Clube a clube, este é o Guia Trivela da Premier League 2023/24
Uma análise detalhada do mercado, do elenco, da situação e das expectativas dos 20 participantes do Campeonato Inglês
*Por Bruno Bonsanti
A Premier League está de volta e prepare-se para jogos mais longos: sabe aquela orientação da Copa do Mundo e do Brasileirão para dar vários minutos de acréscimo? Também será aplicada à liga nacional mais rica e badalada do mundo que começará nesta sexta-feira com uma briga acirrada na parte de cima da tabela. A melhor em muitos anos. Talvez não pelo título, porque o Manchester City acabou de conquistar a Tríplice Coroa, mas Manchester United, Arsenal e Newcastle estão mais fortes. O Liverpool tem sangue fresco no meio-campo, o Chelsea decidiu ter um time de futebol, o Tottenham busca um novo caminho e dá até para apostar em novas surpresas de Aston Villa e Brighton.
Algumas coisas nunca mudam, porém. A crise ainda é companheira do Everton e o West Ham arranjou uma nova novela. Nada parecido com o que aconteceu no Wolverhampton, que se separou de Julen Lopetegui na semana da estreia – soa familiar? Os novos rostos não são tão novos assim. O Sheffield United surpreendeu em seu acesso mais recente, e o Burnley foi um dos times mais odiados e eficientes dos últimos anos. Agora, quem diria, segue a filosofia guardiolista com Vincent Kompany no comando. O Luton Town, sim, é uma novidade. Erguido pelos seus próprios torcedores, retorna à elite após 31 anos.
A atenção será enorme pela nova temporada da Premier League e, como sempre, preparamos um guia profundo e detalhado para você se preparar para acompanhá-la. Informação e análise de mãos dadas, passando pela temporada passada, o mercado, o elenco, os comandantes e as expectativas. Está meio grande, mas o Campeonato Inglês termina apenas em maio. Dá tempo de ler tudo.
Arsenal – O veredito: foi excepcional
Como foi a última temporada?
- Posição: 2º lugar
- Gols a favor: 88
- Gols contra: 43
- Campanha em casa: 14V, 3E, 2D (3ª melhor)
- Campanha fora: 12V, 3E, 4D (a melhor)
Surpreendente ou uma decepção? Depende da perspectiva. E das expectativas. Agora que temos o produto completo da última temporada do Arsenal, podemos chegar a um veredito: foi excepcional. Não importa que os torcedores rivais acusem-no de ter amarelado na reta final da Premier League. Fazia tempo que os Gunners não brigavam a sério pelo título. Desde que foram campeões invictos, duas décadas atrás, havia apenas dois vice-campeonatos, ambos a milhas de distância de quem ficou à frente. Deu briga boa em 2007/08. Era líder a dez rodadas do fim e, embora em terceiro lugar, acabou a apenas quatro pontos do Manchester United. O resto limitou-se à disputa por vaga na Champions League, o que lhes havia escapado nos últimos seis anos. Precisamos lembrar principalmente onde estava o Arsenal quando a temporada começou.
Era um clube que havia perdido o rumo antes da saída de Arsène Wenger e não parecia próximo de reencontrá-lo. Havia motivos justos para questionar se valia a pena seguir com Mikel Arteta após a derrocada da campanha anterior. O diretor Edu Gaspar conduzia um plano de renovação do elenco, tentando trocar jogadores experientes que não correspondiam aos altos salários que ganhavam por jovens com fome. O mercado havia sido interessante, em especial pela dupla do Manchester City, Gabriel Jesus e Oleksandr Zinchenko. Estava no pelotão que brigava pela Champions League. Poucos esperavam que fosse além.
A arrancada do Arsenal não seria possível sem o trabalho de Arteta e a qualidade dos jogadores, mas às vezes o que mais faz diferença é química e confiança. As primeiras rodadas foram mágicas. Os Gunners jogavam com leveza, alegria, técnica e velocidade. Pareciam os velhos times de Wenger. Nem vacilaram nos grandes jogos, o que havia se tornado uma marca registrada. A única derrota nas primeiras 21 rodadas foi para o Manchester United, mas pouco depois vieram vitórias sobre Tottenham (duas vezes), Liverpool, Chelsea e a revanche contra os Red Devils que antecedeu o começo dos problemas.
Ainda não parecia nada grave. Perdeu do Everton, empatou com o Brentford e foi derrotado em casa pelo Manchester City. Essa última doeu porque o resultado foi construído em cima de erros individuais em um momento decisivo, um padrão que parecia estar sendo exorcizado, e cedeu a liderança para o time de Guardiola, ainda com um jogo a menos. A dúvida era como os jovens de Arteta lidariam com a frustração. A resposta: muito bem obrigado. O Arsenal escapou contra o Aston Villa, apenas alguns dias depois, com gols nos acréscimos. Foi o resultado mais importante para não permitir que a decepção se espalhasse como um vírus pelo vestiário. O começo de sete vitórias seguidas.
A queda, porém, foi acentuada. Começou em Anfield e seguiu no Estádio Olímpico de Londres. Nas duas ocasiões, chegou a abrir 2 a 0 e levou o empate de Liverpool e West Ham, respectivamente. O resultado imperdoável foi o 3 a 3 com o lanterna Southampton, e isso porque precisou persegui-lo com dois gols depois dos 43 minutos do segundo tempo. A sequência erodiu a vantagem que havia construído, às vésperas do segundo confronto direto. O City nem precisava mais vencer para assumir a liderança, bastava o empate. Mas venceu, por 4 a 1, com uma imposição que deixou clara a diferença entre um grande campeão e uma equipe apenas jovem a promissora.
Não havia mais o que fazer. O City havia engatado a sexta marcha e ninguém imaginou que daria outra oportunidade. O Arsenal terminou a temporada com a cabeça um pouco baixa, apanhando do Brighton e do Nottingham Forest, e era compreensível que estivesse chateado. Houve certos momentos, mais pelo futebol do que pela tabela, em que parecia impossível que perdesse o título. Em outras circunstâncias, talvez fosse. Em circunstâncias que não envolvessem a concorrência da máquina de Guardiola, quase imbatível quando embala em pontos corridos. O balanço foi positivo, mas o desafio para a garotada de Arteta é descobrir o que fazer para derrotá-la na próxima tentativa.
Como foi o mercado do Arsenal?
Principais chegadas
- Declan Rice (West Ham)
- Kai Havertz (Chelsea)
- Jurriën Timber (Ajax)
Principais saídas
- Granit Xhaka (Bayer Leverkusen)
- Matt Turner (Nottingham Forest)
- Pablo Marí (Monza)
- Ainsley Maitland-Niles (Lyon)
Declan Rice é uma novela antiga do futebol inglês. Todo mundo sabia que ele era bom demais para ficar para sempre no West Ham. O que pouca gente sabia, ou imaginava, é que seu destino seria o Arsenal. Nada contra, apenas não fazia parte da sua história recente contratar os jogadores mais cobiçados. Clubes mais ricos e em melhor situação, como os dois que fizeram a final da Champions League dois anos atrás, também o queriam.
A contratação de Rice sinaliza várias coisas. Ele não deixaria o West Ham para defender outro clube de Londres que não ganha nada e não disputa a Champions League com regularidade. É um voto de confiança no projeto do Arsenal. O Chelsea voltou as atenções a outros alvos, e o Manchester City nunca entrou com tudo na disputa, mas ainda é relevante que o tenha contratado, sem grandes dramas, rivalizando com dois leões do mercado. E também não é que era uma posição carente.
O Arsenal tinha uma boa dupla de volantes com Thomas Partey e Granit Xhaka. Agora, trouxe um jogador para elevar o patamar do setor – e liberou Xhaka para o Bayer Leverkusen. Quer continuar evoluindo, sem acomodação. Rice tem tudo que alguém pode desejar de um volante: atributos defensivos, físico, altura, força na bola aérea, chute de média distância, inteligência e qualidade no passe. É um belo jogador.
Outra indicação clara de ambição é Kai Havertz. O Arsenal não precisava reforçar o seu ataque com um jogador tão bom. A linha ofensiva parece bem resolvida, com Bukayo Saka, Martin Odegaard, Gabriel Martinelli e Gabriel Jesus. Mas o saldão do Chelsea entregou a oportunidade, e Arteta arrebatou um jogador experiente, ainda jovem, que parecia estar sendo mal utilizado no oeste de Londres e pode atuar em mais de uma posição: pelos lados, como centroavante, como camisa 10 ou, como aconteceu em alguns amistosos de pré-temporada, como segundo homem de meio-campo ao lado de um volante.
A estratégia do Arsenal no momento é gerar competição em todas as posições, e Havertz faz isso em várias delas do meio para frente. E Jurriën Timber, versátil defensor muito confortável com a bola nos pés, o faz do meio para trás. Costuma ser zagueiro, mas também pode atuar nas laterais, mais na direita. Mata alguns coelhos com uma cajadada só. A lesão de William Saliba foi uma das causas da queda de rendimento do Arsenal, e Arteta perdeu confiança em Tomiyasu pelo lado. Preferiu deslocar Ben White. Timber é uma opção para ambas as posições.
O Arsenal ainda parece disposto a trazer um ponta direita para servir de apoio a Saka e está de olho em David Raya, o que sugere que a ideia de que ninguém tem lugar cativo segue a todo vapor. Porque o goleiro do Brentford não estaria muito longe da qualidade do titular, Aaron Ramsdale. Como Xhaka foi a única saída importante, o Arsenal encorpou muito bem o seu elenco para dividir as atenções entre a Champions League e a Premier League.
O elenco
Goleiros: O Arsenal está bem servido com Ramsdale, um goleiro com nível de seleção inglesa que tomou de assalto a titularidade do mais experiente Benrd Leno. É verdade que teve alguns momentos de oscilação na última temporada e não foi tão bem nos amistosos, mas ainda não chega a ter sua posição ameaçada. No entanto, após negociar Matt Turner com o Nottingham Forest, deve buscar um reserva para brigar por posição, e David Raya seria um luxo.
Defensores: A melhor consequência da contratação de Timber é que diminuem as chances de o torcedor do Arsenal precisar ver Rob Holding em campo novamente. Gabriel Magalhães e William Saliba saem na frente, com Timber e Ben White disponíveis tanto para o miolo da zaga quanto para a lateral direita. Tomiyasu é outro que pode atuar nas duas e ainda há o jovem Jakub Kiwior, do qual se espera evolução após meses tímidos desde sua transferência do Spezia em janeiro. E só aí chegamos a Holding. A lateral esquerda está bem servida com Zinchenko e, se ele conseguir parar de se machucar, Kieran Tierney.
Meias: O negócio começa a ficar interessante porque Arteta pode escalar o setor de várias maneiras. Com dois volantes, por exemplo, colocando Rice e Partey lado a lado. Embora tenha características diferentes, Kai Havertz foi testado durante a preparação para o lugar de Xhaka, que assumiu funções mais ofensivas na última temporada. Deixaria o time mais leve e técnico. Mohamed Elneny inexplicavelmente segue empregado pelo Arsenal, mas ainda se recupera de lesão sofrida em janeiro. A cobertura é por conta de Jorginho, um volante distribuidor de jogo, e do garoto Albert Lokonga, que passou alguns meses emprestado ao Crystal Palace para ganhar experiência.
Ataque: Em condições normais, os quatro jogadores restantes não são um mistério. Saka, Odegaard, Martinelli e Gabriel Jesus impulsionaram o Arsenal naquela arrancada do primeiro turno. A boa notícia é que não faltam opções, tanto para rodar o elenco e preservar as pernas quanto para armar o time de acordo com o adversário. Havertz pode jogar pela direita, atrás do centroavante ou como falso 9, o que pode ser importante porque Jesus começará a campanha machucado. Leandro Trossard é um ponta muito sólido, Eddie Nketiah quebrou o galho quando precisou e Reiss Nelson deu sinais de evolução. Ainda tem Emile Smith Rowe e Fábio Vieira que atuam em várias posições.
O técnico
Arteta teve a oportunidade de encarar o seu mestre no mano a mano. Perdeu, mas apenas Jürgen Klopp pressionou mais Guardiola na disputa por um título inglês desde a segunda temporada do catalão no Manchester City. A contratação de um profissional que havia sido apenas assistente (mesmo que do melhor técnico do mundo) em dezembro de 2019 era uma incógnita. Ele prometia um estilo de jogo bem definido, uma ideia coerente em torno da qual o Arsenal começaria a construir o seu time. Foi um processo tortuoso.
Arteta teve momentos. Ganhou uma Copa da Inglaterra logo de cara. Nas duas primeiras temporadas completas, emplacou sequências positivas, mas nunca conseguia mantê-las. Ser oitavo colocado atrás de Leicester e West Ham, como em 2020/21, não é exatamente um grande feito. Deu um passo à frente no ano seguinte, e novamente perdeu fôlego. Deixou a vaga na Champions escapar. E pior: para o Tottenham. A última campanha foi um prêmio à paciência. Hoje, não parece haver homem melhor para comandar o jovem elenco do Arsenal. Pelas ideias, propondo um jogo ofensivo, de rápida troca de passes e velocidade, e pela personalidade, ambas elogiadas por qualquer jogador assim que o microfone abre. Nada mal para quem também foi discípulo (e capitão) de Arsène Wenger.
Expectativa para a temporada
O Arsenal não é mais um franco-atirador. É o vice-campeão reforçado por jogadores importantes e terminar novamente entre os quatro primeiros é o mínimo que se espera. Menos do que isso seria um passo atrás, e a expectativa é que dê pelo menos um à frente. O problema é saber como isso seria na prática porque brigar pelo título da Premier League é uma cobrança complicada. Tem temporadas em que o Manchester City simplesmente não coloca a taça em disputa. Essa evolução provavelmente ficaria mais visível nos outros torneios, especialmente a Champions League, e na consistência rodada a rodada. Mas se o City permitir, nada indica que os Gunners não estarão no páreo.
Aston Villa – Finalmente
Como foi a última temporada?
- Posição: 7º lugar
- Gols a favor: 51
- Gols contra: 46
- Campanha em casa: 12V, 2E, 5D (6ª melhor)
- Campanha fora: 6V, 5E, 8D (9ª melhor)
Depois de três anos na segunda divisão, o Aston Villa retornou com ambições altas. Não dava para esperar nada diferente. É um clube grande, da segunda maior cidade da Inglaterra, campeão europeu. Muito dinheiro foi investido nas primeiras janelas e mais um pouco quando Jack Grealish saiu para o Manchester City. No entanto, a realidade foi o meio da tabela. Ou pior: brigar contra o rebaixamento. Dean Smith nunca pareceu à altura do projeto, por mais que fosse identificado com o Villa e tivesse méritos pelo acesso. Sua demissão era esperada, e não foi um absurdo contratar Steven Gerrard.
O tamanho como jogador ajudou Gerrard a chegar a um clube importante da Premier League tão rapidamente. Mas, pelo menos, tinha um bom trabalho como técnico em seu currículo. Quebrou uma hegemonia histórica do Celtic, impediu o décimo título escocês consecutivo e encerrou a fila do Rangers. Se não estava pronto para as demandas da liga inglesa, parecia um técnico promissor – e precisaremos esperar um tempo para descobrir se realmente é, ou era, porque decidiu interromper a progressão da sua carreira em alto nível ao aceitar uma proposta da Arábia Saudita.
O trabalho no Villa não será um capítulo feliz em sua história com a prancheta. Assumiu em novembro da temporada passada e começou dando bons sinais. Nos seis primeiros jogos, ganhou quatro e perdeu apenas para Manchester City e Liverpool. O trem descarrilhou bem rápido, e as duas vitórias nas últimas 11 rodadas da Premier League 2021/22 não ganharam muita companhia na edição seguinte. Quando foi demitido no fim de outubro, havia vencido apenas quatro vezes em 22 partidas pelo Campeonato Inglês. Estava insustentável.
O rebaixamento novamente parecia mais plausível do que uma vaga em competições europeias, e aí a diretoria resolveu apelar. Conseguiu contratar um dos melhores treinadores da atualidade que havia reconstruído a sua imagem após ter falhado na tentativa de subir de patamar. Na França, Unai Emery ficou marcado por não ter conseguido administrar o vestiário estrelado do Paris Saint-Germain. Na Inglaterra, por ter decepcionado na missão de suceder Arsène Wenger. De volta à Espanha, porém, provou suas qualidades ao conduzir o Villarreal a um título da Liga Europa – o quarto do treinador – e à semifinal da Champions League.
Emery foi um trunfo para o Aston Villa no pelotão secundário da Premier League. Estreou antes da pausa para a Copa do Mundo, o que pode ter interferido na percepção do seu trabalho em um primeiro momento, mas quase de cara ganhou do Manchester United. Teve um pequeno percalço em fevereiro, com três derrotas consecutivas. Duas foram para os melhores times da liga (City e Arsenal). Mas, em seguida, embalou, e como a tabela ficou bagunçada por meses, com jogos a menos aqui e jogos a mais ali, até parecia que poderia ir além de uma vaga na Conference League.
Ele alternou entre o 4-3-3, com um meia fechando pelo lado direito para liberar Leon Bailey, e o 4-2-3-1. Conseguiu tirar mais futebol de Bailey, que prometia muito e ainda não havia entregado. Ollie Watkins começou a fazer gols, fixado como centroavante, e Douglas Luiz cresceu ao ponto de ser eleito o melhor jogador da temporada pelos jogadores e pelos torcedores. No fim, o teto foi o sétimo lugar, suficiente para o Villa voltar ao futebol europeu pela primeira vez desde 2010/11. E para deixar a torcida feliz depois do que o começo da temporada sugeria.
Como foi o mercado do Aston Villa?
Principais chegadas
- Youri Tielemans (Leicester)
- Pau Torres (Villarreal)
- Moussa Diaby (Bayer Leverkusen)
Principais saídas
- Marvelous Nakamba (Luton Town)
- Ashley Young (Everton)
- Morgan Sanson (Nice)
- Wesley Moraes (Stoke City)
Não é novidade que clubes do segundo escalão da Premier League têm poder financeiro suficiente para competir com os maiores de outros países. Salários altíssimos nem sempre são suficientes porque, antes do advento da Arábia Saudita, ambição esportiva também costumava ditar as decisões dos grandes jogadores. O mercado que o Aston Villa conseguiu fazer indica confiança no projeto e no trabalho de Unai Emery, principalmente as contratações de Youri Tielemans e Moussa Diaby.
Tielemans estava livre no mercado. Poderia assinar com qualquer clube do mundo sem taxa de transferência, apenas acertando salário e luvas. Outrora uma grande revelação, o futuro da geração belga, o interesse em seu futebol havia diminuído por uma temporada apagada no Leicester, mas ainda estava no radar de Roma e Milan. Que tenha preferido o Aston Villa foi uma ótima notícia. Acrescenta muita coisa a um setor recheado, principalmente visão de jogo e criatividade, dois atributos mais limitados aos lados no setor ofensivo do clube de Birmingham.
Falando neles, também foi notável que o destino de Moussa Diaby tenha sido o Aston Villa. Poucos jogadores no mundo são mais rápidos que o ponta de 24 anos, letal na transição. Era convidado de honra da máquina de especulações há alguns anos e rejeitou uma abordagem da Arábia Saudia quando o Bayer Leverkusen finalmente decidiu vendê-lo. O Villa apareceu com uma boa proposta e agora tem ainda mais opções para os flancos, onde costumam atuar Emi Buendía e Leon Bailey, com um deles podendo jogar como meia-atacante também, em um 4-2-3-1
E tem sempre o cara do treinador. Pau Torres foi excelente sob o comando de Emery no Villarreal e terminou a temporada ligado ao Manchester United. A sua contratação, que nem foi tão cara assim, avaliada em € 33 milhões, passa muita segurança à retaguarda do Aston Villa e aumenta as opções, com Diego Carlos recuperado de uma séria lesão no tendão de Aquiles. Melhor ainda: é um zagueiro muito confortável com a bola nos pés e sabe como exercer o estilo de construção desde a defesa que Emery tenta aplicar.
Não houve nenhuma baixa importante na parte técnica, embora a decisão de não renovar com Ashley Young represente um déficit de liderança e memória institucional. A diretoria trabalha para se livrar de mais alguns jogadores e continua ativa no mercado. Por exemplo, está de olho em Tyler Adams, do Leeds, que reforçaria ainda mais o meio-campo e pode ocupar a vaga de Leander Dendoncker, integrante da lista de dispensa. Um centroavante para aliviar a carga sobre Ollie Watkins também não seria uma má ideia.
Para o médio e longo prazo, talvez o melhor reforço do Aston Villa na janela tenha sido o diretor Monchi. Famoso pelo seu trabalho no Sevilla, no qual construiu diversos times que tiveram sucesso na Liga Europa, ele chegou antes das contratações de Torres e Diaby. Começou bem. Seu principal mérito no Ramón Sánchez Pizjuán foi gerar receitas contratando jogadores em baixa e vendendo-os na alta, o que talvez não seja tão importante em um clube de Premier League. Mas de qualquer maneira, tem um olho clínico para bons reforços, um mapa ímpar do mercado e contatos importantes. A primeira experiência fora da Espanha, pela Roma, não foi boa. Vamos ver a segunda.
O elenco
Como Emery armará o time ainda é uma questão. O seu esquema favorito parece ser o 4-3-3, mas falta ver como isso se traduzirá dentro de campo. Com a posse, por exemplo, tem gostado de fechar um dos laterais como terceiro zagueiro, geralmente o direito para liberar Lucas Digne, com bastante potencial ofensivo. Três jogadores devem sempre atuar no meio, em diversas formações: em um triângulo, com um deles mais preso, ou dois lado a lado e outro adiantado. Mesmo no ataque é possível que um dos pontas jogue ao lado de Watkins, como um segundo atacante, como na temporada passada.
Goleiros: A escalação deve começar com Emiliano Martínez, herói do título mundial da Argentina, odiado pelos adversários e amado pelas arquibancadas do Villa Park. Não foi sua melhor temporada debaixo das traves, mas ainda é um goleiro de alto nível, que terá o apoio do experiente Robin Olsen.
Defensores: A lateral esquerda está bem cuidada por Digne e Álex Moreno, contratado em janeiro. No outro lado, Matty Cash será titular, mas a sua reposição, Callum Chambers, não inspira tanta confiança, além de ser uma opção mais defensiva. Não é impossível outro lateral chegar pelo mercado. A zaga está bem servida. Diego Carlos chegou em alta pelo que havia feito pelo Sevilla, mas nem teve tempo de se firmar antes de perder metade da temporada por uma séria lesão. Quando retornou, em março, foi reserva, atrás de Tyrone Mings e Ezri Konsa, duas sólidas opções. Tem potencial para virar titular ao lado de Pau Torres, formando uma rara dupla de dois zagueiros canhotos. De qualquer maneira, é uma posição com bastante profundidade, assim como o meio-campo.
Meias: Com a chegada de Tielemans, o Villa tem várias opções, mas apenas uma vaga, porque ele e Douglas Luiz partem à frente. Quem será o terceiro elemento? Boubacar Kamara oferece uma formação mais defensiva. John McGinn tem força física e chegada à frente. Uma alternativa mais leve e propositiva teria apenas Tielemans e Luiz, com quatro atacantes ou pontas à frente. Espera-se evolução do prata da casa Jacob Ramsey, e ainda há uma outra opção, que é mais problema que solução para o Villa.
Gerrard bancou a contratação do ex-companheiro de Liverpool, Philippe Coutinho, que estava encostado no Barcelona. Sendo justo com o treinador, o brasileiro foi bem em seus primeiros meses por empréstimo e custou um valor até em conta – considerando que foi comprado pelos blaugranas por cerca de € 140 milhões. Ainda recebe um alto salário e virou reserva.
A sua temporada terminou em fevereiro por lesão muscular e o clube provavelmente não seria contra negociá-lo se houver interessados. Caso precise usá-lo, a posição natural é de camisa 10 atrás do centroavante, mas ele também pode atuar pela esquerda ou, como Klopp experimentou no Liverpool, e Tite na seleção brasileira, sem muito sucesso, como um terceiro homem de meio-campo.
Ataque: Seria legal recuperar Coutinho porque não há tantas opções no setor ofensivo, além de Diaby, Bailey e Buendía, com Watkins como centroavante. Há esperança de evolução do jovem centroavante Jhon Durán, contratado do Chicago Fire em janeiro. Ou de outros garotos. O Villa tem um grupo de pratas da casa interessantes que podem dar um passo à frente nesta temporada. Como o centroavante Cameron Archer, muito eficiente pelo Middlesbrough na segunda metade da última temporada. Ou o ponta Jaden Philogene, titular de Emery nos amistosos de pré-temporada.
O técnico
Intenso, atento aos detalhes e um obcecado por futebol, Unai Emery está em alta em Birmingham – pelo menos em metade da cidade. Não é difícil encontrar elogios dos jogadores. Tanto Diego Carlos quanto Tyrone Mings, por exemplo, exaltaram as suas habilidades de professor. Como consegue explicar táticas e as funções que cada posição precisa exercer. O experiente Mings chegou a dizer que não sabia nada sobre o trabalho que fazia há tantos anos – o de zagueiro. Esses meses pelo Aston Villa e o trabalho no Villarreal ratificaram o que muitos suspeitavam. Os fracassos no PSG e no Arsenal foram mais frutos das circunstâncias, de ambientes complicados e desconexos, do que das qualidades do tetracampeão da Liga Europa. Emery foi corajoso ao aceitar retornar à Inglaterra, onde havia virado piada pela passagem pelo Emirates, e, por enquanto, é ele quem está rindo por último.
A expectativa para a temporada
A Inglaterra agora tem sete clubes dos quais se espera uma briga por vaga na Champions League (no mínimo), e a famosa Everton Cup, prêmio informal para o melhor do resto, foi deslocada para o oitavo lugar. Se o Aston Villa terminar nessa posição, ainda pode ser que tenha sido uma boa temporada. Um ou dois ricos sempre decepcionam, e vale lembrar que o Brighton ainda ficou à sua frente. Ir além e terminar entre os quatro primeiros, ou mesmo na Liga Europa, exigirá um trabalho fenomenal de Emery. Não é completamente impossível. O sucesso, porém, pode ser medido pelas outras competições. Tentar ganhar a Conference League, como fez o West Ham, está em linha com a história do Aston Villa e seria o primeiro título desde 1995/96.
Bournemouth – Um discípulo de Bielsa?
Como foi a última temporada?
- Posição: 15º lugar
- Gols a favor: 37
- Gols contra: 71
- Campanha em casa: 6V, 4E, 9D (5ª pior)
- Campanha fora: 5V, 2E, 12D (8ª pior)
Quando a temporada começou, o Bournemouth parecia favorito a ser rebaixado. E quando levou 9 a 0 do Liverpool na quarta rodada, parecia realmente muito favorito a ser rebaixado. Havia sofrido um placar agregado de 16 a 0 nas suas últimas três partidas, e o técnico Scott Parker perdeu a paciência. Cobrou reforços em público, insatisfeito com os negócios modestos que haviam sido feitos, e se tornou o primeiro treinador demitido da temporada da Premier League. Gary O’Neill assumiu inicialmente apenas como interino e foi ficando.
Um detalhe importante sobre aquele 16 a 0 é que a tabela havia sido cruel. Além do Liverpool, os adversários foram Manchester City e Arsenal, que se provariam os dois melhores times do Campeonato Inglês. As reclamações pesaram na saída de Parker, e O’Neill imediatamente mostrou que o Bournemouth não seria tão frágil quanto pareceu, com cinco jogos de invencibilidade e vitória sobre o Leicester – o que, antes de ficar clara a profundidade dos problemas das Raposas, parecia um enorme resultado.
Não era o Santos do Pelé também. O Bournemouth manteve-se relativamente competitivo, mas teria apenas uma vitória para comemorar até meados de fevereiro. A pausa da Copa do Mundo pode ter ajudado a minimizar as percepções de uma sequência tão negativa. E o clube mudou de mãos no meio dela. Bill Foley, por meio da empresa da qual é sócio, a Black Night Football Club, comprou 100% das ações do proprietário anterior, Maxim Denin. O décimo integrante da Premier League com algum investimento americano.
Foley chegou falando um monte de coisa, inclusive que gosta de atuar como um “ditador” em suas empresas, centralizando as decisões e assumindo responsabilidade pelos erros. No fim de dezembro, teve que assegurar à torcida que o Bournemouth não seria rebaixado e fez planos ambiciosos de terminar entre o nono e o sexto lugar em cinco anos. Como dizem os americanos, colocou o dinheiro onde estava a boca e trouxe vários reforços na janela de inverno, com destaque para o ponta Dango Ouattara, do Lorient, e o zagueiro Ilya Zabarnyi, do Dínamo Kiev. Até entrou na briga por Nicolò Zaniolo.
Mesmo sem experiência ou resultados além daquela arrancada inicial, Gary O’Neill continuou no cargo e o Bournemouth acabou escapando sem grandes sustos. Encaixou vitórias importantes, contra Liverpool e Tottenham, por exemplo. Selou de vez o objetivo ganhando quatro rodadas em cinco no mês de abril, o que lhe deu o luxo de ser derrotado nas últimas quatro partidas do Campeonato Inglês e ainda terminar a cinco pontos da degola.
Essa reta final não deixou uma boa impressão, porém, e não deve ter ajudado Gary O’Neill a defender o seu emprego quando o Bournemouth decidiu fazer uma mudança e trazer Andoni Iraola para comandá-lo.
Como foi o mercado do Bournemouth?
Principais chegadas
- Hamed Traoré (Sassuolo)
- Milos Kerkez (AZ Alkmaar)
- Romain Faivre (Lyon)
- Justin Kluivert (Roma)
- Ionut Radu (Internazionale)
- Alex Scott (Bristol City)
- Max Aarons (Norwich)
Principais saídas
- Jefferson Lerma (Crystal Palace)
- Jordan Zemura (Udinese)
- Jack Stacey (Norwich)
- Romain Faivre (Lorient)
- Mark Travers (Stoke City)
Romain Faivre apareceu bem pelo Brest e foi contratado pelo Lyon, famoso por ajudar a potencializar jovens talentos. Não teve tanto espaço. Passou os últimos seis meses da temporada emprestado ao Lorient, foi muito bem e queria permanecer. O Lorient teria que transformá-lo na maior contratação da sua história para fazer isso acontecer, mas o mundo das multipropriedades sempre oferece uma alternativa. A Black Knight Football Club é dona do Bournemouth e acionista do Lorient. Então, comprou Faivre e imediatamente o emprestou para o braço francês da sua operação.
