Sergio Ramos no Sevilla é uma das voltas para casa mais emblemáticas – até pelo que recusou
O veterano recusou proposta financeiras maiores do Al-Ittihad, da Arábia Saudita, e do futebol turco para retornar após 18 anos

Pelo pai, pelo avô e por Antonio Puerta, Sergio Ramos recusou uma proposta financeiramente superior do Al-Ittihad, da Arábia Saudita, para voltar para onde tudo começou. Em um negócio que avançou em poucas horas, o veterano foi confirmado pelo Sevilla nesta segunda-feira, 18 anos depois de trocá-lo pelo Real Madrid, e citou dívidas com sevillismo para justificar a decisão de rechaçar as outras abordagens que recebeu. Assinou contrato por uma temporada.
Ramos estava livre no mercado, após o fim do seu contrato com o Paris Saint-Germain, e fazia meses que tentava operar um retorno ao Sevilla, mas não parecia que teria sucesso. O presidente José Castro chegou a ridicularizar a especulação: “Sergio Ramos quer voltar ao Sevilla? E eu quero um avião”. O diretor de futebol, Victor Orta, foi um pouco mais profissional, ainda que taxativo.
– No modelo de elenco que estamos conduzindo atualmente, não existe a possibilidade de contratar Sergio Ramos porque temos seis zagueiros, estamos com problemas para inscrever e dentro do modelo de regeneração, de apostar nesse tipo de reforço… Não existe possibilidade de que jogue esta temporada aqui – afirmou, em 8 de agosto.
Mas o mundo é famoso por dar voltas e, no momento em que o Al-Ittihad preparava exames médicos para promover a reunião de Sergio Ramos com Karim Benzema, o zagueiro finalmente recebeu a ligação que esperava do Sevilla. O contato aconteceu na manhã de domingo e o levou a paralisar negociações com os sauditas, que já pareciam ter levado vantagem em relação ao Galatasaray, que tentou sua contratação. Também houve certo interesse da Major League Soccer.
Segundo o jornal espanhol AS, Sergio Ramos aceitou o que quer que o Sevilla pudesse lhe pagar para não ferir o Fair Play Financeiro e poder ser inscrito.
– Hoje é um dia muito especial e emocionante para mim. Finalmente volto para casa. Quero colocar novamente este escudo em meu peito. Faz meses que espero isso, mas estou contente de voltar. Não faria sentido ir para outro lugar sem passar por aqui. Era uma dívida com meu pai, meu avô, com o sevillismo e com Puerta, com muitas coisas que significaram bastante, e acredito que era o momento – disse o jogador de 37 anos.
Antonio Puerta chegou ao Sevilla ainda criança e permaneceu 14 anos, até morrer em 28 de agosto de 2007. Ele sofreu uma parada cardíaca aos 35 minutos de um jogo contra o Getafe, no começo da temporada 2007/08. Foi levado ao hospital e, três dias depois, faleceu por falência múltipla de órgãos. Era lateral, como Sergio Ramos, e ambos haviam construído uma grande amizade desde as categorias de base. Na marca dos 10 anos da fatalidade, Ramos fez uma bonita homenagem.
– 10 anos, meu querido irmão. 10 anos desde que nos deixou. 10 anos de um vazio que nunca poderemos entender. 10 anos de uma punição que sempre nos acompanhará. 10 anos de uma vida que nunca voltará a ser igual. 10 anos de um jogo que você merecia ter vencido. 10 anos de lembranças e saudades. 10 anos de se sentir próximo, mesmo sem estar. 10 anos de vitórias que sempre serão suas. 10 anos de eternidade. Sempre com você, sempre conosco. #EternoPuerta.
