Inglaterra

Rúben Amorim: táticas, estilo e tudo que você precisa saber sobre o novo técnico do United

Estilo de jogo, personalidade, ideias, carreira e muito mais: conheça Rúben Amorim, que deve revolucionar o Manchester United

Rúben Amorim foi anunciado na manhã desta sexta-feira (1º) como o técnico do Manchester United. Após a demissão de Erik ten Hag, os Red Devils focaram seus esforços para tirar o português do Sporting.

Os ingleses pagaram a multa rescisória de 10 milhões de euros (aproximadamente R$ 62,6 milhões), valor necessário para contar com o treinador que se tornou uma lenda dos Leões.

Pensando nisso, a Trivela entrevistou jornalistas e destrinchou os principais pontos sobre Amorim, que vão desde estilo de jogo e seus feitos na carreira, até sua personalidade nos bastidores.

— Rúben Amorim é o treinador que o United precisa. De Portugal sai como o melhor treinador de todos os tempos do Sporting CP, o mais jovem treinador bicampeão do campeonato português e o melhor comunicador desde José Mourinho.

Pedro Pereira, narrador do SPORT TV.

Conheça Rúben Amorim

Foto: (Imago) - Rúben Amorim como técnico do Sporting
Foto: (Imago) – Conheça Rúben Amorim, que fez história no Sporting

Antes de se destacar no Sporting, Rúben Amorim teve uma carreira de sucesso como jogador no arquirrival Benfica. Nos Encarnados, o volante chegou a participar de duas Copas do Mundo (2010 e 2014).

Na Luz, foi treinado por Jorge Jesus, com quem ganhou três Ligas Portuguesas. Aliás, o Mister serviu como inspiração da filosofia de jogo de Amorim como técnico, mas falaremos sobre isso mais adiante.

O português pendurou as chuteiras em 2017 e, no ano seguinte, treinou o Casa Pia. Entretanto, como Rúben Amorim não tinha licença de treinador e acabou sendo punido, assim como a equipe.

Na sequência, o técnico assumiu o Braga B, mas rapidamente foi promovido ao time principal. Por lá, foi campeão da Taça da Liga Portuguesa. Isso foi o suficiente para chamar a atenção dos Leões, que o contrataram em 2020.

Os feitos no Sporting

Quando Amorim chegou ao Sporting, o time vivia um jejum de quase 20 anos sem conquistar a Liga Portuguesa. Desde o início dos anos 2000, os Leões viram Benfica e Porto assumirem o protagonismo local.

Entretanto, tudo mudou com o novo técnico. Após o 4º lugar em sua temporada de estreia, Rúben Amorim levou o Sporting ao título português em 2020/21, abrindo o caminho para novas conquistas.

Números de Rúben Amorim no Sporting

  • Jogos: 227
  • Vitórias: 160
  • Empates: 34
  • Derrotas: 33
  • Bicampeão da Liga Portuguesa: (2020/21 e 2023/24)
  • Bicampeão da Taça da Liga Portuguesa: (2020/21 e 2021/22)
  • Campeão da Supercopa Portuguesa: 2021

O dono do ‘balneário' em Portugal

Foto: (Imago) - Multicampeão pelo Sporting, Amorim é querido pelos jogadores
Foto: (Imago) – Multicampeão pelo Sporting, Amorim é querido pelos jogadores

Uma das características mais importantes de Rúben Amorim no Sporting era a liderança. Carismático, comunicativo e com apenas 39 anos, o treinador não demora a criar empatia com seus comandados. E quem se beneficia é o time.

Nos bons e nos maus momentos, Amorim se manteve cordial à imprensa, defendeu seus jogadores e explicou aos torcedores, com riqueza de detalhes, as suas crenças. Dentro do vestiário, em Portugal conhecido como “balneário”, era o dono. Uma liderança que nunca precisou ser imposta.