Faivre teria potencial de ajudar o Bournemouth, mas o mercado trouxe outros nomes interessantes também. O principal é o de Justin Kluivert, que está precisando dar uma recalibrada em sua carreira. A grande revelação no Ajax não evoluiu como se esperava após chegar à Roma e passou por três empréstimos – RB Leipzig, Nice e Valencia. Ainda tem 24 anos e pode melhorar. Ter a bênção do treinador, que o observou de perto na última temporada como comandante do Rayo Vallecano, pelo menos não atrapalha.
O Bournemouth também confirmou a contratação em definitivo do meia-atacante Hamed Traoré, emprestado pelo Sassuolo em janeiro. Ele cumpriu os critérios, apesar de ter feito apenas sete jogos antes de fechar a lojinha por causa de uma lesão no pé. O marfinense tem apenas 23 anos e mostrou potencial na Itália. Milos Kerkez, titular de 19 anos do semifinalista da Conference League, o Feyenoord, é uma opção ainda mais jovem para a lateral esquerda. Está atuando bastante na pré-temporada.
Embora o veterano Neto tenha se firmado como primeira opção e até capitão, Iraola quis trazer mais competição para a proteção das suas traves. O escolhido foi o goleiro romeno Ionut Radu, de 26 anos, da Internazionale. Um peregrino da bola em seu milésimo empréstimo. Suas temporada mais estáveis foram pelo Genoa entre 2018 e 2020. Recentemente, esteve em ação pela Cremonese e pelo Auxerre.
A lamentação do mercado para o Bournemouth é a saída de Jefferson Lerma, ao fim do seu contrato, para o Crystal Palace. O colombiano era um dos principais nomes dos Cherries. Depois de uma longa novela, Alex Scott chegou para reforçar o setor. Ou melhor: retornou. Teve uma passagem como adolescente pelas categorias de base, mas foi dispensado. Quatro anos atrás, ainda jogava na oitava divisão da Inglaterra, antes de ganhar sua grande oportunidade no Bristol City. Disputou o Mundial Sub-20 pela seleção inglesa e estava cobiçado no mercado.
Às vésperas do primeiro fim de semana da Premier League, o Bournemouth contratou outro jogador que já esteve na lista de interessados de vários clubes. O lateral direito Max Aarons impressionou pelas suas capacidades ofensivas quando subiu à elite pelo Norwich – duas vezes. Principalmente na primeira campanha, inteira treinada por Daniel Farke, conseguiu exibir as suas qualidades. Os Canários sempre pediram meio alto, mas tiveram que aceitar uma proposta menor – de até £ 12 milhões – agora que ele havia entrado no último ano do seu contrato.
O elenco
Goleiros: Iraola disse que tomará a decisão sobre quem será titular debaixo das traves jogo a jogo, indicando que Radu não veio apenas para ser reserva de Neto, que renovou até 2026 em março. O brasileiro ainda deve partir à frente porque ganhou moral na última temporada e tem a experiência de ter passado por clubes como Fiorentina, Juventus, Valencia e Barcelona.
Defensores: Adam Smith está ansioso para pegar dicas com o ex-colega de posição que se tornou seu chefe, mas agora ganhou a forte concorrência de Max Aarons. Milo Kerkez deve ser titular na esquerda. Ryan Fredericks é uma opção sólida e experiente na direita, mas não há muita cobertura no outro lado. O garoto Ben Greenwood, do sub-21, foi usado algumas vezes nos amistosos. O zagueiro canhoto Lloyd Kelly pode ser deslocado em necessidade. Aos 24 anos, Kelly também era capitão do Bournemouth antes da braçadeira passar para Neto. Ele perdeu alguns meses da última temporada por lesão no tornozelo. Disputará as duas vagas no miolo de zaga com Zanarbyi, Marcos Senesi e Chris Mepham. É um quarteto defensivo jovem e bem qualificado para um clube de recursos modestos.
Meias: Quem parece ter uma vaga cativa é Lewis Cook, com quase 200 partidas pelo Bournemouth e que faz parte do projeto desde os tempos de Eddie Howe. Iraola gosta do 4-2-3-1, então precisará escolher alguém para ficar ao seu lado. Pode ser uma boa posição para Alex Scott, que pode atuar mais recuado ou mais avançado. Ou para Philip Billing. O dinamarquês jogará de qualquer forma. Foi um dos destaques do time, quase um luxo porque marca uma quantidade razoável de gols (sete em 2022/23) a partir do meio-campo. A questão é em qual posição porque Billing pode ser adiantado como camisa 10 para concorrer com Traoré ou Ryan Christie – também um ponta.
Ataque: Está ficando claro como o Bournemouth montou um elenco bastante versátil do meio para a frente, perfeito para encaixar com as ideias meio bielsistas de Iraola. Porque ainda nem falamos de Kluivert, Ouattara, Marcus Tavernier ou David Brooks (de volta depois de 500 dias afastado fazendo tratamento contra câncer e recuperando ritmo de jogo), quatro opções também interessantes. Não há muito mistério no comando de ataque. Dominic Solanke não é um centroavante de números maravilhosos, mas ganhou a confiança do Bournemouth desde a campanha do acesso na segunda divisão. Seu principal concorrente é Kiefer Moore, uma alternativa de mais força física e jogo aéreo.
O técnico
Como jogador, Iraola foi uma bandeira histórica do Athletic Bilbao, com mais de 500 partidas antes de fazer uma graninha na Major League Soccer com o New York City. Como técnico, parece promissor. Levou o pequeno Mirandés à semifinal da Copa do Rei em 2019/20, deixando Celta de Vigo, Sevilla e Villarreal pelo caminho. O trabalho pelo Rayo Vallecano também chamou a atenção. Conseguiu a promoção a La Liga pelos playoffs, chegou novamente entre os quatro melhores da copa nacional e brigou por vaga em competições europeias na última edição do Campeonato Espanhol.
Embora tenha terminado em 11º lugar, a campanha merece aplausos – até porque a diferença para o Osasuna, em sétimo e classificado à Conference League, foi de apenas quatro pontos. O Leeds tentou contratá-lo após demitir Jesse Marsch, mas Iraola queria terminar o que havia começado em Vallecas. Era uma escolha interessante porque ele bebe da fonte de Marcelo Bielsa, com o qual trabalhou no Athletic, e poderia colocar em prática uma versão 2.0 do projeto que trouxe o Leeds de volta à elite inglesa em 2020.
Considerando um treinador exigente, detalhista, que gosta de jogar em alta intensidade e com mentalidade ofensiva, Iraola era o quarto treinador basco da Premier League, ao lado de Julen Lopetegui, Unai Emery e Mikel Arteta. Com a saída de Lopetegui, sobraram três.
Expectativa para a temporada
A contratação de um técnico como Iraola é uma tentativa de espelhar o que o Bournemouth teve com Eddie Howe: não apenas permanecer na Premier League, mas fazê-lo com um futebol que empolga as arquibancadas. Em um clube pequeno/médio, é uma aposta arriscada. Quando dá errado, costuma dar bem errado. Mas também é de alta recompensa porque aumenta o teto de um elenco modesto para a realidade da Premier League. Ainda que desta vez talvez não esteja entre os piores. A prioridade ainda é somar 40 pontos e evitar o rebaixamento. Em seguida, ver para onde as ideias do novo comandante conseguem carregar os Cherries.
Brentford – Dá para surpreender de novo?
Como foi a última temporada?
- Posição: 9º lugar
- Gols a favor: 58
- Gols contra: 46
- Campanha em casa: 10V, 7E, 2D (7ª melhor)
- Campanha fora: 5V, 7D, 7D (10ª melhor)
Havíamos visto essa história com o Sheffield United e o Leeds. Times que subiram da segunda divisão com pouco dinheiro, ideias inovadoras e um estilo de jogo interessante surpreenderam em um primeiro momento, mas perderam fôlego na segunda temporada. O Brentford certamente encaixava na primeira parte. Teve um retorno acima das expectativas à elite inglesa, que não disputava desde 1946/47. Bateu de frente com os grandes, derrotou alguns deles e terminou na 13ª colocação. Em certos momentos, até encantou. Mas como seria a sua segunda temporada?
Bom, vamos perguntar para o Manchester United: logo na segunda rodada, o estilo de jogo de pressão alta, intensidade e contra-ataque de Thomas Frank gerou vários erros do ainda esboço de time que Erik ten Hag havia colocado em campo. A derrota por 4 a 0 foi tão pesada que o holandês obrigou seus jogadores a correrem quase 14 quilômetros no dia seguinte – a distância que, coletivamente, o Brentford percorreu a mais que os Red Devils naquela partida.
Curiosamente, não ficou claro tão imediatamente que a torcida não precisava se preocupar. Houve problemas até a pausa para a Copa do Mundo, com apenas três vitórias acompanhando aquela contra o Manchester United – tudo bem que uma delas foi contra o City. No entanto, já havia começado uma sequência de invencibilidade de 12 partidas que afastou qualquer preocupação que o Brentford poderia ter. Entre os destaques, uma vitória incontestável sobre o Liverpool, que tentava colocar sua própria temporada nos trilhos.
A queda de rendimento em abril não assustou tanto porque o principal objetivo estava bem encaminhado, mas acabou impedindo que o Brentford fizesse história com uma classificação às competições europeias. Porque terminou a Premier League voando, com cinco vitórias em seis rodadas. Ficou em nono lugar, mas a apenas dois pontos do Aston Villa e de uma vaga na Conference League. A três do Brighton e da Liga Europa. De qualquer maneira, fez um Campeonato Inglês fenomenal.
Não apenas pelos resultados, mas também pela qualidade de muitas de suas vitórias. Despachou Chelsea e Tottenham naquela reta final. E o Manchester City no último fim de semana. O time de Pep Guardiola conquistou os três principais títulos da temporada, mas não conseguiu somar um ponto contra os homens de Thomas Frank.
Como foi o mercado do Brentford?
Principais chegadas
- Nathan Collins (Wolverhampton)
- Kevin Schade (Freiburg)
- Mark Flekken (Freiburg)
Principais saídas
- Pontus Jansson (Malmö)
O Brentford fez apenas três contratações. Uma delas para confirmar um jogador que estava emprestado. Outra para se antecipar a uma provável saída. A única adição de verdade até agora é o zagueiro Nathan Collins, do Wolverhampton, que foge um pouco da sua estratégia habitual.
Todo o rolê do Brentford é identificar jogadores sub-valorizados, com base em um modelo de dados e estatísticas. Collins, porém, é o primeiro reforço que as Abelhas buscaram em outro integrante da Premier League, o que costuma ser ineficiente do ponto de vista financeiro porque todo mundo sempre inflaciona o preço para vender a um concorrente direto. Não à toa, custou quase € 30 milhões, recorde de transferência do clube londrino.
A avaliação é que vale o risco. Collins tem o perfil etário pelo menos, ainda com 22 anos, e uma experiência considerável. Quase 50 jogos pelo Stoke City e duas temporadas na elite, por Burnley e Wolverhampton, em que alternou entre ser titular e reserva. O Brentford teve um dos melhores sistemas defensivos da última Premier League, mas precisava buscar uma reposição ao capitão Pontus Jansson, que retornou ao Malmö da sua Suécia.
Collins estava nos planos de Julen Lopetegui, não que eles ainda importem, mas havia perdido posição para Craig Dawson, contratado em janeiro, e o Wolverhampton viu a oportunidade de fazer dinheiro com um provável reserva para financiar a tentativa de deixar o elenco mais ao estilo do técnico espanhol.
Os outros dois jogadores contratados geraram dinheiro para o Freiburg – um dos melhores projetos em andamento na Bundesliga. Kevin Schade foi emprestado na janela de inverno e deixou impressão boa o bastante para tirar € 25 milhões da carteira do Brentford. Ele terá a companhia do colega Mark Flekken, titular do quinto colocado do último Campeonato Alemão. Sua chegada permite que o Brentford avalie com mais calma as propostas de Arsenal e Bayern de Munique por David Raya.
As Abelhas ainda estão à procura de reforços. Cerca de dez dias atrás, tiveram uma proposta por Brennan Johnson, do Nottingham Forest, rejeitada e estão na lista de clubes com um suposto interesse por Alex Oxlade-Chamberlain, precisando de um lugar para recomeçar depois de uma passagem prejudicada por lesões pelo Liverpool.
O elenco
Goleiros: A esta altura é difícil saber quem começará jogando debaixo das traves. David Raya fez o suficiente para continuar titular, mas até quando o Brentford conseguirá resistir às propostas por ele? A contratação de um goleiro como Flekken, experiente, atuando regularmente por um dos melhores times da Alemanha, indica que não será por muito tempo. Até porque a presença de Thomas Strakosha, um antigo titular da Lazio, é o bastante para a cobertura.
Defensores: Nós sabemos que Thomas Frank escalará um goleiro. O que vem depois disso é um pouco mais imprevisível porque ele gosta de alternar constantemente a sua formação tática. Collins deve ser titular em um trio de zagueiros. Com apenas dois, porém, os experientes Ben Mee – contratado sem taxa de transferência um ano atrás após o rebaixamento do Burnley – e Ethan Pinnock estão à frente. Kristoffer Ajer pode se inserir nessa rotação se parar de se machucar. O Brentford tem laterais ofensivos em Rico Henry e Aaron Hickey. Chamou a atenção que não tenham sido escalados juntos nos amistosos de pré-temporada, nos quais Frank usou linha de quatro. Mads Roerslev ganhou oportunidades pela direita.
Meias: Mathias Jensen cresceu como maestro do meio-campo após a saída de Eriksen, geralmente com o apoio de Vitaly Janelt e/ou Frank Onyeka, mas, novamente, isso depende da formação. O 4-2-3-1 ou um 4-3-3 mais ofensivo pode abrir espaço para Mikel Damsgaard pelo meio. Destaque da Dinamarca na Eurocopa disputada em 2021, Damsgaard é um dos jogadores que já estão no elenco e podem ajudar o Brentford a dar um salto de qualidade, agora mais adaptado ao jogo físico da Premier League.
Ataque: Também se espera um salto de Keane Lewis-Potter que pode ganhar mais minutos no ataque ao lado de Bryan Mbeumo e Yoane Wissa. Porque o Brentford terá um enorme desfalque na primeira metade da temporada. Ivan Toney marcou 20 gols em 33 rodadas na última Premier League, mas retornará apenas em janeiro, cumprindo suspensão por violações das regras de apostas. Pode ser o principal obstáculo para as Abelhas emplacarem outra ótima campanha. Wissa e Mbeumo até podem jogar como centroavantes, mas estão mais acostumados aos lados do campo e não foi contratado nenhum novo jogador para a posição.
O técnico
O trabalho de Thomas Frank sempre impressionou. Surgiu nas categorias de base da seleção dinamarquesa e teve que superar uma história estranha no Brondby – pediu demissão ao descobrir que o presidente do clube o estava criticando em um fórum de torcedores usando a conta do filho. Chegou ao Brentford para a comissão técnica de Dean Smith, foi promovido e conquistou o acesso. Depois de garantir a permanência, conseguiu dar um passo à frente.
Isso não é nada fácil porque um dos problemas dos clubes que surpreendem na primeira temporada é que… bom, eles não são mais surpresas na segunda. Mas Frank é muito maleável. Defensor do jogo de posse de bola anos atrás, conseguiu remodelar seu Brentford em um time muito forte defensivamente, com índices altos de duelos vencidos pelo alto e de bolas longas. Treinou a combinação que mais marcou em bola parada na temporada (16). Agora orquestra uma ótima máquina de pressão e transição.
Expectativa para a temporada
O Brentford está em uma situação curiosa porque precisará pacificar internamente que um resultado pior em teoria ainda pode ser visto como uma evolução. Porque é muito difícil imaginar que um clube que é administrado com austeridade, apostando em olho clínico para reforços e busca por valor no mercado, conseguirá ir além do nono lugar. O Big Six foi ampliado para sete pelo Newcastle e concorrentes como Aston Villa e Brighton parecem um passo à frente – embora a diferença de pontos tenha sido mínima. O sonho é vaga na Europa, mas será apenas a terceira temporada das Abelhas na Premier League e terminar no meio da tabela, continuando a jogar um futebol interessante e enchendo o saco dos grandes, ainda seria uma ótima campanha. E isso já será mais difícil após suspensão de seu principal artilheiro desde os tempos de Championship. Longas caminhadas nas copas podem ser o diferencial.
Brighton – Talvez o clube mais bem gerido da Inglaterra
Como foi a última temporada?
- Posição: 6º lugar
- Gols a favor: 72
- Gols contra: 53
- Campanha em casa: 10V, 4E, 5D (9ª melhor)
- Campanha fora: 8V, 4E, 7D (4ª melhor)
Quando Graham Potter foi contratado pelo Chelsea, o torcedor do Brighton ficou dividido. Entre o medo de perder o técnico que conseguiu dar um passo à frente e a confiança nas decisões de uma estrutura que revolucionou sua história recente. As Gaivotas haviam finalmente aprendido a transformar bom rendimento em resultados e tudo poderia acontecer após uma ruptura. E o que aconteceu? A sua melhor temporada em todos os tempos.
O que não foi tão bem fatorado é que faz anos que a diretoria do Brighton tomou sua última decisão errada. Roberto de Zerbi foi uma grande sacada, livre no mercado depois da invasão da Rússia à Ucrânia. Havia impressionado por Sassuolo e Shakhtar Donetsk e não permitiu que o Brighton desse um passo para trás. É possível até defender que a troca foi benéfica, embora não seja muito justo com Potter, que merece moral pelo excelente trabalho no Amex Stadium e foi atrapalhado pela confusão quase bíblica que o Chelsea armou para si mesmo.
E havia preocupações além da troca de treinadores. O Brighton havia perdido Marc Cucurella e Yves Bissouma, dois dos seus principais jogadores. Pouco depois, Enock Mwepu foi obrigado a se aposentar aos 24 anos por causa de problemas cardíacos. Mas a estratégia de observação e acumulação de talento jovem das Gaivotas é tão bem executada que a roda nunca para de girar. Por exemplo, Leandro Trossard foi vendido ao Arsenal em janeiro. Kaoru Mitoma ganhou espaço e já é um dos jogadores favoritos das arquibancadas.
De Zerbi assumiu durante a pausa internacional e estreou contra o Liverpool em um empolgante 3 a 3. Precisou navegar em um equilíbrio entre manter as ideias do seu antecessor e aplicar novos métodos com a temporada em andamento. Demorou um pouco para começar a vencer, mas o potencial do que seu time poderia atingir ficou claro na goleada por 4 a 1 sobre o Chelsea (de Potter), no fim de outubro. Mesmo com alguns jogadores convocados para o Catar, a Copa do Mundo foi uma oportunidade para afinar as suas táticas.
Deve ter sido mesmo porque o Brighton voltou melhor. E se a sua filosofia de alto risco e alta recompensa não gerou uma sequência longa de vitórias, também não houve uma grande sem ganhar. O Brighton perdeu apenas duas vezes nas 13 primeiras rodadas disputadas depois da Copa – agora contando com um Alexis Mac Allister maduro e campeão do mundo. Tropeçou, mas também despachou adversários inferiores ou em pé de igualdade com facilidade e encaixou um baile contra o Liverpool em janeiro.
Nesse processo, outros jogadores começaram a crescer, como Evan Ferguson, Julio Enciso e Facundo Buonanotte. De repente, o Brighton parecia ter um elenco surpreendentemente profundo, com vários jogadores de qualidade do meio para a frente, o que também lhe permitiu chegar à semifinal da Copa da Inglaterra sem deixar a peteca cair na Premier League. Era difícil saber em qual briga o Brighton estava, com uma tabela que passou a temporada inteira bagunçada, mas parecia ser entre Champions League e Liga Europa.
Deu Liga Europa, em sexto lugar. A melhor campanha na elite inglesa e a primeira classificação a competições continentais. A reta final foi um pouco de altos e baixos, com goleadas sofridas para Everton e Newcastle e vitórias impositivas sobre Manchester United e, principalmente, Arsenal. Os tropeços mostraram os riscos da estratégia de De Zerbi quando os jogadores estão cansados ou não conseguem executá-la direito. Nada que não possa ser aprimorado agora que ele terá uma pré-temporada completa.
Como foi o mercado do Brighton?
Principais chegadas
- João Pedro (Watford)
- Bart Verbruggen (Anderlecht)
- Igor (Fiorentina)
- James Milner (Liverpool)
- Mahmoud Dahoud (Borussia Dortmund)
Principais saídas
- Alexis Mac Allister (Liverpool)
- Robert Sánchez (Chelsea)
- Deniz Undav (Stuttgart)
O Brighton está acostumado as perder jogadores importantes. Isso não significa que as saídas não geram alguma preocupação. Apenas Pascal Gross e Lewis Dunk fizeram mais minutos que Mac Allister, vendido ao Liverpool, e Moisés Caicedo, uma obsessão do Chelsea – que deve acabar em Anfield também. O argentino nem gerou tanto dinheiro assim, embora o mesmo não possa ser dito caso Caicedo seja realmente vendido pelo recorde de transferência da história do Reino Unido. Ainda veremos quem ocupará esses vácuos.
A aposta para o lugar de Mac Allister é Mahmoud Dahoud, prova viva de como o mundo gira no futebol. Foi contratado como uma promessa para o futuro pelo Borussia Dortmund em 2017 e agora está sendo tratado como uma fonte de experiência para o jovem time do Brighton. Tem 27 anos e nunca explodiu como se esperava, mas tem suas qualidades. Será interessante ver como elas serão potencializadas pelo esquema coletivo de De Zerbi e pela óbvia competência em desenvolvimento de jogadores do clube.
E se estamos falando de experiência, estamos falando de James Milner. Ele tem mais anos como profissional (22) do que quase metade do elenco do Brighton tem de vida. O fôlego não está mais tão em dia – imagina se estivesse? -, mas ainda teve alguns momentos importantes na temporada acidentada do Liverpool e será uma presença muito valiosa em um vestiário em que poucos conhecem a Liga Europa ou o peso das novas expectativas que virão.
Outra saída que precisou ser reposta é a de Robert Sánchez. Quer dizer: mais ou menos. O goleiro espanhol de 24 anos perdeu a posição para o mais veterano Jason Steele, que mal tinha experiência em primeira divisão. Não foi uma notícia ruim quando o Chelsea (sempre o Chelsea) apareceu com uma proposta razoável para que ele ocupasse a posição deixada pela saída de Édouard Mendy para a Arábia Saudita. Talvez não seja titular absoluto de imediato porque tem 20 anos, mas a aposta é em Bart Verbruggen, que ganhou a posição no Anderlecht na segunda metade da última temporada e disputou o mata-mata da Conference League.
Com o poder de compra de quem se estabeleceu na Premier League e está prestes a desbravar a Europa, o Brighton quebrou a banca para contratar o brasileiro João Pedro, promissor atacante formado pelo Fluminense que vem de boa temporada na segunda divisão pelo Watford – 11 gols e quatro assistências em 35 partidas. Pode aumentar o poder de fogo no comando de um ataque que espera a evolução de Evan Ferguson, mas ainda teve que recorrer bastante a Danny Welbeck.
Era um papel que se esperava de Deniz Undav, que havia marcado um caminhão de gols pela Union Saint-Gilloise, mas não se mostrou à altura da Premier League e foi emprestado ao Stuttgart. Falando no clube belga – que integra o portfólio de Tony Bloom, dono do Brighton -, uma das apostas é que o ponta esquerda Simon Adingra cause um impacto após uma boa temporada emprestado no Campeonato Belga, como aconteceu com Kaoru Mitoma.
O jovem Levi Colwill retornou ao Chelsea e renovou contrato, mas o Brighton ainda mantém um fiapo de esperança que conseguirá levá-lo em definitivo. Até porque Todd Boehly continua empilhando zagueiros em Stamford Bridge. Por via das dúvida, chegou uma reposição mais pronta: o brasileiro Igor, que passou pela estrutura da Red Bull, emprestado a clubes austríacos, antes de se estabelecer na Fiorentina.
O elenco
Goleiros: Jason Steele segurou a barra após Robert Sánchez ser barrado por De Zerbi, mas toda sua experiência de Premier League totaliza 16 partidas – e ele fez 15 na temporada passada. O Brighton agora tem uma opção veterana e uma bastante jovem porque Bart Vrebuggen mal saiu das fraldas. Formado pelo NAC Breda, o holandês chegou ao Anderlecht em 2020 e, em três anos, fez apenas 31 partidas pelo time titular. Ainda tem muito a aprender.
Defensores: A lateral direita pode ser um problema. Tariq Lamptey chegou a ser um dos jovens mais valorizados do elenco, mas perdeu espaço e encerrou os trabalhos em março quando sofreu uma lesão no joelho. Joël Veltman, zagueiro, é uma opção mais defensiva, o que levou De Zerbi a improvisar Pascal Gross, com sucesso, em algumas rodadas. Não seria ruim ter opções mais adequadas. Pervis Estupiñán passa tranquilidade na esquerda, mas, na sua ausência, o técnico improvisou Veltman ou colocou um garoto nos amistosos. Michal Karbownik, 22 anos, defendeu o Fortuna Düsseldorf por empréstimo na última temporada e tem quatro jogos pela seleção polonesa. Pode ser uma opção se continuar no elenco até o fim da janela.
Lewis Dunk é o grande ídolos das arquibancadas, capitão do time e um remanescente de quando o Brighton estava na terceira divisão, em 2010/11. Ainda tem 31 anos e se encaixou muito bem no estilo de jogo de Potter e De Zerbi, com coragem para avançar a bola com passes mais arriscados. Igor tem chance de ganhar a vaga ao seu lado, na disputa com Adam Webster, antiga contratação mais cara do Brighton, e Jean Paul van Hecke.
Meias: A saída de Mac Allister é, claro, um problema. Ele tocava a bola em todos os lugares do meio-campo. É uma função que pode ser exercida por Adam Lallana, mas, a essa altura, é loucura esperar que ele consiga fazer mais do que 20 jogos. A responsabilidade deve ficar com Dahoud, titular na maior parte da preparação. Caicedo era intocável no meio-campo. Se sair, temos outro problema.
De Zerbi escalou Billy Gilmour quando não teve Caicedo nos amistosos. Para ser uma opção confiável, terá que dar o salto que ainda não deu desde que chegou do Chelsea. Fez apenas 505 minutos de Premier League pelo Brighton. Pascal Gross e Milner, capaz de exercer qualquer função que já existiu na história do futebol, são opções experientes. As Gaivotas se dariam bem se conseguissem recuperar Jakub Moder, que perdeu a temporada passada, inclusive a Copa do Mundo, por uma lesão no joelho.
Atacantes: Alguns são experientes. Solly March nunca defendeu outro clube. Os torcedores sabem que sempre podem contar com ele. Welbeck não tem sido horrível pelo Brighton, Milner pode jogar pelos dois lados e Mitoma caiu nas graças das arquibancadas. Mas a esperança é mesmo a garotada. Principalmente as evoluções de Julio Enciso, que marcou dois golaços e participou bastante na reta final, e Evan Ferguson. Simon Adingra teve uma ótima experiência pela Union Saint-Gilloise, com 15 gols e 12 assistências em 51 partidas. É nessa barca que João Pedro tentará se integrar.
O técnico
Pep Guardiola tem a mania de exagerar quando elogia colegas de profissão, mas quando o melhor técnico do mundo diz que Roberto de Zerbi é “um dos treinadores mais influentes dos últimos 20 anos”, vale a pena prestar atenção. E entender por que ele acha isso. O catalão destacou como os jogadores do Brighton não apenas são ótimos em passar a bola para o cara que está livre, mas, principalmente, quando passar a bola para o cara que está livre. E como se movimentar do jeito certo para o cara ficar livre. “A maneira como avançam e usam o goleiro. Eles não passam a bola depois do movimento do adversário. Quando o adversário se move, eu passo a bola. No ritmo certo. Eles são os melhores (nisso)”, explicou o campeão europeu.
O grande mérito de De Zerbi, que construiu um Sassuolo encantador, foi ter conseguido ensinar o Brighton a contra-atacar com qualidade e também criar chances claras com a posse de bola. O seu time é um híbrido entre as duas principais tendências dos últimos anos no futebol mundial – simplificando: o gegenpressing e o tiki-taka, ou pelo menos elementos dos dois estilos. Ele não é a única pessoa do mundo que conseguiu unir as duas coisas. É que é mais fácil fazer isso no Liverpool ou no Manchester City do que no Brighton.
Expectativa para a temporada
A situação do Brighton é parecida com a do Brentford. Com uma exceção: está em um estágio mais avançado. Será a sétima temporada na elite e, se há muitos clubes com ambição de brigar por vagas em competições europeias, ele é um deles. O seu modelo também exige que apostas se paguem. O seu histórico indica que elas costumam se pagar, e há muito potencial no elenco para que seu teto aumente. Algumas derrotas estranhas na última temporada ligaram um pequeno sinal amarelo do que pode acontecer se o sistema de De Zerbi não estiver bem encaixado. Mas as boas impressões deixadas na maior parte dos jogos prevalecem. Se o Brighton der um passo à frente coletivamente após uma pré-temporada com o italiano, encontrar regularidade e continuar a desenvolver jogadores com excelência, por que não sonhar com mais do que Liga Europa? Ou com o próprio título da Liga Europa.
Burnley – Quem diria, agora guardiolista
Como foi a última temporada?
- Posição: 1º lugar (Championship)
- Gols a favor: 87
- Gols contra: 35
- Campanha em casa: 16V, 6E, 1D (melhor)
- Campanha fora: 13V, 8E, 2D (melhor)
O Burnley tinha seus desafetos quando estava na primeira divisão. Era inquestionavelmente eficiente e foi quase um milagre que tenha conseguido um sétimo lugar (com vaga na Liga Europa), com recursos tão parcos. Mas o custo foi um futebol que não era exatamente divertido: uma defesa focada em se jogar na frente de arremates, muita força física, velocidade e cobranças de falta do meio-campo lançadas para dentro da área porque era difícil imaginar que criaria chances de gol de outra maneira. Esse pacote, porém, hoje mora em Goodison Park. O Burnley que retornou à Premier League é diferente.
Completamente diferente. O rebaixamento após seis anos na elite, geralmente tentando escapar dele, foi uma oportunidade. Sean Dyche, um treinador histórico que sempre será querido no Turf Moor, foi demitido ainda na Premier League e o substituto imediato não passou de um interino. Realmente com vontade de dar um giro de 180 graus, o escolhido para trazer o clube de volta à elite foi Vincent Kompany, um zagueiro de história ímpar na Inglaterra e, principalmente, um discípulo de Pep Guardiola.
Guardiola e Sean Dyche são praticamente opostos. Um ama a bola, o outro acha que ela é um pequeno inconveniente com o qual você tem que lidar (de vez em quando) durante uma partida de futebol. Kompany não passava de um iniciante, com uma experiência razoável em dois anos no Anderlecht. E um plano. A queda naturalmente defasou o elenco do Burnley, mas também permitiu que houvesse uma pequena revolução. Dos 16 jogadores que mais atuaram na Championship (pelo menos 1.000 minutos), nove eram recém-chegados, e Kompany liderou muitas das negociações.
