Premier League

Tim Vickery: Liverpool é grande exemplo para o City de que todo império tem um fim

O City tem muito a aprender com a história do seu adversário no clássico deste fim de semana

O Liverpool acabou de vencer um Real Madrid que está sentindo falta demais do aposentado Toni Kroos. Agora vai querer fazer o mesmo para um Manchester City que está sentindo demais a falta do lesionado Rodri.

Essas duas frases servem como uma declaração da importância desse tipo de jogador, o meio campista central com talento e inteligência, capaz de controlar o jogo, estabelecer o ritmo e identificar o momento para munir os habilidosos na frente.

Kroos era a coluna de suporte do seu time, tanto quanto o Rodri para o seu.

Rodri Manchester City
Rodri, jogador do Manchester City (Foto: Imago)

E sem o espanhol, o City entrou numa despenca extraordinária, levando rios de gols, cinco derrotas consecutivas seguidas por um empate em casa contra Feyenoord quando os homens de Guardiola estavam vencendo por 3 a 0. Trata-se, então, de um empate que cheira demais a derrota humilhante.

Quando iniciou a racha, parecia que a solução estava bem ali — se chamava Data FIFA. A pausa ia dar para Pep o tempo para estabilizar as coisas. Engano. Perdeu por 4 a 0 em casa contra o Tottenham, seguido por aquela decepção contra o Feyenoord.

E agora vem o Liverpool, fora. Podemos concluir que mais uma derrota iria fazer o quinto título consecutivo quase impossível. E podemos ir além. Mais uma derrota iria representar o maior desafio na carreira gloriosa de Guardiola como técnico.

Todo império tem o seu fim

A história — de política e economia tanto quanto do futebol — mostra claramente que cada império tem o seu fim. O dinamismo dos assuntos humanos impede que qualquer um fique em cima para sempre. Mudança é uma constante. Em um dado momento, o processo da mudança esmaga o império, e forças novas emergem.

O próprio Liverpool é o maior exemplo de um império do futebol que testemunhei.

Surgiu na metade dos anos 60, e durante as duas próximas décadas desfrutou de um domínio impressionante no futebol inglês e europeu. O clube estava sempre aprendendo, refinando o seu método. E, aos poucos, estava sempre mudando, trocando uma peça aqui, contratando uma nova ali. Uma máquina.

Por feliz coincidência, eu estava presente no dia em que o império despencou. Foi a semifinal da FA Cup de 1990, contra o Crystal Palace. O Liverpool ganhou a liga com fôlego naquela temporada, até derrotando o Palace por 9 a 0. Era, lógico, franco favorito, e assim se mostrou no primeiro tempo. Mas depois, contra um adversário com mais força física que talento, a zaga do Liverpool cedeu. Perdeu por 4 a 3, e acabou com o ciclo.

Aqueles zagueiros, Hansen e Lawrenson, eram muito classudos, dominando o jogo e permitindo que o Liverpool ficasse horas com a bola. Mas neste dia, com o peso da idade chegando, perderam o confronto físico. Nem eles nem o time foram os mesmos depois, e foi somente na era do Klopp que o Liverpool voltou a conquistar o título doméstico.

A lição: em algum momento, simplesmente não é mais possível substituir as peças, e aí a casa cai.

E o City de Guardiola com isso tudo?

Pep Guardiola e Rodri se abraçam após uma partida da Premier League do Manchester City na temporada 2023/24. Foto: Icon Sport
Pep Guardiola e Rodri se abraçam após uma partida da Premier League do Manchester City na temporada 2023/24. Foto: Icon Sport

O técnico pode negar, mas o City está mostrando sinais de ser um time envelhecido. Pode ser mental tanto quanto físico, o que seria totalmente natural num time que já conquistou tantas coisas juntos. Mas há uma falta de energia e uma falta de velocidade — muito preocupante quando o próximo adversário é o Liverpool.

O grande Liverpool dos anos 70 e 80 nunca teria esperado tanto para se reforçar. Ia chegar jogador novo para ampliar a concorrência interna e adicionar frescor nas pernas. Mas quem o City contratou? Trouxe o veterano Gundogan de volta, e também transferiu Savinho de Girona, um clube dentro do seu grupo de clubes. Vai ter que gastar em janeiro? Essa janela normalmente é vista como a chance dos desesperados. Mas no caso do City, tem um motivo extra para desespero.

Não se sabe ainda o que vai acontecer no caso das alegadas irregularidades financeiras. Há a possibilidade de rebaixamento do clube. E levando em conta essa incerteza, de repente o City não parece um destino tão atraente para um jogador jovem e ambicioso. Pode ser, então, que o Guardiola vai ter que sustentar o seu império somente com o que ele já tem, iniciando com o jogo contra o Liverpool no domingo.

Foto de Tim Vickery

Tim VickeryColaborador

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos do Tottenham Hotspur.
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