— Amorim vence e destaca-se por ser mestre na comunicação dentro do balneário, e também em cada conferência de imprensa. Sua comunicação é poderosa, seja pelas palavras, atitudes, capacidade confiante de proteger os jogadores e ser crítico sem os rebaixar.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO

Contraponto a ten Hag

Aqui vale destacar que a personalidade de Rúben Amorim já é completamente diferente das características de Erik ten Hag. Enquanto o português é conhecido por ser uma pessoa fácil de lidar no Sporting, o mesmo não pode ser dito do holandês.

Desde que foi contratado, em 2022, ten Hag acumulou polêmicas com jogadores e membros da imprensa. Em pouco mais de dois anos, o técnico holandês se desentendeu com Cristiano Ronaldo e Jadon Sancho — para dar os exemplos mais famosos.

— Todo o balneário de Manchester poderá esperar um treinador que fala a mesma língua que eles e uma proximidade num extremo oposto, se compararmos com Ten Hag.

Pedro Pereira, narrador do SPORT TV.

Tanto o ídolo português quanto o craque inglês não ganharam sequência com Erik ten Hag nos Red Devils depois das discussões e tiveram que dar continuidade à carreira em outros lugares.

Além disso, o treinador holandês tinha o costume de atribuir os maus resultados do Manchester United durante sua gestão a uma suposta crise criada pela mídia.

Foto: (Icon Sport) - Erik ten Hag era uma pessoa difícil de lidar no Manchester United
Foto: (Icon Sport) – Erik ten Hag era uma pessoa difícil de lidar no Manchester United

Amorim transformou Sporting em máquina de fazer dinheiro com jovens

Esta pode não ser a vocação do Manchester United, mas Rúben Amorim soube usar as divisões de base do Sporting para transformar o clube em uma máquina de fazer dinheiro.

Isso porque o futebol português, naturalmente, está posicionado como um mercado menor. Porto e Benfica já realizavam há muito o expediente de comprar jovens revelações mundiais e revendê-los a Europa para obter lucro.

Usando a experiência do arquirrival encarnado de Lisboa, os Leões passaram a fazer o mesmo com Amorim. Além das boas apostas no mercado, passaram a dar mais valor a Alcochete, onde ficam as divisões de base do Sporting na margem sul do Rio Tejo.

— Rúben Amorim também ganhou destaque por apostar — e potencializar — jovens jogadores da casa, como aconteceu com Nuno Mendes (PSG) e Matheus Nunes (Manchester City). Em quase seis temporadas no Sporting, fez o clube lucrar cerca de 350 milhões de euros (cerca de R$ 2,2 bilhões) em vendas, e mais 150 milhões de euros (em torno de R$ 940,3 milhões) com prêmios em participações em competições europeias (Champions League e Liga Europa).

Bruno Andrade, comentarista da CNN Portugal/TVI

Cinco das 10 maiores vendas da história do Sporting aconteceram na Era Rúben Amorim

  • Manuel Ugarte — 60 milhões de euros — PSG (2º na história);
  • Matheus Nunes — 47,5 milhões de euros — Wolverhampton (3º);
  • Pedro Porro — 40 milhões de euros — Tottenham (5º);
  • Nuno Mendes — 38 milhões de euros — PSG (6º);
  • Palhinha — 25 milhões de euros — Fulham (9º).

Um sistema ofensivo mesmo com três zagueiros

Uma das primeiras mudanças efetuadas por Rúben Amorim no Sporting foi tática. O jovem treinador começou pela defesa, onde utiliza três jogadores. Nas pontas do trio, prefere jogadores técnicos e velozes. Este início foi marcado por uma quebra de paradigma.

— Rúben Amorim é claramente um treinador que prioriza o lado ofensivo. Ajudou a derrubar desde a sua chegada ao Sporting a ideia de que uma formação com três zagueiros (3-4-3) é automaticamente defensiva. Muito pelo contrário.