A experiência demorou um pouco para engrenar. O Burnley ganhou apenas uma das cinco primeiras partidas da segunda divisão, um processo natural para encaixar todas as novas peças. Quando isso aconteceu, obliterou os seus adversários: entre a 4ª e a 42ª rodada, apenas o Sheffield United conseguiu derrotá-lo. O acesso foi conquistado com incrível tranquilidade para uma liga tão acirrada quanto a Championship, no começo de abril. O Burnley, lógico, foi campeão e superou a barreira dos 100 pontos.
Essa parte é importante porque não tem sido incomum haver amplos domínios na Championship nos últimos anos. Geralmente de clubes com passagens recentes pela Premier League, como Fulham e Norwich. Mas foi a primeira vez desde o Leicester de 2013/14 que alguém conseguiu superar a marca centenária. E isso porque o fôlego baixou um pouquinho em fevereiro, e o Burnley tirou o pé por algumas semanas após o acesso, empatando com Reading e Rotherham United e perdendo do QPR.
Outro ponto positivo da campanha foi a força em casa. Ninguém nunca queria jogar no Turf Moor durante a passagem do time de Sean Dyche pela Premier League e esse sentimento deve se manter porque o Burnley perdeu apenas uma partida em seus domínios. A temporada reservou até um encontro entre Kompany e Guardiola pela Copa da Inglaterra, mas não vamos entrar em muitos detalhes sobre isso para não estragar o alto astral.
Como foi o mercado do Burnley?
Principais chegadas
- Zeki Amdouni (Basel)
- James Trafford (Manchester City)
- Jordan Beyer (Borussia Mönchengladbach)
- Dara O’Shea (West Brom)
- Michael Obafemi (Swansea)
- Luca Koleosho (Espanyol)
- Lawrence Vigouroux (Leyton Orient)
- Nathan Redmond (Besiktas)
- Jacob Bruun Larsen (Hoffenheim)
- Sander Berge (Sheffield United)
Principais saídas
- Nathan Tella (Southampton)
- Ian Maatsen (Chelsea)
- Ashley Barnes (Norwich)
- Taylor Harwood-Bellis (Manchester City)
- Wout Weghorst (Hoffenheim)
Os promovidos geralmente trabalham em dois extremos: ou contratam muita gente ou não contratam ninguém e apostam na base que conseguiu o acesso. Se for escolher uma das duas estratégias para encaixá-lo, o Burnley está mais próximo da primeira porque fez um número razoável de contratações, mas o perfil delas é bem interessante. Não foi atrás de medalhões, mas de jovens com potencial, dando sequência à abordagem que deu certo na Championship.
Estar na Premier League, porém, significou que havia mais poder de compra. Não foi tão necessário buscar jogadores desconhecidos, muitos deles usando os contatos de Kompany na Bélgica. Três jogadores foram contratados por mais de € 15 milhões. Parece pouco? Parece, mas são três dos oito reforços mais caros da história do Burnley – Dyche não reclamava à toa quando cobrava mais investimentos da diretoria em público às vésperas de ser demitido.
Zeki Amdouni foi o mais caro (€ 18 milhões). Tem 22 anos e foi destaque do Basel na última Conference, ajudando os suíços a chegarem às semifinais com sete gols. Foi o artilheiro da competição ao lado de Arthur Cabral. Tem apenas duas temporadas de primeira divisão no currículo, pelo Lausanne, ao qual foi emprestado, e pelo Basel, com 12 tentos em cada uma. Mas tem bastante potencial, com 1,85 metros de altura, técnica apurada e capacidade de se movimentar e até atuar em mais de uma posição.
Outro achado foi o goleiro James Trafford. A cria da base do Manchester City havia acabado de brilhar no Europeu Sub-21, no qual não foi vazado uma vez sequer em seis partidas. Defendeu pênalti na decisão contra a Espanha e operou alguns milagres. Também se destacou pela segurança e qualidade ao trabalhar com os pés, um atributo essencial para executar o estilo de Kompany. Falta experiência em alto nível porque jogou apenas nos times de base do City, além de duas edições da terceira divisão, por Accrington Stanely e Bolton – em fase complicada, mas com história, torcida e pressão.
Desafio comum aos promovidos à Premier League é manter jogadores emprestados – frequentemente pelos grandes. O Burnley teve resultados mistos nessa empreitada. Conseguiu comprar o zagueiro Jordan Breyer, do Borussia Mönchengladbach, e confirmou o atacante Michael Obafemi, mas sentirá a falta do lateral esquerdo Ian Maatsen, que retornou ao Chelsea, e daquele que foi talvez o seu melhor jogador. E, sendo sincero, por puro azar.
Nathan Tella brilhou com 17 gols em 39 rodadas, além de cinco assistências. Mostrou excesso de qualidade para a segunda divisão e o problema é que o clube que detém seus direitos federativos, o Southampton, também a disputará na próxima temporada. Está fazendo jogo duro para liberar o ponta-direita que, como Maatsen, foi eleito para a seleção da temporada da Championship.
Tella também seria importante com a experiência de dezenas de jogos de Premier League. Sem ele, o Burnley buscou esse conhecimento em Nathan Redmond, outro ex-Southampton que fez 264 duelos na primeira divisão da Inglaterra – e até que foi bem em vários deles. Outro que conhece a loucura e o delírio da Premier League é o zagueiro Dara O’Shea, que a disputou 28 vezes pelo West Brom em 2020/21.
Jacob Bruun Larsen é uma aposta interessante. Em tempos distantes, surgiu como uma promessa do Borussia Dortmund, mas não ficou muito tempo no time principal. Saiu para o Hoffenheim e também não se firmou, mas trabalhou com Kompany em alguns meses emprestado ao Anderlecht.
Uma grande sacada foi Sander Berge. O volante norueguês sempre foi promissor e teve algumas dificuldades para se adaptar ao Sheffield United, em janeiro de 2020, alguns meses antes de o time de Chris Wilder virar abóbora. Mas permaneceu e conseguiu ganhar mais confiança na segunda divisão. Foi um dos artifíces do acesso dos Blades é perfeito para o estilo de jogo de Kompany pela capacidade que tem para controlar o meio-campo.
O elenco
Goleiros: São duas opções, ambas muito jovens e promissoras. O titular na Championship foi Arijanet Muric, titular da seleção do Kosovo. Pelo embalo da Euro Sub-21, é provável que ele perca a posição para o garoto James Trafford, 20 anos, que se encaixa perfeitamente nas ideias do treinador.
Defensores: Kompany exige bastante de seus laterais, muitas vezes entrando por dentro na fase ofensiva. Ian Maatsen é uma baixa na esquerda, mas talvez fique tudo bem porque Charlie Taylor, com outras características, é um dos remanescentes da era Sean Dyche. Nos amistosos, o ex-zagueiro também deslocou Breyer à esquerda, o que não é uma improvisação tão grande porque, com a bola, o Burnley mantém três jogadores fixos atrás. Connor Roberts, da seleção galesa, é uma opção muito confiável pela direita. O brasileiro Vitinho, prata da casa do Cruzeiro pinçado do Cercle Brugge, pode atuar tanto por ali ou pelas pontas na linha de armação.
A zaga perdeu Taylor Harwood-Bellis, que retornou ao Manchester City, e não tem muita profundidade. Com Breyer na esquerda, O’Shea e Ameen Al-Dakhil, belga de 21 anos com menos de 40 jogos de primeira divisão na vida, foram a dupla de Kompany nos amistosos. As alternativas são o sueco Hjalmar Ekdal e Taylor deslocado para dentro, como fez muitas vezes durante a campanha do acesso. Mas aí alguém ainda teria que jogar na esquerda.
Meias: O Burnley não teve que se preocupar tanto em trazer experiência de Premier League porque, embora tenha havido uma debandada após o rebaixamento, ainda tem alguns jogadores da época em que lutava pelo 1 a 0 com Sean Dyche. O principal é Jack Cork, 34 anos, 300 partidas de Premier League e pulmões ainda em dia – jogou 39 vezes na Championship. Outro é Josh Brownhill, que emplacou duas temporadas na elite como titular e cresceu de rendimento dentro de uma filosofia mais ofensiva.
Todo time que se propõe a ter posse de bola, porém, precisa do seu articulista, e, no Burnley, esse homem é Josh Cullen. Formado pelo West Ham, peregrinou pelas divisões inferiores da Inglaterra antes de se encontrar com Kompany no Anderlecht. Foi um dos reforços que ele trouxe na bagagem, e Cullen não decepcionou, ditando o ritmo e sendo essencial na saída de bola em 43 partidas de Championship. Liderou o time em minutos, com quase 4.000. O recém-chegado Sander Berge é outra opção que oferece controle de meio-campo e nada os impede de jogarem juntos.
Atacantes: Foi meio que o fim de uma era para o Burnley porque Ashley Barnes, o segundo jogador do clube mais aparições na Premier League, saiu para o Norwich ao fim do seu contrato. A experiência no setor fica por conta de Jay Rodríguez e do ponta Jóhann Berg Gundmundsson, duas figurinhas carimbadas da outra vez em que os Clarets estiveram na elite. Mas a principal expectativa é pelo que os mais jovens podem fazer.
Redmond será a bola de segurança, Bruun Larsen é um projeto de recuperação e as arquibancadas esperam que Amdouni floresça como um competente centroavante de Premier League. Na última temporada, Anass Zaroury deu uma contribuição importante e Vitinho foi uma opção pelos lados do setor ofensivo. A torcida gostou bastante do ponta direita Manuel Benson, que marcou 12 vezes e conseguiu balançar as redes em quatro rodadas consecutivas – com um gol idêntico, cortando para dentro e soltando o balaço. O Robben de Flandres. Grifo meu.
O técnico
Kompany era uma aposta quando foi contratado pelo Burnley. E de certo risco. Por maior que tenha sido como jogador, ainda era iniciante como técnico. Havia feito duas temporadas no Anderlecht. Ficou no pelotão de frente na liga nacional, embora distante do título, e chegou a uma final de Copa da Bélgica. A segunda divisão inglesa pode ser um campeonato legal para aprender o ofício, mas também costuma abrigar alguns macacos-velhos (Neil Warnock, por exemplo, faz parte da paisagem) e tem suas armadilhas, com longas 46 rodadas, oscilações de desempenho, lesões, cansaço e jogos físicos.
Uma dessas armadilhas é quando alguém tenta implementar um estilo de jogo mais sofisticado e ofensivo, com ideias que vão além dos recursos à disposição. Kompany não foi o primeiro, mas está entre os que obteve melhores resultados. As inspirações de Pep Guardiola estão claras em suas ideias, não apenas pelo apreço pela posse de bola, mas pela determinação de se ater a elas sempre que possível. O acesso do Burnley também significa o retorno de um jogador histórico à Premier League que terá a chance de se testar contra os melhores e dar razão ao antigo chefe: “Seu destino como técnico do Manchester City já está escrito nas estrelas”.
Expectativa para a temporada
É hora de colocar o dedinho na ferida. Porque um estilo de jogo de imposição funciona melhor quando o seu time parte de uma posição de superioridade ou pelo menos de igualdade. O Burnley encontrará poucas dessas situações na Premier League. No geral, terá que enfrentar adversários mais ricos e poderosos, e Kompany precisará mostrar que também sabe se adaptar para resistir a bombardeios e não ceder contra-ataques fáceis. Digamos que a derrota por 6 a 0 para o Manchester City na Copa da Inglaterra não foi um bom sinal, mas, também, quem não leva seis gols do Manchester City hoje em dia? O Burnley teve um período de estabilidade na Premier League, lutando pela sobrevivência com um estilo rústico. Agora, tentará fazê-lo com outro, mais elaborado. É mais difícil. E mais recompensador.
Chelsea – Terra arrasada
Como foi a última temporada?
- Posição: 12º lugar
- Gols a favor: 38
- Gols contra: 47
- Campanha em casa: 6V, 7E, 6D (6ª pior)
- Campanha fora: 5V, 4E, 10D (10ª pior)
Eu não sei nem como quantificar o desastre que foi a temporada do Chelsea. Um bom paralelo é que foi a versão esportiva da compra do Twitter. Um campeão europeu dizimado em dois anos, por circunstâncias extraordinárias e pela inépcia do dono que conseguiu comprar o clube por causa delas. Houve um momento, longínquo, curto, em que parecia que o consórcio de Todd Boehly tinha um plano. Agora, está bem claro que não tinha nenhum, além de empilhar jogadores o mais rápido possível.
Os efeitos que isso causa à formação de um time de futebol são danosos. Que não havia espaço no vestiário para todo mundo se trocar é uma mera anedota, mas mesmos os treinadores mais experientes teriam dificuldade para lidar com o fluxo de jogadores da janela de transferências de janeiro. As ideias que Thomas Tuchel tinha para utilizar Raheem Sterling ou Pierre-Emerick Aubameyang, por exemplo, tornaram-se profundamente irrelevantes meses depois, quando Graham Potter (que além de tudo é outra pessoa) tinha mais meia dúzia de opções para o ataque ou no começo de abril quando nem era mais Potter que estava no comando da equipe.
Aliás, podemos revisitar a decisão de demitir Tuchel? É verdade que o começo havia sido ruim e havia desgastes nos vestiários, uma constante na carreira do treinador alemão, mas há poucos profissionais mais qualificados no mundo. Ele havia conquistado a Champions League pouco mais de um ano atrás após assumir o comando no meio da temporada. Segurou a moral dos vestiários no laço enquanto Roman Abramovich era sancionado pelo governo britânico e pela União Europeia por causa da invasão da Rússia à Ucrânia. Teve que responder perguntas sobre fluxo de caixa para pagar diárias de hotel em Lille em vez de se limitar aos detalhes do 3-5-2.
E ainda assim conseguiu ser terceiro colocado com tranquilidade e chegar a duas finais de copas inglesas. Mas não tem jeito. Novos donos com frequência apenas esperam a primeira oportunidade para deixar sua marca nos brinquedos que compraram ou, em outras palavras, trocar o profissional contratado pelo antecessor por um escolhido por eles. Graham Potter não foi uma ideia ruim, embora houvesse riscos. Havia treinado clubes em que dava para passar um mês sem vencer antes que alguém percebesse. Não seria assim em Stamford Bridge, onde as sequências negativas, segundo ele, geraram ameaças de morte. Precisava de paciência e tempo. Não teve nenhum dos dois
Não adianta nem traçar a cronologia da campanha porque ela foi bastante homogênea: um pesadelo do começo ao fim. O único bom momento foi em outubro, pouco depois da chegada de Potter, com quatro vitórias consecutivas. O Chelsea somou 19 pontos nas primeiras 11 rodadas. Terminou com 44. O clube que fez o mercado mais caro de todos os tempos somou 25 pontos em 81 disponíveis, o que dá um aproveitamento entre o Deus nos acuda e o rebaixamento. No começo de abril, Boehly desistiu de ter um técnico. Optou pelo escudo, e Frank Lampard demorou sete jogos para não ser derrotado.
Ganhou uma partida em seu retorno ao Chelsea e não fez nada, além de uma baguncinha contra o Real Madrid, para provar que ainda é um técnico de potencial. Não que possa ser culpado (desta vez) porque foi colocado em uma situação impossível. Quando os investimentos de janeiro terminaram, falava-se em obrigação de se classificar à Champions League. Um time tão caro não poderia ficar na Liga Europa. Seria uma decepção, um fracasso.
O Chelsea acabou como o sexto melhor time. De Londres.
Como foi o mercado do Chelsea?
Principais chegadas
- Christopher Nkunku (RB Leipzig)
- Axel Disasi (Monaco)
- Nico Jackson (Villarreal)
- Lesley Ugochukwu (Rennes)
- Robert Sánchez (Brighton)
- Ângelo (Santos)
Principais saídas
- Kai Havertz (Arsenal)
- Mason Mount (Manchester United)
- Mateo Kovacic (Manchester City)
- Kalidou Koulibaly (Al Hilal)
- Christian Pulisic (Milan)
- Édouard Mendy (Al Ahli)
- Ruben Loftus-Cheek (Milan)
- Ethan Ampadu (Leeds)
- N’Golo Kanté (Al Ittihad)
- César Azpilicueta (Atlético de Madrid)
- Pierre-Emerick Aubameyang (Olympique de Marseille)
- Datro Fofana (Union Berlim)
- Ângelo (Strasbourg)
O Chelsea contratou mais seis jogadores. Mas tudo bem. Porque 14 foram embora, contando alguns que nem estavam mais lá, como o lateral Rahman Baba, cujo último jogo pelo clube foi em 2016, ou Tiemoué Bakayoko. Foi o momento de abrir mão de figuras que prometeram muito e não entregaram tanto, como Christian Pulisic, Ruben Loftus-Cheek e Ethan Ampadu. E também de se despedir de bandeiras. N’Golo Kanté não é mais jogador do Chelsea. César Azpilicueta foi embora. Mason Mount, o novo Lampard, agora defende o Manchester United.
Por mais necessária que fosse a limpeza realizada no elenco, e que provavelmente ainda não terminou, algumas decisões foram dolorosas. O Chelsea fortaleceu três adversários diretos pelo que ele pretende brigar nesta temporada. Além de Mount para Old Trafford, mandou Kai Havertz para o Arsenal e Mateo Kovacic para o Manchester City. É o preço que precisou pagar por um dos planejamentos mais desastrosos de todos os tempos.
Entre os contratados, apenas um chega para ser titular. Talvez dois. No máximo três. É impossível criticar o negócio por Christopher Nkunku. Poucos jogadores atingiram o seu nível de excelência nas últimas temporadas pelo RB Leipzig. Qualquer clube gostaria de tê-lo. O Chelsea principalmente porque acaba de fechar a sua campanha com menos gols na primeira divisão inglesa desde 1924. Então precisava dar uma certa atenção ao setor ofensivo.
Embora Nkunku não seja um centroavante, é um meia-atacante com faro artilheiro apurado, que pode atuar em mais de uma posição. Foi o artilheiro do Leipzig nas últimas duas temporadas e dividiu a ponta da tabela da Bundesliga com Niclas Füllkrug. Deu um susto na pré-temporada ao ser substituído aos 22 minutos contra o Borussia Dortmund por causa de uma lesão no joelho que parece menos séria do que indicava em um primeiro momento.
O segundo reforço que pode ser presença habitual no time de Mauricio Pochettino é o jovem centroavante Nico Jackson – um pouco por falta de opção. Terminou o Campeonato Espanhol voando com a camisa do Villarreal ao marcar nove vezes em oito rodadas. Tem apenas 22 anos e muita carreira pela frente. A sua experiência em primeira divisão, por exemplo, se limita a 34 jogos de La Liga pelo Submarino Amarelo e não dá para esperar que resolve todos os problemas.
Robert Sánchez chegou do Brighton para preencher o departamento de goleiros, depois da venda de Édouard Mendy, o titular do título europeu mais recente, para o Al Ahli da Arábia Saudita. Sánchez perdeu espaço com Roberto de Zerbi, barrado pelo experiente e pouco impressionante Jason Steele, mas teve ótimos momentos na Premier League e é uma opção confiável no geral.
Começando a temporada com dois zagueiros machucados, o Chelsea buscou mais um. Axel Disasi era titular do Monaco – no qual formou dupla com Benoït Badiashile, um desses lesionados – e disputou a última Copa do Mundo pela França como um reserva. Tem força física e uma boa experiência de 130 partidas de Ligue 1. Reforça um setor que não precisa realmente de mais pessoas, mas que também não começa a campanha com mais de um titular incontestável.
O Chelsea deu sequência à estratégia de contratar todos os jovens talentos do mundo com as chegadas de Ângelo, ex-Santos, e Lesley Ugochukwu, promessa de 19 anos do Rennes. O brasileiro foi emprestado ao Strasbourg, outro clube do portfólio de Todd Boehly. Mauricio Pochettino afirmou que ainda avaliará se quer manter Ugochukwu no elenco para esta temporada. Gostando da brincadeira de contratar Meninos da Vila, Deivid Washington deve ser oficializado em breve.
O elenco
Ok. Vamos ver o que sobrou. A primeira coisa que chama a atenção é a quantidade de experiência que foi embora. Um meio-campo inteiro com Kanté, Kovacic e Mount, além do ex-capitão Azpilicueta, o sexto jogador que mais vezes defendeu o Chelsea na história. Não é fácil substituir tanta rodagem, e os Blues nem tentaram. A aposta é em um elenco mais jovem. Neste momento, há apenas quatro jogadores com mais de 30 anos. Um é o terceiro goleiro Marcus Bettinelli. Dois devem ir embora, Romelu Lukaku e Hakim Ziyech. O outro é o interminável Thiago Silva.
Goleiros: Ainda não tenho certeza como isso aconteceu, mas Kepa Arrizabalaga deu a volta por cima. Foi contratado por um preço exorbitante porque o Athletic Bilbao nunca ameniza nas negociações e pareceu um erro crasso. O momento mais infame foi quando se recusou a ser substituído por Willy Caballero para a disputa de pênaltis da final da Copa da Liga Inglesa. Mendy foi contratado porque o Chelsea precisava de um goleiro mais confiável, e Kepa não saiu apenas porque ninguém queria contratá-lo. Provavelmente. Mas Mendy deu sinais de oscilação, teve problemas físicos e acabou sendo vendido, o que deixa Kepa em uma posição ainda mais confortável para continuar titular, agora brigando com Robert Sánchez.
Defensores: Um sinal claro de que o Chelsea ainda despachará alguns jogadores é que o elenco no momento conta com sete zagueiros, e Mauricio Pochettino utiliza apenas dois. É verdade que Wesley Fofana, recuperando-se de rompimento nos ligamentos cruzados do joelho, e Badiashile começarão a temporada machucados. Ainda assim, restam cinco e é incerto quem será o parceiro de Thiago Silva. Depois de se destacar emprestado ao Brighton e no Europeu Sub-21, Levi Colwill atraiu interesse de outros clubes, mas renovou contrato e torce contra a história para ser um dos raros pratas da casa que é realmente utilizado pelo Chelsea.
Ele tem chance. Foi bem utilizado na pré-temporada. Disasi seria uma opção mais segura, enquanto os outros dois não se recuperam. Quando isso acontecer, Fofana pode ganhar a dianteira porque € 80 milhões geralmente não ficam mofando no banco de reservas. Malang Sarr e Trevoh Chalobah dificilmente terminam a pré-temporada em Stamford Bridge. Há uma hierarquia clara na lateral direita, com Reece James à frente de Malo Gusto, e uma menos clara na lateral esquerda.
Ben Chilwell é o melhor jogador, mas Cucurella tem o seu charme (não apenas pelas madeixas) como um ala bastante ofensivo e agressivo. O garoto Lewis Hall foi uma das poucas boas notícias da reta final da Premier League e gostaria de ganhar alguns minutos. O mesmo se aplica a Ian Maatsen, que chegou à seleção da temporada da Championship pelo Burnley. Ele ainda tem a vantagem de também poder jogar no ataque.
Meias: Probleminha. O Chelsea tem apenas dois meias centrais adultos e com experiência de Premier League. E um deles, Conor Gallagher, pode ir embora. Enzo Fernández é o coração de um setor esvaziado Precisará que garotos como Andrey Santos ou Cesare Casadei ou Ugochukwu ou Carney Chukwuemeka, ou qualquer um desses que não for emprestado até o fechamento da janela, dê um passo à frente. Até porque parece que a contratação de Moisés Caicedo vai miar.
Atacantes: As saídas de Ziyech e Lukaku são quase certas, e é difícil imaginar que Callum Hudson-Odoi conseguirá se iludir novamente que dessa vez vai. Raheem Sterling foi titular pela direita em três dos últimos quatro amistosos da pré-temporada e parece que terá uma chance para recuperar seu melhor futebol, com Maatsen ganhando minutos no outro lado. Essa posição também pode ser ocupada por Mykhaylo Mudryk, uma contratação gigantesca de inverno que não teve o começo mais confortável.
Noni Madueke conseguiu dar bons sinais em poucos meses, o que é ainda mais relevante dada a bagunça do Chelsea. Quem mais sobrará como opção para os flancos depende dos próximos negócios. Chukwuemeka pode ser utilizado como camisa 10, com Nkunku mais avançado. Ou o francês atrás de um centroavante, provavelmente Nico Jackson ou Armando Broja.
O técnico
Mauricio Pochettino não precisa nos provar que é um técnico de qualidade. Precisa nos lembrar. O trabalho à frente do Tottenham foi excepcional, histórico, e o colocou na primeira prateleira da sua profissão. Foi atraído pela missão de dar jeito no PSG e deve ter se arrependido quando percebeu que era uma missão impossível. Não é uma frustração que apaga o que mostrou no norte de Londres, mas está assumindo mais um risco considerável ao aceitar comandar a revolução do Chelsea. O outro lado da moeda é que não há a menor chance de emplacar uma campanha pior do que a última.
Boehly tem uma amostragem pequena como dono de clube de futebol para termos certeza de quanto respaldo dará aos seus treinadores. Se esquecermos seu primeiro ano, o que farei em um momento de profunda generosidade, é pouco provável que seja mais propenso a trocas do que o antecessor, um dos proprietários mais impulsivos da história da Premier League.
O elenco do Chelsea, na semana da abertura da Premier League, ainda parece incompleto, entre lacunas e jogadores que não terão vida longa. Pochettino já esboça o 4-2-3-1 que o deixou famoso pelo Tottenham, com foco em pressão alta, intensidade e muita energia. Pelo menos, terá juventude à disposição para colocar seu estilo favorito em prática, mas sabe também que o sucesso em Stamford Bridge, sob a bandeira da Rússia ou dos EUA, às vezes depende mais de como manejar os vestiários e os corredores do que o time de futebol.
Expectativa para a temporada
Pelas circunstâncias, estabilidade, paz, jogadores que terminam a temporada melhor que a começaram, o esboço de um time de futebol e assentos para todo mundo no vestiário deveriam ser um sucesso para o Chelsea. Mas o esporte na era dos Superclubes não permite ambições tão idílicas, então Pochettino terá que mostrar resultado com rapidez. É irreal exigir que se classifique à Champions League, por mais necessitadas que estejam as contas, porque você pode colocar de cinco a oito concorrentes em estágio mais avançado, dependendo da avaliação. Mas terá que brigar por essa vaga, com organização clara e constante evolução. O mínimo é apontar o caminho que deseja seguir.
Crystal Palace – Deixem Hodgson se aposentar
Como foi a última temporada?
- Posição: 11º lugar
- Gols a favor: 40
- Gols contra: 49
- Campanha em casa: 7V, 7E, 5D (7ª pior)
- Campanha fora: 4V, 5E, 10D (9ª pior)
O Crystal Palace encontrou a fórmula para ficar na Premier League. Está prestes a começar a sua segunda década como integrante da liga mais rica do mundo e isso não pode ser subestimado. No entanto, ainda não sabe o que fazer para tornar o processo mais divertido e ambicioso. Tenta contratar jovens de potencial, mas não o faz tão bem quanto Brighton e Brentford, clubes de estatura parecida que conseguiram emplacar campanhas melhores em menos tempo. E as tentativas de buscar a mudança pelos técnicos não tiveram vida longa, embora a última não tenha sido tão desastrosa quanto a anterior.
Patrick Vieira durou mais que Frank de Boer – qualquer um duraria mais do que 77 dias. Após um período de estabilidade estéril com Roy Hodgson, o ídolo do Arsenal foi a tentativa de dar o passo à frente. Talvez jogar um futebol mais sofisticado, encantar um pouquinho, fazer a torcida sorrir. Era um risco porque tinha pouca experiência como técnico e altos e baixos no New York City e no Nice. Mas até que ele entregou sinais de que cumpriria a missão em sua primeira temporada e havia expectativa de evolução.
Os resultados não foram tão diferentes. Eles nunca são: desde que subiu, são nove temporadas em dez entre o 11º e o 15º lugar. O Crystal Palace tem um contrato de aluguel aparentemente vitalício com o lugar mais desesperador da tabela, aquele em que nada acontece, nem para o bem, nem para o mal. A sua pior campanha foi de 41 pontos. Sua melhor foi de 49. É um monumento à mediocridade, mas parecia haver algo acontecendo sob o comando do capitão dos Invencíveis. Ele derrotou Tottenham, Manchester City, Arsenal e Manchester United e chegou à semifinal da Copa da Inglaterra.
Os desenvolvimentos de Eberechi Eze e Michael Olise caminhavam bem, o que causou certa estranheza quando o primeiro passou a ser menos utilizado pouco depois da virada do ano. O Crystal Palace não havia chegado à pausa da Copa do Mundo com problemas. Pelo contrário, estava confortável no meio da tabela, ganhando de quem tinha que ganhar, perdendo de quem tinha que perder e até causando pequenas surpresas, como derrotar o West Ham no Estádio Olímpico ou o Aston Villa que ainda era treinado por Steven Gerrard.
Quando o futebol inglês foi retomado após o título da Argentina, perdeu do Fulham, ganhou do Bournemouth e, de repente, o trem descarrilhou. O Palace entrou em uma sequência de 12 rodadas sem vencer que deixou a diretoria em pânico. A água bateu, e as prioridades foram recalibradas: se divertir é legal, mas o mais importante é sobreviver. Vieira foi demitido, e Roy Hodgson, que havia indicado que não estava mais disposto a trabalhar após ser rebaixado com o Watford, aceitou o chamado do clube do seu coração.
Com a cabeça mais fria, o Palace poderia ter dado um voto de confiança para Vieira. Porque aquela sequência horrível aconteceu em um momento cruel da tabela. Os adversários: Tottenham, Chelsea, Manchester United, Newcastle, Manchester United, Brighton, Brentford, Liverpool, Aston Villa, Manchester City, Brighton e Arsenal. Todos terminaram entre os nove primeiros. Foram oito duelos contra os seis líderes. Vieira somou cinco pontos nesses jogos. Dava para ter ido melhor. Não dava para ter ido muito melhor.
Tanto é que Hodgson nem precisou mudar o esquema favorito do antecessor – o 4-3-3 com dois jogadores velozes de lado de campo como meias centrais – para melhorar drasticamente os resultados. Uma alteração sutil que deu resultado foi resgatar Eze, um desses dois atuando por dentro. Ele jogou todos os minutos com Hodgson e retribuiu com seis gols em dez rodadas. Hodgson ganhou cinco dessas partidas e conseguiu a salvação com folgas. O 11º lugar seria até um bom resultado se não fosse tão igual a todos os anteriores.
Como foi o mercado do Crystal Palace?