Desculpa qualquer coisa
Quase todos, 16, desses 18 anos afastado do Sevilla foram com a camisa do Real Madrid e era praticamente impossível passá-los ileso. E até que o incidente mais importante demorou. Em 2017, Sergio Ramos marcou, cobrando pênalti com cavadinha, em um empate por 3 a 3 no Ramón Sánchez Pizjuán, pela Copa do Rei, que representou o recorde do futebol espanhol de 40 jogos oficiais de invencibilidade para os merengues. Durante toda a partida, Ramos foi vaiado pelas arquibancadas do clube em que foi formado e não deixou de provocar de volta.
Colocou as mãos nas orelhas e sinalizou para o setor atrás do gol, antes de apontar para o seu nome, escrito nas costas da camisa. Ao resto do estádio, fez um gesto de desculpas. Após o jogo, explicou o que havia acontecido e garantiu que aquilo não influenciaria no seu amor pelo Sevilla.
– Não faltei com respeito em relação à torcida do Sevilla. Ao contrário, pedi perdão a uma parte. À outra não. O Sevilla sempre será a minha casa, me vaiem mais ou me vaiem menos. O sevillismo merece todo o meu respeito, mas os que insultam minha mãe desde o primeiro minuto, não. No dia em que me enterrarem, haverá duas bandeiras: a do Sevilla e a do Real Madrid. Ivan Rakitic e Daniel Alves (que jogaram pelo Barcelona), que não cresceram aqui, são recebidos como deuses. A mim, insultam minha mãe. Assim é o futebol. Gostaria que me recebessem de outra maneira, mas isso não muda nada.
Logo, o retorno de Sergio Ramos para o Sevilla não é unanimidade entre os torcedores, o que deve tê-lo motivado a tornar um pedido de desculpas um dos seus primeiros atos.
– Faz 18 anos que fui embora e acredito que cometi erros. Quero aproveitar a oportunidade para me desculpar em primeira pessoa e pedir perdão a qualquer sevillista que se sentiu ofendido por coisas e gestos que acabei fazendo. Acredito que estamos todos no mesmo barco e somos todos a mesma família.
?️ @SergioRamos al habla. ❤️ pic.twitter.com/Q5ApLHUZ9s
— Sevilla Fútbol Club (@SevillaFC) September 4, 2023
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Como Sergio Ramos pode ajudar o Sevilla?
Como Antonio Puerta, Sergio Ramos também era criança quando chegou às categorias de base do Sevilla e estreou no time principal antes de virar adulto. Fez apenas uma temporada e meia antes de ser contratado pelo Real Madrid por € 27 milhões – um valor absurdo na época por um jogador tão jovem. A transferência não pegou bem com parte das arquibancadas, o que contribuiu para um clima pesado sempre que retornou ao Ramón Sánchez Pizjuán. Ainda era um lateral, antes de ser fixado como zagueiro e se tornar um dos jogadores mais vitoriosos de todos os tempos.
Embora veterano, Sergio Ramos fez 45 partidas pelo PSG na última temporada, depois de sofrer com problemas físicos em sua primeira no Parque dos Príncipes. Não está confirmado o que levou o Sevilla a mudar de ideia, mas seu começo de La Liga é horrível, com três derrotas em três rodadas. O mercado foi muito modesto, com apenas € 32 milhões em gastos, o empréstimo de Boubakary Soumaré, do Leicester, e alguns reforços sem taxa de transferências, como Mariano Díaz, outro ex-merengue.
A defesa do Sevilla não foi realmente reconstruída desde as vendas de Jules Koundé e Diego Carlos na mesma janela. As reposições pelo mercado foram o brasileiro Marcão e o jovem Tanguy Nianzou, além de Loïc Badé, emprestado pelo Rennes em janeiro. O francês de 23 anos acabou formando dupla de zaga com o volante Nemanja Gudelj na reta final da campanha vitoriosa na Liga Europa e foi contratado em definitivo. Essa parceria foi mantida por José Luis Mendilibar e, se estiver em forma, não deve ser difícil para Sergio Ramos ganhar a posição de titular, com toda sua qualidade, experiência e liderança.