O Campo Grande de 1982/83: Quando a Zona Oeste do Rio levantou um título nacional
Talvez o menos lembrado dos clubes tradicionais do subúrbio carioca, o Campo Grande viveu o melhor momento de sua história no início dos anos 80. Mesclando jogadores rodados e revelações, o Galo da Zona Oeste levantou a Taça de Prata de 1982, equivalente à segunda divisão nacional, com campanha impecável, obtendo vitórias categóricas (e até goleadas) sobre clubes como Portuguesa, Goiás e América-MG, quase sempre em seu alçapão de Ítalo del Cima. No ano seguinte, faria bom papel na elite do Brasileirão, coroando sua melhor fase.
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Fundado em 1940 como sucessor de um extinto clube do bairro da chamada “zona rural” da cidade do Rio, o Campo Grande Atlético Clube passou suas duas primeiras décadas disputando o torneio do Departamento Autônomo, competição mastodôntica que reunia dezenas de clubes amadores do subúrbio carioca numa espécie de segunda divisão do então Distrito Federal, mas sem acesso obrigatório. Nesta competição, levantaria os títulos de 1953 e 1959.
Um novo clube no cenário da Guanabara
Em 1962, o Campo Grande finalmente foi aceito na elite do campeonato do novo estado da Guanabara. Seu trunfo era seu moderno estádio Ítalo del Cima, recém-inaugurado e batizado em homenagem a um comerciante italiano da região, que cedera o terreno. Com a confirmação da participação do Campusca, o campeonato passava a contar com 13 equipes, o que motivou a adoção do galo – correspondente à 13ª dezena do jogo do bicho – como mascote do clube.
Para sua temporada de estreia, o clube trouxe reforços tarimbados, entre eles três veteranos de renome no futebol carioca, que marcaram época em seus antigos clubes: o goleiro Barbosa (ex-Vasco), o volante Dequinha (ex-Flamengo) e o meia Décio Esteves (ex-Bangu). E o time começou surpreendendo ao bater o Botafogo, detentor do título, por 1 a 0 em pleno Maracanã. Mas foi um raro momento de brilho naquelas primeiras décadas.
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O clube passou os anos 60 e 70 quase inteiros apenas participando, brigando nas posições intermediárias para baixo, colhendo de tempos em tempos algum resultado expressivo contra um dos grandes, ou vencendo torneios disputados entre os pequenos. Por volta de 1967, o clube chegou a revelar um centroavante desengonçado, mas com faro de gol, chamado Dario, futuro Dadá Maravilha, que logo seguiria para o Atlético Mineiro. Mas era pouco.
As coisas só começaram a mudar em 1978, quando o clube reformou seu estádio, ampliando a capacidade e melhorando as estruturas. Em seguida, passou a cuidar do time, trazendo o centroavante Caio “Cambalhota”, ex-Flamengo e America e, no ano seguinte, outro veterano: o ponta Luís Carlos “Tatu”, revelado pelos rubro-negros, campeão brasileiro com o Vasco em 1974 e que chegara após duas temporadas discretas atuando pelo Fluminense.
Uma boa mescla de experiência e juventude
Em 1979, o clube faria sua primeira participação no Brasileirão, no torneio inchado com 94 clubes. Mas o grande salto viria no Carioca de 1980, com a chegada do ponta-esquerda Luís Paulo, outro ex-Fla e do meia Edu Coimbra, irmão de Zico e velho ídolo do America, completando o experiente quarteto ofensivo. A equipe engrenou quando o ex-jogador Jair Pereira assumiu o comando, levando a um ótimo terceiro lugar no segundo turno, atrás apenas de Vasco e Flamengo.
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Mas nem só de veteranos vivia a equipe. Alguns destaques jovens que se firmariam pelos anos seguintes já despontavam ali. Era o caso do lateral-esquerdo Jacenir, do talentoso armador Pingo e do baixinho e arisco ponta-direita Tuchê. Com mais ou menos o mesmo elenco, o clube disputou a Taça de Prata em 1981 e chegou às últimas rodadas da primeira fase na liderança de seu grupo. Mas dois tropeços contra Guarani e Coritiba liquidaram o sonho de classificação.