Principais chegadas
- Matheus França (Flamengo)
- Jefferson Lerma (Bournemouth)
Principais saídas:
- Wilfried Zaha (Galatasaray)
- Jack Butland (Rangers)
- Luka Milivojevic (Shabab Al Ahli)
- James McArthur (aposentado)
Existe um sentimento de gratidão com Steve Parish, co-proprietário e presidente que evitou a falência em 2010 e orquestrou o período mais longo do Crystal Palace na elite inglesa. Mas, às vezes, alguns sinais de falta de ambição geram frustração. Como, por exemplo, fazer tão poucas contratações, mesmo após perder o melhor jogador do clube na era Premier League. Depois de muitas tentativas de ir embora, Wilfried Zaha, finalmente, parou de renovar contrato. Até recusou uma proposta enorme porque queria viver novas experiências e disputar competições europeias. Acertou com o Galatasaray e deixou o Palace carente de sua principal referência técnica.
Desde que retornou após não emplacar no Manchester United, Zaha deu contribuição enorme à estabilidade do Palace. Houve temporadas em que o time parecia incapaz de vencer se ele não estivesse disponível e ainda bem que ele quase sempre esteve. Em seus nove anos de elite inglesa pelos londrinos, apenas duas vezes não disputou pelo menos 30 rodadas. Era perfeito para o estilo de jogo que funciona melhor no Selhurst Park, com foco em contra-ataques. Marcou 90 gols em 458 partidas pelo Palace.
Será a primeira tentativa de permanecer na elite sem Zaha desde 2013/14. Outras bandeiras também se foram, como Luka Milivojevic, um ex-capitão que chegou a ser artilheiro do time na temporada duas vezes entre 2017 e 2019. James McArthur se aposentou após mais de 250 partidas pelas Águias, e eu estou ocupando colunas com as saídas porque não tem muito o que falar das chegadas. O Palace fez apenas duas contratações.
Uma delas é conhecida do torcedor brasileiro. Matheus França é uma tentativa de reposição à saída de Zaha, embora ainda esteja cru para um papel tão importante. Deixou passar propostas de clubes mais ricos porque quer jogar com regularidade, o que não estava conseguindo desde a chegada de Jorge Sampaoli – apenas quatro jogos como titular e poucos minutos em campo.
Jefferson Lerma é um bom reforço. Aos 28 anos, o volante colombiano tem 100 jogos de Premier League no currículo e foi importante ao Bournemouth na segunda divisão. Saiu ao fim do seu contrato para se tornar uma opção econômica e sólida para ocupar o meio-campo carente de opções experientes com as saídas de Milivojevic e McArthur. Marcou cinco vezes na última edição do Campeoanto Inglês, um número bem razoável para um meia defensivo.
O problema é que parou por aí por enquanto, a torcida ainda terá que passar quase um mês com medo de perder jogadores importantes, com interesses especulados na dupla de zaga, Joachim Andersen e Marc Guéhi, no volante Cheick Doucouré, que fez uma ótima temporada de estreia, e até em Michael Olise. O próprio Eze tem apenas mais dois anos de contrato e, se as negociações para renovar empacarem, não haveria muitas oportunidades para fazer um bom dinheiro com ele.
Uma fonte de esperança é o ponta Jesurun Rak-Sakyi, que brilhou pelo Charlton na terceira divisão, com 15 gols e oito assistências. Mas nem é certo que ele não será emprestado novamente.
O elenco
Goleiros: Vicente Guaitá tem experiência, tempo de casa e segurou a barra nos últimos cinco anos, mas está ficando velho (36). Após substituir Vieira, Hodgson deu a titularidade para Sam Johnstone, mais novo e levado por Southgate para a Eurocopa disputada em 2021. A posição ficou mais enfraquecida com a saída de Jack Butland para o Rangers depois de um empréstimo infrutífero ao Manchester United.
Defensores: Marc Guéhi chamou a atenção de Gareth Southgate e ganhou algumas convocações no último ano. Aos 21 anos, forma uma dupla de zaga muito sólida com Joachim Andersen, e não à toa são cobiçados pelo mercado. Chris Richards é uma opção mais jovem, James Tomkins, uma mais velha. Joel Ward, veterano que defende o Palace desde 2012, e Nathaniel Clyne revezam na lateral direita, e Tyrick Mitchell é a primeira opção na esquerda.
Meias: Hodgson manteve o 4-3-3 de Vieira em um primeiro momento, mas começou a mudança para o 4-2-3-1 nas rodadas finais da Premier League. E continuou na pré-temporada. Em vez de ter dois pontas por dentro, está apostando em um meio forte, com Doucouré ao lado de Jefferson Lerma dando sustentação ao quarteto ofensivo. São dois volantes de alta qualidade e ainda contam com o apoio de Jairo Riedewald e Will Hughes. Naouirou Ahamada foi contratado do Stuttgart em janeiro e ainda está procurando seu espaço.
Atacantes: Eze explodiu com Hodgson ainda jogando em um trio de meio-campo. Quando houve a mudança tática, avançou para ser camisa 10. Ganhou tanto moral naquelas dez partidas que deve ser intocável. Michael Olise será titular com frequência pela direita depois de se recuperar da lesão que contraiu defendendo a França no Europeu Sub-21. O outro lado seria de Zaha, mas pode ser de Matheus França, dos experientes Jeffrey Schlupp e Jordan Ayew, ou do garoto Rak-Sakyi.
Uma certeza é que nenhum centroavante marcará muitos gols. Essa tem sido uma sina do Crystal Palace, que até contratou alguns competentes, mas Christian Benteke foi o único que conseguiu marcar mais de 10 gols desde a promoção – 15 em 2016/17, por todas as competições. As bolas da vez são Odsonne Edouard, que não cumpriu a promessa dos tempos de Celtic e marcou apenas cinco vezes na última Premier League. Jean-Philippe Mateta foi até pior: dois gols.
O técnico
Roy Hodgson é o técnico mais experiente da Premier League. De longe. Seu primeiro trabalho foi nos anos setenta. Trabalhou na Internazionale, brilhou pelo Fulham, chegou ao Liverpool e atingiu o ápice ao ser chamado para treinar a Inglaterra. A eliminação para a Islândia na Eurocopa de 2016 foi meio que um baque. Decidiu passar a fase muito, muito veterana da careira no clube do seu coração e comandou o Palace entre 2017 e 2021, com muito sucesso em mantê-lo distante do rebaixamento geralmente de maneira confortável.
Quando foi embora pela primeira vez, recebeu uma merecida despedida de ídolo do Selhurst Park e deu os primeiros sinais de que estava pronto para se aposentar. A chama ainda estava viva, porém, e aceitou a missão de tentar salvar o Watford do rebaixamento. Não conseguiu, e deu sinais ainda mais claros de que estava pronto para calçar as pantufas. Após receber a Ordem do Império Britânico, disse que não achava que trabalharia na Premier League novamente e que o Watford seria o seu “canto do cisne”.
Aceitar terminar a temporada passada pelo Crystal Palace não era necessariamente indicativo de que havia mudado de ideia. Poderia ser apenas uma situação emergencial, um favor ao clube que tanto lhe deu, mas acertou contrato permanente por uma temporada. Se não empolga, o torcedor pelo menos tem um dos seus no banco de reservas e sabe o que pode esperar. As experiências com o 4-2-3-1 podem ser uma tentativa de fazer algo diferente daquele 4-4-2 clássico, com bloco baixo, defesa sólida e contra-ataque. Ou não.
Expectativa para a temporada
A reta final da última Premier League deixou impressão tão boa que convenceu Steve Parish, responsável por bancar o retorno do veterano, a oferecer um novo contrato a Roy Hodgson. Por mais identificado que ele seja com o Crystal Palace, houve descontentamento com uma aparente falta de ambição porque o provável é o mais do mesmo: um time muito seguro e pouco espetacular que somará os pontos necessários para permanecer na elite. Desta vez, terá que fazer isso sem Wilfried Zaha, o que pode ser um complicador. Hodgson está otimista. Disse que buscará terminar na parte de cima da tabela, o que significa pelo menos o 10º lugar, como em 2013/14, a única vez que isso aconteceu desde o retorno mais recente dos londrinos à Premier League.
Everton – Eu não sei mais o que eles estão fazendo
Como foi a última temporada?
- Posição: 17º lugar
- Gols a favor: 34
- Gols contra: 57
- Campanha em casa: 6V, 3E, 10D (3ª pior)
- Campanha fora: 2V, 9E, 8D (7ª pior)
Tenho uma boa notícia e uma má notícia. Qual você quer primeiro? A boa é que o Everton poucas vezes esteve tão próximo de ser rebaixado quanto na última temporada e conseguiu encontrar uma maneira de escapar. A má é que eu não sei mais o que que aqueles caras estão fazendo. O Everton era um clube estável, cercando o pelotão de elite, de vez em quando jogando competições europeias. Farhad Moshiri chegou em 2016 prometendo os fundos necessários para dar um passo à frente. Transformá-lo, no mínimo, no que o Aston Villa é hoje em dia, e é difícil colocar em palavras o quanto o quarto maior campeão inglês (agora ao lado do City) está longe desse objetivo no atual momento.
E não foi porque Moshiri mentiu. Ele entregou os fundos necessários. São € 700 milhões em reforços desde que se tornou dono. Apenas sete integrantes da Premier League – os que você está pensando mesmo: o Big Six mais o Newcastle – gastaram mais. A comparação com o Aston Villa não é aleatória porque o clube de Birmingham também tem um forte lastro histórico e investiu uma quantia parecida. Não foi um processo linear, mas uma hora se encontrou. Enquanto isso, se Abdoulaye Doucouré não marca contra o Bournemouth na última rodada da Premier League, o Everton estaria rebaixado.
O pior é que não foi uma exceção. Também houve risco no ano anterior, e a posição na tabela é um mapa da degeneração do Everton: foi do sétimo lugar na primeira edição completa com Moshiri, ainda a melhor campanha com o proprietário, para 17º, sob o comando do oitavo técnico permanente desse período, sem dinheiro para reforços, buscando investimentos externos para terminar a construção do novo estádio e prestes a ser julgado por violações do Fair Play Financeiro. Ou seja, as perspectivas não são ótimas.
E em campo, não são melhores. O Everton não fugiu do rebaixamento tanto quanto o rebaixamento deu um desconto para o Everton, e toda a temporada foi uma cápsula do processo que o levou a essa posição. Primeiro, não havia muito motivo para manter Frank Lampard. A fuga na campanha anterior, após ele substituir Rafa Benítez (o campeão europeu com o Liverpool, sabe?), teve uma ou outra vitória legal, mas nada que indicasse que era o homem certo para o emprego. Richarlison foi vendido ao Tottenham, sem uma reposição à altura, e bem rapidamente a torcida percebeu que não comemoraria muitos gols.
O começo até foi ok, com duas derrotas em nove rodadas. Mas também apenas duas vitórias. Entre começo de outubro e fim de janeiro, o Everton derrotou apenas o Crystal Palace e perdeu nove vezes. A diretoria operava na janela de transferências de inverno para trazer pelo menos um atacante. Não conseguiu nenhum. Perdeu Matheus Cunha para o Wolverhampton, Kamaldeen Sulemana para o Southampton, ouviu mais um punhado de “nãos” e levou um chapéu do Tottenham por Arnaut Danjuma. Além de não conseguir se reforçar, seu poder de fogo ficou ainda menor porque Anthony Gordon forçou a saída para o Newcastle.
Lampard foi demitido antes do fechamento do mercado, e Sean Dyche assumiu em fevereiro. Nomes mais interessantes, como o de Marcelo Bielsa, foram especulados, mas o Everton foi com a bola de segurança. Dyche, com um estilo de jogo rústico e eficiente, é um especialista em escapar do rebaixamento e conseguiu às duras penas. Estreou vencendo o Arsenal, arrancou empates emocionantes com Chelsea e Tottenham e, não sei como ainda, goleou o Brighton fora de casa por 5 a 1. Mas ainda não foi grande coisa. Derrota para o Manchester City e empate com o Wolverhampton obrigaram o Everton a vencer na última rodada para evitar o rebaixamento sem depender dos outros.
Até deu, mas pouca coisa indica que a próxima campanha será diferente.
Como foi o mercado do Everton?
Principais chegadas
- Arnaut Danjuma (Villarreal)
- Ashley Young (Aston Villa)
- Youssef Chermiti (Sporting)
Principais saídas
- Asmir Begovic (QPR)
- Yerri Mina (Fiorentina)
- Andros Townsend (sem clube)
- Tom Davies (semclube)
Sean Dyche disse que muita coisa precisava mudar depois de garantir a permanência do Everton. Meses depois, quase nada mudou. Mais alguns salários altos foram embora e apenas três jogadores chegaram. Um deles é centroavante, mas não necessariamente goleador.
Sem o luxo de ter rancor, o Everton voltou a tentar Arnaut Danjuma que, em janeiro, o esnobou a favor do Tottenham. O reforço não parece mais tão bom porque os seis meses emprestados aos Spurs foram decepcionantes e se juntam à queda de rendimento que ele teve pelo Villarreal, depois de ser um dos destaques do time semifinalista da Champions League. Mas ainda parece uma aposta válida para dar um pouco mais de qualidade ao ataque azul.
Ashley Young está com 38 anos e estava livre no mercado. Não há muito risco em sua contratação porque é um grande profissional, tem experiência e pode ser uma presença importante no vestiário. Para a idade, ele até que jogou bastante em sua última temporada no Aston Villa – 29 rodadas de Premier League, 23 como titular. Reforça as laterais, um problema crônico.
O terceiro nome confirmado é o garoto Youssef Chermiti, do Sporting. Por enquanto, não passa de um projeto. Teve uma temporada com os adultos do Sporting, na qual marcou três vezes em 22 jogos. Seria demais esperar que jovem de 19 anos resolvesse todos os problemas do ataque.
Por isso, outros nomes também são especulados, com foco em rebaixados, como Che Adams, do Southampton, e Iheanacho ou Patson Daka, do Leicester. Mesmo sem um orçamento enorme, o Everton pelo menos tem um pouco mais de espaço de manobra após as saídas dos salários de Asmir Begovic, Yerri Mina, Andros Townsend e Tom Davies.
O elenco
Goleiros: Asmir Begovic era um reserva confiável, mas tinha poucas chances de jogar porque goleiro é uma das poucas posições bem resolvidas do Everton. Jordan Pickford pode não ser unanimidade na seleção, mas há poucos melhores no país e sua contribuição foi inestimável para evitar a queda. O garoto português João Virgínia foi usado em amistosos de pré-temporada e parece ser o primeiro reserva. Ainda há o veterano Andy Lonergen.
Defensores: São cinco opções relativamente seguras. A dúvida é quantas jogarão por vez. Durante a preparação, Sean Dyche alternou entre três zagueiros e linha de quatro. Na segunda opção, os titulares devem ser Michael Keane e James Tarkowski, um homem de confiança de Dyche desde os tempos de Burnley. Com espaço para mais um, Ben Godfrey parece à frente de Mason Holgate e Jarrad Branthwaite, que teve uma boa temporada emprestado ao PSV e enche a torcida de esperança.
O Everton tem muito pouca profundidade nas laterais. Talvez por isso Dyche esteja esboçando um trio para poder usar alguns pontas como alas. O capitão Seamus Coleman, 34 anos, com problemas constantes de lesão, ainda é a melhor opção para a direita, com o jovem Nathan Patterson à espera de oportunidades. Young pode atuar nos dois lados e, na esquerda, deve ser reserva de Vitaly Mykolenko.
Meias: É o setor mais talentoso. Amadou Onana foi o reforço mais caro desde Richarlison e pode se tornar um jogador muito interessante, com sua mistura de força física, técnica e inteligência. James Garner deu alguns sinais do jogador que pode se tornar desde que chegou do Manchester United, e Abdoulaye Doucouré é provavelmente o melhor jogador do Everton no momento. Idrissa Gueye ainda está tentando recuperar o futebol que o levou ao PSG, e André Gomes retornou de empréstimo ao Lille para ser uma opção mais técnica, caso não seja negociado. Jean-Philippe Gbamin, o substituo de Gueye que sofreu uma séria lesão logo de cara e nunca conseguiu emplacar, também voltou ao Goodison Park, mas não deve permanecer por muito tempo.
Atacantes: Dyche esboçou várias formações durante a pré-temporada, como tem que fazer. As mais usadas são o 3-4-2-1, que teria dois atacantes mais leves atrás de um centroavante ou jogador ofensivo mais avançado, e o 4-4-2, com a possibilidade de pontas ou meias abertos e dois atacantes. Os mais confiáveis dessa turma toda são Alex Iwobi e Dwight McNeill, outro velho amigo de Burnley do treinador, o que sublinha a necessidade por mais reforços.
Eles podem atuar pelos lados em qualquer uma dessa formações ou atrás de outro atacante. Danjuma também fornece um pouco dessa versatilidade e chegou a fazer dupla de ataque com Iwobi. Depois desses três, é um pouco mais misterioso com quem o Everton poderá contar.
Dominic Calvert-Lewin se provou um centroavante qualificado para a Premier League, mas problemas físicos o limitaram a 17 rodadas nas últimas duas temporadas. Ainda tem 26 anos e é cedo para desistir de um jogador com tanto potencial. Ao mesmo tempo, seria bom ter alternativas caso ele esteja apaixonado demais pelo departamento médico. A ideia era que Neal Maupay fosse esse jogador. Foi um goleador na segunda divisão pelo Brentford e, em um Brighton que ainda fazia poucos gols, emendou produções próximas dos dois dígitos. Mas marcou apenas uma vez pelo Everton.
Outro ponto de interrogação é Dele Alli. Está de volta após o empréstimo ao Besiktas e a forte entrevista a Gary Neville na qual abriu o jogo sobre seu vício em remédios para dormir e traumas da infância. Dyche disse que está tratando de uma lesão e é muito cedo para discutir se ele terá um lugar na equipe.
O técnico
Farhad Moshiri queria Marcelo Bielsa, mas você já tentou negociar com Bielsa? É uma caixinha de surpresas. Na época das conversas, saiu no The Guardian que o argentino havia proposto terminar a temporada treinando o sub-21, enquanto um interino tentava evitar o rebaixamento. O Everton não topou. E aí deu um giro de 180 graus porque Bielsa e Sean Dyche não têm nada a ver. Isso não quer dizer que o inglês é um técnico ruim. Pelo contrário. Conduziu um dos melhores trabalhos do país desde que substituiu Eddie Howe no Bunrley em 2012. Os Clarets não disputavam a elite desde 1976 e, depois de um sobe e desce, emendaram seis anos de Premier League, com um dos menores orçamentos à disposição.
E Dyche conseguiu alguns feitos, principalmente ser sétimo colocado em 2017/18 e chegar à Liga Europa. Encaixava bons jogos contra os grandes e tornou o Turf Moor um estádio inóspito aos visitantes. O modelo esgotou e, uma hora, não conseguiu mais evitar a queda. O problema é que, ao contrário de Bielsa, Dyche oferece menos perspectivas. O seu estilo de jogo é calcado em força física, atacantes fortes e altos, cruzamentos e ligação direta, cobranças de falta do meio-campo direto para a boca do gol. O salto para o pelotão que o Everton quer integrar geralmente vem com treinadores que oferecem um pouco mais, mas aparentemente essa não é mais a prioridade.
Expectativa para a temporada
Dyche fazia sentido como solução emergencial. O rebaixamento seria um apocalipse para as contas do Everton, e ele é um especialista em evitá-lo. O contrato até 2025, porém, sugere que o clube está priorizando um período de estabilidade como o que ele conseguiu no Burnley, mesmo sem apresentar um futebol exuberante. E quem sabe ele não aprende alguns novos truques e, com mais recursos, faz uma campanha parecida com a que levou seu antigo clube à Liga Europa. O Everton deve inaugurar um novo estádio em 2024/25, e a permanência de Sean Dyche indica que tudo que ele quer no momento é que o jogo de abertura seja pela Premier League. Depois disso, a gente vê.
Fulham – Mitrovic: fica ou sai? E como fica?
Como foi a última temporada?
- Posição: 10º lugar
- Gols a favor: 55
- Gols contra: 53
- Campanha em casa: 8V, 5E, 6D (9ª pior)
- Campanha fora: 7V, 2E, 10D (6ª melhor)
Depois de subir, cair, subir, cair e subir, o Fulham tinha apenas um objetivo: ficar. Não apenas conseguiu como, se não fosse uma queda de rendimento na reta final da temporada, poderia ter se classificado para competições europeias. Aprendeu a lição das outras quedas e foi um pouco mais preciso no mercado. Conseguiu trazer reforços que elevaram o patamar da espinha dorsal da segunda divisão. O que também valoriza o trabalho de Marco Silva.
Catorze jogadores disputaram pelo menos 1.000 minutos de Premier League pelo Fulham. Apenas seis desses (Bernd Leno, João Palhinha, Andreas Pereira, Willian, Issa Diop e Carlos Vinícius) foram novos reforços. É uma diferença notável às estratégias anteriores, quando tentou montar um time praticamente novo para competir na elite – e continuava contratando para tentar resolver os problemas.
A fórmula correta era outra: o Fulham foi coeso coletivamente, compacto, organizado para pressionar, todo mundo se esforçou e o caminho para o gol – cruzar para Mitrovic – foi simples e eficiente. Foi a sua melhor campanha desde 2011/12. As primeiras evidências de que a terceira tentativa de se manter na Premier League seria diferente vieram logo na primeira rodada, quando causou todos os tipos de problemas ao Liverpool, que vinha de final europeia, vice-campeonato inglês e dois títulos nas copas.
O Liverpool, no fim, não era um bom parâmetro porque acabou se complicando com muita gente. Mas o Fulham encaixou outros resultados importantes. Derrotou o Brighton, que seria sexto colocado, fez 3 a 0 no Aston Villa e embalou de vez depois da pausa da Copa do Mundo, com quatro vitórias seguidas. Bateu o Chelsea, seu grande rival no oeste de Londres. Mas o grande mérito foi ter poucos tropeços contra a parte de baixo da tabela.
A derrocada começou no fim de fevereiro, com um empate por 1 a 1 com o Wolverhampton. Até o fim da Premier League, o Fulham venceria apenas quatro vezes, com oito derrotas e mais um empate. Os problemas ficaram maiores depois das quartas de final da Copa da Inglaterra – um grande resultado em si – quando Aleksandr Mitrovic deu um empurrão no árbitro Chris Kavenagh. Ele pegou oito jogos de gancho, foi desfalque em boa parte dessa sequência e ficou clara a falta que fez.
As circunstâncias impediram que tivesse ambições maiores. Conseguiu somar apenas 14 pontos dos últimos 42 disponíveis. Um aproveitamento um pouco melhor poderia colocá-lo à frente do Tottenham ou até do Aston Villa, classificado à Conference League. Terminar bem à frente do Chelsea, porém, foi um ótimo resultado. E finalmente disputar uma temporada inteira de Premier League sem precisar se preocupar com o rebaixamento, mais ainda.
Como foi o mercado do Fulham?
Principais chegadas
- Calvin Bassey
- Raúl Jiménez
Principais saídas
- Paulo Gazzaniga (Girona)
- Joe Bryan (Milwall)
- Neeskens Kebano (Al-Jazira)
- Steven Sessegnon (sem clube)
O Fulham aprendeu a lição. Mas agora pode contratar um pouquinho mais, tá? Apenas dois jogadores chegaram, um deles cercado de muitas dúvidas, e as principais notícias são sobre quem ainda pode ir embora. Principalmente Aleksandr Mitrovic e Willian, ambos tentados pelo dinheiro da Arábia Saudita. Pelo menos, Marco Silva rechaçou o caminhão de petróleo e decidiu permanecer no oeste de Londres.
Mitrovic, por enquanto, é um problema. O Al Hilal fez uma abordagem para contratá-lo. O Fulham reluta em vender seu principal artilheiro, que arrebentou na segunda divisão (43 gols em 44 rodadas) e confirmou sua qualidade na primeira (14 gols, apesar da suspensão). A pedida teria sido de £ 50 milhões, o que deixou Mitrovic irritado. O jogador avalia que um valor tão alto é proposital para o Al Hilal desistir do negócio e considerou não viajar para a pré-temporada nos EUA, segundo a Sky Sports.
O Fulham se antecipou e trouxe uma reposição. Só não sabemos ainda qual Raúl Jiménez terá. O atacante mexicano foi um dos melhores da Premier League quando fazia dupla de ataque com Diogo Jota no retorno do Wolverhampton à elite e brilhou na Liga Europa em 2019/20, marcando dez vezes em 15 partidas, mas sofreu uma fratura no crânio em uma trombada com David Luiz, do Arsenal.
Foi um divisor de águas em sua carreira. Ele precisou ser operado com urgência e poderia ter sido obrigado a encerrar a carreira precocemente. Retornou até antes do que se esperava, com um capacete de proteção, como Petr Cech, mas nunca mais encontrou seu melhor futebol. De 30 gols em seus dois primeiros anos, baixou para dez nos últimos três. É, no mínimo, um ponto de interrogação. O Fulham aposta que a mudança de ares lhe fará bem, sendo integrado a uma equipe bem organizada que sabe usar um dos principais atributos de Jiménez – a força no jogo aéreo.
Caso Mitrovic seja vendido, não será por um valor baixo e pode valer a pena buscar outro centroavante. Caso ele fique, o Fulham terá que lidar com um jogador potencialmente insatisfeito. E o ataque perderá poder de fogo de qualquer maneira porque Willian está próximo de acertar com o Al Shabab,. Apesar de ter renovado em julho, existe uma cláusula em seu contrato que permite a transferência de graça por uma proposta financeiramente irrecusável – como todas da Arábia Saudita parecem ser.
Nem tudo são más notícias no mercado do Fulham porque Calvin Bassey parece um ótimo reforço. O versátil defensor que fez 50 jogos pelo Rangers na temporada em que os escoceses chegaram à final da Liga Europa passou o último ano defendendo o Ajax. Perdeu espaço nas últimas rodadas da Eredivise. Capaz de jogar tanto na defesa quanto na lateral esquerda, Bassey é um daqueles zagueiros muito confortáveis na saída de bola.
O elenco
Goleiros: Foi uma pechincha encontrar alguém com a qualidade e a experiência de Bernd Leno por cerca de £ 8 milhões, com variáveis de desempenho. Ele não deixou o Arsenal porque era ruim, mas porque Aaron Ramsdale chegou arrebentando. Foi titular do Bayern Leverkusen, dos próprios Gunners, por três anos, e defendeu a seleção alemã. Goleiro do acesso, Marek Rodak continua como reserva de Leno.
Defensores: Com a chegada de Bassey, são quatro zagueiros entre o razoável e o muito bom – como ele. Pela pré-temporada, seu parceiro mais habitual deve ser Issa Diop, contratado do West Ham ano passado. Seria uma dupla com bastante força física e capacidade de sair jogando. Isso coloca Tim Ream, um dos favoritos das arquibancadas, em uma posição mais secundária. Normal para quem tem 35 anos. Tosin Adarabioyo é outra opção sólida. Revelação do Ajax, Kenny Tete demorou para finalmente encontrar regularidade, mas agora é o dono da lateral direita do Fulham, com Kevin Mbabu logo atrás. Na esquerda, Antonee Robinson, americano como Tim Ream, é o titular. Falta um reserva mais óbvio para essa posição.
Meias: João Palhinha é o coração do Fulham. O ex-volante do Sporting é líder nas estatísticas de desarmes da Premier League, com quilômetros de distância para os outros, e é o pilar do estilo de jogo de intensidade e recuperação de bola de Marco Silva. Costuma ter Harisson Reed ao seu lado, um meia que nunca para de correr. Palhinha deve começar a temporada machucado – como Andreas Pereira, uma alternativa mais criativa e técnica. Sasa Lukic, reforço de janeiro, foi bastante utilizado na pré-temporada.
Atacantes: Marco Silva escala o Fulham em um 4-2-3-1. Tanto Andreas Pereira quanto Tom Cairney podem atuar tanto como camisa 10 quanto em uma posição mais recuada. Excelente na bola parada, Harry Wilson é presença quase certa em um dos lados, geralmente o direito. No outro estaria Willian, mas sua saída abre a oportunidade para Bobby Reid ganhar mais alguns minutos. Não há, porém, tanta profundidade atrás do centroavante, que com certeza será Mitrovic, se ele permanecer relativamente de bem com a vida. Jiménez e o brasileiro Carlos Vinícius brigariam para serem o primeiro reserva.
O técnico
Marco Silva ascendeu rapidamente no futebol português. Classificou o Estoril à Liga Europa e conquistou a Taça de Portugal com o Sporting. Também foi terceiro colocado com uma pontuação alta. Sua saída de Alvalade foi até engraçada porque, segundo o jornal Tribuna, o presidente Bruno de Carvalho o mandou embora por “ter faltado a uma reunião, por não ter utilizado o terno oficial do clube em um jogo de Taça de Portugal e por ter posto Marcos Rojo em campo”. O sucesso esportivo continuou no Olympiacos, pelo qual ganhou as primeiras 17 rodadas do Campeonato Grego e foi campeão com facilidade. Pediu demissão ao fim da temporada alegando problemas pessoais.
A sua história na Premier League começou com o Hull City, que havia vencido apenas três vez em 20 partidas. O que parecia um rebaixamento certo ganhou ares misteriosos porque Silva revitalizou o time e conseguiu esboçar uma salvação milagrosa. Manteve-se vivo até a penúltima rodada, mas a queda não era mesmo evitável. O próximo destino seria o Watford. Começou tão bem que chamou a atenção do Everton, que o perseguiu agressivamente após demitir Ronald Koeman. A diretoria dos Hornets barrou, o seu trabalho se deteriorou e ele acabou sendo demitido em janeiro de 2018.
Seis meses depois, finalmente chegou ao Everton. Fez uma primeira temporada de altos e baixos, mas deu bons sinais e conseguiu um oitavo lugar que o clube azul de Liverpool mataria para ter hoje em dia. Os reforços para o ano seguinte, principalmente Moise Kean e Jean-Philippe Gbamin, não deram certo e muitas derrotas no primeiro turno levaram à sua demissão em dezembro. Ficou 18 meses desempregado até chegar ao Fulham, em 2021, e chegou a ser especulado em clubes brasileiros, mas aceitou recomeçar na segunda divisão para tentar finalmente consolidar um bom trabalho na Premier League. A promoção foi atingida sem nenhum problema.
E conseguiu o que outros falharam: manter o Fulham na primeira divisão, com um futebol competitivo e um resultado muito acima do esperado. A melhor notícia da pré-temporada aos torcedores foi ter recusado a proposta da Arábia Saudita para continuar o que começou. A ponderação necessária é que sua personalidade forte e ambição às vezes causam atritos com a diretoria.
