Premier League

West Ham faz uma escolha astuta ao trazer Edson Álvarez para a lacuna de Rice

Edson Álvarez foi um dos principais jogadores do Ajax nos últimos anos e custa um terço do que o West Ham ganhou pela venda de Declan Rice

O West Ham realizou a maior venda de sua história nesta janela de transferências, com a saída de Declan Rice rumo ao Arsenal por €116,6 milhões. O volante deixa uma lacuna difícil de ser preenchida, e não apenas por suas virtudes, entre a pegada na marcação e a qualidade na construção. Rice era uma figura extremamente identificada com os Hammers desde a base e se despediu como capitão da conquista da Conference League – o primeiro desde Bobby Moore a erguer um troféu europeu com a camisa grená. De fato, o West Ham não encontraria um novo jogador com o simbolismo do inglês. Mas, por bola, conseguiu uma das melhores alternativas possíveis no mercado. Nesta quinta-feira, o clube anunciou a chegada de Edson Álvarez, excelente no Ajax durante os últimos anos.

Até pelos valores envolvidos no negócio, Edson Álvarez sai como uma pechincha do West Ham. O clube pagou €38 milhões para o Ajax, cerca de um terço do total recebido pela venda de Declan Rice. O mexicano de 25 anos era um nome quente no mercado faz tempo e pretendido inclusive por clubes com mais projeção nos torneios internacionais – o Chelsea tentou levá-lo na temporada passada, quando só não saiu por falta de tempo para o Ajax buscar uma reposição, enquanto o Borussia Dortmund o procurou na atual. Disputar a Premier League pesa muito na balança e o volante confia não apenas numa recuperação dos Hammers, depois de uma campanha abaixo da média, como também no destaque possível dentro da Liga Europa. A equipe de David Moyes, afinal, honra a tradição dos londrinos dentro das competições continentais.

No entanto, a atividade do West Ham no mercado ainda é tímida. Edson Álvarez é justamente o primeiro reforço rumo à próxima temporada, às vésperas da estreia na Premier League. Já a base principal continua praticamente a mesma, exceção feita à saída de Declan Rice. Os Hammers também ganharam dinheiro com a venda de Gianluca Scamacca, que não deu certo no Estádio Olímpico, rumo à Atalanta. Nikola Vlasic e Arthur Masuaku, que já estava emprestados, se despediram de vez. Por fim, Manuel Lanzini assinou com o River Plate ao final de seu contrato, mas sem a mesma influência que teve em seus melhores momentos nos Hammers.

Álvarez superou o início difícil no Ajax

Edson Álvarez é um dos melhores jogadores mexicanos em atividade na Europa atualmente. O meio-campista despontou muito novo no Campeonato Mexicano, cria das categorias de base do América. Suas primeiras aparições aconteceram em 2016/17 e o adolescente acumulou troféus com as Águilas. Chegou a faturar o Apertura e também o Clausura na Liga MX, num momento em que se consolidava na seleção do México. A polivalência era uma de suas virtudes: atuou como lateral direito, zagueiro e volante nestes primórdios. Seria inclusive titular na Copa do Mundo de 2018, bem como na conquista da Copa Ouro em 2019.

Álvarez desembarcou no Ajax em 2019/20, contratado por €15 milhões. Vinha num momento excepcional do clube, sob as ordens de Erik ten Hag, logo após a campanha até as semifinais da Champions League. O contexto era um pouco mais delicado pela troca de lideranças, especialmente com as saídas de referências como Lasse Schöne e Frenkie de Jong no meio-campo. A adaptação do mexicano na Johan Cruyff Arena não foi automática e ele teria dificuldades em seu primeiro ano, com falhas e pouco tempo como titular. Entretanto, seu futebol floresceu a partir de 2020/21.

Desde então, Edson Álvarez se tornou um dos melhores jogadores do Ajax. Virou imprescindível na cabeça de área e participou de novas conquistas, bicampeão da Eredivisie. Esteve entre as peças principais do bom desempenho na Champions 2021/22. Já nos últimos meses, foi uma bola de segurança em meio ao enfraquecimento dos Godenzonen e à perda de competitividade. Como zagueiro ou como volante, era um nome certo. Só não se sabia por quanto tempo, diante do interesse estrangeiro no jogador.

As dificuldades que Álvarez viveu no Ajax também foram compartilhadas no México. A seleção perdeu fôlego no último ciclo, superada pelos Estados Unidos em diferentes competições. O volante chegou à última Copa do Mundo como uma liderança, mas foi ausência contra a Argentina na segunda rodada e fez falta num jogo custoso para a campanha encerrada logo na fase de grupos. Uma mínima recuperação pelo menos veio na Copa Ouro de 2023, com a necessária conquista do México. O jovem atuou como zagueiro e como volante na caminhada vitoriosa de El Tri.

Ajax vive o fim de uma era

O West Ham claramente ganha com a presença de Edson Álvarez. É um jogador que pode preencher bem a vaga de Declan Rice, mesmo sem ser tão bom. Possui capacidade na marcação, sobretudo por sua leitura de jogo, e um estilo técnico, aprimorado pelos últimos quatro anos dentro do Ajax. Deve ser aproveitado especialmente como volante, apesar da possibilidade de jogar como zagueiro. Todavia, até pelas opções mais numerosas dos Hammers na defesa, a tendência é que o recuo se torne apenas ocasional. Vai ser interessante a parceira do mexicano com Tomas Soucek, outro pilar da meia-cancha londrina nos últimos anos.

Enquanto isso, o Ajax sofre uma cisão ainda maior em relação aos seus principais feitos nos últimos anos. A atual janela de transferências também contou com a despedida de Jurrien Timber, mais um levado pelo Arsenal, e também do ídolo Dusan Tadic, que preferiu rescindir o seu contrato em desacordo com a política de mercado da nova direção. Os Godenzonen já ganharam €101 milhões em vendas e gastaram apenas €32 milhões em compras. Quase todos os reforços são jovens, como o ponta Carlos Forbs (Manchester City) e o meia Benjamin Tahirovic (Roma). O mais experiente a chegar é Branco van de Boomen, que veio sem custos do Toulouse.

Substituir Edson Álvarez não será tão simples, até pela maneira como vários outros jogadores importantes saíram do Ajax. Uma opção é Silvano Vos, volante da base que se destaca nas seleções menores da Holanda, mas tem apenas 18 anos. O momento é de quebra em relação ao que foi o trabalho dos Ajacieden com a tríade formada por Marc Overmars, Edwin van der Sar e Erik ten Hag. O adeus de Álvarez é mais um sinal dos novos tempos, que não necessariamente animam a torcida. O clube, ao menos, ofereceu amplas homenagens para reconhecer a dedicação e a relevância do mexicano nestes últimos tempos. Nada mais justo para quem se transformou num nome central em Amsterdã.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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