No fim de maio começaria o Carioca, naquele ano disputado em três turnos. A regularidade da campanha – impulsionada pelos 17 gols de seu novo artilheiro, Luizinho das Arábias, vindo do Flamengo – ajudou o Campusca: a equipe ficou tranquila na sétima colocação, atrás apenas das seis principais forças (os quatro grandes mais Bangu e America). O que lhe valeu uma vaga na Taça de Prata para o ano seguinte. Foi quando começou seu maior momento naquela década.
Armando-se para o caneco nacional
Na Taça de Prata, o time caiu num grupo complicado e corria por fora na briga pela classificação. Teria pela frente Portuguesa, América Mineiro, Americano, Uberaba e Comercial-MS. Dois times avançavam para a etapa seguinte, na qual os classificados eram divididos em quatro triangulares valendo uma vaga na segunda fase da Taça de Ouro. Para tentar o acesso, o Galo da Zona Oeste trouxe reforços pontuais, complementados com alguns retornos.
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Dois vinham do Olaria, por empréstimo: o zagueiro Mauro e o meia-armador Lulinha, destaque do time Alvianil que levantara a Taça de Bronze, equivalente à terceira divisão nacional, no ano anterior. Do vizinho Bangu veio o goleiro Ronaldo. Também chegou o lateral-direito Marinho, que se destacara no Americano. O zagueiro Neném, que disputara o Campeonato Paraibano pelo Campinense por empréstimo, voltava ao clube. Assim como era garantida a permanência de peças importantes do elenco, caso do cobiçado meia Pingo.
Um dos principais responsáveis pela criação de jogadas da equipe, o ponta-de-lança de apenas 21 anos havia sido apontado como a revelação do Campeonato Carioca de 1981 e ficado em segundo lugar, atrás apenas de Zico, numa votação promovida pela Ferj para apontar o destaque do torneio. No início do ano, porém, o jogador se recuperava de lesões sofridas em um acidente automobilístico e só retornou ao time na reta final da Taça de Prata.
O time-base sofreu alterações durante a competição, mas girou em torno de mesmo grupo de jogadores. No gol, o titular durante toda a competição foi Ronaldo, cria do rival Bangu, mas que seguiu para o Campusca por não ter espaço em Moça Bonita. Na lateral-direita, Marinho também não teve concorrente. Já do outro lado, houve disputa acirrada entre o prata-da-casa Jacenir e o uruguaio Sergio Ramírez, famoso por correr atrás de Rivelino num Brasil x Uruguai no Maracanã em 1976, e que chegara ao futebol brasileiro por intermédio do Flamengo.
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Na zaga, Neném foi o dono de um posto, mas seu companheiro mudou: Mauro no início, Silveira rapidamente, e por fim Pirulito, volante recuado para o setor que teve adaptação imediata e se tornou um dos destaques da equipe. A vaga deixada por ele na proteção do meio-campo foi ocupada por Serginho, que se tornou titular absoluto, no início escudado pelo dinâmico Brás. Já a criação teve Lulinha como principal nome, devido à prolongada ausência de Pingo.
Outro nome que acabou atuando em quase toda a campanha graças à capacidade de jogar tanto na ponta-de-lança quanto no comando do ataque foi Aílton, jogador técnico e impetuoso revelado pelo próprio clube em meados dos anos 70, e que logo depois foi negociado com o America, onde cumpriu ótimas temporadas na segunda metade daquela década. Antes de retornar, também esteve no Vasco e atuou no exterior.