Expectativa para a temporada
O Fulham não pode ser vítima do próprio sucesso. Depois do iô-iô dos últimos anos, precisa se estabelecer como um clube de Premier League em primeiro lugar, como fez entre 2001 e 2014. Terminar novamente na metade de cima da tabela é o sonho, mas a realidade é que será muito mais difícil porque pelo menos o Chelsea não será tão ruim. Ainda há pontos de interrogação em torno de Mitrovic e a possibilidade de outros jogadores importantes saírem, além de Willian. Um pequeno retrocesso não seria tão ruim. O essencial é não se ver novamente engolido por uma briga contra o rebaixamento.
Luton Town – Catapultado pelos torcedores
Como foi a última temporada?
- Posição: 3º lugar (Championship)
- Gols a favor: 57
- Gols contra: 39
- Campanha em casa: 10V, 9E, 4D (9ª melhor)
- Campanha fora: 11V, 8E, 4D (2ª melhor)
À medida em que os contratos de direitos de transmissão da Premier League foram ficando cada vez mais atrativos, também cresceu a quantidade de projetos ambiciosos e até irresponsáveis nas divisões inferiores. Muita gente ficou perto da falência tentando buscar uma fatia do pote de ouro. O Luton Town chegou por outro caminho. Um consórcio formado pela torcida colocou os pés no chão e começou a reconstrução do clube em 2008. Foi subindo, subindo, subindo e finalmente chegou à terra prometida.
O Luton perdeu o bonde na pior hora possível. A década de oitenta foi fértil, com uma longa sequência na primeira divisão. Chegou a ser sétimo colocado em 1986/87. O rebaixamento veio justamente na temporada que antecedeu a fundação da Premier League e do crescimento exponencial das receitas. Em 2003, passou a ser comandado por um dono lunático que até propôs uma fusão com o Wimbledon. Foi uma longa e tortuosa caminhada pelas divisões inferiores, geralmente entre a terceira e a quarta divisão.
O ponto mais baixo foi no começo dos anos 2010, com uma estadia prolongada no quinto patamar da pirâmide, na época batizado de Conference Premier. Hoje em dia, a National League. Após o título de 2013/14, o progresso foi lento, mas gradual. Quatro anos para sair da quarta divisão, acesso imediato na terceira e mais quatro temporadas na Championship. Havia batido na trave com derrota para o Huddersfield nos playoffs de 2021/22.
Era difícil imaginar que teria uma segunda chance, muito menos que finalmente conseguiria, quando o técnico Nathan Jones deixou o clube no começo de novembro. Jones tem uma histórica rica pelo Luton Town. A primeira passagem começou em 2016, quando o tirou da briga contra uma nova queda para o amadorismo e terminou no meio da tabela. Dois anos depois, conseguiu o acesso à League One e estava bem colocado quando aceitou proposta do Stoke City.
Não durou muito tempo por lá e retornou em maio de 2020. O Luton Town estava bem ameaçado quando a temporada foi interrompida pela pandemia, mas ele conseguiu operar uma grande salvação nas nove rodadas finais. Dois anos depois, levou o Luton ao sexto lugar, classificado aos playoffs. O feito valeu o prêmio de melhor técnico da Championship. A ambição, porém, falou mais alto novamente, e é difícil culpá-lo por aproveitar a oportunidade de treinar um clube da Premier League. Saiu para o Southampton em novembro e foi substituído por Rob Edwards.
A campanha havia começado normal com Jones. Umas vitórias aqui, umas derrotas ali. Edwards deu início à guinada a partir do Boxing Day, com seis vitórias em sete rodadas. Até o fim da Championship, perderia apenas duas vezes e a terminou em uma sequência de 14 partidas invicto. Não deu para alcançar Burnley ou Sheffield United, mas deixou o Luton em terceiro lugar. Conseguiu uma vitória apertada em duas partidas contra o Sunderland e, na final dos playoffs, despachou o Coventry City para alcançar um dos acessos mais improváveis dos últimos anos. E também um dos mais legais.
Como foi o mercado do Luton Town?
Principais chegadas:
- Issa Kaboré (Manchester City)
- Ross Barkley (Nice)
- Marvelous Nakamba (Aston Villa)
- Thomas Kaminski (Blackburn)
- Ryan Giles (Wolverhampton)
- Tahith Chong (Birmingham)
- Mads Andersen (Barnsley)
- Chiedozie Ogbene (Rotherham)
Principais saídas:
- Ethan Horvath (Nottingham Forest)
- Cody Drameh (Leeds)
O Luton Town passou relativamente ileso por um problema comum aos promovidos. Apenas dois integrantes da sua espinha dorsal estavam emprestados e retornaram à nave-mãe. Um deles, o lateral direito Cody Drameh, do Leeds, era apenas reserva e não fará tanta falta. O outro é um problema maior porque Ethan Horvath foi o goleiro titular da melhor defesa da Championship.
O Luton decidiu não exercer a opção de compra que tinha no contrato com o Nottingham Forest pelo jogador da seleção americana, o que pegou algumas pessoas de surpresa. O próprio Forest precisa de alguém para a posição porque Dean Henderson e Keylor Navas retornaram aos seus clubes. Caso contrate um, ou dois, pode haver uma abertura para renegociar Horvath. Senão, o Luton deve encarar a Premier League com Thomas Kaminski, um veterano do Campeonato Belga que defendeu chutes pelo Blackburn nos últimos três anos.
O Luton Town aposta na continuidade do grupo que conseguiu o acesso. Costuma ser melhor do que uma grande revolução, ainda mais sem poder contar com um orçamento de transferências relevante. Confirmar a permanência do volante Marvelous Nakamba, emprestado pelo Aston Villa, foi importante porque garante um pouco de experiência de Premier League em uma posição vital. Isso se aplica ao ponta Tahith Chong, que fez algumas aparições especiais pelo Manchester United e era titular do Birmingham.
As maiores apostas são de duas naturezas: um veterano que já foi bom e um garoto com potencial. Ross Barkley surgiu como uma grande promessa do Everton e chegou ao Chelsea, no qual teve dificuldades para se firmar. Desde a transferência, em 2017, raramente atuou com regularidade. Passou a última temporada no Nice, com 24 jogos pela Ligue 1, mas minutagem bem baixa. Foi titular apenas nove vezes. De qualquer maneira, se for recuperado, pelo menos um pouco, pode ser uma referência técnica que não estaria disponível para um clube com recursos modestos.
Issa Kaboré é mais interessante. O Manchester City, como várias potências financeiras, acumula jovens de potencial e os espalha pela Europa em empréstimos. Alguns são muito bons e simplesmente não têm espaço no melhor time do mundo. É uma oportunidade que foi bem aproveitada pelo Southampton, que levou Roméo Lavia, ou pelo Burnley, que contratou James Trafford. O Luton tentará fazer isso com o lateral que, apesar de ter apenas 22 anos, já defendeu a seleção de Burkina Faso mais de 30 vezes.
As outras contratações são tentativas de encontrar valor nos campeonatos inferiores. Mads Andersen é um zagueiro com cerca de 150 jogos pelo Barnsley entre segunda e terceira divisão. O lateral esquerdo Ryan Giles não teve oportunidade no Wolverhampton, mas defendeu quatro equipes na Championship e acabou de ser titular do Middlesbrough. O ponta Chiedozie Ogbene subiu e desceu com o Rotherham United nos últimos quatro anos.
O elenco
Goleiros: Thomas Kaminski é belga, tem 30 anos e passou a maior parte da carreira em seu país natal. Defendeu Anderlecht, Kortrijk e Gent. Entre temporada regular e playoffs, acumula mais de 200 partidas de primeira divisão em uma liga razoável, o que pode ser valioso para o Luton Town. Chegou em 2020 ao Blackburn e foi titular em duas campanhas na Championship. Na última, perdeu posição na reta final após uma lesão no joelho em fevereiro. As alternativas são James Shea, formado pelo Arsenal e no clube desde 2017. Foi o principal goleiro do título da League One. Matt Macey também passou pelo Emirates quando era mais jovem, com dois jogos no time principal. Nos últimos anos, defendeu Hibernian e Portsmouth.
Defensores: O Luton Town joga com três zagueiros. E tem apenas quatro de origem. Então todo mundo tem que dar a sua contribuição. Tom Lockyer e Mads Andersen devem ser titulares. O complemento costuma ser um lateral esquerdo, como fazem times de elite que usam o mesmo sistema. Na Championship, os favoritos eram Amari’i Bell e Dan Potts, que seguem no elenco. Ryan Giles foi usado no trio em amistoso recente contra o Bochum. Reece Burke e Gabriel Osho foram herdados da segunda divisão como opções puras de zagueiro quando for necessário.
Meias: Por enquanto, os contratados estão ganhando espaço pelas alas nos amistosos. Kaboré jogou nos dois lados, embora majoritariamente pela direita. Chong e Giles também tiveram oportunidades. Um remanescente que pode entrar na brincadeira é o meia esquerda Alfie Doughty. Volante com capacidade defensiva do Zimbábue, Nakamba começa o coração do meio-campo, geralmente ao lado de Jordan Clark, com pulmão em dia para aparecer nas duas áreas. O terceiro nome é um pouco incerto, mas seria legal se fosse Pelly-Ruddock Mpanzu.
Mpanzu disse que “zerou o futebol” depois de conquistar o acesso à Premier League porque é o único jogador que disputou todos os níveis profissionais do futebol inglês pelo mesmo clube. Está no Luton Town desde os tempos de quinta divisão, em 2013/14. Nem é veterano, ainda com 29 anos. Outras alternativas são Ross Barkley, dando um toque mais refinado para a criação, ou o escocês Alan Campbell, o quinto com mais minutos na temporada regular da Championship pelo Luton Town.
Atacantes: É onde está o grande destaque da promoção do Luton. O centroavante Carlton Morris explodiu na Championship, após campanhas modestas pelo Barnsley e uma carreira longa na terceira divisão. Marcou 20 gols e tentará seguir o exemplo de caras como Neal Maupay e Ivan Toney, que subiram como grandes artilheiros e mostraram ter nível para a Premier League. O seu principal parceiro de ataque é Elijah Adebayo, com números menos impressionantes, mas que não se assustou com um grande salto quando trocou o Walsall, da League Two, pelo Luton em 2020.
O técnico
Deve existir um grupo de apoio a treinadores que foram sumariamente demitidos pelo Watford – quase todos. A família Pozzo contratou 17 técnicos em 11 anos desde que virou dona do clube do coração de Elton John. Rob Edwards foi um deles. Brevemente. Chegou depois de conseguir o acesso e o título com o Forest Green Rovers na quarta divisão. Foi mandado embora em 10 rodadas. Bom para o Luton Town, que encontrou um substituto à altura para Nathan Jones, que conseguiu engrenar em uma ótima sequência de resultados rumo aos playoffs. Nem precisamos dizer que lhe falta experiência para a Premier League: será apenas sua terceira temporada completa em uma liga profissional da Inglaterra.
Expectativa para a temporada
Todo conto de fadas uma hora termina, e o Luton Town espera que pelo menos o seu tenha prorrogação. Pode se apegar ao fato de que nenhum dos promovidos ano passado foram rebaixados, o que parece mais exceção do que tendência. Outro exemplo que pode inspirá-lo é o do Sheffield United, que também subiu com um time que tinha cara de segunda divisão e conseguiu fazer uma baguncinha. Será difícil. A maior parte da sua espinha dorsal é composta por jogadores com pouca experiência na elite e os reforços no geral não passam de apostas. Também ninguém esperava que fosse subir, então vai saber? Mas é um dos favoritos ao rebaixamento.
Liverpool – Um transplante de coração
Como foi a última temporada?
- Posição: 5º lugar
- Gols a favor: 75
- Gols contra: 47
- Campanha em casa: 13V, 5E, 1D (4ª melhor)
- Campanha fora: 6V, 5E, 8D (7ª melhor)
O Liverpool ficou próximo da temporada perfeita. Ganhou a Copa da Inglaterra e a Copa da Liga Inglesa, mas não conseguiu superar o Manchester City na última rodada da Premier League, nem derrotar o Real Madrid na decisão da Champions League. Ainda foi festejado com uma parada nas ruas da cidade porque ficou claro o esforço gigantesco dos jogadores para competir em tantas frentes. Um esforço tão grande que custou caro no começo da campanha seguinte e, entre isso, o envelhecimento do elenco, lesões e desempenhos abaixo da média, entrou em um espiral negativo do qual demorou muito para sair.
Não é a primeira vez que acontece algo parecido. Também houve uma pane em 2020/21, depois de um título europeu e duas campanhas de quase 100 pontos no Campeonato Inglês. O estilo de jogo de Jürgen Klopp exige bastante do físico e, principalmente, da cabeça. Força mental não apenas para pressionar o tempo todo, mas para saber onde pressionar. Para não entregar a posse ou errar interceptações que pegarão a linha defensiva adiantada. Competir com um colosso como o Manchester City não permite fins de semana de folga. É natural que haja cansaço.
Mas o Liverpool não se deu uma boa chance de evitá-lo ao atrasar uma renovação no meio-campo que deveria ter começado antes. O coração da equipe o setor em que mais ficou claro que faltava energia. E um clube tão grande não pode tirar anos sabáticos com tanta frequência. Se no anterior deu tempo de se recuperar e ainda garantir vaga na Champions League, desta vez a concorrência foi mais forte e os Reds tiveram que se contentar com a Liga Europa.
Os sinais de problemas chegaram rápido. O Liverpool não venceu nas três primeiras rodadas da Premier League. Quebrou o mini-jejum com 9 a 0 sobre o Bournemouth, um placar tão elástico que poderia indicar que precisava apenas alongar um pouco os músculos. Essa, porém, seria a tônica da temporada: grandes atuações pontuais que anunciavam uma arrancada que nunca chegava e, quando chegou, foi tarde demais. Exemplo número 1: aquela goleada antecedeu um totó do Napoli na Champions League. Exemplo número 2: conseguiu a maior vitória da história do clássico com o Manchester United em março e depois passou quatro rodadas sem vencer.
Até a 30ª jornada, a maior sequência positiva foi de quatro vitórias, antes e depois da pausa da Copa do Mundo. Foi uma das muitas vezes em que parecia que estava prestes a engrenar, apenas para levar pancadas doloridas de Brentford (3 a 1), Brighton (3 a 0) e Wolverhampton (3 a 0). Durante 15 minutos, esboçou que a temporada poderia ser salva pela Champions League ao abrir 2 a 0 sobre o Real Madrid. E aí levou seis gols seguidos no restante do duelo entre Anfield e o Santiago Bernabéu.
A maré começou a virar em meados de abril, com goleada por 6 a 1 sobre o Leeds fora de casa. Klopp classificou como o melhor jogo da temporada – e foi depois do 7 a 0 sobre o United. O Liverpool emendou sete vitórias seguidas e conseguiu pelo menos pressionar o Newcastle e os Red Devils pelo quarto lugar, mas contava com tropeços demais. Um próprio, contra o Aston Villa, na penúltima rodada, praticamente pulverizou as suas chances. A recuperação ainda foi valorosa para terminar em quinto lugar, com cinco pontos de vantagem para o Brighton, e pelo menos deu ao torcedor alguma coisa para acompanhar além da turnê de despedida de Roberto Firmino, que havia anunciado que não renovaria seu contrato.
Também permitiu que Klopp começasse a esboçar o que parece ser seu novo sistema tático. Uma variação na fase ofensiva (quando seu time tem a bola) que leva Alexander-Arnold ao lado do primeiro volante no meio-campo, com Andrew Robertson fechando como terceiro zagueiro. Os dois meias centrais avançam e formam triângulos com os pontas e o centroavante. Os resultados foram bons e ajudaram o Liverpool a reagir. O saldo da temporada, porém, ainda foi bem negativo.
Como foi o mercado do Liverpool?
Principais chegadas:
- Alexis Mac Allister (Brighton)
- Dominik Szoboszlai (RB Leipzig)
Principais saídas
- Roberto Firmino (Al Ahli)
- Jordan Henderson (Al Etiffaq)
- Fabinho (Al Ittihad)
- Naby Keita (Werder Bremen)
- James Milner (Brighton)
- Alex Oxlade-Chamberlain (sem clube)
- Fábio Carvalho (RB Leipzig)
- Calvin Ramsay (Preston North End)
Estava tudo correndo bem. O Liverpool havia contratado dois alvos para a renovação do meio-campo por valores bem razoáveis e estava pensando se levava um terceiro, voltava as atenções para um zagueiro jovem ou simplesmente fechava a lojinha. E aí apareceu a Arábia Saudita, com propostas para os seus três meias veteranos. Thiago, por enquanto, é o único que resistiu, mas Jordan Henderson e Fabinho foram atraídos. Precisa correr contra o relógio para entregar reforços que agora são necessários para Klopp ter o mínimo à disposição para encarar a temporada.
As saídas foram sentidas porque marcam o fim de uma era em Anfield. Jordan Henderson foi o sucessor de Steven Gerrard como capitão e precisou ralar muito para convencer a torcida que estava à altura. Apenas quatro jogadores usaram a braçadeira mais do que o meia que “não sabia correr direito”, segundo a autobiografia de Alex Ferguson. O vácuo de liderança se ampliou com a saída de James Milner, um profissional exemplar que ajudou a instaurar uma mentalidade vencedora nos vestiários – em um momento em que ela estava bastante em falta.
Roberto Firmino foi o segundo integrante do trio de ataque histórico a ir embora, após Sadio Mané, e as despedidas que recebeu na reta final da temporada deixaram claro o quanto as arquibancadas o amam. Fabinho teve uma passagem mais curta, mas ainda importante, e se juntou a outras peças do meio-campo que foram embora, como Alex Oxlade-Chamberlain e Naby Keita, que, por diferentes motivos, não conseguiram entregar o que o Liverpool esperava. A importância do mercado ficou clara nas camisas que ficaram vagas: a 7, a 8, a 9 e a 10.
Essa última foi ocupada por Alexis Mac Allister. Apesar do interesse quase declarado em Jude Bellingham, o garoto queria o Real Madrid e o preço alto demais pedido pelo Borussia Dortmund afastou o Liverpool. Por outro lado, uma pechincha chegou do Brighton. Os valores não foram confirmados, mas os principais veículos ingleses disseram que a cláusula de rescisão de £ 35 milhões foi exercida, com informações conflitantes sobre as variáveis. É um preço baixíssimo por um campeão do mundo que ajudou a acertar o meio-campo da Argentina e que foi o artilheiro da temporada histórica do Brighton.
Mac Allister oferece várias coisas além de vitalidade. É um meia dinâmico e criativo, com passe e chute de fora da área, que o Liverpool não tem desde a saída de Philippe Coutinho para o Barcelona. Formado pelo Argentinos Juniors, também pode atuar como primeiro volante, como no último amistoso de pré-temporada contra o Darmstadt. O ideal, porém, é que fique mais avançado ao lado do outro grande reforço desta janela de transferências. Porque se o melhor meia da Bundesliga estava caro demais, Dominik Szoboszlai é candidato a ter sido o segundo.
A contratação foi relâmpago. O Liverpool abriu dialogo com o RB Leipzig enquanto negociava o empréstimo de Fábio Carvalho. Não foi difícil fechar os termos pessoais com Szoboszlai, mas a taxa de transferência era uma questão mais delicada. Ele tinha uma cláusula de rescisão que expirava no fim de junho e boa parte do valor tinha que ser depositado à vista. O Liverpool tentou dar uma chorada, e no fim se convenceu a pagar o que era necessário por um jogador que Klopp queria muito.
Toda revelação da Alemanha um dia ganha uma matéria sobre o momento em que foi observada por Klopp, mas havia motivos reais para acompanhar Szoboszlai de perto. Ele teve a temporada mais consistente desde que chegou à Alemanha e, embora tenha apenas 22 anos, a maturidade é evidente, tanto que foi eleito pelos colegas capitão da Hungria. Estava atuando mais aberto e é considerado uma opção para a ponta direita quando Mohamed Salah se apresentar ao Egito para a Copa Africana de Nações em janeiro. A sua posição mais regular deve ser pelo lado direito do meio-campo, com Mac Allister pela esquerda, brincando com Salah e Alexander-Arnold.
Deve ter havido um gemido de “outra vez?” quando o Southampton atendeu o telefone para começar a negociar Roméo Lavia com o Liverpool. Os Saints, agora na segunda divisão, forneceram vários talentos a Anfield, como Virgil Van Dijk e Sadio Mané – e outros menos impressionantes como Rickie Lambert e Nathaniel Clyne. Apesar da óbvia necessidade financeira de quem terá que disputar a segunda divisão, três propostas foram rejeitadas, e parece que o Liverpool perdeu a paciência.
Vários meias foram especulados desde o fim da temporada, incluindo Khéphem Turam, do Nice, Manu Koné, do Borussia Mönchengladbach, Ryan Gravenberch, do Bayern de Munique, e mais recentemente, André do Fluminense. Lavia era a prioridade, mas o Liverpool entrou forte na briga por Moisés Caicedo, do Brighton. É possível que o negócio seja fechado ainda antes da estreia no domingo contra o Chelsea – que negociava com o equatoriano há meses.
O valor especulado – recorde de transferências do Reino Unido – mostra quanto o Liverpool valoriza o equatoriano para ser o seu primeiro volante, talvez por mais de uma década. Também torna improvável que busque mais um jogador de meio-campo, após perder Henderson e Fabinho. E menos ainda a possível buscar por mais um zagueiro, também meio necessária. Mas um novo tridente com Caicedo, Szobszlai e Mac Allister seria extremamente apetitoso.
O elenco
Goleiros: Bandeiras do sucesso da era Klopp foram embora, mas Alisson permanece como um bastião de segurança em uma posição que passou tanto tempo negligenciada. Mais do que isso, teve uma das suas melhores temporadas em Anfield, apesar de muitos problemas nos outros setores. Não causa nenhuma preocupação. Na reserva, há a famosa mistura entre o experiente, o espanhol Adrián, de 36 anos, e o jovem. Houve muitos rumores de que Caoimhín Kelleher seria vendido nesta janela para conseguir atuar regularmente em outro lugar. Eles desapareceram no momento, e o irlandês de 24 anos provou várias vezes que está pronto quando for acionado.
Defensores: O próximo setor que precisará passar por renovação é a defesa. Deveria até ter começado. Virgil Van Dijk deu sinais de decadência nos últimos anos, embora continue com moral em alta, eleito o novo capitão após a saída de Henderson. Pode recuperar a antiga forma, mas, aos 32 anos, não será para sempre. Ibrahima Konaté é excelente e continua evoluindo, mas não consegue afastar os problemas físicos. Mostrou qualidade na reta final da última temporada, mas disputou apenas 18 rodadas de Premier League. O Liverpool precisaria se preparar para a possibilidade de não ter um dos dois, e os reservas não passam tanta confiança. Joel Matip teve momentos em Anfield, geralmente alternando entre o razoável e o bom. Está prestes a entrar no último ano do seu contrato. O desenvolvimento de Joe Gomez foi interrompido por muitas lesões, mas pelo menos sua versatilidade ajuda.
Porque, após a saída de Milner e o empréstimo de Calvin Ramsay para o Preston Northe End, Gomez deve voltar à situação familiar de ser o primeiro reserva na lateral direita e o quarto da defesa. Um escudeiro para Alexander-Arnold é uma demanda antiga do elenco do Liverpool. Klopp vira e mexe tem que improvisar quando o novo vice-capitão está machucado ou precisa de um descanso. O outro lado é mais bem resolvido, com Andrew Robertson confortável em sua nova função de terceiro zagueiro, e Kostas Tsimikas como um reserva muito sólido.
Meias: James Milner, Naby Keita e Oxlade-Chamberlain foram dispensados, Fábio Carvalho foi emprestado, e Jordan Henderson e Fabinho, vendidos. Todos esses jogadores atuavam ou poderiam atuar no meio-campo. Logo, há uma necessidade óbvia de trazer mais alguns. Mac Allister e Szoboszlai foram um ótimo início e certamente chegará um novo primeiro volante até o fim da janela de transferências. E se for Caicedo, o novo trio titular está definido. Mas mesmo com ele, Klopp não tem tantas opções de apoio.
Durante a pré-temporada, testou Curtis Jones como camisa 5 (na Inglaterra, camisa 6) e até conseguiu bons resultados, embora claramente não seja sua melhor posição. Alexander-Arnold também foi experimentado diretamente como meia, e Mac Allister teve sua experiência no último amistoso. Stefan Bajcetic foi uma das poucas boas notícias da última temporada e pode ser um reserva importante. Mas tem apenas 18 anos e está machucado. Thiago também está machucado. Thiago sempre está machucado. Não dá para montar o elenco esperando que não esteja.
Se Caicedo chegar, o salto de qualidade será notável e todo mundo estará mais livre para se encaixar nas outras duas posições. Mac Allister e Szoboszlai devem ser os titulares, com muitas potenciais oportunidades para os garotos Curtis Jones e Harvey Elliott, que sempre impressiona pela energia inesgotável quando entra em campo. Na necessidade, Klopp também testou Cody Gakpo como o meia-esquerda, o que pode ser uma alternativa para encaixar todo o talento acumulado na linha de frente.
O plano do Liverpool era ter um núcleo experiente (Henderson, Fabinho e Thiago) e um jovem (Szoboszlai, Mac Allister e talvez Roméo Lavia ou outro reforço). Os planos mudaram. Agora deve ter um núcleo jovem (Szoboszlai, Mac Allister e Caicedo) e um muito jovem (Bajcetic, Jones e Elliott), embora todo mundo tenha mais ou menos a mesma idade.
Atacantes: O Liverpool manteve Mohamed Salah, o único do tridente que renovou contrato, e rechaçou abordagens da Arábia Saudita. Segue como a referência de um setor ofensivo bastante modificado, mas com cinco jogadores de alto nível. E, sim, estou contando Darwin Núñez, apesar de uma temporada de estreia de altos e baixos. O atacante de 24 anos foi contratado sob o peso de substituir Sadio Mané, por um preço altíssimo e arranjou uma expulsão boba em suas primeiras partidas. Ficou clara a ansiedade quando retornou. Ele conseguiu atuar de maneira mais leve quando foi deslocado ao lado esquerdo, sem tanta responsabilidade de fazer gols.
Luis Díaz será praticamente um reforço. Passou meses afastado por problemas físicos e já começou a lembrar o que pode fazer na pré-temporada. É um ponta esquerda de alto nível para refletir o que Salah produz pela direita, o que deixa Klopp com uma vaga sobrando para negociar entre Núñez, o versátil Cody Gakpo e o irritantemente eficiente Diogo Jota, que deve ter a dianteira. Há várias maneiras de armar o ataque. Nenhuma delas será um problema: o Liverpool deve continuar devastador.
O técnico
Jürgen Klopp é frequentemente comparado com Bill Shankly, o pai do Liverpool moderno, que tirou o clube da segunda divisão, conquistou títulos e instaurou métodos de trabalho que perduraram por décadas. Não é à toa porque Klopp fez mais ou menos a mesma coisa. E como Shankly, talvez tenha demorado demais para perceber que o seu time precisava de uma renovação mais profunda. Ao mesmo tempo, era difícil tomar essa decisão depois de uma temporada em que quase conquistou os quatro títulos mais importantes e agora terá que acelerar o processo.
São poucos que têm a oportunidade de montar um grande esquadrão em um clube como o Liverpool. Klopp fez por merecer o direito de tentar montar um segundo e está garantido até 2026 para comandá-lo, apesar dos absurdos rumores de que corria risco de demissão ou de que abandonaria Anfield para treinar a seleção alemã. Mais do que nunca, o próximo Liverpool será muito diferente daquele que foi campeão inglês, europeu e mundial. A fita foi rebobinada. Klopp não parte de uma folha em branco como quando substituiu Brendan Rodgers em 2015, mas precisará encaixar todas as novas peças, ainda buscar outras, desenvolver jovens jogadores e recolocar o Liverpool no primeiro patamar do futebol europeu.
Conseguirá? Nada indica que não porque nada indica que ele deixou de ser o segundo melhor técnico do mundo.
Expectativa para a temporada
Quando era uma questão de apenas acrescentar alguns meias jovens a um núcleo duro de jogadores experientes, era razoável esperar que o Liverpool voltaria à disputa pelo título imediatamente. Camisa não falta. Técnico não falta. Estrutura não falta. Jogadores não faltavam. Mas a Arábia Saudita transformou a evolução do meio-campo em uma revolução e, mesmo com um possível novo trio titular de altíssima qualidade, todos precisarão de pelo menos algumas semanas para se adaptarem. A experiência de tentar acompanhar o Manchester City diz que isso pode ser fatal. De qualquer maneira, o desempenho na reta final da última Premier League, os reforços e o retorno em tempo integral de Luis Díaz colocam o Liverpool como um dos favoritos à classificação à Champions League. Quase uma obrigação recuperá-la, mesmo que a briga esteja mais forte do que nunca. Para ir além disso, dependerá do quão rápido Klopp conseguirá desenvolver seu novo meio-campo.
Manchester City – Como aperfeiçoar a perfeição?
Como foi a última temporada?
- Posição: 1º lugar
- Gols a favor: 94
- Gols contra: 33
- Campanha em casa: 17V, 1E, 1D (melhor)
- Campanha fora: 11V, 4E, 4D (2ª melhor)
A temporada começou com uma premissa perigosa: e se o melhor centroavante do mundo jogasse no time que melhor cria chances no mundo? O casamento entre Erling Haaland e Manchester City tinha o potencial de acabar com a competição. E, no fim, foi o que aconteceu – em todas as competições. Demorou um tempo porque ambos precisavam se conhecer melhor, mas, quando Guardiola descobriu a maneira de integrá-lo ao seu jogo coletivo, não teve mais para ninguém.
A equação não era fácil e precisou do melhor técnico do mundo para resolvê-la. O Manchester City de Guardiola foi (e é) tão perigoso porque nunca precisou de indivíduos para criar situações claras com consistência. Elas emanam de um sistema que mantém seus princípios, mas está em constante mutação. O Barcelona de Xavi, Iniesta e Lionel Messi era diferente do Bayern de Munique, mais incisivo e forte. O seu primeiro grande Manchester City foi diferente do time campeão ao qual Haaland tinha que se encaixar. Jogava sem centroavante de ofício, gerando superioridade pelo excesso de meias.
A entrada de Haaland significava trocar um desses meias por um jogador excepcional, mas que não tem tanto interesse pelo departamento de criação. Houve jogos no começo da campanha em que não teve nenhum. Mal tocou na bola. Era como se houvesse duas unidades operando separadamente: o centroavante e o time. Era uma briga contra a memória muscular porque os meias do City estão acostumados a cozinhar mais o jogo, trocar passes para todo mundo se posicionar, e o instinto de Haaland é partir em velocidade nas costas da zaga.