Bruno Andrade, comentarista da CNN Portugal/TVI
Rúben Amorim com Gonçalo Inácio, joia de Alcochete que recebeu chance muito novo na zaga do Sporting - Foto: Imago
Rúben Amorim com Gonçalo Inácio, joia de Alcochete que recebeu chance muito novo na zaga do Sporting – Foto: Imago

Também por isso, transformou laterais em “centrais”, na literatura do futebol português. O lateral-esquerdo brasileiro Matheus Reis, ex-São Paulo, por exemplo, se tornou zagueiro com Amorim.

Assim, para jogar pelas pontas, não era necessário ter poder de marcação acima da média, mas intensidade. Pontas velozes recuaram, como Nuno Santos e Geovany Quenda. Outros laterais tiveram mais liberdade, como Nuno Mendes, hoje no PSG. A estrutura foi sempre mantida, com mudanças pontuais de peças.

Como joga a equipe de Rúben Amorim?

Por mais que seja adepto do 3-4-3, Rúben Amorim não se prende ao modelo tático. Dentro de campo, o treinador português preza pela adaptação aos seus adversários, buscando sempre gerar vantagem numérica para chegar ao ataque.

As ideias de Amorim são pautadas em uma estrutura fluída. Ou seja, o técnico orienta seus jogadores a realizar diferentes papéis desde a construção de jogo — e talvez esse seja o segredo do sucesso no Sporting.

Quando os Leões queriam sair tocando desde a defesa, um dos zagueiros pulava uma linha, enquanto o goleiro participava ativamente da troca de passes. Nesse cenário, os alas recuam para dar amplitude, enquanto os meias se aproximam, criando um “buraco” em relação aos atacantes.

Foto: (Trivela/ShareMyTactics) -- Primeira fase de transição ofensiva do Sporting de Rúben Amorim
Foto: (Trivela/ShareMyTactics) — Primeira fase de transição ofensiva do Sporting de Rúben Amorim

Fazendo isso, os Leões poderiam forçar uma bola alta para seus atacantes, ou até mesmo movimentar a bola de um lado para o outro pacientemente até encontrar os espaços para avançar.

Ao passar da linha do meio-campo, o Sporting de Rúben Amorim apostava nas movimentações de seus jogadores, que assumiam a função de um companheiro caso ele estivesse compensando outra posição.

Mais do que isso, um dos meias e dois atacantes ganhavam liberdade para povoar a faixa central do gramado. Esse formato em “diamante” possibilitava os Leões a usar os flancos para tentar levar a bola até a região da meia-lua, de onde saíam as principais chances de gol.

Foto: (Trivela/ShareMyTactics) - Sporting de Amorim aposta em um jogo central, mas utilizando os alas para se aproximar da grande área adversária
Foto: (Trivela/ShareMyTactics) – Sporting de Amorim aposta em um jogo central, mas utilizando os alas para se aproximar da grande área adversária

Os zagueiros do técnico português sabem jogar com os pés, enquanto os alas não precisam ter tanta preocupação defensiva. Aliás, os jogadores dos flancos são uma espécie de “isca”, atraindo a marcação de um meia rival e criando espaços no centro de campo.

Como o Sporting subia suas linhas para sufocar o adversário, o meio do gramado fica sobrecarregado, facilitando a vida de Viktor Gyökeres. Amorim zela por um centroavante que saiba ser decisivo com poucos toques na bola.

Portanto, não era díficil presenciar tabelinhas para entrar na área, além de corta-luzes e o famoso facão. Os Leões também ficaram conhecidos pelas inversões de jogo, movendo a bola de uma lateral para a outra com rapidez.

A máquina de gols Gyökeres ajuda Amorim a mudar patamar

Foto: (Icon Sport) - Viktor Gyokeres, artilheiro do Sporting
Foto: (Icon Sport) – Viktor Gyokeres, artilheiro do Sporting

O ataque do Sporting foi o grande ponto de virada de Rúben Amorim na última temporada.