No ataque, praticamente não houve discussão: o pequenino Tuchê infernizou defesas pela ponta direita, enquanto Luís Paulo jogava um futebol mais incisivo, mas também mais coletivo pelo lado esquerdo. No meio, havia o faro de gol de Luizinho das Arábias, jogador revelado pela Portuguesa da Ilha do Governador no Carioca de 1978 e que imediatamente seguiu para o Flamengo, onde chegou a viver grande fase, chegando a barrar o titular Cláudio Adão.
Bom início na Taça de Prata
O time obteve uma boa estreia na Taça de Prata com uma convincente vitória por 2 a 0 diante do Americano em Ítalo del Cima, que deu fôlego para enfrentar os difíceis adversários que viriam a seguir. E o próximo seria a Portuguesa que, mesmo contando com um bom número de jogadores experientes (como Daniel González e Roberto César), foi batida categoricamente por 3 a 0 de novo na Zona Oeste, com gols de Jacenir, Lulinha e Aílton.
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Os dois jogos seguintes seriam em Minas Gerais, e o time voltaria de lá classificado graças ao empate em 1 a 1 com o Uberaba e à vitória por 2 a 0 sobre o América-MG no Mineirão, com gols de Luís Paulo e Tuchê. Na última rodada, de volta a Ítalo del Cima, o Campo Grande somou mais um ponto e manteve sua invencibilidade ao empatar com o Comercial-MS por 1 a 1, assegurando também a primeira colocação do grupo.
A fase seguinte seria de tiro curto: um triangular em turno único valeria a subida à Taça de Ouro ao seu primeiro colocado, enquanto o segundo seguiria na Taça de Prata para a fase de mata-mata. O lanterna seria eliminado. E o Campo Grande voltou a cair numa chave difícil, com o sempre competitivo Atlético-PR e o velho conhecido Volta Redonda, que vinha de se classificar na chave em que o Palmeiras acabou eliminado.
As coisas se complicaram já na primeira partida do triangular, quando o Atlético bateu o Volta Redonda no Raulino de Oliveira por 2 a 0. E ficaram ainda mais difíceis quando, em Ítalo del Cima, o Alvinegro jogou fora uma vantagem de dois gols para ceder um empate em 2 a 2 com o Voltaço. Agora era preciso vencer o rubro-negro paranaense em Curitiba. Mas o time ficou logo em desvantagem de dois gols e só conseguiu descontar para 2 a 1. O sonho do acesso à elite estava adiado por ora. Mas a Taça de Prata continuava para o Campusca.
Deslanchando nos mata-matas
No meio do caminho, houve uma troca de comando: Jair Pereira recebeu proposta do Paysandu e deixou o cargo. O veterano Décio Esteves, aquele que havia sido jogador no primeiro time do Campo Grande a disputar o Carioca, era o novo comandante. Pelas oitavas de final, o time enfrentaria o Goiás, eliminado na Taça de Ouro, mas que contava com um punhado de jogadores promissores (Zé Teodoro, Gílson Jader, Carlos Alberto Santos, Cacau, Luvanor), que logo no ano seguinte fariam história ao chegar às quartas do Brasileirão.
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Mas foi o Campo Grande quem levou a melhor: segurou um 0 a 0 no Serra Dourada para depois engolir o time esmeraldino no alçapão de Ítalo del Cima: 4 a 0, com gols de Luizinho das Arábias, Aílton, do zagueiro Neném e do reserva Clécio. Nas quartas de final, o River do Piauí também foi despachado sem maiores problemas: vitória por 3 a 2 em Teresina e nova goleada de 4 a 0 no Rio, com dois gols de Luizinho, um de Neném e outro de Tuchê. E poderia ter sido mais, se o time não tivesse perdido um pênalti e acertado duas vezes a trave só no primeiro tempo.
Na semifinal, foi a vez de reencontrar o Uberaba, que também não resistiu ao caldeirão da Zona Oeste: com mais uma goleada de 4 a 0 (dois gols de Tuchê e dois de Luizinho), o Galo levou uma boa vantagem para o Triângulo Mineiro. E lá decidiu a parada com mais uma vitória: 2 a 0, gols de Aílton cobrando pênalti e Tuchê. Do outro lado, o CSA garantiu sua segunda decisão do torneio em três anos (havia sido vice para o Londrina em 1980) ao eliminar o bom time do Joinville.