Logo, era necessário um minuto ou dois para que eles se acertassem, e é bom ressaltar que, mesmo durante esse processo, Haaland quebrava recordes. Marcou três hat-tricks nas primeiras nove rodadas. Terminou o primeiro turno com 20 gols. Então não é que estava tudo ruim, mas o Manchester City apresentava uma estranha irregularidade. O time famoso por sequências históricas de vitórias chegou a meados de fevereiro sem nenhuma maior que três rodadas pelo Campeonato Inglês.
Havia empatado quatro vezes e perdido outras quatro. Em outras circunstâncias, não chamaria a atenção. Mas, repito, estamos falando de uma máquina que foi campeã duas vezes com 32 vitórias em 38 rodadas. A diferença para a ponta não era tão grande assim, e o maior risco ao título do Arsenal era se Guardiola conseguisse reconstrui-la a tempo. E adivinha o que aconteceu? Ele a reconstruiu a tempo.
O Manchester City ganhou todas as rodadas entre a 25ª e a 36ª, no fim, sendo campeão com duas de antecedência, antes de entrar em campo para enfrentar o Chelsea. Durante a arrancada, goleou o Liverpool e o próprio Arsenal, no confronto direto que matou de vez o espírito e as chances reais dos Gunners. Enquanto isso, preparava-se para conquistar a Copa da Inglaterra – derrotando o Manchester United na final – e a tão aguardada Champions League.
E qual foi a solução de Guardiola? A chave foi dar um papel híbrido para John Stones. Sem a bola, ele fechou como um lateral direito ou um zagueiro. Com ela, se aproximou de Rodri no meio-campo, atrás de De Bruyne e Gündogan, com Bernardo Silva e Jack Grealish também operando em uma função dupla (ala e ponta) pelos lados. Desistiu de ter um lateral esquerdo de origem, tanto que Cancelo foi despachado ao Bayern de Munique, e fixou Nathan Aké ou Manuel Akanji. No fim, preencheu aquela ausência de um meia conjurando outro quase do nada e fez as compensações necessárias em outras posições. Não é à toa que Guardiola é o melhor técnico do mundo.
O mercado
Principais chegadas:
- Josko Gvardiol (RB Leipzig)
- Mateo Kovacic (Chelsea)
Principais saídas:
- Ilkay Gündogan (Barcelona)
- Riyad Mahrez (Al Ahli)
- Benjamin Mendy (Lorient)
Há vantagens em ter todo o dinheiro do mundo. Lembra que Guardiola passou a usar zagueiros na lateral esquerda? Então foi ao mercado e pagou o que precisou para contratar o jovem (talvez até de qualquer idade) que melhor sabe fazer as duas funções. Josko Gvardiol tem apenas 21 anos e garante a sucessão na defesa, além de ser perfeito como lateral sem a bola e terceiro zagueiro com ela. Exerceu a primeira função em uma Eurocopa pela Croácia e foi um dos melhores na segunda na última Copa do Mundo.
Gvardiol foi o destaque do mercado do City por enquanto porque há pouca coisa que você pode melhorar após conquistar a Tríplice Coroa. A outra contratação foi uma reposição. Não uma mera reposição porque quem saiu foi Ilkay Gündogan, o capitão que levantou todos aqueles troféus, artilheiro do City em um título de Premier League e o primeiro grande reforço de Guardiola. Era um jogador querido e uma liderança clara, mas tinha vontade de viver novas experiências e, como todo mundo que chega ao Camp Nou, sonhava em defender o Barcelona. Saiu sem taxa de transferências ao fim do seu contrato.
Para substituí-lo, o City aproveitou o saldão do Chelsea e fez um ótimo negócio para contratar Mateo Kovacic. Um meia de elite que esteve em todos os grandes palcos do futebol mundial. Aos 29 anos, precisará aprender um pouco da linguagem específica do estilo de Guardiola, mas foi uma contratação para manter o nível lá em cima. Tem características um pouco diferentes, mais do passe e do controle, e menos da chegada à área como Gündogan.
O City não passou imune pela blitzkrieg da Arábia Saudita e se despediu de Riyad Mahrez, um dos seus jogadores mais regulares, mas que havia perdido espaço desde a reformulação do sistema tático. O interesse em Lucas Paquetá não seria para o seu lugar (ou seria, com Guardiola nunca se sabe), mas para reforçar o meio-campo. Kevin de Bruyne está cada vez mais sujeito a problemas físicos, e Bernardo Silva ameaça ir embora. Houve interesse prévio em Jude Bellingham (Real Madrid) e Declan Rice (Arsenal) que não se concretizou. Paquetá tem as qualidades técnicas para brilhar com Guardiola e exerceu até uma função mais recuada no West Ham, embora seja um pouco errático.
O elenco
Goleiros: Guardiola resolveu a posição para por pelo menos uma década quando contratou Ederson em 2017. Ele ou Alisson como titular da seleção brasileira pouco importa porque qualquer um dos dois é um dos melhores goleiros da Premier League e do mundo. Ederson tem mais qualidade com a bola nos pés e de vez em quando também se destaca por assistências com uma reposição muito precisa. Stefan Ortega é seu principal escudeiro, com a ajuda do veteranaço Scott Carson.
Defensores: Houve uma época em que faltavam zagueiros para o Manchester City. Agora que na prática joga com três (ou até quatro) conta com seis. Ou sete. O melhor deles é Rúben Dias, uma contratação certeira que já mostrou nível de melhor do mundo e ainda tem 26 anos. O mais importante é Stones pela função híbrida que começou a fazer, apoiando Rodri na saída de bola. Gvardiol e Aymeric Laporte oferecem muita versatilidade pela esquerda, ambos confortáveis também com a lateral. Nem chegamos a Nathan Aké e Manuel Akanji que tiveram papéis coadjuvantes importantes na Tríplice Coroa.
Guardiola, porém, gosta de trabalhar com elencos curtos e não seria uma surpresa se um deles fosse negociado até o fim da janela. Nem se o prata da casa Taylor Harwood-Bellis, que contribuiu ao acesso do Burnley de Vincent Kompany, encontrasse outra casa temporária. Esse excesso de zagueiros diminui o espaço dos laterais. Kyle Walker ainda tem o seu porque faz um trabalho defensivo espetacular e até tem experiência de ser zagueiro pela seleção inglesa. O garoto Rico Lewis ganhou minutos na reta final da Premier League e pode tentar comer mais alguns. Se ficar, é mais provável ver Sergio Gómez pela ala esquerda do que na defesa.
João Cancelo é um problema. Ele tem contrato até 2027 e passou o segundo semestre no Bayern de Munique depois de expressar insatisfação pelo papel que estava tendo. Isso nunca pega bem com Guardiola, cuja política é que a porta é serventia da casa para quem quiser ir embora. Mas é caro e tem um estilo de jogo muito específico para encontrar um novo time com facilidade.
Meio-campo: Rodri está exausto. Teve a temporada da sua vida, respondendo todas as questões em uma função vital para Guardiola, e marcou o gol do título europeu. Deixou escapar que nunca tem descanso suficiente e que jogar 60 vezes por temporada não é saudável. O cerne do problema é que o volante contratado para lhe dar um alívio foi criticado em público por Guardiola porque não estava em forma física adequada e é muito incerto se Kalvin Phillips conseguirá recuperar a moral – ou ganhar alguma.
Mesmo que não seja tão eficiente quanto Rodri, Kovacic também pode exercer a função de primeiro volante e há todo o potencial de Maximo Perrone que, por enquanto, ainda não foi emprestado. Mais à frente, uma das posições é de Kevin de Bruyne, apesar dos sinais recentes de desgaste físico. A promessa é que Phil Foden tenha um papel maior nesta temporada (uma promessa que ele já ouviu outras vezes). Isso poderia acontecer por dentro ou pelos lados, trazendo Bernardo Silva para dentro.
Uma das grandes revelações da última temporada do Manchester City foi o desempenho de Jack Grealish, que conseguiu se acomodar em um papel mais coadjuvante, depois de mandar prender e mandar soltar em Birmingham, e até caiu nas graças da torcida pela sua atuação na festa da Tríplice Coroa – e por algumas em campo também.
Atacantes: A esta altura não tem muito mais o que falar sobre Erling Haaland, o homem que mais gols marcou em uma única edição da era moderna do Campeonato Inglês. É um sistema ofensivo de um homem só, capaz de fazer gols de todos os jeitos: com as duas pernas, com a cabeça, correndo por trás da zaga, pegando a sobra dentro da área, enchendo a bomba ou batendo colocado. Quando precisar descansar, o City pode contar com Julián Álvarez, e é um luxo ter um dos melhores jovens da Copa do Mundo como segunda opção.
O técnico
Guardiola disse em entrevista ao site da Uefa que terão que procurar outro argumento para criticá-lo, agora que ele finalmente entregou o título que faltava. Do jeito que ele fala às vezes parece que havia uma multidão com tochas e facas na porta do Etihad Stadium cobrando a conquista da Champions League. Havia, sim, questionamentos, alguns exagerados, outros justos, porque esse sempre foi o principal objetivo do projeto e nunca faltou nada: nem dinheiro, nem qualidade, muito menos treinador. Sem a Champions, sua passagem nunca seria uma fracasso, mas haveria uma lacuna – o que o próprio admitiu.
Ela foi preenchida com honras porque, além do título europeu, Guardiola completou a segunda Tríplice Coroa da sua carreira. Também conseguiu o primeiro tricampeonato inglês desde o Manchester United de Alex Ferguson e levou cinco edições da Premier League em seis anos. Tudo isso para dizer que daqui para frente tudo é lucro porque um lugar especial na história da Inglaterra e do City está garantido.
Novamente, as conquistas tiveram as suas impressões digitais. Ele resolveu a equação para encaixar Erling Haaland sem perder a força coletiva e tirou do chapéu uma nova formação tática que funcionou muito bem. Insaciável, deve estar analisando vídeos do esquema do Brentford, o único time que não venceu no Campeonato Inglês – perdeu as duas, aliás, o futebol é meio inexplicável -, e preparando novidades para aumentar as conquistas no que, pelas últimas especulações, devem ser seus últimos dois anos como o maior técnico da história do Manchester City.
Expectativa
O Manchester City acaba de conquistar três títulos, então talvez ganhar quatro? Na prática, porém, o desafio será não cair na complacência, o que às vezes acontece com times tão bem-sucedidos, e continuar tentando atingir o perfeccionismo de Guardiola. Parte como o principal favorito à Premier League e está na posição de atingir (mais) um feito inédito: o tetracampeonato inglês. Nenhum time em quase 150 anos conseguiu.
Manchester United – Finalmente um caminho
Como foi a última temporada?
- Posição: 3º lugar
- Gols a favor: 58
- Gols contra: 43
- Campanha em casa: 15V, 3E, 1D (2ª melhor)
- Campanha fora: 8V, 3E, 8D (5ª melhor)
Foi estranha. O Manchester United foi goleado pelo Brentford, sofreu a maior derrota da história do clássico com o Liverpool, levou 6 a 3 do Manchester City – e estava 6 a 1 a cinco minutos do fim –, foi eliminado exibindo um “déficit de vontade” pelo Sevilla na Liga Europa e o saldo ainda foi… positivo? Foi, porque também entregou um título, uma vaga na Champions League e, principalmente, enfim um caminho claro a seguir, o que lhe faltava desde a aposentadoria de Alex Ferguson.
Foi uma temporada positiva. Não foi uma temporada fácil. Erik ten Hag perdeu seus dois primeiros jogos. O segundo foi tão feio, uma goleada por 4 a 0 para o Brentford, que ele convocou os jogadores para correrem no dia seguinte a distância que o adversário havia percorrido a mais durante a partida. Aparentemente deu certo porque o próximo compromisso foi uma vitória contra o Liverpool e, pouco depois, outra contra o Arsenal, que havia começado o Campeonato Inglês em estado de graça.
E de repente: pimba. O Manchester City abriu 6 a 1, e dois gols no fim de Anthony Martial apenas diminuíram um pouco o vexame. A sequência até a pausa da Copa do Mundo foi errática e trouxe um probleminha extra. Cristiano Ronaldo precisou ser afastado após deixar o banco de reservas antes do fim do jogo contra o Tottenham. Foi reintegrado uma semana depois, mas não teria vida longa. Pouco antes do início do Mundial, deu uma entrevista bombástica, deixando claro que não respeitava o técnico. Era o fim da linha de um grande ídolo de Old Trafford, que negociou sua rescisão e foi para a Arábia Saudita.
A ausência de Cristiano Ronaldo foi uma benção – e nem foi daquelas que você não percebe. Era claro desde os tempos de Solskjaer que a produção ainda alta de gols do português não compensava a ausência de energia para pressionar. As compensações precisavam ser extremas demais para encaixá-lo. Ten Hag provavelmente sabia disso porque desde o princípio o considerou um reserva. Agora, não precisaria nem lidar com um ego historicamente gigantesco e poderia simplesmente montar o seu time.
A saída do português também abriu espaço para que Marcus Rashford assumisse as rédeas. Ele retornou da Copa do Mundo pegando fogo e marcou em nove das dez rodadas depois da retomada. O Manchester United ganhou quase todos esses jogos, menos três, e começou a se consolidar no G4.
Paralelamente, Rashford deixou sua marca na Copa da Liga Inglesa e contribuiu para o primeiro título dos Red Devils desde 2017. Castigou Burnley, Charlton (quartas de final), Nottingham Forest (semifinal) e Newcastle (final). Pela Liga Europa, o Manchester United conseguiu uma vitória enorme sobre o Barcelona, em um duelo equilibrado entre dois gigantes que estão tentando reencontrar o caminho.
E de repente: pimba. O claudicante Liverpool encaixou uma partida fabulosa em Anfield e conseguiu a maior vitória da história do clássico. O 7 a 0 tinha o potencial de causar sérios efeitos psicológicos em um elenco que apenas começava a ganhar confiança. A resposta foi uma goleada sobre o Betis, mas os tropeços continuaram na Premier League. Um pimba menorzinho foi a eliminação para o Sevilla, deixando a vantagem de dois gols evaporar em Old Trafford antes de ser dominado no Ramón Sánchez Pizjuán.
O Liverpool havia começado a reagir e pressionar o Manchester United, que contribuiu para a causa do rival com três tropeços em quatro rodadas, empatando com o Tottenham e perdendo de Brighton e West Ham. Mas quando precisou, o United não vacilou mais e ganhou as últimas quatro rodadas para assegurar a sua vaga, ainda com oito pontos de gordura. Grandes vexames foram abundantes demais, mas, olhando para o copo cheio, o Manchester United reagiu bem a todos eles e conseguiu se manter concentrado no principal objetivo.
O mercado
Principais chegadas
- Mason Mount (Chelsea)
- Rasmus Hojland (Atalanta)
- André Onana (Internazionale)
Principais saídas
- Anthony Elanga (Nottingham Forest)
- Alex Telles (Al Nassr)
- Phil Jones (sem clube)
- Axel Tuanzebe (sem clube)
- David de Gea (sem clube)
O que o Manchester United fez com um jogador da importância de De Gea não se faz. Depois de uma longa negociação, o goleiro aceitou uma drástica redução salarial, mas o clube retirou a proposta, segundo o The Athletic. Há 12 anos no clube, em muitos deles a única coisa que funcionava, herói em tempos sombrios, ele merecia um pouquinho mais de respeito.
Isso posto, a troca por André Onana não é desinteressante. O camaronês causou confusão na Copa do Mundo, mas foi um dos pilares da caminhada da Internazionale à final da Champions League. Conseguiu deixar para trás o tempo afastado por ter falhado em um exame antidoping e atingiu o nível que se esperava quando surgiu no Ajax. Ainda tem 27 anos e é excelente com a bola nos pés, em contraste direto com De Gea. Deve se encaixar muito mais naturalmente ao estilo de jogo de Erik ten Hag.
Onana não foi barato, perto de € 50 milhões. Os outros reforços também não e representam um risco maior. Mason Mount nem tanto porque, embora associado a um rival (autor da assistência do gol do último título europeu do Chelsea), a queda de rendimento recente pode ser atribuída ao caos que tomou conta de Stamford Bridge. No geral, sempre foi um meia sólido, com finalização apurada e capacidade de jogar tanto como um meia central quanto como um meia-atacante. Às vezes até pelos lados.
A aposta quase cega que o Manchester United fez foi em Rasmus Hojland. Ele é comparado com Erling Haaland porque tem características físicas parecidas e, sei lá, porque ambos nasceram na Escandinávia. A experiência do garoto de 20 anos é muito menor. Ele tem 27 gols em toda sua carreira profissional por clubes, mais ou menos o que Haaland havia marcado até janeiro pelo Manchester City, e sua única temporada em uma grande liga europeia foi a última, pela Atalanta. Mostrou bastante potencial, embora não tenha sido muito efetivo. Mas pular disso para ser o centroavante do Manchester United, sob a pressão de € 75 milhões, é uma tarefa completamente diferente.
Uma contratação, entre aspas, curiosa foi a de Jonny Evans. Dispensado pelo rebaixado Leicester, o veterano acertou um contrato de curto prazo com o Manchester United, no qual passou sete anos antes de sair para o West Brom. A duração do vínculo não foi especificada, mas presume-se que tenha sido apenas para a pré-temporada. Por via das dúvidas, Ten Hag o elogiou bastante.
Entre as outras saídas, além de De Gea, a mais relevante foi a de Phil Jones, uma relíquia da Era Ferguson. Ele mal jogou nos últimos três anos. Nem entrou em campo no último por problemas físicos. Prata da casa, e uma das poucas boas notícias do trabalho de Ralf Rangnick, Anthony Elanga foi vendido para o Nottingham Forest em busca de mais tempo de jogo.
O elenco
Goleiros: As vias não foram ideias, mas é verdade que De Gea dava sinais de decadência há algum tempo. E mesmo se de vez em quando encaixasse alguns milagres, o seu jogo com os pés nunca foi ideal para o futebol moderno – pergunta para a Espanha. Em Onana, Ten Hag terá um goleiro mais apto a fazer o que ele precisa que seus goleiros façam. E mais jovem. Dean Henderson retornou de empréstimo, mas negocia uma saída em definitivo, o que deve deixar a posição de reserva para o eterno Tom Heaton.
Defensores: Lisandro Martínez sanou as dúvidas sobre se tinha tamanho para a Premier League de uma maneira muito simples: pulou muito, muito alto. Além da impulsão, a ferocidade e a coragem o transformaram quase imediatamente em um favorito das arquibancadas. E ainda tem qualidade com a bola nos pés e pode ser lateral esquerdo. O Manchester United encontrou a sua dupla de zaga ideal com o argentino e Raphaël Varane, cuja lesão em abril causou sérios problemas. Victor Lindelöf será o primeiro reserva. E depois meio que não tem mais ninguém.
Isso porque é provável que Harry Maguire seja vendido. Ele perdeu a braçadeira de capitão e atraiu o interesse do West Ham, talvez do Everton. Caso saia, o que a esta altura seria bom para todo mundo, o Manchester United precisará trazer mais um reserva porque os outros zagueiros sob contrato são garotos ou Eric Baily, prestes a ser negociado – também pode apenas estender Jonny Evans e pronto. Na emergência, Luke Shaw pode ser zagueiro, mas seria uma pena tirá-lo da lateral esquerda porque, após muitos altos e baixos, ele se firmou como um dos melhores do país na posição.
Tyrell Malacia ainda precisa crescer para ser um concorrente sério a Shaw. Mostrou fragilidades nas chances que teve. O garoto Brandon Williams, se ficar, pode ser opção sólida nos dois lados. Na direita, Wan-Bissaka ganhou mais chances na pré-temporada, mas ainda aposto que Diogo Dalot é o favorito.
Meias: Se você quiser ser bastante cínico, pode dizer que o trabalho de Ten Hag pouco importou. O que mudou o destino do Manchester United foi a contratação de Casemiro. Eu não sou adepto dessa tese, mas confesso que às vezes ela é tentadora. Jogadores do status do brasileiro quase nunca ficam disponíveis e ficou claro por quê. Ele assumiu a liderança do meio-campo quase imediatamente. Assumiu até a espiritual, com mentalidade vencedora e força de vontade ímpares. Chegou um momento que passou até a resolver na frente, e ficou clara a falta que fez nos sete jogos em que cumpriu suspensão.
Casemiro será titular. Em seguida, Ten Hag pode armar seu meio-campo de várias maneiras, embora a provável saída de Fred e a disponibilidade de talvez vender Scott McTominay para o West Ham indiquem que não está muito inclinado a usar dois volantes. O principal parceiro do brasileiro foi Christian Eriksen. Ele também foi uma ausência sentida quando se machucou no começo do ano. Mas, agora, o holandês pode escalar Mason Mount como segundo homem de meio-campo ou mais avançado como camisa 10. Ou pela direita. O mesmo se aplica a Bruno Fernandes, ainda a referência técnica dos Red Devils.
Atacantes: Vamos pressupor que Ten Hag não escalará Casemiro, Eriksen, Mount e Bruno Fernandes juntos o tempo todo. Nesse cenário, restam três vagas a serem preenchidas. Uma delas será de Marcus Rashford. Se Hojlund conseguir se firmar como um atacante pelo menos competente, Rashford será aberto pela esquerda, onde prefere jogar. Se Hojlund não conseguir, deve ser o centroavante, com Jadon Sancho ganhando chances pelo lado, porque nunca dá para confiar na condição física de Anthony Martial. Alejandro Garnacho é uma injeção de juventude. A direita deve ser majoritariamente de Antony, a menos que Ten Hag prefira um meia por ali ou inverta Sancho.
O técnico
Dê certo ou dê errado, Erik ten Hag era exatamente de quem o Manchester United precisava, e isso tem pouca coisa a ver com seu conhecimento tático. A cultura que Alex Ferguson construiu durante mais de duas décadas parecia completamente deteriorada. Colocar os caras para correr 14 kms depois de serem goleados pelo Brentford pode parecer um método antiquado de treinamento, mas passou a mensagem certa: este é um clube grande demais, esta camisa é pesada demais, e o mínimo para jogar aqui é entregar tudo de si. Se os jogadores do Brentford conseguem correr mais, vocês também.
Ten Hag fez com que Cristiano Ronaldo o que o seu antecessor, o simpático Ole Gunnar Solskjaer, provavelmente não teria coragem de fazer: colocá-lo no banco de reservas e bancar a decisão mesmo quando o astro começou a dar chilique. A rescisão de contrato foi um alívio para o holandês, que sempre passou mensagens contraditórias sobre o quanto gostaria de treiná-lo em Old Trafford. Todas as derrotas pesadas – e houve mais de uma – foram tratadas com sinceridade nas entrevistas coletivas, sem medo de puxar a orelha. Por exemplo, que o déficit de vontade contra o Sevilla foi inaceitável e que o segundo tempo contra o Liverpool não foi profissional.
Ele acertou no diagnóstico. Os pormenores táticos são importantes, e o Manchester United foi, finalmente, um time coeso que persegue o desenvolvimento de uma ideia, mas a prioridade era criar um ambiente de exigência e profissionalismo nos vestiários. E, então, a grande notícia: parece que os jogadores responderam às cobranças porque não conseguem parar de elogiá-lo e sempre reagiram depois dos piores momentos. Ten Hag ainda provará se é o técnico que o Manchester United merece. Mas certamente era o técnico que o Manchester United precisava.
Expectativa para a temporada
O começo de Erik ten Hag mostrou tantos bons sinais quanto pontos que precisam melhorar – não levar uma goleada por trimestre, por exemplo. Existem objetivos concretos, como tentar brigar de verdade pelo título, mesmo que ele não venha, como aconteceu com o Arsenal. A vaga na Champions League precisa ser confirmada porque a Liga Europa seria um passo atrás para um projeto promissor. O Manchester United precisa principalmente ser um time de futebol melhor do que foi na última temporada para mostrar que continua no caminho certo. E ser vendido logo. A torcida ficou em êxtase quando os Glazers anunciaram que estão abertos a negócios. Mas isso foi em novembro e ainda nada aconteceu. É possível que ela comemorasse mais a saída definitiva dos americanos do que outro título da Copa da Liga. Da Premier League não arrisco, mas ainda assim…
Newcastle – A Arábia Saudita abre as asinhas
Como foi a última temporada?
- Posição: 4º lugar
- Gols a favor: 68
- Gols contra: 33
- Campanha em casa: 11V, 6E, 2D (5ª melhor)
- Campanha fora: 8V, 8E, 3D (3ª melhor)
O Fundo Soberano da Arábia Saudita teve a oportunidade de aprender com os exemplos de Manchester City e Paris Saint-Germain, que também ficaram multi-milionários do dia para a noite, e preferiu adotar outra estratégia: investir com cautela em vez de encontrar maneiras de fraudar o Fair Play Financeiro para injetar dinheiro no clube. O progresso do Newcastle foi impulsionado por um novo poder de compra, mas ele não foi decisivo para a classificação à Champions League. Isso torna o feito de Eddie Howe colossal.
Desde que o Everton foi quarto colocado em 2004/05, apenas um clube que não integra o famoso Big Six conseguiu terminar a Premier League no G4, e o Leicester campeão inglês foi nada menos que um milagre. O recorte é viciado porque o grupo de elite flutuou nesse período. O Manchester City ficou rico pouco depois. O Tottenham demorou a se estabelecer. O Liverpool e o Arsenal passaram alguns anos fora da Champions League. Mas ainda dá a medida da dificuldade do que o Newcastle conseguiu.
Houve investimento para que isso acontecesse, mas ele não foi muito maior que o do West Ham ou do Aston Villa. Na prática, o elenco do Newcastle esteve mais próximo do segundo pelotão da Premier League do que do topo. A presença da Arábia Saudita ajudou a convencer jogadores do calibre de Bruno Guimarães, Alexander Isak, e agora Sandro Tonali, a acreditarem no projeto. Tirou o clube da austeridade forçada sob o comando de Mike Ashley e o colocou no jogo que outros médios e pequenos já estavam disputando, com poderio financeiro de tirar talentos de clubes maiores de outras ligas.
Como o exemplo recente do Everton demonstrou didaticamente, esse é apenas o primeiro passo, uma abertura, e o projeto esportivo faz toda a diferença. Eddie Howe chegou sob desconfianças justas pela experiência limitada a um clube como técnico de alto nível e logo as respondeu, evitando o rebaixamento, com a ajuda, aí sim, de um mercado de inverno bem robusto. Bastaram mais alguns reforços pontuais para brigar de fato por vaga na Champions League e, apesar de alguns sustos, selou-a com uma rodada de antecedência, com um empate por 0 a 0 com o Leicester.
O Newcastle venceu apenas uma das primeiras sete rodadas, mas logo engrenou. Completou um excelente primeiro turno em terceiro lugar e isso porque empatou os dois jogos da virada do ano. Esse foi o começo de uma oscilação importante em que ganhou apenas uma vez em oito partidas pelo Campeonato Inglês, mas mostrou maturidade ao se recuperar com louvor: oito vitórias em nove rodadas, com direito a goleadas enfáticas sobre Tottenham (6 a 1), West Ham (5 a 1) e Everton (4 a 1).
Nada mal para um time que não teve um ataque tão potente – o segundo pior entre os oito primeiros. O poder de fogo melhorou com o retorno de Isak, que passou a metade inicial da temporada machucado. O Newcastle ainda correu alguns riscos porque perdeu do Arsenal e empatou com o Leeds na reta final, pressionado pela arrancada do Liverpool. A goleada sobre o Brighton foi acima de tudo uma mensagem de que não deixaria a vaga escapar e aí faltavam apenas de alguns pontinhos para a classificação.
O mercado
Principais chegadas:
- Sandro Tonali (Milan)
- Harvey Barnes (Leicester)
- Tino Livramento (Southampton)
Principais saídas:
- Allan Saint-Maximin (Al Ahli)
- Chris Wood (Nottingham Forest)
- Jamal Lewis (Watford)
Poucas contratações escancararam tanto o poder financeiro da Premier League quanto a de Sandro Tonali. Claro que o Newcastle ofereceu mais dinheiro, mas foi tanto, tanto dinheiro que ele decidiu trocar um gigante europeu, recentemente semifinalista da Champions League, no qual poderia se tornar uma bandeira e talvez um futuro capitão, por um projeto ainda nos estágios iniciais. Esse é com certeza um reforço que um clube que não é financiado pela maior exportadora de petróleo do mundo não conseguiria. Não apenas pela grana em si, mas pelas perspectivas que os donos passam. O preço foi bem carinho também, o segundo reforço de aproximadamente € 70 milhões em janelas consecutivas. Embora ainda limitada pelo Fair Play Financeiro, a Arábia Saudita está de fato começando a abrir as asinhas.
Isso posto, tecnicamente, Tonali é uma contratação incrível. Quando surgiu no Brescia, era comparado a Andrea Pirlo, que também começou naquele clube e porque os dois têm cabeleiras parecidas – o visual importa. Questionado, rebateu que seu estilo se assemelha mais ao de Gennaro Gattuso, outro ídolo do Milan. De fato, é um meia de muita intensidade, capacidade de marcação e preenchimento de espaço, mas tem uma técnica mais apurado que Gattuso. Se não bate tão bem na bola quanto Pirlo (como quase todos os outros jogadores da história), consegue ditar o ritmo e fazer a saída de bola.
O Newcastle aproveitou a liquidação do rebaixado Leicester para levar Harvey Barnes. Na prática, é uma reposição direta a Allan Saint-Maximin – que outro clube sob o controle do Fundo Soberano da Arábia Saudita fez o favor de comprar. Barnes oferece um teto mais alto aos 25 anos e ainda conta como um jogador formado na Inglaterra para a inscrição na Champions League. Promissor desde que estourou, é um ponta menos rápido que Saint-Maximin, mas prende melhor a bola e tem uma boa finalização.
Apontando para o futuro, o Newcastle contratou um escudeiro para o veterano Kieran Trippier. Tino Livramento está entre os melhores laterais jovens da Inglaterra – e esse é um grupo bem qualificado. Fez as categorias de base no Chelsea, ao qual chegou aos sete anos. Como tantas outras pratas da casa de Stamford Bridge, não ganhou chances e precisou sair para continuar se desenvolvendo. Chegou ao Southampton em 2020/21 e logo começou a se firmar. Uma lesão séria de ligamento em abril de 2022 interrompeu sua evolução e o fez perder quase toda a última temporada. No Newcastle, encontrará um projeto sólido para recuperar o ritmo de jogo com calma.
