Premier League

Galatasaray aproveita excedentes do Tottenham para levar Ndombélé e Sánchez

Talvez um dos motivos do Tottenham ter empacado recentemente é que Ndombélé e Sánchez, dois potenciais pilares do pós-Mauricio Pochettino, custaram € 100 milhões e não deram certo

Sempre de olho nas rebarbas das ligas mais ricas, o Galatasaray aproveitou que o Tottenham não conseguiu enxugar o seu elenco tanto quanto gostaria no fechamento do mercado, na última sexta-feira, e levou dois jogadores que já exibiram muita qualidade, mas estão em um momento de baixa. O meia Tanguy Ndombélé chega ao campeão turco emprestado com opção de compra, e o zagueiro Davinson Sánchez fechou contrato por quatro temporadas, com possibilidade de mais uma.

O Galatasaray estava esperando a decisão de Sergio Ramos, que acabou recusando tanto a Turquia quanto a Arábia Saudita para retornar ao Sevilla, para aumentar a sua coleção de figurinhas carimbadas, como Mauro Icardi, Dries Mertens, Sérgio Oliveira, Lucas Torreira e Angeliño, e que havia sido ampliada nesta janela por Hakim Ziyech e Wilfried Zaha. Ndombélé e Sánchez não têm nem perto do mesmo status de Ramos, mas são, ou já foram, jogadores interessantes que não conseguiram render como se esperava no Tottenham.

Ndombélé: uma grande frustração

O Tottenham chegou à final da Champions League sem fazer uma contratação, enquanto construía seu novo estádio, e, assim que conseguiu voltar ao jogo, quebrou a banca para contratar Ndombélé, à época uma grande revelação do Lyon. Custou € 62 milhões, ainda o reforço mais caro dos Spurs em números brutos, e isso porque os preços subiram nos últimos quatro anos. Ele acabou sendo uma das grandes frustrações recentes do clube londrino.

A história ainda não acabou necessariamente porque Ndombélé foi contratado por empréstimo, com opção de compra em € 15 milhões, parcelados em cinco vezes, mas é difícil imaginar qualquer cenário em que retornaria ao Tottenham para valer. Seu último jogo pelos Spurs foi 18 meses atrás, antes de empréstimos para Lyon e Napoli, pelo qual foi campeão italiano com uma participação bem pequena – menos de 800 minutos na Serie A.

Ndombélé teve dificuldades para se adaptar ao regime de treinamentos e ritmo mais intenso das partidas do Campeonato Inglês e teve uma primeira temporada cheia de pequenas lesões. Não ajudou que o técnico que o contrato foi trocado por José Mourinho, fiel da terapia de choque com jogadores que ele acredita que não estão rendendo tanto quanto podem. Teve poucas chances com o português e foi criticado em público após um jogo contra o Burnley, em março de 2020, pouco antes da paralisação por causa da pandemia.

Durante a quarentena, ele até fez trabalhos que não deveria ter feito, mesmo a céu aberto, com a companhia de Mourinho e foi protagonista de duas cenas da série da Amazon sobre o Tottenham. Em uma admitia as dificuldades de adaptação à Inglaterra. Na outra, sofria com uma história boba do presidente Daniel Levy que tentava motivá-lo. Chegou até a haver rumores de que havia decidido nunca mais trabalhar com Mourinho, mas conseguiu se preparar o bastante para ter uma sequência boa na temporada 2020/21, dando alguns sinais do jogador que o Tottenham achava que havia contratado. Ela, porém, não durou.

Ele acabou aquela campanha no banco do treinador interino Ryan Mason e teve um breve momento como titular com Nuno Espírito Santo, antes da troca por Antonio Conte, que lhe deu pouquíssimas oportunidades. Em janeiro de 2022, tentou recuperar a alegria de jogar futebol em uma volta para casa ao Lyon, sem grande sucesso. E também não conseguiu emplacar emprestado ao Napoli. Cabe ao Galatasaray tentar recuperar o futebol do meia de ainda 26 anos.

Tottenham fica com poucos zagueiros

Davinson Sánchez também foi uma frustração. Custou € 42 milhões após uma boa temporada pelo Ajax, sua ponte à Europa do Atlético Nacional. Ainda era um jovem de 20 anos. Não foi um desastre o tempo todo, mas não se desenvolveu como o esperado. Começou a perder espaço com Mourinho, após três temporadas como titular, e realmente virou reserva com os treinadores seguintes. Chegou a atuar na primeira rodada da Premier League contra o Brentford, substituindo Cristian Romero, que se machucou no primeiro tempo, parecendo sem confiança e inseguro. Tinha apenas mais um ano de contrato, e o Tottenham conseguiu pelo menos recuperar € 9,5 milhões do que investiu.

A saída de Sánchez deixa o departamento de zagueiros de Ange Postecoglou um pouco desfalcado, com apenas Cristian Romero, o jovem e recém-chegado Micky van de Ven e Eric Dier como especialistas da posição, além do garoto Ashley Phillips, contratado do Blackburn. Pode não ser um problema porque os Spurs não disputam competições europeias nesta temporada, mas ficam sujeitos a improvisações em caso de problemas físicos, pelo menos até janeiro.

O Tottenham é um clube rico, mas não pode errar tanto quanto alguns dos seus adversários na Premier League. Gastar € 100 milhões em dois potenciais pilares da segunda parte do trabalho de Mauricio Pochettino – que nem chegou a existir – acabam sendo um golpe fatal. Isso não explica tudo que levou os Spurs a darem um passo para trás recentemente, há outros fatores como as escolhas e os trabalhos dos técnicos, mas certamente não ajudou.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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