Uma decisão emocionante
Foi uma decisão em que não faltou emoção. O primeiro jogo, no Rei Pelé em Maceió, teve ares de épico. O CSA saiu na frente com Rômel, mas o Campo Grande reagiu e virou nos minutos finais do primeiro tempo marcando três vezes em cinco minutos com Jerônimo (contra), Luís Paulo e Luizinho das Arábias. Na etapa final, porém, os alagoanos reagiram comandados pelo meia Rômel, que marcou duas vezes e ainda perdeu um pênalti. Aos 39 minutos, o atacante Dentinho foi expulso. Mas mesmo com dez, o CSA chegou à virada aos 42, com Zé Carlos.
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Depois de deixar escapar um ótimo resultado e sofrer a derrota que era apenas sua segunda no torneio, o Campo Grande precisaria vencer o jogo da volta em casa, uma semana depois, para levar a decisão a um jogo extra. O time saiu atrás aos 10 minutos da etapa final quando Ademir concluiu o contra-ataque e abriu o placar para o CSA. Mas foi a vez do time da casa reagir e virar na raça: o zagueiro Mauro empatou aos 15, após cobrança de escanteio, e o ponta Tuchê fez o segundo gol recebendo passe de Lulinha a seis minutos do fim.
Por ter melhor campanha, o Campo Grande contou com a vantagem de fazer o terceiro jogo em casa. A partida, disputada numa terça-feira à noite, movimentou a Zona Oeste e levou um grande público ao estádio de Ítalo del Cima. Os torcedores saudaram a equipe desde a chegada com confetes e serpentinas, num autêntico carnaval. E o time correspondeu, apertando o CSA desde o início. Aos 30 minutos, o grito de gol sairia da garganta: o volante Serginho fez boa jogada de linha de fundo e cruzou. Lulinha não dominou, mas a bola sobrou para Luizinho estufar as redes.
Ainda antes do intervalo viria o segundo gol: Pingo fez jogada genial pela direita e tocou na saída do goleiro. A bola bateu no peito de um zagueiro do CSA e foi na trave. Na confusão que se seguiu, Lulinha acabou tocando para o gol e ampliando, para delírio da torcida do Galo. O CSA voltou para o segundo tempo tentando correr atrás do prejuízo, mas se expôs. Foi fatal: aos 15, Tuchê desceu em velocidade pela direita e cruzou. Luizinho surgiu por trás da defesa para desviar e guardar o terceiro. Agora ninguém mais tirava a taça do Campusca.
A conquista foi brilhante: o time venceu 10 de seus 16 jogos, empatando quatro e perdendo apenas dois. Marcou 36 gols e sofreu 13. Com um desempenho excepcional jogando em casa, a torcida alvinegra também não se cansou de comemorar: o time venceu sete e empatou dois de seus nove jogos em Ítalo del Cima e balançou as redes 25 vezes. Luizinho das Arábias sagrou-se o artilheiro do torneio com nove gols. O título ainda garantiu o acesso à Taça de Ouro em 1983. Mas antes disso, ainda haveria mais um Campeonato Carioca pela frente.
Boa campanha no Carioca
O elenco sofreu poucas alterações naquele segundo semestre – a principal delas foi a saída de Luís Paulo para o futebol colombiano. Mas o técnico Décio Esteves acabou deixando o comando do time logo na terceira rodada do Estadual, sendo substituído por Paulinho de Almeida. O novo treinador, no entanto, ficaria só até a virada do turno, quando foi contratado pelo Fluminense. E o Campo Grande acabou buscando Fidélis, ex-lateral do Bangu, Vasco e Seleção Brasileira, que vinha fazendo um ótimo trabalho no São José.
