Inglaterra

O que a parentalidade e o ‘terrible two’ têm a ver com os problemas do Manchester United

Erik Ten Hag pode ser o quinto técnico seguido desde Alex Ferguson a ser demitido antes de terminar terminar a terceira temporada à frente do clube

Na parentalidade, o “terrible two” é o termo usado para explicar o período da primeira infância onde o processo de desenvolvimento da personalidade infantil apresenta o maior desafio para os pais: as incontroláveis – e, por vezes, intermináveis – birras.

Apesar de ser uma parte essencial do processo de maturidade e autoconhecimento da criança, é comum para os pais acharem que o período, geralmente iniciado a partir do segundo ano de vida dos pequenos – por isso o nome “terrible two” -, nunca vai passar.

Neste momento, você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com o Manchester United?

É simples: se fosse possível fazer um paralelo entre o time de Manchester a parentalidade, provavelmente o United tem vivido um longevo – e muito desagradável – “terrible two”.

Entre problemas e desilusões, os últimos cinco técnicos contratados para comandar a equipe sequer conseguiram chegar no terceiro ano de trabalho, parando no início ou na metade do segundo.

E a próxima vítima deve ser Erik ten Hag, que balança no cargo após a derrota por 3 a 0 contra o Tottenham, no último domingo (29).

Um histórico recente um tanto quanto incomum para um clube que chegou a ter o mesmo treinador, Sir Alex Ferguson, por 27 temporadas seguidas.

Erik ten Hag em derrota para o Tottenham. Foto: Imago
A derrota por 3 a 0 para o Tottenham, em pleno Old Trafford, fez Erik ten Hag balançar no comando do Manchester United. Foto: Imago

O que explica os “terríveis dois anos” do Manchester United?

David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho, Solskjaer e Ralf Rangnick. O que todos esses treinadores têm em comum?

Todos passaram pelo Manchester United e nenhum deles terminou o terceiro ano de trabalho. Alguns, inclusive, não completaram nem uma temporada, como Moyes, Giggs e Rangnick

Mas engana-se quem pensa que o problema do Manchester United está exclusivamente na escolha dos treinadores.

Na verdade, os Diabos Vermelhos estão atolados em problemas estruturais em todas as esferas possíveis, que juntos refletem e evidenciam as deficiências no campo, onde é mais perceptível aos torcedores.

E há quem diga que o protagonismo de Ferguson em seus tempos de clube, de certa forma, contribuiu para isso.

O ex-treinador era tão genial no que fazia – não à toa ganhou tudo o que podia, incluindo 13 Premier League e duas Champions – que a sua presença mascarava alguns problemas.

E quando o escocês deixou o clube, ficando cada vez mais difícil escondê-los.

Técnicos do Manchester United desde a saída de Alex Ferguson

TécnicoTemporadasDiasJogos
Erik ten Hag2 (e contanto)823123
Ralf Rangnick1/217929
Oler Solskjaer 2 e meia1.068168
José Mourinho2 e meia900144
Van Gaal2679103
David Moyes129551

A começar pelos muitos erros de planejamento da diretoria. A saída de Ferguson, que se comportava muito mais como um manager do que “apenas” um técnico, trouxe à equipe Ed Woodward para gerenciar o futebol.

O problema é que é difícil gerenciar um time do tamanho do Manchester United da mesma forma que um gênio fazia.

E nos quase 10 anos que esteve no clube, até a sua saída em 2022, Woodward foi considerado o principal pivô das decisões questionáveis que tiraram o United da briga por títulos.

Em nove anos, o clube torrou mais de 1 bilhão de libras em exorbitantes contratações que deram pouco ou quase nenhum resultado. E mesmo com a nova gestão, essa farra financeira descontrolada não teve fim.

Só nos últimos dois anos, foram gastos 618 milhões de libras (R$ 3,7 bilhões) em contratações. Apenas o Chelsea, com 1,3 bilhão de libras (R$ 7,8 bilhões) gastou mais na Inglaterra.

Os muitos erros administrativos fizeram o United perder o protagonismo, deixar ter as grandes estrelas e ainda ver seus rivais o ultrapassarem.

Mas, ao mesmo tempo, a história vitoriosa e os fãs continuaram cobrando grandes conquistas de todos os treinadores que chegaram.

E, ao que tudo indica, os “terríveis dois anos” estão cada vez mais perto fazer uma nova vítima, e os dias de Ten Hag podem estar contados.

Início ruim do United coloca cargo de Ten Hag em cheque

O Holandês terminou em 2023-24 o seu segundo ano na equipe. E tinha só um objetivo: terminar o terceiro.

A verdade é que quem olhasse para a temporada passada, apostaria que Ten Hag seria demitido.

Mas o surpreendente título da FA Cup para cima do rival Manchester City deu uma sobrevida ao trabalho do treinador, que ganhou esperanças para se tornar o primeiro técnico desde Alex Ferguson a ultrapassar a barreira das três temporadas.

Ten Hag e Van Nistelroy. Foto: Imago
Ten Hag e Van Nistelroy tentaram arrumar uma solução para o Manchester United, contra o Tottenham, mas não conseguiram evitar mais um vexame em Old Trafford. Foto: Imago

No entanto, tão logo começou a nova temporada, o treinador, que recentemente renovou o seu contrato, voltou a ser assombrado pelo fantasma dos “terríveis dois anos”.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a continuidade de Ten Hag à frente do clube vai depender dos próximos dois jogos da equipe, contra Porto, na quinta-feira (3), pela Liga Europa, e Aston Villa, na Premier League, no domingo (6).

Foto de Márcio Júnior

Márcio JúniorRedator de esportes

Baiano formado pela Faculdade Regional da Bahia. Cobriu de carnaval a Copa do Mundo na TVE Bahia, onde venceu o prêmio de reportagem do mês. Passou pela ALBA, Rádio Educadora, Superesportes e Quinto Quarto antes de se tornar repórter na Trivela.
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