Inglaterra

Rebaixado à 4ª divisão, Portsmouth é comprado por torcedores

Depois de conseguir comprar o estádio Fratton Park, o fundo dos torcedores do Portsmouth conseguiu o mais importante: comprou o clube. Assim, o clube saiu da concordata que já durava 14 meses e que já era a segunda em menos de três anos. Depois de três temporadas terríveis, com rebaixamentos consecutivos, o Pompey Trust assumiu o controle do time. Com tantos clubes nas mãos de empresários estrangeiros, o Portsmouth caminha na contramão e terá empresários torcedores do clube na direção. Mas o trabalho será muito duro.

Desde 2010, o Portsmouth sofreu com rebaixamentos consecutivos da Premier League (2010), Championship (2011) e  agora a League One (2013). O clube terá que jogar a League Two na próxima temporada, a quarta divisão inglesa. E chegou a esse ponto por conta de diversas administrações ruins e aventureiros que compraram o clube e fizeram o que quiseram com ele.

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O clube foi campeão da FA Cup (também chamada de Copa da Inglaterra) em 2008, em uma final surpreendente contra o Cardiff, com um gol do atacante Nwankwo Kanu (aquele mesmo do “Ele é perigoooso, acabou!”). Foi um momento de glória para o clube, que então disputou a Copa da Uefa no ano seguinte. No final da temporada 2008/09, o clube foi vendido para o empresário Sulaiman Al Fahin, dos Emirados Árabes Unidos. Começava um período que deixaria feridas difíceis de cicatrizar.

Com muitas dívidas, o clube foi comprado em agosto, mas vendido em dezembro para outro grupo de empresários liderados por Ali Al-Faraj. Os problemas só cresciam. E, outubro daquele mesmo ano, o clube revelou que alguns jogadores não tinham recebido seus salários. A situação financeira piorava. Em dezembro de 2009, foi anunciado que o clube não conseguiu pagar os salários do time pelo segundo mês seguido. Em março de 2010, depois do órgão equivalente à receita federal cobrar dívidas do clube, o Portsmouth entrou em colapso.

Naquela mesma temporada, o clube mudou de mãos novamente: Balram Chainrai assumiu o clube em fevereiro de 2010 e informou que o clube tinha dívidas de £ 135 milhões. Para evitar a falência, o novo dono colocou o clube em concordata. Pelas regras da Premier League, perdeu 10 pontos em 17 de março daquele ano. Foi a pá de cal em um time que ia mal em campo e ainda pior fora dele. O rebaixamento foi inevitável. E consolidado no dia 17 de abril.

Em junho de 2011, depois de terminar a Championship, segunda divisão inglesa, na 16ª posição e escapar do rebaixamento, o clube foi finalmente vendido e saiu da concordata. O grupo Convers Sports Iniciatives, do russo Vladimir Antonov, comprou o clube.  E ninguém esperava o que veio a seguir. Promotores lituanos emitiram uma ordem de prisão para Antonov em novembro daquele ano. A razão? O Bankas Snoras, banco do qual o russo era dono de 68% das ações, eram investigados pelo Ministério Público Lituano por crimes fiscais. Outro banco de sua propriedade, o Latvijas Krajbanka, foi suspenso pelas autoridades da Letônia. Antonov foi preso em seu escritório em Londres e solto sob fiança.

Não demorou muito para Antonov sair da presidência do Portsmouth, pouco depois da sua empresa, a Convers Sports Iniciative, entrar em concordata. Novamente, o clube foi cobrado pela Receita Inglesa por impostos não pagos em janeiro de 2012. No dia 17 de fevereiro, o clube entrou novamente em concordata e, de novo, perdeu 10 pontos. O time acabaria rebaixado novamente, desta vez para a League One.

A temporada 2012/13 começou de forma traumática. Todos os jogadores saíram do clube. Pior: o clube entrou na League One já com 10 pontos negativos, pelos problemas financeiros. Em novembro, o fundo dos torcedores fez uma oferta para comprar o clube. Foi a única oferta. O empresário que colocou o Portsmouth em concordata, Chanrai, desistiu de comprar o clube. No dia 10 de abril, o fundo de torcedores chegou a um acordo para a compra. Só no dia 19 de abril que a compra foi efetivada. E o pesadelo do time, já rebaixado para a League Two, parece próximo de um fim.

Recomeço

“Que dia memorável! Mais uma vez os torcedores do Pompey mostraram por que eles são os melhores desta terra, nós agora temos um clube que é de propriedade de pessoas que realmente o amam, seus torcedores. É como deveria ser o futebol”, afirmou Ashley Brown, presidente da Pompey Supporters Trust, logo após o anúncio do fundo como novo dono do Portsmouth, na sexta-feira, 19 de abril.

O presidente do Portsmouth será Iain McInnes, empresário local, que também mostrou satisfação por esse momento ter chegado. “Foi uma jornada difícil chegar nesse ponto, mas no fim nós conseguimos o resultado certo. Agora é hora dos torcedores do Pompey apoiarem o clube e nós estamos ansiosos para celebrar nos tornarmos uma comunidade de futebol no Fratton Park neste sábado”. McInnes se referia ao jogo contra o Sheffield United. No estádio do Portsmouth, o time venceu o Sheffield United por 3 a 0, gols de Shaun Cooper, David Connolly e Jed Wallace.

O time está condenado à League Two na próxima temporada. Mas ao menos se livrou da condenação de pertencer a um empresário qualquer, disposto a lavar dinheiro ou qualquer coisa do tipo. É verdade que só a paixão dos novos gestores do clube não será suficiente para reeguer a equipe. É preciso trabalhar bem e serem bons profissionais para levantar o time. Mas o futuro certamente é mais animador agora do que quando os torcedores sabiam que o seu clube, a sua paixão, estava na mão de alguém sem nenhuma identificação com o time. Esses dias acabaram.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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