A troca fez bem à equipe: de um fraco décimo lugar na Taça Guanabara, com apenas duas vitórias em 11 jogos, o time largou com quatro triunfos consecutivos na Taça Rio: 2 a 1 no Americano, 3 a 1 no Madureira, 2 a 1 no Volta Redonda e 1 a 0 no Flamengo – este com um gol de Almir, novo dono da ponta-esquerda. Mas perdeu a liderança do turno ao perder seguidamente para America e Botafogo, ambos por 2 a 0. A recuperação veio com empates diante do Vasco (1 a 1) e do Bangu (2 a 2), além de um categórico 3 a 0 sobre o Fluminense.
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Na última rodada, uma goleada de 5 a 0 sobre a Portuguesa da Ilha do Governador confirmou um ótimo quarto lugar no turno (atrás apenas de America, Botafogo e Vasco), além de um sexto lugar na classificação geral, um ponto à frente do Bonsucesso. A vaga na Taça de Ouro estava em boas mãos. Mas embora mantivesse a boa base do time, o comando seria mais uma vez trocado. Sem chegar a um acordo de renovação de contrato, Fidélis deixou o clube para ser substituído por um novato: um certo Vanderlei Luxemburgo, ex-lateral do Flamengo.
Na elite do Brasileirão
Para a disputa do Brasileiro o time trouxe reforços experientes. Além do goleiro Zé Carlos, ex-Botafogo, que já havia chegado na reta final do Estadual, o Campusca acertou com o veterano Orlando Lelé, ex-America e Vasco, e que tivera passagem pela Udinese, e também repatriou Luís Paulo, de volta do futebol colombiano para o lugar de Almir, que se destacara e fora negociado com os cruzmaltinos. Quem também voltava era o ponta-de-lança Aílton, de empréstimo ao América de Natal. A outra novidade era jovem: o volante Israel, trazido do Serrano.
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Seria mesmo necessário um elenco mais tarimbado: o clube foi incluído em um grupo muito difícil, encabeçado pelo Grêmio e que ainda contava com Ponte Preta, Atlético-PR e Joinville. A estreia também não foi boa, com derrota em casa para o time campineiro por 1 a 0. Em seguida, no entanto, o time se recuperou fazendo 3 a 1 contra os catarinenses fora de casa numa atuação magistral do meia Pingo. Mas voltou a tropeçar em casa, parando num 0 a 0 com os paranaenses, antes de ser goleado pelo Tricolor gaúcho por 4 a 0 no Olímpico.
No returno, o time finalmente quebrou o jejum em Ítalo del Cima ao bater novamente o Joinville, agora por 1 a 0, gol de Luizinho das Arábias. Quatro dias depois, foi a vez de receber o Grêmio. Mas embora tenha jogado melhor, o Campo Grande outra vez não conseguiu sair do empate sem gols, complicando as chances de classificação, que seria decidida em dois jogos fora de casa. E no primeiro deles, o time foi derrotado pela Ponte em Campinas por 2 a 0.
No segundo, o time foi a Curitiba e saiu atrás do Atlético-PR no primeiro tempo. Mas reagiu na etapa final, cresceu no jogo e empatou com gol de Luizinho das Arábias aos 28 minutos. No dia seguinte, com a vitória da Ponte Preta sobre o Joinville, o Campo Grande assegurou a quarta colocação, que lhe dava a sobrevida da repescagem. Mas ainda havia um princípio de incêndio a ser apagado: Vanderlei Luxemburgo se desentendeu com dirigentes e deixou o clube.
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Dirigido interinamente pelo preparador físico Armindo Gomes, o time recebeu o Paysandu pela repescagem em jogo único (por ter somado mais pontos, o Campo Grande teve a vantagem de jogar em casa). Abriu 2 a 0 no primeiro tempo com Pingo e Luizinho das Arábias, sofreu um gol do Papão no fim do segundo tempo, mas um minuto depois fechou a vitória com um golaço de Pingo, passando por quatro defensores e chutando no ângulo do goleiro Braulino.