Isso porque o Sporting já vinha de bons desempenhos, mas tinha em Paulinho, o centroavante, um dos jogadores mais criticados pelo torcedor. Longe de ser uma sumidade na parte técnica, o camisa 9 acabou no banco em 2022, o que fez Amorim modificar, algumas vezes, seu plano tático.

Até que Viktor Gyökeres chegou a Portugal.

— Mais do que o sistema que construiu, que é forte, Amorim sabe mecanizá-lo com os jogadores certos para as posições. Ele nunca contrata com base na reputação, mas pela forma como se enquadram no sistema.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO

O sueco de 26 anos foi escolhido a dedo pelo treinador na segunda divisão da Inglaterra, onde já era uma máquina de gols do Coventry City. Gyökeres pertencia ao Brighton, reconhecido mundialmente pela capacidade de scouting e uso de estatísticas avançadas. Os números deram razão aos portugueses, que pagaram 24 milhões de euros (aproximadamente R$ 150,2 milhões) e o tornaram a contratação mais cara da história do Sporting.

Isso porque Gyökeres mudou o Sporting de patamar. São 54 gols em 60 jogos até aqui.

— O Sporting com Rúben Amorim foi sempre coletivamente forte, com uma dinâmica apurada, mas só se tornou esmagadoramente superior em relação à concorrência com o Gyökeres.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO

Assim, não será surpresa se o sueco, comparado a Haaland em Portugal, vire o camisa 9 do Manchester United.

— Se há um jogador que ele vai querer será Gyokeres, porque ele esmaga tudo, embora as defesas inglesas sejam muito mais robustas do que as portuguesas. Em todo o caso, também fez com que o jogador evoluísse para além da dimensão física. O Sporting tornou-se avassalador com este avançado, mas foi uma contratação bem pensada por ele, exigida sem pensar em alternativa, até para ser a pedra de toque no sistema que tinha, com muitos jogadores rápidos envolvidos no processo ofensivo.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO

Como deve ser o Manchester United de Rúben Amorim

Foto: (Imago) - Manchester United está em crise, mas Rúben Amorim pode melhorar a situação
Foto: (Imago) – Manchester United está em crise, mas Rúben Amorim pode melhorar a situação

O cenário que Rúben Amorim irá encontrar no Manchester United é parecido com o contexto de sua chegada ao Sporting. Os Red Devils parecem que ainda não se encontraram desde o fim da Era Ferguson.

Desde a saída do histórico treinador, oito nomes já passaram por Old Trafford. Todos eles vivenciaram algum tipo de problema, resultando em demissões e trabalhos que pouco convincentes.

Além disso, o Manchester United foi mera testemunha durante o crescimento do rival Manchester City. Liverpool, Arsenal e Chelsea também foram protagonistas na Inglaterra e na Europa, enquanto os Red Devils patinavam.

Agora, o técnico português terá que dar uma rápida resposta no Manchester United, que ocupa apenas a 14ª posição da Premier League após nove rodadas e a 21ª colocação da Europa League depois de três jogos.

— No Sporting, ao entrar a meio da temporada, teve um início difícil, em termos de resultados imediatos, mas ficou claro que começou a abrir caminho e tudo o resto foi brutal depois. Agora será fácil, pois o Manchester já começou tão mal que será difícil não fazer melhor.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO.

— Ele pode ir pelos resultados, sem se sentir tão apertado na exigência, melhorá-los muito e tornar-se imediatamente bem-visto e, ao mesmo tempo, começar a preparar o futuro à sua imagem. É um técnico que chegará com uma visão de algo mais e não apenas preocupado em mudar a situação atual.

Pedro Cadima, repórter do O JOGO
Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
Foto de Caio Blois

Caio BloisSetorista

Jornalista pela UFRJ, pós-graduado em Comunicação pela Universidad de Navarra-ESP e mestre em Gestão do Desporto pela Universidade de Lisboa-POR. Antes da Trivela, passou por O Globo, UOL, O Estado de S. Paulo, GE, ESPN Brasil e TNT Sports.
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