Eurocopa 2024Itália

Conte construiu uma Itália acima de suas limitações e que deixa a Euro como é: grande

Vamos falar a verdade: quase ninguém esperava uma boa campanha da Itália na Eurocopa. Os resultados nos amistosos não eram muito animadores, o elenco aparentava não ter equilíbrio e, do meio para frente, chamava mais atenção a ausência de grandes nomes do que qualquer um dos convocados. Mas a seleção italiana da Euro 2016 foi a Azzurra de (quase) sempre e tão Azzurra como poucas vezes nas últimas décadas. A carne de pescoço para qualquer adversário. O time que não deixa de ter fibra. A defesa excelente e o ataque eficiente. Mesmo caindo nas quartas de final, a Itália deixa a competição como um dos melhores times e protagonista em duas das melhores exibições. Já Antonio Conte encerra o seu rápido ciclo na equipe nacional ratificando mesmo que é um grande técnico.

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O que Conte fez nessa Euro é para aplaudir de pé. Obviamente, tinha uma base sólida, a defesa de sua confiança nos tempos de Juventus. A partir dela, soube moldar o seu time e encarar adversários duríssimos. Derrotou a Bélgica e a Espanha na solidez atrás, na impetuosidade na frente. Poderia até ter feito o mesmo contra a Alemanha, que abriu mão de seu estilo para conseguir encarar os italianos sem cair em suas armadilhas. E isso tudo com um elenco, ao menos no papel, inferior ao dos três adversários. Se a camisa pesa, pesa muito mais a inteligência da Azzurra em montar o seu jogo a partir de um enorme conhecimento sobre suas limitações e virtudes.

Falar de Buffon é repetir adjetivos que se dão ao longo dos últimos 20 anos. Ainda assim, nesta Euro ele conseguiu se destacar ainda mais, seja pela liderança vibrante ou pelos milagres nos mata-matas. Bonucci, Barzagli e Chiellini foram um só, o tempo todo, soberanos por terra e pelo ar – e com o adendo da capacidade do líbero nas bolas longas. Mas os elogios mais merecidos precisam vir mesmo do meio para frente, onde todos superaram as expectativas e alguns, até mesmo as próprias capacidades.

Na ala, Florenzi sobrou. Fez de tudo e fez muito bem sempre, onipresente em campo. Contra a Alemanha, teve a sua principal atuação na Eurocopa, responsável tanto por fechar muito bem o lado quanto por servir de desafogo várias vezes. Parolo foi um leão na faixa central, principalmente pelo fôlego que deu à marcação. E, ao seu lado, se Giaccherini não é um jogador técnico, oferece muita inteligência e potência. Já na frente, a dupla entre Pellè e Éder oscilou, mas funcionou até mais do que o esperado. O catarinense, sobretudo, fez uma ótima competição, batalhando e flutuando no ataque, mas também brilhando individualmente.

Lógico, o cenário não é só de flores para a Itália. Há preocupações para a sequência nas Eliminatórias da Copa de 2018, onde só há uma vaga direta e se exige mais da capacidade ofensiva contra adversários que se fecharão atrás. A geração tem mesmo suas deficiências, sobretudo entre os mais jovens. De qualquer maneira, o saldo final supera muito o que se desenhava. Gabaritado pelo trabalho no Torino, Giampiero Ventura tem um caminho para dar sequência, num time que se criou quando menos se esperava. Antonio Conte, por sua vez, sai para o Chelsea com o moral elevadíssimo. Que tenha vivido seus problemas na seleção (e não foram poucos), foi ele o responsável por extrair o melhor da Itália no principal momento. Por fazer a Azzurra ser tão Azzurra.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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