horizonte, o clube busca fazer um trabalho criterioso ao repor peças do elenco, trazendo bons nomes para os lugares dos titulares negociados.

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No gol, para o lugar do imprevisível Claudio Garella, vendido ao Napoli, chegou o sóbrio e eficiente Giuliano Giuliani, do Como. Para suprir a saída do ponta Pietro Fanna para a Inter (juntamente com o lateral-esquerdo Luciano Marangon), o clube buscou no Milan o experiente Vinicio Verza. Para dar profundidade ao elenco, ainda pagou 4,8 bilhões de liras no meia Beniamino Vignola, da Juventus, e trouxe também o defensor Gianluigi Galbagini, da rebaixada Cremonese.

A espinha dorsal, por sua vez, seguia formada por selecionáveis como o líbero Roberto Tricella, o armador Antonio Di Gennaro e o atacante Giuseppe Galderisi, além da dupla estrangeira formada pelo goleador dinamarquês Preben Elkjaer e pelo curinga alemão-ocidental Hans Peter Briegel. Em tese, não era favor algum ambicionar mais uma campanha na parte de cima da tabela, com algum eventual momento de brilho no torneio europeu. Mas tudo deu errado.

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A temporada 1985/86 tornou-se desde o início um avassalador anticlímax para os Scaligeri. Na Serie A, o clube passa toda a oscilante campanha brigando do meio da tabela para baixo. Chega a ser goleado nas visitas ao Napoli (5 a 0) e à Udinese (5 a 1). Na reta final, é humilhado em casa pela Atalanta por 3 a 0. Termina numa modesta 10ª colocação, com uma pontuação tão próxima das copas europeias quanto da zona de rebaixamento.

Na Copa dos Campeões, o passeio também é curto: depois de vencer os dois jogos contra os gregos do PAOK Salônica (3 a 1 e 2 a 1), com Elkjaer marcando quatro dos cinco gols, o sorteio coloca os gialloblù frente a frente com a Juventus, atual detentora da taça. Na ida, um 0 a 0 em casa já dificultou a missão. Na volta, a derrota por 2 a 0 em Turim, com gols de Platini e Serena e arbitragem muito contestada pelos visitantes, deixou um gosto ainda mais amargo.

DE VOLTA AOS TRILHOS

Apesar da queda brusca de rendimento do time, o técnico Osvaldo Bagnoli – comandante da equipe desde 1981 e responsável pelos excelentes resultados daquela década – foi mantido no cargo. E embora os gigantes do Calcio tenham se voltado novamente para tentar os principais jogadores do time, o Verona conseguiu manter alguns bons nomes. E mesmo perdendo outros, soube negociar contrapartidas para o elenco por meio de trocas.

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Assim, Briegel seguiu para a Sampdoria, de onde veio o volante Roberto Galia. O ofensivo lateral Luigi de Agostini foi trazido da Udinese, com Galbagini (que não se firmou) seguindo para Friuli. Vignola foi recontratado pela Juventus, que cedeu o centroavante Marco Pacione, um fiasco em Turim. Já Galderisi, titular do ataque da Azzurra que caiu nas oitavas no México, foi vendido ao Milan por cinco bilhões de liras mais o passe de seu reserva no Mundial, Paolo Rossi.

O time-base para a temporada teria, portanto, Giuliano Giuliani no gol, o selecionável Roberto Tricella de líbero e Silvano Fontolan de stopper, com Mauro Ferroni e Luigi de Agostini nas laterais. À frente da defesa, Roberto Galia fazia a proteção. O versátil Domenico Volpati era o dínamo do meio-campo, com Antonio di Gennaro (outro da Azzurra) sendo o homem da criação de jogadas. Na frente, Vinicio Verza dividia-se entre a ponta-direita e o recuo para ajudar a armação, enquanto Paolo Rossi e Preben Elkjaer faziam os gols.

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Dois outros nomes também tiveram presença importante na equipe: o meia Luciano Bruni era o reserva imediato do meio-campo, cobrindo especialmente Volpati quando este era deslocado para outras posições (como havia acontecido na campanha do scudetto, pela lesão de Ferroni). Já no ataque, Marco Pacione acabou atuando com frequência, inclusive entre os titulares (ora no lugar de Rossi, ora no de Elkjaer), e anotando gols importantes.

