Expulsão de Lukaku após ofensas racistas é uma vergonha para o futebol italiano
Jogador foi ofendido por torcedores da Juventus e comemorou do jeito que tem feito sempre e o árbitro considerou provocação e deu cartão amarelo – que resultou em expulsão
O jogo entre Juventus e Internazionale pela Copa da Itália teve muita disputa e terminou empatado em 1 a 1 nesta terça-feira, em Turim. O que mais chamou a atenção, porém, foi o que aconteceu no final do jogo. Após o gol de empate de Lukaku, ele acabou expulso por um segundo cartão amarelo dado pelo árbitro, que considerou a sua comemoração uma provocação. A expulsão do belga nessa situação é uma vergonha para o futebol italiano e é um absurdo que tenha acontecido.
Lukaku entrou em campo no segundo tempo, aos 23 minutos, substituindo Edin Dzeko. Aos 35 minutos, ele recebeu cartão amarelo por uma entrada dura em Federico Gatti. Dali em diante, os insultos a Lukaku cresceram. Depois que ele marcou o gol de empate, aos 50 minutos do segundo tempo, os insultos aumentaram ainda mais. Alguns torcedores imitaram os sonos de macaco, outros xingaram o atacante diretamente de macaco.
Diante da comemoração do atacante, fazendo o sinal de sentido, com a mão espalmada na testa e fazendo sinal de silêncio com a outra mão, exatamente como ele comemorou o gol pela Bélgica no jogo contra a Suécia, na data Fifa, o árbitro mostrou um cartão amarelo. Consequentemente, o jogador foi expulso.
O regulamento, que foi atualizado no dia 1º de julho de 2022, prevê, no artigo 12, o seguinte: “Um jogador deve receber cartão amarelo, mesmo que o gol seja anulado, se: ele se aproximar dos torcedores de modo que cause problemas de segurança e/ou suba na grade, aja de modo provocativo, cubra seu rosto ou cabeça com uma máscara ou objeto similar, tire a sua camisa ou cubra sua cabeça com a camisa”.
O árbitro David Massa, portanto, só pode ter considerado que Lukaku provocou os torcedores da Juve com a sua comemoração, que foi feita em silêncio e com um gesto que ele já tinha usado na Data Fifa. Só por isso, a expulsão já é um absurdo. Lukaku não fez nenhum gesto ofensivo e comemorou de forma como ele já tinha feito antes e em um gesto que não é nada de mais. Fazer o sinal de silêncio não pode ser considerado um gesto provocativo, especialmente depois de sofrer ofensas racistas.
Após o jogo, Lukaku falou sobre o caso no seu Instagram. O jogador lembrou que não é a primeira vez que sofre racismo na Serie A. “A história se repete. Passei por isso em 2019… Em 2023 novamente. Eu espero que a liga tome ações de verdade desta vez porque este lindo jogo deve ser apreciado por todos. Obrigado por todas as mensagens de apoio. Foda-se o racismo”, escreveu o jogador, encerrando com um emoji fazendo silêncio, tal qual ele na foto.
A Inter quer que o cartão seja revogado, o que é muito improvável que aconteça. O técnico Simone Inzaghi falou sobre isso depois do jogo, citando inclusive o caso de Ademola Lookman, que também teve uma comemoração considerada provocativa, mesmo sendo uma comemoração que ele já tinha feito em outros jogos. O cartão daquela vez, porém, não foi revogado.
O que precisa acontecer é que haja uma orientação melhor da arbitragem para que casos assim não se repitam. Não faz sentido punir a vítima de racismo por comemorar pedindo silêncio à torcida. E mesmo que não houvesse insultos racistas, esse tipo de comemoração não é ofensiva e não deveria ser punida com cartão.
O presidente da Uefa, Aleksandr Ceferin, reeleito sem oposição nesta quarta-feira, também se manifestou sobre casos de racismo. “Talvez seja o momento de medidas mais duras. Talvez seja o momento de levar essas pessoas ao tribunal. Infelizmente, algumas pessoas ainda não entenderam esse conceito, que é por que temos que repensar nossa abordagem. Em cooperação com as federações e os clubes precisaríamos mirar nesses criminosos de modo mais efetivamente quando um jogador é submetido insultos racistas, homofóbicos ou machistas durante as competições da Uefa”, disse Ceferin.
Inter divulga comunicado em apoio a Lukaku
A Inter se posicionou em um comunicado oficial defendendo Lukaku. “Somos irmãos e irmãs do mundo. Essa tem sido a nossa história desde o dia 9 de março de 1908. Queremos firmemente reiterar que nos posicionamos unidos contra o racismo e todas as formas de discriminação”, diz nota do clube.
“O futebol e o esporte não podem ser apenas veículos de emoções, mas também de valores claros e compartilhados, o que não tem nada a ver com o que vimos na noite passada nos minutos finais da semifinal da Copa da Itália em Turim entre Juventus e Inter”.
“É por isso que reiteramos todo nosso apoio, nossa afeição e nossa solidariedade com Romelu Lukaku, enquanto o mundo do futebol está fazendo em muitas partes nessas horas. Forza, Rom, estamos com você”.
Juventus também condena racismo
“A Juventus Football Club, como sempre, está colaborando com a polícia para identificar com a polícia os responsáveis pelos gestos racistas e gritos que aconteceram na noite passada. Também neste caso, o código de aceitação será aplicado àqueles responsáveis”, diz a nota da Juventus.
O Instagram da seleção belga também se manifestou ao publicar a foto do atacante comemorando exatamente do mesmo jeito em partida pela seleção belga. O seu ex-clube na Bélgica, o Anderlecht, também se manifestou publicando uma foto da comemoração de Lukaku com a camisa da Inter. O Milan, rival da Inter, também publicou um comunicado se manifestando contra toda forma de racismo.
Apoio de diversos jogadores no mundo
Diversos jogadores manifestaram apoio a Romelu Lukaku depois do caso. Kylian Mbappe, Vinicius Júnior, Mario Balotell, Patrice Evra, Thibaut Courtois, Youri Tielemans, Radja Nainggolan, Dodi Lukebakio, Reece James, Anthony Elanga, Yanick Bolasie, Denzel Dumfries, Andre Onana, Achraf Hakimi e Marco Materazzi, para citar alguns, apoiaram o jogador em suas redes sociais.