Premier League

Pedido de Klopp por reedição de jogo contra o Tottenham é irreal, mesmo que busque justiça

Gol mal anulado de Luis Díaz contra o Tottenham ainda é assunto no Liverpool, e Klopp diz que a partida deveria ser disputada novamente

O Liverpool vai enfrentar o Union Saint-Gilloise, da Bélgica, nesta quinta-feira (5) pela segunda rodada da fase de grupos da Liga Europa. O confronto, no entanto, está longe de ser o assunto principal em Anfield. Em entrevista coletiva realizada nesta quarta (4), o técnico Jürgen Klopp voltou a falar sobre o gol mal anulado de Luis Díaz contra o Tottenham, na derrota por 2 a 1 no último sábado (30), e disse que o mais correto a se fazer seria disputar novamente a partida.

— Algumas pessoas provavelmente não querem que eu diga, mas não como técnico do Liverpool, mas como uma pessoa do futebol, o único resultado deveria ser um replay. É assim que acontece. Provavelmente não acontecerá. O argumento contra (um replay) provavelmente será que, se abrirmos essa porta, então todos vão pedir isso. A situação é tão sem precedentes que tenho 56 anos e estou absolutamente acostumado com decisões erradas, decisões difíceis. Mas algo assim, pelo que me lembro, nunca aconteceu — disse o treinador.

— É por isso que acho que um replay seria a coisa certa. Se acontecesse novamente, um replay seria a coisa certa a fazer ou o árbitro teria a oportunidade de reunir os dois treinadores e dizer: “Desculpe, cometemos um erro, mas podemos resolver isso. Deixe o Liverpool marcar um gol e podemos começar a partir daí” — completou Klopp.

Ideia de Klopp é compreensível, mas irreal

Como o próprio Jürgen Klopp sabe, a partida não será disputada novamente. Por ter sido um erro claro e extremamente grave, admitido pela Associação de Arbitragem da Inglaterra (PGMOL) e motivado por um erro de comunicação, é compreensível o sentimento de indignação. O gol de Díaz teria aberto o placar para o Liverpool, que já estava com um a menos naquele momento.

Mesmo assim, a ideia é irreal. Além do que o treinador mesmo disse, de que uma reedição do jogo abriria espaço para outros solicitarem o mesmo em qualquer tipo de erro de arbitragem, outros pontos impossibilitam um novo duelo entre as equipes.

O primeiro, é claro, é o de que outros erros gigantescos já aconteceram, acontecem e ainda vão acontecer no futebol, independente do árbitro de vídeo. Por mais revoltante e prejudicial que sejam, eles fazem parte do futebol. O confronto entre Chelsea e Barcelona pelas semifinais da Champions League 2008/09, por exemplo, não foi reeditado, por mais escandalosas que tenham sido as falhas da arbitragem contra os Blues.

O VAR é uma ferramenta criada para diminuir (consideravelmente) erros crassos, mas não passa disso. No fim das contas, é uma ferramenta controlada por humanos, que sempre estarão sujeitos a errar. Neste caso, o próprio Klopp reconheceu que foi um equívoco honesto, uma clara falha de comunicação.

— Todas as pessoas envolvidas, o árbitro em campo, o bandeirinha, o quarto árbitro e especialmente neste caso o VAR, não fizeram isso de propósito. Foi um erro óbvio e acho que teria havido soluções para isso depois. Não estou zangado com ninguém, de jeito nenhum. Não deveríamos ir atrás deles. Eles cometeram um erro e se sentiram péssimos naquela noite, tenho 100% de certeza. Isso é o suficiente para mim, ninguém precisa de mais punição — disse o treinador em outro momento da coletiva.

Klopp ficou na bronca com a arbitragem durante a derrota do Liverpool para o Tottenham, mas compreendeu que erro em gol mal-anulado de Luis Díaz não foi intencional (Foto: Icon sport)

Outro ponto é: se fosse reeditada, a partida começaria do mesmo jeito que estava quando o gol foi anulado ou voltaria do início? No primeiro caso, o Liverpool sairia em vantagem de 1 a 0, mas teria dez homens em campo.

A ideia de Klopp do árbitro paralisar o jogo, comunicar o erro e pedir que o Tottenham sofra um gol também é irreal. Independente do que aconteça, a arbitragem não pode sugerir isso. Até mesmo lances básicos de fair-play, como devolver a bola para o adversário em um lateral, são iniciativas dos times e não passam por quem apita.

No fim, é impossível reeditar o jogo porque dois erros não fazem um acerto. Se a partida fosse disputada de novo, reclamações e exemplos de injustiças surgiriam de todos os lados. O Tottenham poderia protestar, assim como equipes da Premier League que foram claramente prejudicadas num passado recente ou que ainda sofrerão com outros erros.

Se fosse para burlar as regras e os protocolos na tentativa de fazer justiça, talvez o ideal era ter paralisado o jogo quando a cabine do VAR percebeu o equívoco e, mesmo com a bola tendo voltado a rolar, validar o gol do Liverpool. Justamente para não errar duas vezes, a arbitragem optou por não fazer nada.

O lance

Aos 34 minutos do primeiro tempo, quando o Liverpool já tinha um jogador a menos e o placar estava em 0 a 0, Mohamed Salah avançou com a bola e fez um belo passe em profundidade para Luis Díaz, que chutou para vencer o goleiro Guglielmo Vicario e balançar a rede. O assistente Adrian Holmes, então, assinalou impedimento. Como ocorre em toda situação de gol, tenha ele sido validado em campo ou não, o lance foi revisado pelo VAR. O procedimento de revisão foi feito corretamente e constatou que o colombiano estava em condição legal no momento do passe. Acontece que Darren England, responsável pela arbitragem de vídeo, não passou a informação ao árbitro principal como deveria.

Ao fim do procedimento, Darren England disse apenas que a checagem estava completa. Por ter entendido que não havia sido assinalado impedimento pelo assistente, ele não comunicou a decisão final. Quem percebeu o mal-entendido foi o operador de replay, mas quando o árbitro Simon Hooper já havia reiniciado a partida.

A partir daí, a cabine do VAR vira um caos. Darren England fica surpreso e solta um palavrão, aquele tradicional da língua inglesa e que começa com “F”. O operador de replay diz para segurar a partida, dizendo que Michael Oliver, o quarto árbitro do confronto, está pedindo o mesmo. O responsável pelo VAR lembra que não pode voltar atrás já que a bola já estava rolando novamente, e solta outro palavrão antes de seguir seu trabalho, sabendo que havia cometido um erro grave.

Dois minutos depois do lance, o Tottenham abriria o placar com Heug-Min Son. Os Spurs acabaram vencendo por 2 a 1, enquanto os Reds ainda tiveram mais um expulso no segundo tempo.

Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
Botão Voltar ao topo