Talvez por essas alterações, o time demora um pouco para engrenar: estreia perdendo na visita ao Torino (2 a 1) e em seguida bate o Milan em casa com Roberto Galia marcando o único gol. Em seguida quatro empates, com Roma, Sampdoria, Udinese e Avellino. Naquelas seis rodadas iniciais, time ocupa mais ou menos o meio da tabela de classificação: está em sétimo, empatado com os rossoneri (na época, a Serie A contava com 16 clubes).

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A reação, que leva o time a vencer três dos quatro próximos jogos, começa na visita à Fiorentina: Pacione, que havia marcado no 2 a 2 com o Avellino (no qual Paolo Rossi também anotou seu primeiro pelo clube na Serie A), volta a balançar as redes aproveitando um rebote do goleiro Giovanni Galli. Uma semana depois, o Verona vence a perigosa Atalanta de virada (2 a 1), tropeça no Empoli (1 a 0), mas se reabilita batendo a Ascoli também por 2 a 1.

Outro resultado encorajador fora de casa vem na 11ª rodada: pouco mais de um ano depois de levar de cinco dos partenopei, o time volta ao San Paolo e segura um 0 a 0 com o Napoli de Diego Maradona, líder isolado e disparado da competição. Duas semanas depois, o time bate o Como por 1 a 0 com gol de pênalti de Paolo Rossi e só não vence também o Brescia, no domingo antes do Natal, porque o brasileiro Branco pegou rebote de Giuliani e empatou.

O ano de 1987 começa com a visita à Juventus no Comunale de Turim em 4 de janeiro. Os gialloblù abrem o placar com Elkjaer, mas os bianconeri – contando pela última temporada com Michel Platini – o empatam no segundo tempo com Lionello Manfredonia e viram o jogo a dois minutos do fim com um gol de falta de Antonio Cabrini. Menos mal que o roteiro se repetiria, mas desta vez a favor do Verona, no jogo seguinte, contra a Inter em casa.

Em tarde de muita neve na região do Vêneto, os nerazzurri – agora líderes ao lado do Napoli – abrem o placar quando Alessandro Altobelli se antecipa a Giuliani para cabecear um cruzamento de Karl-Heinz Rummenigge. Antes do fim do primeiro tempo vem o empate: Elkjaer recebe na área, gira e bate cruzado para vencer Walter Zenga. Mesmo fazendo muitos milagres, o arqueiro interista não consegue deter, aos 43 minutos do segundo tempo, uma cabeçada colocada do tanque dinamarquês, que recoloca os scaligeri em boa situação na tabela.

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A posição melhora ainda mais na abertura do returno, quando o time de Bagnoli se vinga do Torino e devolve os 2 a 1 da primeira rodada: Elkjaer, de novo, vai às redes completando uma bela jogada com Galia e Tricella e abre a contagem. O Toro empata num chutaço de Danilo Pileggi. Mas a três minutos do fim, Paolo Rossi sobe mais que toda a defesa granata para decidir. Com 20 pontos, o Verona está em quarto, atrás de Napoli (24), Inter (22) e Juventus (21).

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O mês de fevereiro, porém, não é muito feliz. Nos três jogos que faz pela Serie A, o Verona soma apenas um ponto e não marca nenhum gol: perde do Milan no San Siro e da Roma em casa, ambos por 1 a 0, e empata sem abertura de contagem com a Sampdoria em Gênova. Como resultado, despenca para a sexta posição, ficando a longínquos nove pontos do Napoli e a três do time logo acima na classificação, o Milan.

Há, porém, um ensaio de reação na vitória de 3 a 1 sobre a Udinese em 1º de março. Di Gennaro abre o placar logo aos três minutos, o brasileiro Edinho empata de pênalti, mas no segundo tempo Fontolan e Paolo Rossi (em outro pênalti) decretam o triunfo. Chama a atenção, no entanto, a enorme quantidade de gols perdidos pelos scaligeri. E em breve, as baixas sentidas seriam no elenco: na reta final, o Verona tem de enfrentar uma crise de desfalques por lesão.