Com a vaga na segunda fase garantida, o que viesse seria lucro. Até porque o clube caiu de novo em um grupo muito difícil, contra Corinthians, Vasco e Bahia – os campeões paulista, carioca e baiano. A saga do Alvinegro da Zona Oeste na elite do Brasileirão terminaria ali, mas ainda houve tempo para aprontar em seu alçapão. O time largou com um empate sem gols com o Bahia diante de sua torcida e em seguida perdeu para o Cruzmaltino por 3 a 1 em São Januário.
Para a terceira partida, a visita do Corinthians de Sócrates a Ítalo del Cima, um velho conhecido reestreava no comando do time: Fidélis era de novo o técnico, pouco mais de três meses depois de ter saído do cargo. Sob o olhar de Carlos Alberto Parreira, novo treinador da Seleção, presente nas tribunas, o ponta Tuchê recebeu lançamento de Luís Paulo e passou a Luizinho, que fuzilou o goleiro Leão para abrir o placar. Mas na etapa final, depois que o time da casa recuou, Casagrande apanhou um rebote de Zé Carlos e decretou o empate em 1 a 1.
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Apesar do resultado, a atuação foi saudada como positiva. E se repetiu na partida seguinte, contra o Vasco, desta vez com melhor desfecho: o time venceu por 2 a 1, gols de Ramírez de cabeça e Luizinho de pênalti e se candidatou a zebra do grupo. Porém, nos dois últimos jogos, ambos fora de casa, o time viu suas chances de classificação morrerem ao perder para o Bahia na Fonte Nova (2 a 0) e o Corinthians no Parque Antártica (3 a 1).
Os anos de declínio
Depois de viver seus melhores momentos em nível nacional, o clube encerrou sua boa fase com um oitavo lugar no Carioca daquele ano (no qual chegou beliscou pontos dos grandes e chegou a bater Flamengo e Vasco na Taça Rio). Teve ainda outra glória quando o volante Demétrio, cria da base, sagrou-se campeão mundial de juniores com a Seleção Brasileira no México. No ano seguinte, porém, o clube acabaria rebaixado no Estadual, ao terminar na penúltima colocação. Com o elenco desmontado, alguns jogadores seguiram para o vizinho e rival Bangu.
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Foi o caso do trio de meio-campo titular no Brasileiro de 1983 formado por Israel, Lulinha e Pingo. Os três participaram ativamente da histórica campanha banguense rumo à final nacional em 1985. O goleador Luizinho das Arábias, por sua vez, tornaria-se um cigano da bola, rodando por diversos clubes do país até falecer precocemente em 1989, aos 32 anos. Melhor sorte teve o lateral Jacenir, que depois de passar por America e Joinville, chegaria ao Corinthians para levantar o título brasileiro de 1990, o primeiro da história do clube paulistano.
O Campo Grande ainda participaria de mais algumas edições da divisão de elite do Carioca até 1995. Numa delas, em 1991, conseguiria sua melhor colocação, um quinto lugar obtido de novo com um time de veteranos que incluía Roberto Dinamite, Cláudio Adão e Elói, além do goleiro (e futuro treinador) Paulo César Gusmão. No ano seguinte, seu estádio chegaria a receber o Fla-Flu da Taça Rio, num período de Maracanã em obras. Mas a decadência seria inclemente.
O Galo rapidamente desceria à terceira divisão estadual, antes de se licenciar das competições oficiais, mantendo apenas as categorias de base (pela qual passaria um jovem Vágner Love). Em 2017, o clube voltou à disputa, participando da Série C do Estadual, equivalente à quarta divisão. E em 2018, esteve perto do acesso, caindo nas semifinais. O longo caminho de reconstrução e retorno às principais categorias do futebol do Rio fica adiado um pouco mais.
Quinzenalmente, o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas. Para visualizar o arquivo, clique aqui.
Confira o trabalho de Emmanuel do Valle também no Flamengo Alternativo e no It’s A Goal.