O elenco
Goleiros: Nick Pope foi contratado para ser titular. E isso era tão claro que Martin Dubrávka, um goleiro que segurou a barra em eras menos gloriosas do Newcastle, preferiu ser reserva no Manchester United. Retornou após alguns meses e permanece como uma opção sólida para Pope, cotado por muitos para ser o principal camisa 1 da seleção inglesa à frente de Jordan Pickford. Qualidade para tanto ele tem. Outro membro do departamento é Loris Karius, que ganhou uma chance inesperada de jogar a final da Copa da Liga Inglesa e teve seu contrato renovado por mais uma temporada, ainda tentando deixar para trás o pesadelo que começou no cotovelo de Sergio Ramos naquela final europeia em Kiev.
Defensores: O Newcastle precisará contratar. Pode ser um zagueiro ou um lateral esquerdo porque liberaria Dan Burn, que se tornou titular pelo lado, a ser defensor central em tempo integral. Porque além dele, Eddie Howe conta com apenas três zagueiros adultos. Sven Botman e Fabian Schär formam a sua dupla favorita, com Jamal Lascelles no apoio. Matt Targett é um lateral esquerdo sólido. As outras opções são mais arriscadas, como o garoto Alex Murphy ou Paul Dummett. Mas Howe terá que rodar o seu elenco para administrar uma temporada com Champions League e um pouco mais de qualificação não faria mal. A lateral direita está bem servida com Trippier e Livramento.
Meias: Tonali e Bruno Guimarães, já um ídolo das arquibancadas do St. James Park pelo seu domínio da posição e postura de líder, serão titulares. A briga pela terceira vaga será entre jogadores contratados antes da aquisição da Arábia Saudita. O brasileiro Joelinton foi recuperado por Eddie Howe e tem boas chances de jogar bastante. A concorrência é com Sean Longstaff ou Joe Willock, embora o garoto Elliot Andersen tenha chegado em forma para a pré-temporada e impressionado nos amistosos.
Atacantes: Alexander Isak perdeu quase metade da última temporada e ainda terminou com 10 gols em 22 rodadas. A torcida saliva para ver o que poderá fazer se não se machucar. É importante que ele possa jogar também como ponta esquerda porque abre espaço para Callum Wilson, entre os centroavantes mais confiáveis da história recente da Premier League. Pelos lados, Miguel Almirón é outro reforço da era Mike Ashley que foi recuperado por Howe e leva a dianteira na direita. Harvey Barnes pode muito bem ser titular na esquerda, e se espera evolução de Anthony Gordon. A revelação do Everton foi contratada em janeiro e admitiu que, em um primeiro momento, não entendeu direito que o técnico queria que fizesse. Teve um bom verão, destacando-se no título europeu sub-21 da Inglaterra e em alguns amistosos.
O técnico
Quando a Arábia Saudita chegou, o Newcastle corria o risco de ser rebaixado. Steve Bruce durou pouco no cargo, e a primeira grande decisão do projeto precisava ser tomada. O instinto foi buscar nomes mais fortes. Unai Emery preferiu permanecer no Villarreal. Falava-se de Antonio Conte ou Rafa Benítez, que era adorado pela torcida antes de sair por divergências com Mike Ashley – que apenas o fizeram ser ainda mais adorado. Howe acabou sendo o escolhido e era um risco: havia feito um trabalho fantástico no Bournemouth, mas como se sairia em outro ambiente, sob uma pressão maior?
A dúvida era boa porque ele brilhara apenas em um ambiente específico no qual tinha moral quase infinita pela maneira como tirou o Bournemouth da terceira divisão e o levou a uma estadia prolongada na Premier League. Suas táticas, porém, eram meio suicidas, ofensivas demais. Aproveitou o ano sem trabalhar para aprimorá-las e montou um time equilibrado, que até se apoiou mais em uma forte defesa do que em um sistema ofensivo fluído. O rebaixamento parou de ser assunto em questão de meses, e a vaga na Champions no ano seguinte foi um feito e tanto.
A resposta se é o cara certo para o que o Newcastle precisa virá em etapas. Ele passou pelos dois primeiros testes com nota 10. Agora, terá que lidar com uma temporada dividindo atenções com a Champions League, buscando uma campanha relevante sem perder terreno na Premier League. Em breve, precisará buscar títulos porque faz tempo que o Newcastle não conquista um desses.
Expectativa para a temporada
O essencial ao Newcastle é manter o seu status de Champions League para continuar evoluindo. Isso será mais difícil. O Liverpool ameaçou a sua vaga e a ideia é que não comece tão mal desta vez. Chelsea e Tottenham ficaram melhores, e o Aston Villa somou mais pontos desde que contratou Unai Emery. O elenco está mais qualificado e, ao mesmo tempo, o calendário ganhou duelos difíceis e viagens ao continente. Nesse cenário, outra campanha entre os quatro primeiros seria um sucesso, desde que nada de estranho aconteça na Champions. Nas horas vagas, seria interessante dar um pouco de atenção para as copas inglesas porque faz 54 anos que o Newcastle não é campeão de alguma coisa.
Nottingham Forest – Colocando o pé no freio
Como foi a última temporada?
- Posição: 16º lugar
- Gols a favor: 38
- Gols contra: 68
- Campanha em casa: 8V, 6E, 5D (10ª melhor)
- Campanha fora: 1V, 5E, 13D (pior)
Steve Cooper testou várias formações antes de encontrar a mais eficiente. Você pode criticá-lo por ter demorado tanto e membros da torcida e da diretoria o fizeram. Ou pode entender que ele recebeu 30 reforços entre as duas janelas de transferências e às vezes você realmente precisa de um tempinho para descobrir a melhor maneira de usá-los. O importante, por enquanto, é que ele descobriu.
O retorno do Nottingham Forest, adorado pela comunidade apaixonada mais do que a média por futebol europeu por causa das fábulas dos tempos de Brian Clough, era aguardado há muito tempo. Aconteceu de maneira inesperada, com um quarto lugar após campanhas medíocres na Championship e por meio dos playoffs. A primeira participação do bicampeão europeu na Premier League desde 1998/99 ficou agitada antes da competição começar.
Raramente clubes promovidos buscam o meio termo. Ou contratam em dezenas ou apostam na continuidade do time que conseguiu o acesso. Nenhuma das duas estratégias é uma garantia de sucesso ou fracasso, e o Forest certamente preferiu a primeira porque contratou três dezenas de pessoas. Em certo momento não deu nem mais para entender o que estava fazendo porque chegavam jogadores para posições que já haviam sido preenchidas.
Esse mercado entrou no folclore e também gerou expectativas. Se foi exagerado, realmente trouxe alguns jogadores interessantes. Mas é claro que demorou alguns meses para o Forest parecer pelo menos um esboço de time. Ganhou apenas três vezes nas 18 primeiras rodadas e passou algumas semanas em último lugar. Quando começava a se recuperar, com cinco jogos de invencibilidade em janeiro, mais reforços chegaram, incluindo a turminha do Palmeiras. Gustavo Scarpa deu bons sinais no começo e depois desapareceu. Danilo tomou a trajetória oposta.
A partir de fevereiro, o Forest embarcou em uma sequência negativa de 11 partidas sem vencer que parecia ter selado seu destino. Àquela altura, Steve Cooper havia tentado de tudo: três zagueiros com três meias e dois atacantes, 4-3-3, 4-2-3-1, linha de quatro com três meias e apenas um homem na ligação. Mas o lado bom da briga contra o rebaixamento é que os outros times também são ruins, e o Forest ainda chegou à reta final com chances de se salvar.
A formação em que tudo encaixou foi o 3-4-2-1, com dois meias centrais flanqueados pelos alas, dois jogadores na ligação, geralmente Morgan Gibbs-White e Danilo ou Brennan Johnson e apenas um centroavante. Com ela, o Forest perdeu de pouco do Aston Villa e fez jogo duro contra Manchester United e Liverpool. E, finalmente, engrenou. Ganhou três das últimas seis rodadas, com um valioso empate contra o Chelsea, e selou a sua permanência no penúltimo fim de semana batendo o Arsenal.
Uma curiosidade da campanha foi o seu desempenho dentro e fora de casa. Como visitante, foi o pior time do campeonato de longe, somando apenas oito pontos e uma vitória. Como mandante, foi bem competente, com o décimo melhor aproveitamento. Deu alegrias às arquibancadas do City Ground, um histórico estádio da Inglaterra que assistiu a tantas glórias do passado – e teve um gostinho no presente.
O mercado
Principais chegadas:
- Anthony Elanga (Manchester United)
- Chris Wood (Newcastle)
- Matt Turner (Arsenal)
- Ola Aina (Torino)
Principais saídas:
- André Ayew (sem clube)
- Jesse Lingard (sem clube)
- Dean Henderson (Manchester United)
- Keylor Navas (PSG)
- Renan Lodi (Olympique de Marseille)
Nunca se sabe com Evangelos Marinakis, dono do Nottingham Forest e do Olympiacos. De repente, ele pode trazer dez reforços em uma semana. Por enquanto, adota a correta estratégia de tentar manter a espinha dorsal que garantiu a permanência na Premier League – crescendo depois que todo mundo aprendeu o nome de todo mundo – com algumas adições pontuais. Ainda está bem tímido, especialmente em relação ao mercado anterior.
O principal reforço até agora foi Anthony Elanga, uma cria das academias do Manchester United. Chegou por um preço atrativo em relação ao seu potencial, £ 15 milhões, e preferiu o Forest ao Everton, que também havia demonstrado interesse. Apesar de jovem, tem 55 partidas por um clube gigantesco, experiência em competições continentais e defendeu a Suécia 12 vezes.
Chegou adolescente a Old Trafford e estreou nas últimas rodadas de 2020/21. A passagem de Ralf Rangnick como interino só não é classificado como um desastre completo porque o desenvolvimento de Elanga foi pelo menos uma boa notícia. Rangnick foi embora, Antony foi contratado para a posição em que ele estava jogando e Alejandro Garnacho assumiu o status de garoto que come alguns minutos dos titulares. Acabou fazendo apenas cinco jogos como titular na Premier League, sete por todas as competições, e saiu para jogar com regularidade.
O outro investimento relevante foi na verdade realizado em fevereiro, quando Chris Wood cumpriu as cláusulas que tornaram sua transferência do Newcastle definitiva. É um atacante com média próxima a um gol a cada quatro rodadas, sem nunca ter jogado em equipes muito boas. Não conseguiu ajudar muito o Nottingham Forest porque sua temporada foi encerrada em abril por problemas físicos, mas deve brigar por posição no ataque.
O Forest ainda nutre esperança de contratar Dean Henderson do Manchester United, mas, por via das dúvidas, trouxe Matt Turner, que estava no Arsenal e tem experiência pela seleção americana. Foi titular da última Copa Ouro e soma 100 partidas de Major League Soccer. Não é o goleiro ideal, mas consegue quebrar o galho em uma posição que ficou carente com os retornos de Henderson e Keylor Navas para os seus clubes.
Formado pelo Chelsea, Ola Aina retorna à Inglaterra para reforçar as alas. Ele teve experiências pelo Hull City na Championship e disputou uma Premier League pelo Fulham em 2020/21. Entre essas aventuras, jogou regularmente pelo Torino, embora tenha perdido espaço nos últimos dois anos.
Elenco
Goleiros: Os dois principais goleiros da última temporada foram embora. O Forest ainda está determinado a trazer Dean Henderson de volta, mas, por enquanto, deve apostar em Matt Turner. Existem outras opções, como o veterano Wayne Hennessey, recentemente coroado herói da seleção galesa na classificação à Copa do Mundo, e o também americano Ethan Horvath, que ajudou o Luton Town a retornar à Premier League.
Defensores: Dois zagueiros continuam no clube desde os tempos de segunda divisão e seguem jogando com regularidade. Scott McKenna e Joe Worrall talvez não sejam titulares absolutos, mas brigarão pelas vagas com Moussa Niakhaté, o mais promissor dos defensores, e Willy Boly, um experiente colosso de quase dois metros de altura que teve bons momentos pelo Wolverhampton. O melhor jogador do setor é o brasileiro Felipe que, com uma lesão no joelho, deve perder o começo da temporada.
O Forest pode fazer o que muitos times fazem quando jogam com três zagueiros e usar alguns dos laterais. É uma posição até que bem servida no City Ground, com jogadores de diversas características. Ola Aina e Neco Williams, um possível titular, podem jogar nos dois lados. Harry Toffolo e Omar Richards são alternativas pela esquerda, e Serge Aurier dá um pouco mais de força ofensiva pela direita. O elenco também conta com o jovem Giulian Biancone e recebeu o retorno de Mohamed Dräger, da seleção tunisiana, que estava emprestado ao Lucerna, da Suíça.
Meias: O torcedor do Palmeiras sabia que não demoraria muito tempo para a torcida do Nottingham Forest se apaixonar por Danilo. E não demorou mesmo. O meia brasileiro foi um dos destaques da arrancada que salvou o bicampeão europeu, atuando tanto em funções defensivas quanto ofensivas. Espera-se uma evolução ainda maior, agora adaptado à Inglaterra, e deve ser titular. Seu companheiro no meio-campo pode ser um volante mais pegador, como Cheikhou Kouyaté, ou mais equilibrado, como Remo Freuler. Ryan Yates é mais um prata da casa que está no Forest desde tempos menos gloriosos, e Orel Mangala também pode comer alguns minutos.
Atacantes: Muitas sobrancelhas foram erguidas quando o Forest gastou £ 40 milhões para tirar Morgan Gibbs-White do Wolverhampton. Foi a primeira contratação que não fazia muito sentido. Mas, como costuma acontecer, o campo falou mais alto. Apesar de terem chegado nomes mais tarimbados, como Jesse Lingard, foi o garoto de 23 anos quem se tornou uma referência, com qualidade técnica e um papel importante na ligação com o ataque. Passou à frente até de Brennan Johnson, um dos garotos mais promissores da liga inglesa, que deu um passinho para trás diante da dificuldade da Premier League, mas ainda está bastante valorizado – e cobiçado.
É com eles dois que Gustavo Scarpa brigará por posição. O ex-melhor jogador do Campeonato Brasileiro foi bem em uma ou duas partidas, mas sofreu com uma lesão e precisou lidar com um problema extracampo sério que o fez retornar ao Brasil. Agora ele também terá a concorrência de Elanga, uma opção natural quando Steve Cooper quiser armar um ataque menos afunilado.
Na frente, Taiwo Awoniyi não é um centroavante de tantos gols – 10 em 27 rodadas -, mas faz um trabalho importante ajudando os companheiros com sua força física e presença de área. Deverá ter a forte sombra de Chris Wood, mais experiente em terrenos ingleses, e de Emmanuel Dennis.
O técnico
Quando os problemas começaram, Steve Cooper não tinha muito em que se agarrar. Seu currículo contém um título mundial sub-17 pela Inglaterra, vencendo o Brasil na semifinal, e dois playoffs da Championship com o Swansea, sem o acesso. O maior crédito era por ter conseguido levar o Nottingham Forest de volta à Premier League, mas, com tantas sequências negativas de resultados, é até um milagre que não tenha sido demitido. Ele provavelmente não terá muita paciência se o negócio degringolar novamente. Nas casas de aposta, está com a terceira menor cotação para ser o primeiro técnico demitido, atrás de David Moyes, do West Ham, e Paul Heckingbottom, do Sheffield United.
Expectativa para a temporada
A menos que tenha conseguido algo excepcional, a missão para o time que consegue se manter na Premier League em seu primeiro ano costuma ser fazê-lo novamente no segundo. Escapar na penúltima rodada com quatro pontos de gordura não chega a ser algo excepcional, então é isso que o Forest tentará fazer. Se conseguir com um pouco mais de folga, sem sofrer tanto, será uma temporada bem proveitosa. Ganhar mais de um jogo fora de casa em 19 tentativas também é algo razoável de se esperar.
Sheffield United – O retorno dos zagueiros-ofensivos
Como foi a última temporada?
- Posição: 2º lugar (Championship)
- Gols a favor: 73
- Gols contra: 39
- Campanha em casa: 16V, 3E, 4D (2ª melhor)
- Campanha fora: 12V, 4E, 7D (3ª melhor)
Não deu tempo de sentir saudades da Premier League. O Sheffield United foi uma surpresa quando subiu com Chris Wilder no comando e várias inovações táticas. Mais surpresa ainda quando brigou por vaga em competições europeias até março de 2020, mas a paralisação pela pandemia quebrou o embalo. Os Blades sofreram com a síndrome da segunda temporada. Seu jogo ficou mais manjado, algumas lesões enfraqueceram um elenco modesto, e a queda, como lanterna, foi inevitável.
Após um começo irregular, o United se mostrou competitivo rapidamente na segunda divisão. Não é incomum que aconteça com clubes que passaram pela Premier League. A primeira tentativa de voltar bateu na trave, com o quinto lugar e derrota para o Nottingham Forest nos playoffs. Apostando na continuidade, tanto no elenco quanto no comando técnico, com Paul Heckingbottom, ex-treinador do sub-23 e substituto de Chris Wilder, a campanha na última temporada foi dominante.
Não tanto quanto a do Burnley, mas o United passou quase todas as rodadas da Championship dentro da zona de classificação direta à Premier League ou dos playoffs. Teve uma boa arrancada ganhando sete das dez primeiras partidas, antes de encarar alguns problemas em outubro, com seis jogos sem vencer. A guinada foi impressionante porque não venceria apenas três dos seus próximos 14 compromissos. Até aplicou um 5 a 2 no Burnley, uma das poucas derrotas do time de Vincent Kompany.
O sucesso em campo, alcançado por uma mistura de veteranos de acessos anteriores, dos anos na Premier League e caras novas como James McAtee, Tommy Doyle, Anel Ahmedhodzic e a estrela Iliman Ndiaye, não foi acompanhado nos bastidores. O United sofreu um embargo de transferências entre janeiro e abril por calote em pagamentos devidos a outros clubes. Paralelamente, o dono Abdullah bin Musaid Al Saud começou a ouvir proposta para vender os Blades.
Por isso, embora retorne com boa parte das qualidades do time que surpreendeu quatro anos atrás, incluindo o espírito coletivo, os zagueiros ofensivos e o alçapão de Bramall Lane, a permanência será bem mais difícil dessa vez.
O mercado
Principais chegadas
- Vini Souza (Lommel)
- Auston Trusty (Arsenal)
- Bénie Traoré (Häcken)
- Anis Slimane (Bröndby)
- Yasser Larouci (Troyes)
Principais saídas
- Iliman Ndiaye (Olympique de Marseille)
- Sander Berge (Burnley)
- Billy Sharp (sem clube)
- Tommy Doyle (Manchester City)
- James McAtee (Manchester City)
A menos que o Sheffield United tenha cravado absolutamente todos os seus reforços, começará a Premier League com um time pior do que o da Championship. Isso raramente é um bom sinal. Ainda tem três semanas de janelas de transferências para usar os valores que recebeu por dois dos seus principais jogadores, mas nem foi tanto assim e a situação financeira não permite grandes investimentos de qualquer jeito.
A maior perda é a de Iliman Ndiaye, o craque do United na segunda divisão. Foi um ano especial para o atacante de 23 anos, que foi um dos destaques da Copa do Mundo pela seleção senegalesa e explodiu na Championship, com 14 gols e 10 assistências. Estava constantemente especulado em clubes da Premier League, mas preferiu ouvir o coração e acertou com o Olympique de Marseille.
Outra baixa essencial será o volante Sander Berge, negociado com o Burnley esta semana. Além de gols, habilidade e velocidade na frente, os Blades também perderam controle do meio-campo. E nem poderão usar os garotos McAtee e Doyle, que retornaram de empréstimo ao Manchester City.
O acesso melhorou um pouco as finanças do Sheffield United, mas foi mais um alívio. E o mais importante é de que patamar ele partia. Contratou apenas um jogador pagando uma taxa de transferência relevante nos últimos dois anos – o zagueiro Ahmedhodzic, do Malmö – depois de mais de € 130 milhões investidos durante a passagem pela Premier League.
Então, por enquanto, está fazendo o que pode. Após o êxodo, precisava, e ainda precisa, de jogadores de meio-campo. O primeiro a chegar é um velho conhecido da torcida do Flamengo. O brasileiro Vini Souza foi vendido ao Grupo City em 2020, depois de uma participação periférica no time de Jorge Jesus. Foi alocado no Lommel, da segunda divisão belga, e ganhou experiência em nível mais alto em empréstimos ao Mechelen e ao Espanyol. Vem de uma boa participação no Campeonato Espanhol, com 34 partidas, embora tenha virado reserva na parte final, com os catalães desesperados para evitar a queda.
Souza, por € 12 milhões, foi o maior investimento por enquanto. O segundo foi o zagueiro Auston Trusty. O americano tem experiência relevante na Major League Soccer – mais de 100 partidas – e passou a última temporada emprestado pelo Arsenal ao Birmingham. Foi um dos melhores da posição na segunda divisão e chega para um setor vital do Sheffield United.
Outra contratação para a defesa é o lateral esquerdo Yasser Larouci, que chamou a atenção nas categorias de base do Liverpool, mas nunca convenceu Jürgen Klopp a lhe dar uma chance no time principal. Saiu para Troyes em 2021 e foi mais ou menos titular no último Campeonato Francês. Chega por empréstimo. O United gastou bem pouquinho para levar Bénie Traoré, 20 anos, um centroavante bem prolífico para o Häcken, da primeira divisão sueca. Marcou 15 gols em 20 jogos no primeiro semestre de 2023. Em busca de criatividade, trouxe Anis Slimane, do Brondby. O meia foi titular em duas das três partidas da Tunísia na fase de grupos da Copa do Mundo.
O elenco
Goleiros: A primeira opção é Wes Foderingham, reserva de Aaron Ramsdale na campanha do rebaixamento. Ele assumiu a titularidade no ano seguinte, apesar da concorrência do mais badalado Robin Olsen, e fez 42 jogos na última Championship. Não tem experiência em primeira divisão inglesa, mas foi o paredão do Rangers no retorno à elite do Campeonato Escocês após a falência. Caso não possa jogar, o United conta com Adam Davies, um veterano dos patamares inferiores da pirâmide da Inglaterra, principalmente pelo Barnsley.
Defensores: Esse é um setor vital porque é onde o United consegue encontrar vantagem tática com seus zagueiros ofensivos – ou overlapping centre-backs, como chamam em inglês. Foi a grande sacada do time de Chris Wilder, mantida por Heckingbottom. A ideia é que os alas centralizem, abrindo o corredor para a ultrapassagem dos zagueiros, raramente acompanhados pelos defensores adversários. O movimento cria espaço e triângulos pelos lados, abrindo a possibilidade de cruzamentos para os atacantes ou meia-atacantes.
A estratégia não é tão utilizada por Heckingbottom quanto pelo seu antecessor, mas ainda é uma arma importante, principalmente pela direita, com Ahmedhodzic, um titular da seleção bósnia que rapidamente virou um dos favoritos das arquibancadas. John Egan e Chris Basham – esse desde a terceira divisão – são remanescentes dos tempos de Wilder e dominam o truque. Jack O’Connell fará falta porque era especialista em aplicá-lo pela esquerda, mas se aposentou, aos 29 anos, sem atuar desde 2020 por problemas no joelho.
A movimentação dos alas é essencial para coordenar a ultrapassagem dos zagueiros, e o United conta com a experiência de George Baldock pela direita. No outro lado, a função deve ser de Jack Robinson ou Max Lowe, curiosamente dois ex-jogadores do Nottingham Forest, agora com a concorrência de Larouci.
Meias: O United se armou do meio para a frente de várias maneiras, mas Heckingbottom parece confiante no 3-4-2-1 com o qual terminou a temporada. É o esquema utilizado nos amistosos de preaparação. O problema: a maior parte dos jogadores que o interpretou tão bem – Berge, McAtee, Doyle – foi embora. Enquanto outros são procurados, e Vini Souza e Slimane se adaptam, a experiência de John Fleck e Oliver Norwood será importante. Como centraliza frequentemente quando é escalado como ala, Baldock pode ser utilizado pelo meio se for necessário. A saída de Ndiaye também é relevante porque ele muitas vezes era usado como um dos meias-atacantes.
Atacante: A venda do jogador mais talentoso do ataque do Sheffield United dificilmente será reposta, mas pelo menos os Blades ainda podem contar com Oliver McBurnie, que desabrochou com 13 gols na Championship, depois de passar em branco na campanha anterior. É um atacante com quase 1,90 metros de altura que colocou muitas bolas na rede pelo Swansea e teve seu papel nos dois anos na Premier League. Traoré chega como uma aposta da Suécia para brigar por posição. O número baixo de centroavantes indica que Heckingbottom, em princípio, pretende usar apenas um mesmo.
A seleção de promessas das categorias de base do Liverpool que não tiveram chances segue com Rhian Brewster, artilheiro de um Mundial Sub-17 pela Inglaterra e que estava prestes a ser promovido por Klopp quando sofreu uma séria lesão. Chegou ao Sheffield United em 2020 e ainda não emplacou. Fez apenas cinco gols em 63 partidas, mas já mostrou potencial no passado.
O técnico
Como jogador, Heckingbottom teve uma trajetória longa, concentrada entre a quarta e a segunda divisão da Inglaterra. Quando trocou de carreira, teve experiências curtas pelo Hibernian e pelo Leeds. Chegou ao Sheffield United como treinador do sub-23 e assumiu o time principal quando Wilder foi demitido. Não foi capaz de operar o milagre que os Blades precisavam para continuar na primeira divisão. A diretoria resolveu trazer um nome mais forte para a Championship, e Heckingbottom voltou a um papel secundário. Ganhou uma nova chance com a demissão de Slavisa Jokanovic, em novembro de 2021, e quase imediatamente deu uma guinada que levou à promoção em um ano e meio. Representa a continuidade do trabalho de Chris Wilder, uma das figuras mais identificadas com o Sheffield United.
Expectativa para a temporada
O Sheffield United era favoritíssimo ao rebaixamento quando subiu quatro anos atrás e deixou muita gente, inclusive este escriba, com cara de bobo quando quase se classificou às competições europeias. É bom não subestimá-lo porque muitos dos pontos positivos daquela campanha continuam, embora tenha perdido jogadores importantes e um ídolo do tamanho de Billy Sharp, aposentado. A queda também aconteceu na temporada da pandemia, sem o apoio das arquibancadas de Bramall Lane. Mas as restrições financeiras impedem que se projete mais do que a briga contra o rebaixamento.
Tottenham – Vida sem Harry Kane?
Como foi a última temporada?
- Posição: 8º lugar
- Gols a favor: 70
- Gols contra: 63
- Campanha em casa: 12V, 1E, 6D (8ª melhor)
- Campanha fora: 6V, 5E, 8D (8ª melhor)
O Tottenham fez tudo certo. Teve sacadas no mercado de transferência, um técnico jovem e promissor, aumentou as receitas, passou anos disputando a Champions League e sacrificou reforços para investir em infraestrutura com a construção de um novo estádio. Mais ou menos um exemplo de como crescer organicamente (traduzindo: sem financiamento estatal) no futebol europeu. No entanto, na hora de dar o salto, de time que empolga a competitivo de verdade, bateu com a cabeça no teto e ficou zonzo.
Evidências de que ficou zonzo: quando anunciou Nuno Espírito Santo como sucessor de José Mourinho, disse que estava na hora de “voltar ao nosso DNA de jogar um futebol ofensivo e divertido”. Ele claramente não havia visto um jogo do Wolverhampton, bem sucedido com um estilo defensivo e reativo. Em seguida, colocou ainda mais em dúvida se sabe para que servem as palavras ao contratar Antonio Conte. O negócio do DNA ofensivo era baboseira. O que Daniel Levy queria era um técnico que lhe garantisse um título e, por isso, contratou dois dos maiores vencedores em série do mundo, com uma aposta equivocada entre eles.
Era um desejo compreensível. A falta de um troféu é um pouco circunstancial porque um clube que chegou à final da Champions League poderia ter sido campeão de uma Copa da Liga que seja. Mas gritar campeão é diferente e faz falta. Se Mourinho estava claramente em decadência, Conte foi tratado como um pulo do gato do Tottenham porque havia acabado de quebrar o jejum de títulos italianos da Internazionale. E provou suas credenciais ao consertar a bagunça de Nuno Espírito Santo e garantir vaga na Champions League, ultrapassando o Arsenal na reta final.
Sem demora, entrou em um roteiro previsível que atrapalha a sua carreira. Vai mais ou menos assim: cobra reforços em público, faz críticas à diretoria e aos jogadores, uma hora entra em rota de colisão com algum deles, e o clima fica terrível. Foi exatamente o que aconteceu novamente e tirou dos trilhos uma temporada em que o Tottenham conseguia ficar sempre pelo menos em volta do quarto lugar – geralmente pela discrepância de jogos na tabela.
A gota d’água foi um empate por 3 a 3 com o lanterna Southampton, após o Tottenham abrir 3 a 1. Conte chamou os jogadores de egoístas, disse que não colocam o coração em campo, não querem jogar sob pressão e sugeriu que o jejum de títulos é mais responsabilidade deles do que dos técnicos. Não estava completamente errado, mas acionou a famosa opção nuclear. Saiu uma semana depois e, posteriormente, à imprensa italiana, afirmou que foi embora porque “muitos estavam satisfeitos com o quarto lugar”.
Ali a temporada do Tottenham morreu, embora não fosse impossível voltar à briga por Champions League. Ainda mais com a estranha decisão de manter Christian Stellini, auxiliar de Conte, como técnico interino por cerca de um mês. Stellini caiu depois de levar cinco gols do Newcastle em 20 minutos na goleada por 6 a 1. Ryan Mason comandou o barco até o fim, mas não conseguiu nem colocar os Spurs à frente do Aston Villa para manter uma sequência de 13 anos disputando competições europeias.
Levy (por enquanto) parece ter aprendido a lição. Contratou Ange Postecoglou, mais em linha com o antigo Mauricio Pochettino do que com técnicos de curto prazo, para devolver a alegria ao Tottenham Stadium e construir novamente um time empolgante e jovem, mas terá que fazê-lo (provavelmente) sem Harry Kane, e vai saber qual será o teto desta vez.
O mercado
Principais chegadas
- James Maddison (Leicester)
- Micky van de Ven (Wolfsburg)
- Guglielmo Vicario (Empoli)
- Alejo Véliz (Rosario Central)
- Manor Solomon (Shakhtar Donetsk)
Principais saídas
- Harry Winks (Leicester)
- Lucas Moura (São Paulo)
O que o Tottenham fez até agora perdeu relevância porque o mais importante será o que fará se a venda de Harry Kane ao Bayern de Munique se concretizar. Não apenas será necessário contratar outro centroavante titular, mas também aproveitar o dinheiro para qualificar outras posições e/ou investir em juventude para começar a desenvolver novas referências. Enquanto isso, os primeiros negócios para o time de Ange Postecoglou são bem interessantes.