Contra o Avellino, na Campânia, o time até abre o placar com Pacione, mas sofre o empate logo em seguida e tem que se contentar com um ponto. Contra a Fiorentina, em casa, abre dois gols de frente com Elkjaer e Galia, mas deixa a vantagem escapar no fim, com Ramón Díaz e Antognoni igualando para a Viola. Pior acontece em Bérgamo: sem Galia, Rossi e Di Gennaro, o time sucumbe à Atalanta, que vence com gol de pênalti de Marino Magrin.

O GRANDE MOMENTO DA TEMPORADA

Quando se esperava que o Verona fosse definitivamente se acomodar no meio de tabela, ele inventou de ressurgir. Primeiro, com duas vitórias apertadas: 1 a 0 sobre o Empoli (gol de Luigi de Agostini) e 1 a 0 sobre a Ascoli fora de casa (gol de Fontolan numa jogada ensaiada após cobrança de falta de Elkjaer). Até que chega o dia de receber o líder Napoli, então quatro pontos à frente da Inter, segunda colocada, a cinco rodadas do fim do campeonato.

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Naquela tarde de 12 de abril, o Verona cumpre sua atuação mais espetacular no campeonato. Sufocando os partenopei desde o início, abre o placar aos 21 minutos, quando Verza levanta falta na área e Pacione sobe mais que todo mundo para testar para as redes. Amplia aos 32 quando o chute de Tricella de fora da área desvia em Alessandro Renica e mata Claudio Garella. E faz o terceiro ainda no primeiro tempo, aos 39, em pênalti batido por Elkjaer.

No segundo tempo, para eternizar de vez a partida nos corações e mentes dos torcedores, ainda há um pênalti para o Napoli cobrado por Maradona e que Giuliani voa para espalmar pela linha de fundo. Logo depois, uma cabeçada de Andrea Carnevale acertou o travessão e quicou sobre a linha. Não havia jeito: o timaço dos partenopei poderia faturar o Scudetto (como acabaria fazendo), mas não venceria ou sequer marcaria um gol no Verona naquela campanha.

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Um empate em 1 a 1 na visita ao Como, novamente com o time muito desfalcado, freia a série de vitórias. Mas em seguida, o time volta a sobrar em campo e goleia o ameaçado Brescia: Verza acerta um belo voleio e abre o placar. De Agostini aproveita bola roubada na defesa adversária e faz o segundo. Verza e Di Gennaro também marcam em cabeçadas: 4 a 0. No fim, o meia Luigi Sacchetti desconta, mas não comemora: está emprestado pelo próprio Verona.

Em quarto lugar, mas já sem chances matemáticas de chegar ao novo scudetto, o Verona briga agora para confirmar a vaga na Copa da Uefa. Nas duas últimas rodadas, recebe a Juventus e sai para pegar a Inter, justamente a terceira e a segunda colocadas. Os gialloblù não vencem, mas obtêm dois bons empates: 1 a 1 contra a Velha Senhora e 0 a 0 contra os nerazzurri, fechando bem sua melhor campanha na Serie A pós-1985, sem perder nos últimos sete jogos.

TEMPO DE MUDANÇAS

Com a perspectiva de retorno às copas europeias, o elenco é encorpado. Há, no entanto, baixas importantes: a Juventus leva Roberto Tricella e Luigi de Agostini. E Paolo Rossi decide, aos 30 anos, pendurar as chuteiras. Mas, pelo menos em quantidade, o grupo de jogadores está mais bem servido, para evitar os problemas enfrentados na reta final da campanha anterior, quando foi preciso recorrer a improvisações e a jogadores da base.

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Da própria Juventus, vêm o líbero Roberto Soldà – que despontara bem no Como e na Atalanta, mas em Turim sucumbira ao peso de substituir o lendário Gaetano Scirea – e o stopper Stefano Pioli. Outro zagueiro rodado, Dario Bonetti, vem do Milan. Para o gol, o experiente Renato Copparoni (ex-Torino) chega para a reserva. Já para a lateral-esquerda, no posto deixado por De Agostini, o clube traz do campeão Napoli o versátil Giuseppe Volpecina.