O maior deles foi James Maddison. O Leicester recusou propostas do Newcastle ano passado, mas vendê-lo se tornou uma necessidade após o rebaixamento. O Tottenham deu sorte porque o novo rico da Premier League voltou suas atenções a outros alvos, como Sandro Tonali. Maddison escapou dos Spurs quando trocou o Coventry City pelo Norwich e depois quando foi para o Leicester. Quando pintou uma nova oportunidade, o negócio foi fechado em semanas e o valor nem é alto (£ 40 milhões) por um jogador tão talentoso.
Maddison explodiu em 2017/18, como um dos melhores da segunda divisão pelo Norwich, e chegou ao Leicester, pelo qual participou diretamente de 53 gols de primeira divisão nas últimas três temporadas – entre os principais contribuintes nesse período. Foi uma peça central em duas campanhas em quinto lugar e uma conquista da Copa da Inglaterra (mesmo reserva na final contra o Chelsea). Foi semifinalista da Conference League e chegou à seleção inglesa, a principal surpresa de Gareth Southgate para a Copa do Mundo do Catar.
Debaixo das traves, a aposta para a sucessão de Hugo Lloris é Guglielmo Vicario. O goleiro de 26 anos galgou todos os degraus da pirâmide italiana até se destacar pelo Empoli nas últimas duas temporadas. Na mais recente, sofreu apenas 39 gols em 31 rodadas disputadas. Nada mal para o guardião do 14º colocado. Chegou à seleção italiana em setembro de 2022, como reserva de Gianluigi Donnarumma, mas ainda não estreou.
O Tottenham começou a projetar o futuro em outros dois reforços. Micky van de Ven foi caro para um zagueiro de 22 anos. Em breve, pode parecer barato porque é uma das melhores revelações da posição na Bundesliga. Pela pontuação da revista Kicker, uma régua tradicional na Alemanha, foi o melhor jogador de linha do Wolfsburg em 2022/23. Além do poder de marcação, tem velocidade para se encaixar no esquema de Postecoglou. A outra aposta é o centroavante argentino Alejo Véliz, do Rosario Central. Aos 19 anos, mostrou qualidade no futebol sul-americano. É muito mais um projeto para o futuro do que um potencial substituto de Harry Kane.
Monor Solomon foi uma sacada barata do Tottenham para reforçar as pontas após a saída de Lucas Moura. É um dos jogadores que decidiram deixar o Campeonato Ucraniano depois da invasão da Rússia e acertou um empréstimo ao Fulham, que foi bem aproveitado pelo israelense de 2023. Os Spurs também fizeram um investimento alto, cerca de € 70 milhões, para garantir a permanência de dois jogadores que estavam emprestados: o ponta direita Dejan Kulusevski e o lateral direito Pedro Porro.
O elenco
Goleiros: Pode ser o fim de uma era. Hugo Lloris não foi o goleiro mais confiável do mundo desde que chegou do Lyon em 2012. Dividiu opiniões e sofreu falhas relevantes. Mas era o capitão da equipe e uma liderança inquestionável, embora, depois das declarações de Conte, vale questionar o que que ele estava liderando. De qualquer maneira, disse à imprensa francesa que tem desejo de experimentar coisas novas, embora respeite que tem mais um ano de contrato com o Tottenham. A Arábia Saudita está de olho. Guglielmo Vicario chega para pelo menos brigar por posição com Lloris, com Fraser Forster como uma bola de segurança sólida e experiente.
Defensores: Postecoglou abolirá o esquema com três zagueiros favorito de Antonio Conte, em nome do 4-3-3. Laterais com capacidade ofensiva posicionados lá na frente e/ou entrando por dentro com a posse de bola são uma das suas marcas. As melhores opções com essas características são Pedro Porro pela direita e o jovem Destiny Udogie pela esquerda. Udogie foi contratado em janeiro e devolvido por empréstimo para a Udinese. Ainda tem 20 anos e nunca atuou pela Inglaterra, o que pode dar a dianteira a Ben Davies e Sergio Reguillón. Emerson Royal, sem muita elegância ofensiva, e o garoto Djed Spence são as alternativas a Porro no outro lado. Como o treinador também é adepto da linha alta, é importante ter zagueiros velozes. Ele está bem servido com Cristian Romero e Van de Ven, ainda carente de adaptação. Davinson Sánchez, em seu auge, era um defensor bem rapidinho, e Eric Dier passou boa parte da carreira atuando no meio-campo, onde é necessário ser mais móvel. É um bom quarteto de zagueiros para o que o australiano está propondo.
Meias: O novo técnico pode ser um recomeço para alguns reforços que não emplacaram. Yves Bissouma, por exemplo, era quase tão bem cotado quanto Moisés Caicedo quando defendia o Brighton e pode ser recuperado como aquele meia que corre de uma área para a outra. Exerceu essa função muito bem no Amex Stadium. Pape Matar Sarr também pode ganhar um espaço maior, principalmente aproveitando as primeiras semanas, com Rodrigo Bentancur ainda se recuperando de uma lesão sofrida em fevereiro.
Pierre-Emile Hojbjerg é uma ameaça como primeiro ou segundo homem do meio-campo. Um dos jogadores mais regulares dos Spurs. James Maddison complementa o setor, com dinamismo, criatividade, chutes de longa distância e uma potência ofensiva necessária para o estilo que Postecoglou busca. Giovanni Lo Celso e Tanguy Ndombélé retornaram ao clube após empréstimos. O primeiro até jogou na pré-temporada, mas seria surpresa se permanecessem.
Ataque: A grande tragédia da provável venda de Kane é que, com uma proposta mais ofensiva, um ataque com ele, Heung-min Son e Dejan Kulusevski poderia ser arrasador. Agora, deve haver uma grande lacuna na posição de centroavante. Richarlison não é uma opção ruim para preenchê-la se conseguir recuperar a forma do Everton ou replicar a da seleção brasileira, mas está longe da qualidade de Kane. Deve chegar algum reforço. Ivan Perisic e Manor Solomon são as alternativas para os lados.
O técnico
Postecoglou é rodado. E não é jovem. Tem quase 60 anos, mas isso não importa porque suas ideias são frescas. Trabalhou em sua Austrália até chegar à seleção nacional em 2013. Em quatro anos, disputou uma Copa do Mundo, classificou-a para outra e conquistou uma Copa da Ásia, a primeira do país. Caiu fora antes do torneio na Rússia e assumiu o Yokohama Marinos, pelo qual conquistou a J-League em 2019. A chance de aparecer para o mercado europeu chegou pelo Celtic, que havia perdido a hegemonia na Escócia, e a chance do décimo título consecutivo, para o Rangers de Steven Gerrard.
Em um ano, ele recolocou o Celtic no topo da tabela – depois de o clube perder o título para o rival por 25 pontos – com um time completamente reformulado e sem fazer grandes investimentos. Competiu em seis torneios nacionais em dois anos e conquistou cinco. Encerrou entregando mais uma Tríplice Coroa. Fez exatamente o trabalho de reconstrução rápido e eficiente que o Tottenham precisa neste momento.
E se é justo questionar que o nível da Escócia é diferente do da Inglaterra, o técnico que fez o Celtic jogar melhor antes de Postecoglou – Brendan Rodgers, de volta ao Celtic Park – transformou o Leicester em um candidato à Champions League. Então, é possível.
Expectativa para a temporada
A venda de um jogador do calibre de Harry Kane necessariamente exige que as expectativas sejam recalibradas. Mesmo que chegue uma boa reposição, não será a mesma coisa. Poucos centroavantes são tão bons quanto ele. Menos ainda sabem exercer a função de camisa 10 com a mesma excelência. Isso pode até servir para diminuir a pressão sobre Ange Postecoglou, que tem um trabalhão pela frente. Há duas prioridades: jogar um futebol ofensivo e divertido e administrar um clima mais saudável nos vestiários. O seu estilo de jogo é de alto risco e alta recompensa, o que pode causar alguns embaraços nos dias em que der errado. Em resultados práticos, seria fantástico se classificar à Champions League, mas a briga está muito acirrada. Garantir vaga em outras competições europeias apontando um caminho seria um passo à frente.
West Ham – Como é difícil ter paz
Como foi a última temporada?
- Posição: 14º lugar
- Gols a favor: 42
- Gols contra: 55
- Campanha em casa: 8V, 4E, 7D (8ª pior)
- Campanha fora: 3V, 3E, 13D (4ª pior)
O que aconteceu com o West Ham não é incomum. Times que passam muito tempo jogando acima dos seus recursos uma hora cansam da exigência física e mental necessária. O Leicester passou por algo parecido, e a grande esperança dos Hammers é que o final da história seja diferente. A campanha na Conference League mostrou que os londrinos ainda conseguem ser um time competitivo, mas, se o título não tivesse sido conquistado, teria sido uma temporada péssima.
David Moyes respondeu aos críticos em sua segunda passagem pelo West Ham. Reconstruiu a imagem que havia sido riscada pelo fracasso como sucessor de Alex Ferguson no Manchester United ao terminar a Premier League duas vezes seguidas entre os sete primeiros colocados. O título europeu foi a cereja no bolo, mas sua abordagem defensiva demais deu sinais de desgaste na Premier League, e o rebaixamento foi uma ameaça séria. Escapou com algumas rodadas de folga, mas a campanha nunca engrenou.
O West Ham não conseguiu ganhar três jogos seguidos – e ganhou dois apenas uma vez. O melhor momento foi entre abril e maio, e esse período ainda trouxe derrotas pesadas para Newcastle e Manchester City. Mas foi nessa época que conseguiu bater Southampton, Fulham e Bournemouth em um intervalo de cinco rodadas e, depois de mais algumas derrotas, superar o Manchester United para afastar os riscos práticos de disputar a segunda divisão.
Moyes nunca foi um bielsista, mas alguns números foram preocupantes. O West Ham teve apenas 41% de posse de bola, o terceiro índice da liga, acertou 3,8 chutes no alvo em média e simplesmente não conseguiu fazer gol como visitante – 13 em 19 partidas. Não foi à toa que alguns reforços demoraram para engrenar, como Lucas Paquetá, e outros, como Gianluca Scamacca, nunca o fizeram. O brasileiro, aliás, melhorou quando começou a recuar um pouco mais para qualificar a saída de bola.
O escocês correu risco de demissão em vários momentos da temporada. Não caiu porque tem crédito pela guinada dos últimos anos e porque a campanha na Conference League corria bem. O título afastou as dúvidas de que Moyes não retornaria para a próxima temporada, mas o Leicester novamente serve como lição. Antes de cair, também teve uma Premier League decepcionante e uma campanha longa na Europa como tábua de salvação.
O mercado
Principais chegadas
- Edson Álvarez (Ajax)
Principais saídas
- Declan Rice (Arsenal)
- Gianluca Scamacca (Atalanta)
- Manuel Lanzini (River Plate)
O primeiro título após 43 anos deveria garantir a paz, mas você sempre pode contar com o West Ham para uma novelinha. A atual afeta o mercado de transferências e não é por acaso que a primeira contratação da janela foi fechada apenas nesta semana. Há uma diferença de abordagem entre o técnico David Moyes e o recém-contratado diretor técnico Tim Steidten, com trabalhos relevantes pelo Werder Bremen e pelo Bayer Leverkusen.
Segundo uma reportagem do The Athletic, Moyes está priorizando contratações de jogadores estabelecidos na Premier League, como Harry Maguire, Scott McTominay e James Ward-Prowse, nomes especulados recentemente. Steidten tem uma política completamente diferente. Basta observar os times do Leverkusen que ele construiu. Gosta de mapear o mercado além das cinco grandes ligas e encontrar valor em talentos jovens ou desconhecidos. Jogadores britânicos são geralmente o oposto: mais caros do que deveriam ser porque todo clube da Premier League tem muito dinheiro.
Esse impasse atrasou a contratação de uma reposição para Declan Rice, vendido ao Arsenal por £ 105 milhões. Em parte, porque todo mundo sabe que o West Ham agora tem dinheiro e está pedindo mais alto. A saída de Rice era especulada há muito tempo e deixará um vácuo enorme no leste de Londres, mesmo que o time seja reforçado. É um dos melhores jogadores da posição e muito identificado com os Hammers. Foi o capitão do primeiro título europeu desde 1965 e o primeiro no geral desde 1980.
E em meio a tudo isso, conseguiu fazer uma ótimo negócio. Edson Álvarez custou € 38 milhões e tem potencial para fazer esse preço parecer barato. Estava na roda faz tempo, especulado no Chelsea e mais recentemente no Borussia Dortmund. Aos 25 anos, tem uma vasta experiência pela seleção mexicana e pelo Ajax, no qual cresceu e se firmou nas últimas três temporadas, como um cabeça de área com marcação forte e estilo técnico. Cabe muito bem na vaga deixada por Rice e em uma parceria apetitosa com Tomas Soucek.
Talvez o West Ham vá ao mercado atrás de um centroavante. Mais um. É uma posição amaldiçoada no clube, mas nem faz sentido se esforçar muito se mesmo um com o potencial de Scamacca não recebe mais do que um ano de paciência para se firmar. Ou de Sébastien Haller, que se transformou em um dos artilheiros da Champions League assim que foi embora. O italiano se machucou, o que deveria ter servido de ponderação para seus problemas. Mas já se mandou de volta à Itália para defender a Atalanta.
O elenco
Goleiros: Alphonse Areola completou 30 anos e ainda está esperando o momento em que será titular. Aconteceu uma vez desde 2018 e não deve ter sido divertido ser bombardeado debaixo das traves de um frágil Fulham. A sua hora vai chegar porque Lukasz Fabianski é quase um quarentão, mas ainda foi quem começou jogando na Premier League. O alento ao francês foi a oportunidade de ser o goleiro do título da Conference League. Atuou em toda a campanha, inclusive no mata-mata e na final contra a Fiorentina.
Defensores: É um setor forte do West Ham, ainda bem, porque é o favorito de Moyes. São quatro zagueiros de alto nível, incluindo Nayef Aguerd, o mais técnico deles, um dos destaques da seleção marroquina semifinalista da Copa do Mundo. Não conseguiu jogar mais do que 18 vezes na Premier League por problemas físicos – que também o atrapalharam no Catar. Em forma, tem que ser titular, provavelmente ao lado de Kurt Zouma, com Angelo Ogbonna como um reserva de muita experiência. Thilo Kehrer pode dar cobertura tanto ao miolo da defesa quanto à lateral direita, bem servida por Vladimir Coufal e o prata da casa Ben Johnson. Na esquerda, Emerson Palmieri assumiu a titularidade, e Aaron Cresswell é um reserva que não deixa cair muito o nível.
Meias: Lucas Paquetá demorou para engrenar na Premier League. Não é o jogador mais intenso de todos os tempos e encontrou dificuldade para se encaixar ao ataque físico e de muitos lançamentos do West Ham. Começou a melhorar recuando para ajudar na saída de bola e rapidamente caiu nas graças da torcida. Hoje, é querido, e as especulações de que estaria na lista de desejos do Manchester City são uma preocupação extra. Se permanecer, deve formar o meio-campo com Tomas Soucek e Álvarez. Apesar da venda de Rice, é um trio bastante qualificado para o futebol europeu e inglês. Mas há pouca profundidade. O inglês Flynn Downes ainda é cru apenas um ano depois de ser contratado do Swansea. Pablo Fornals pode atuar pelos lados e como o meia mais criativo, no lugar de Paquetá.
Atacantes: Algumas das contratações mais inteligentes do West Ham jogam no ataque. Principalmente os pontas Saïd Benrahma e Jarrod Bowen, ambos trazidos da Championship. Os gols da vitória sobre a Fiorentina na final da Conference foram deles. Bowen, especialmente, é o jogador mais regular do West Ham, mantendo um nível alto todas as semanas. As opções além deles também são escassas. Fornals pode ser aberto pela esquerda, e Maxwell Cornet no máximo quebra um galho.
Enquanto nenhum centroavante funciona no West Ham, Michail Antonio vai acumulando temporadas em que executa a função essencial de coletar os lançamentos, brigar com os zagueiros e, de vez em quando, colocar a bola nas redes. Danny Ings não se machucou desde que foi contratado do Aston Villa. Essa é a boa notícia. Mas fez apenas três gols. Essa é a má.
O técnico
David Moyes virou piada no futebol inglês depois de quebrar a cara ao dar o salto com o qual todo técnico sonha para um clube como o Manchester United. Não era a sua. Estava mesmo além das suas capacidades. O problema de verdade foi o que veio depois, com trabalhos ruins à frente de Real Sociedad e Sunderland. Foi tirado do ostracismo pelo West Ham em 2017 e conseguiu cumprir a missão de evitar o rebaixamento. A ele voltou, porém, porque os londrinos queriam um nome mais forte e trouxeram Manuel Pellegrini, um campeão inglês pelo Manchester City. Foram mais de 18 meses sem trabalhar até ser chamado de volta como bombeiro para resgatar os Hammers outra vez.
Conseguiu, de novo, e apesar de turbulências extracampo, conduziu as duas temporadas mais tranquilas do West Ham em décadas. O título da Conference League quebrou o jejum e garantiu futebol europeu pelo terceiro ano seguido, com a vaga na Liga Europa. Era para estar tudo em paz novamente, mas a campanha na Premier League deu sinais de fim de ciclo e as rusgas com o novo diretor técnico colocam sua continuidade em curto prazo em dúvida. É um técnico campeão e também o mais cotado pelas casas de aposta para ser o primeiro demitido do Campeonato Inglês.
Expectativa para a temporada
O mundo mudou, como diria o poeta, desde que o West Ham foi um time que briga por vagas europeias. Em um intervalo de apenas um ano, o Brighton evoluiu, o Aston Villa se fortaleceu, e o Newcastle começou a flexionar seus músculos financeiros. Apenas aí, junto com o Big Six, temos nove clubes, o que tornaria um décimo lugar de bom tamanho. O problema é que os Hammers também têm ambições maiores e não há espaço para todo mundo – um problema estrutural da Premier League. Além disso, Moyes talvez não resista a uma mera campanha mediana, o que é bem estranho, considerando tudo que fez. É difícil que a temporada do West Ham seja um sucesso.
Wolverhampton – Parece que desencanou
Como foi a última temporada?
- Posição: 13º lugar
- Gols a favor: 31
- Gols contra: 58
- Campanha em casa: 9V, 3E, 7D (10ª pior)
- Campanha fora: 2V, 5E, 12 D (3ª pior)
Você está perdoado se esqueceu que o Wolverhampton disputou a última Premier League. Foi uma campanha tão apagada quanto poderia ser, com poucas vitórias de peso, nenhuma arrancada, nenhum momento em que se projetava algo a mais do que apenas escapar do rebaixamento. Pouco para um clube que se caracterizou como um matador de gigantes quando tinha Nuno Espírito Santo no comando. E isso é especialmente estranho porque o diagnóstico é que os Lobos haviam acertado em cheio quando conseguiram trazer Julen Lopetegui.
A temporada começou com Bruno Lage, talvez o próximo técnico campeão brasileiro. Ele foi o escolhido para suceder Nuno Espírito Santo e conseguiu um sólido décimo lugar. Mas terminou mal a campanha (sete rodadas sem vencer) e começou pior ainda a seguinte (uma vitória em nove jogos). Foi demitido no começo de outubro, e a Fosun International viu a oportunidade de contratar o treinador que sempre quiseram. Os donos chineses queriam que Lopetegui fosse o primeiro técnico do projeto assim que compraram o clube, em 2016. Ele preferiu, e é impossível culpá-lo, treinar a Espanha.
Muita água passou por baixo da ponte desde então. O Wolverhampton subiu e se estabeleceu na Premier League. Lopetegui foi demitido na semana da estreia da Copa do Mundo da Rússia porque vazou ao público que havia acertado com o Real Madrid. Depois, foi demitido do Real Madrid porque não conseguia ganhar jogos de futebol. Deu a volta por cima conquistando a Liga Europa pelo Sevilla. Os caminhos dos dois se cruzaram naquela campanha, com os espanhóis vencendo por 1 a 0 nas quartas de final.
O Wolverhampton queria tanto Lopetegui que encarou mais de um mês de campeonato com um técnico interino, o que sepultou as suas chances de fazer algo relevante, porque Steve Davis conseguiu apenas uma vitória. A abordagem encheu o saco do Sevilla também que acabou demitindo o basco depois de uma goleada sofrida para o Borussia Dortmund. Ele estreou no Boxing Day derrotando o Everton e alguns dias depois ganhou o reforço que mais queria, Matheus Cunha. Conseguiu chegar a fevereiro em uma boa toada, com três vitórias em quatro rodadas, incluindo uma pancada enfática no Liverpool.
Mas nunca mais engrenou. Conseguiu bater Tottenham e Chelsea por 1 a 0, o que parece menos impressionante depois que você pesquisa como foram as temporadas dos dois, e o seu estilo de troca de passes lentos não se desenvolvia. Não conseguiu, por exemplo, o efeito que Unai Emery teria no Aston Villa. Pegou o Wolverhampton na lanterna, mas a quatro pontos de sair da zona do rebaixamento. Entregou em 13º, a sete pontos da degola. Foi razoável e não exatamente o que se esperava. Ainda assim, a torcida estava animada com as perspectivas do que um técnico de calibre poderia fazer com alguns reforços e uma pré-temporada inteira para ajustar as suas táticas.
Tudo foi por água abaixo na semana da primeira rodada da Premier League. Chutou o pau da barraca em entrevista ao jornalista espanhol Guillem Balague. Argumentou que ouviu da diretoria que teria recursos para investir se evitasse o rebaixamento. Depois, que os planos mudaram, mas ele ainda poderia recrutar jogadores livres no mercado ou baratinhos. Por fim, que nem isso mais seria possível. Falou em grande decepção e sua saída foi confirmada na última terça-feira.
O mercado
Principais chegadas
- Matt Doherty (Atlético de Madrid)
- Matt King (Northampton Town)
Principais saídas
- Rúben Neves (Al Hilal)
- Nathan Collins (Brentford)
- Conor Coady (Leicester)
- Raúl Jiménez (Fulham)
- Ryan Giles (Luton Town)
- João Moutinho (sem clube)
- Diego Costa (sem clube)
- Adama Traoré (sem clube)
Julen Lopetegui foi embora por causa de uma divergência com a diretoria sobre reforços: ele gostaria que o Wolverhampton contratasse alguns. Até agora, o investimento foi feito apenas para confirmar emprestados, como Matheus Cunha, o jogador mais caro da história dos Lobos a € 50 milhões, e o volante Boubacar Traoré, ex-Metz. O único acréscimo digno de nota foi o retorno do lateral direito Matt Doherty, que não se encontrou nem no Tottenham e nem no Atlético de Madrid desde que foi embora em 2020. O seu retorno garante um pouco de ligação com as campanhas de sucesso sob o comando de Nuno Espírito Santo. Porque praticamente todo o resto do time foi embora.
O Wolverhampton fechou seu segundo sétimo lugar consecutivo em 26 de julho de 2020, perdendo para o Chelsea por 2 a 0. Nuno escalou aquele time com Rui Patrício, Doherty, Romain Saïss, Conor Coady, Willy Boly e Jonny Otto; Rúben Neves, Leander Dendoncker, Pedro Neto e Diogo Jota; Raúl Jiménez. O banco contava com outros jogadores que frequentes naquela campanha, como João Moutinho e Adama Traoré. Sabe quantos desses 13 permanecem no Molineux? Três: Pedro Neto, Otto e Doherty.
O desmanche começou gradual e não havia muito que o Wolverhampton poderia fazer se chegasse uma proposta enorme, como no caso de Jota, ou se o jogador tivesse caído de rendimento. O êxodo, porém, foi acentuado neste mercado. Rúben Neves e Raúl Jiménez foram vendidos, Adama Traoré e Moutinho saíram ao fim dos seus contratos, e Coady foi vendido ao Leicester após empréstimo ao Everton. Peças mais recentes, Diego Costa e Nathan Collins também se foram.
Sem querer dar total razão a Lopetegui, porque sair depois de toda a pré-temporada e a uma semana da estreia não é o cenário ideal (e curiosamente reflete sua demissão da Espanha), mas como a diretoria vê tanto talento ir embora e não se mexe nem um pouquinho? O Fair Play Financeiro é uma preocupação, e não é que o time (que sobrou) do Wolverhampton é ruim, mas ao mesmo tempo em que a contratação de Lopetegui foi uma mensagem de ambição, a falta de ação nesta janela de transferência passa a sensação de que os donos desencanaram.
Problemas de relacionamentos nos bastidores também estão por trás da saída de Lopetegui. Principalmente, uma quebra de confiança porque ele recebeu promessas de investimentos quando estava sendo convencido a aceitar o cargo. Não pode reclamar de janeiro porque queria muito Matheus Cunha e o conseguiu, por um preço bem alto. Mas, depois de tantas saídas, parece claro que mais reforços são necessários e ele não estava exatamente pedindo a contratação de Jude Bellingham. Segundo o The Athletic, um dos seus alvos era o meia Alex Scott. O Wolverhampton não conseguiu contratar nem um jogador do Bristol City que acabou acertando com o Bournemouth.
O elenco
Gary O’Neill está tendo uma semana de técnico brasileiro: tem que se preparar para estrear contra o Manchester United com apenas algumas sessões de treinamento. É difícil saber quais são as suas ideias, mas vamos presumir que será parecido com o que exibiu no Bournemouth. E pelo menos, usava um esquema tático parecido ao 4-4-2 que Lopetegui aplicou ao Wolverhampton, o que talvez passe um pouco de continuidade. Mas quem estava jogando com o espanhol e principalmente a pré-temporada não servem como muita base.
Goleiros: O Wolverhampton na verdade contratou dois jogadores. Tom King, 28 anos e mais de 120 jogos de quarta divisão, chegou do Northampton para ser terceiro goleiro, atrás de Daniel Bentley e José Sá. O português foi contratado em 2021 para ser o sucessor de Rui Patrício e não deixou o nível cair. Há quem diga até que o elevou.
Defensores: Os Lobos não quiseram manter Coady, um ex-capitão do clube, e venderam Nathan Collins para o Brentford. Isso deixou a defesa bem desfalcada e O’Neill provavelmente terá que fazer improvisações se tiver problemas físicos. Pelo menos, Max Kilman e Craig Dawson, reforço certeiro de inverno, formam uma dupla muito sólida. O terceiro jogador da posição é o português Toti. Além de usar a base, a solução pode ser converter algum lateral. Rayan Aït-Nouri disputa com Otto na esquerda, e Hugo Bueno é um jovem de 20 anos com potencial. Na direita, há Matt Doherty, mas o titular deve ser Nélson Semedo, que recuperou um pouco da forma que o levou a ser contratado pelo Barcelona.
Meias: O Bournemouth de O’Neill alternava entre o 4-4-1-1 e o 4-2-3-1. A diferença na prática é em que posição ficam os jogadores de lado: mais na altura dos meias centrais ou avançados como pontas. De qualquer maneira, dois caras jogarão no coração do gramado e, surpreendentemente, Mario Lemina deve ser um deles porque impressionou desde que foi contratado em janeiro, depois de uma passagem apagada pelo Southampton entre 2017 e 2019. O jogador mais talentoso do setor é Matheus Nunes, que provavelmente será seu parceiro se não for aberto pelos lados, como Lopetegui fez algumas vezes. Traoré foi comprado para ser uma opção e alguém que pode pintar com mais minutos é João Gomes. O ex-jogador do Flamengo teve alguns momentos de destaque
Atacantes: O Wolverhampon tem um problema ofensivo crônico desde a venda de Diogo Jota e da séria lesão de Raúl Jiménez. Em parte porque investiu muito mal o dinheiro em reposições. E ainda assim, com todos os problemas, tem de onde tirar poder de fogo se conseguir executar alguns projetos de recuperação. Por exemplo, Gonçalo Guedes foi um dos grandes destaques do Campeonato Espanhol, às vezes um time de um homem só pelo Valencia, e começou tão mal na Inglaterra que foi emprestado ao Benfica em janeiro. Pode atuar pela esquerda ou como segundo atacante.
Sasa Kalajdzic deu só azar. Rompeu o ligamento cruzado do joelho em sua estreia e ficou fora de toda a temporada. Pode ser um reforço importante se recuperar ritmo de jogo porque havia aparecido bem pelo Stuttgart na Bundesliga. Outra fonte inesperada de gols pode ser Fábio Silva, contratado aos 18 anos para ser substituto de Jota, uma tarefa que, quem diria, estava além do seu alcance naquele momento. Rodou para ganhar experiência e encontrou alguns golzinhos emprestado para Anderlecht e PSV.
Ninguém se preocupa com Daniel Podence ou Pedro Neto. Ambos são contribuidores regulares do Wolverhampton que também podem preencher várias posições no setor ofensivo. Mas se esperava mais de Hee-chan Hwang, que teve uma temporada apagada. Pablo Sarabia traz a experiência de quem até jogou um pouco pelo Paris Saint-Germain e teve uma campanha fenomenal pelo Sporting (15 gols em 29 rodadas do Campeonato Português) ainda em 2021/22. A principal esperança, porém, é Matheus Cunha. Seus primeiros seis meses não foram bons, com apenas dois gols em 20 jogos. Mas ainda tem 24 anos e pode fazer muito mais.
O técnico
Gary O’Neill deve ter sido pego de surpresa com a ligação do Wolverhampton. Sua única experiência na Premier League não indicava que teria outra tão cedo. Não que tenha sido ruim: era assistente de Scott Parker e assumiu um Bournemouth que havia acabado de levar 9 a 0 do Liverpool. Conseguiu imediatamente melhorar os resultados. Encarou outra tormenta entre outubro e fevereiro, embora tenha se mantido competitivo, e conseguiu somar os pontos necessários para evitar o rebaixamento. Uma reta final ruim, com quatro derrotas, ajudou a convencer a diretoria a buscar alguém que lhe desse um teto mais alto. Tinha toda a cara de um profissional que cairia para a Championship para provar as suas credenciais antes de voltar à elite, mas o Wolverhampton precisava de uma solução rápida. Ele pode ser ótimo, pode ser bom, pode ser mais ou menos, pode ser ruim. Só não dá para saber ainda. Por que recebeu um contrato de três anos, porém, me escapa.
Expectativa para a temporada
Quando você contrata um técnico cujo único feito na carreira foi escapar por pouco do rebaixamento, não pode esperar mais do que isso. A sensação é que o Wolverhampton foi atrás de um profissional que não reclamaria se não viessem mais contratações, satisfeito por ter mais uma chance na Premier League – e com um elenco mais qualificado. Isso e as declarações de Lopetegui indicam que o torcedor não deve esperar muitas novidades. Com um elenco enfraquecido, um técnico inexperiente e a quebra inesperada de trabalho às vésperas de estreia, não ser rebaixado será um lucro enorme para os Lobos.