Além disso, o clube aproveita a nova permissão da Federação para a importação de estrangeiros (que estava “congelada” desde 1985) e traz do Eintracht Frankfurt o lateral-direito Thomas Berthold, titular da seleção da Alemanha Ocidental. O meio também recebe reforços: além da volta de Luigi Sacchetti de seu empréstimo ao Brescia, o Verona também contrata o promissor armador Giuseppe Iachini, da Ascoli, e nome frequente nas equipes de base da Azzurra.

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Há ainda uma transformação radical no visual: depois de ter trocado de patrocinador na temporada anterior (saiu a Canon, fabricante de aparelhos eletrônicos e câmeras fotográficas, e entrou a também japonesa Ricoh, do mesmo ramo, mas especializada em fotocopiadoras), o clube agora tem novo fornecedor de material esportivo, com a Adidas passando a bola para a dinamarquesa Hummel. As cores do uniforme também são invertidas: agora, o número um é o todo em amarelo, com o inteiramente azul passando a ser o segundo.

A MELHOR CAMPANHA EUROPEIA

Enquanto a Serie A dá a largada, o time encara seus primeiros desafios na Copa da Uefa. A estreia é contra o Pogon Szczecin, equipe sem estrelas e que só complica o jogo de ida, na Polônia, depois que Soldà é expulso com apenas 24 minutos. O Verona, que saíra na frente com Elkjaer logo no início, cede o empate. Mas no Bentegodi, a vitória vem fácil: o time abre 3 a 0 de saída (dois de Elkjaer e um de Di Gennaro), e só sofre o gol de honra perto do fim da partida.

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Na fase seguinte, o adversário é o Utrecht, com quem o Verona empata em 1 a 1 na partida de ida, em solo holandês. Berthold abre o placar em cabeçada após escanteio aos 43 minutos do primeiro tempo, mas os donos da casa empatam ainda antes do intervalo com Alex van Ginkel. Na volta, Di Gennaro desvia um cruzamento da esquerda e abre o placar aos 24 minutos da etapa final, o que parecia encaminhar de maneira tranquila a classificação.

Mas o Utrecht empata num gol muito contestado, em que Johan de Kock parece empurrar o defensor gialloblù antes de tocar para as redes. O jogo então se torna dramático e aparentemente fadado à prorrogação. Até que, aos 44, após cobrança de escanteio, Volpecina acerta um balaço no travessão, e o que se segue é o caos. No meio do mar de pernas, o zagueiro Herman Verrips tenta cortar e acaba tocando contra as próprias redes. Verona classificado.

Os romenos do Sportul Studantesc são a próxima parada, pelas oitavas de final. Contando com três nomes experientes – o zagueiro Gino Iorgulescu, o meia Aurel Ticleanu e o atacante Marcel Coras, todos remanescentes da seleção romena que disputara a Eurocopa de 1984 –, a equipe havia despachado o Bröndby ao reverter uma derrota de 3 a 0 na Dinamarca e vencer a disputa de pênaltis. Mas não seria capaz do mesmo feito contra os Scaligeri.

Antes da meia hora de jogo na partida de ida, o Verona já vence por 2 a 0, gols de Fontolan e Pacione. Coras desconta na metade do segundo tempo, mas Elkjaer, batendo pênalti, fecha a contagem. Na volta, em Bucareste, no dia 9 de dezembro, o maior adversário é mesmo o gramado do Estádio Regie, completamente coberto de neve. Mas o Verona é superior e vence por 1 a 0, gol de Elkjaer, num chute cruzado passando por baixo do corpo do goleiro.

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Com a virada do ano, as copas europeias retornam em março. E o Verona tem pela frente nas quartas de final da Copa da Uefa um adversário mais tarimbado e qualificado tecnicamente: o Werder Bremen de Otto Rehhagel, e que se sagraria campeão da Bundesliga naquela temporada, ostentando ainda o menor número de gols sofridos na história da competição. É uma equipe repleta de nomes com passagem pela seleção da Alemanha Ocidental ou em vias de despontar na Nationalelf, somando-se ainda o bom zagueiro norueguês Rune Bratseth.

O primeiro jogo é em Verona, mas os visitantes seguram a pressão por todo o primeiro tempo e abrem o placar aos três minutos da etapa final, com o atacante grandalhão Frank Neubarth desviando de cabeça uma bola alçada para a área. Os Scaligeri tentam, mas não conseguem furar a muralha alviverde, deixando a torcida apreensiva. Agora é necessário um milagre em Bremen, na partida marcada para dali a duas semanas, em 16 de março.

E o milagre não vem. No primeiro tempo, o líbero Gunnar Sauer abre o placar para o Werder Bremen com um chute incrível da intermediária. Aos nove minutos da etapa final, o Verona ainda empata com Volpecina cabeceando cruzamento de Soldà. Mas, já sem o suspenso Elkjaer, a equipe tem sua tarefa ainda mais dificultada aos 35 minutos, quando o capitão Di Gennaro, que já havia recebido amarelo por reclamação, faz falta em Bratseth e é expulso.

O RÁPIDO DECLÍNIO

A eliminação europeia também abala a equipe na Serie A. Três dias antes da partida em Bremen, o Verona havia derrotado a Ascoli por 2 a 1 em casa. Se não chegava a ser excelente, a campanha exibia uma certa regularidade: até ali, na 22ª rodada, o time vinha na sexta colocação, somando sete vitórias, nove empates e seis derrotas, à frente de equipes como Torino, Juventus e Fiorentina. A sequência de resultados finais, porém, seria desastrosa.

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Nos últimos oito jogos, a partir da eliminação, a equipe soma apenas dois pontos. Perde seis jogos e empata dois. Algumas derrotas são constrangedoras, como os 3 a 0 para o recém-promovido Pescara e as quedas em casa diante do Cesena (outro que subira naquela temporada) e para o Como, ambas por 1 a 0. Os gialloblû despencam na tabela e terminam no décimo lugar, só dois pontos à frente do rebaixado Avellino, penúltimo colocado.

A torcida no Bentegodi durante o duelo contra o Werder Bremen (Weihs, Wolfgang/picture alliance via Getty Images)

Os fatores colaterais da eliminação também chamam a atenção para a radical transformação da equipe no aspecto disciplinar. Se na temporada 1986/87, o Verona havia sido uma das raras equipes da Serie A a não ter nenhum atleta expulso ao longo do campeonato, na campanha seguinte torna-se o recordista de cartões vermelhos, com sete. A mesma tendência ao descontrole emocional é demonstrada em vários momentos na Copa da Uefa.

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Com tudo isso somado, tem início o declínio. Enfrentando dificuldades financeiras, o elenco é novamente desmantelado. Giuliani, Fontolan, Galia, Volpati, Di Gennaro, Verza e Eljkaer deixam o clube de uma só vez. Galderisi, que fracassara no Milan e na Lazio, é trazido de volta para tentar reviver seu próprio auge e o do clube. Chegam também o goleiro Giovanni Cervone (Parma), o meia Mario Bortolazzi (Milan) e, com o aumento do número de estrangeiros para três, a dupla argentina formada pelo meia Pedro Troglio e o atacante Claudio Caniggia.

Na Serie A ampliada para 18 equipes, o Verona vence apenas cinco de suas 34 partidas e termina na 11ª colocação, salvando-se da degola apenas na penúltima rodada. No ano seguinte, porém, não há escapatória: o time ocupa a lanterna da primeira à 24ª rodada, chega a reagir e a sonhar com a salvação, mas a derrota por 1 a 0 para o Cesena fora de casa na última rodada decreta o rebaixamento e o fim do melhor período da história dos Scaligeri no Calcio.

Cinco anos depois de se sagrar campeão italiano e apenas dois anos depois de chegar às quartas de final da Copa da Uefa, o Verona cai para a Serie B. Simbolicamente, o técnico Osvaldo Bagnoli também deixa o clube, seguindo para o Genoa. Os gialloblù passam a viver de acessos e descensos constantes. Voltam à elite algumas vezes, assim como chegam a disputar a Serie C entre 2007 e 2011, sem nunca mais atingirem patamares como o daquele período de glórias.

Quinzenalmente, o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas. Para visualizar o arquivo, clique aqui.

Confira o trabalho de Emmanuel do Valle também no Flamengo Alternativo e no It’s A Goal.

Foto de Emmanuel do Valle

Emmanuel do Valle

Além de colaborações periódicas, quinzenalmente o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas.
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