Inglaterra

Faz sentido o Manchester United contratar Matheus Cunha e Mbeumo na mesma janela?

O quão certos estão os Red Devils para ter dois dos atacantes mais impressionantes da última Premier League na próxima temporada

O Manchester United já fez uma das grandes contratações da janela de transferências na Premier League ao tirar Matheus Cunha do Wolverhampton. Não satisfeito, ainda pretende adicionar Bryan Mbeumo ao seu elenco.

Os Red Devils gastaram 62,5 milhões de libras (R$ 486 milhões, na cotação atual) pelo brasileiro. Agora, segundo a imprensa britânica, formalizaram a segunda oferta por Mbeumo no valor total de 55 milhões de libras (R$ 412 milhões).

São dois destaques da última edição da Premier League e, na teoria, é uma jogada de mestre se o time de Rúben Amorim conseguir se reforçar com ambos. Mas, na prática, faz sentido a contratação dos dois ao mesmo tempo?

Como Matheus Cunha se encaixa no Manchester United

O 3-4-2-1 de Rúben Amorim teve altos e baixos no Manchester United. Foram poucas as vezes em que o português conseguiu encaixar as melhores peças para seu esquema encaixar com o modelo de jogo. E com a nova dupla, parece um passo grande em direção ao sucesso.

Matheus Cunha teve dificuldade de se encontrar no ataque ao longo da carreira — ora como ponta, ora como centroavante ou falso nove. Na última temporada, finalmente achou seu lugar como um camisa 10 moderno nos Wolves, com liberdade para ocupar espaços e criar com passes em profundidade, tabelas, dribles e corridas sem a bola.

Matheus Cunha no Selhurst Park para Crystal Palace x Wolves
Matheus Cunha pelo Wovlerhampton (Foto: Imago)

No United, Amorim tem dois camisas 10 atrás do centroavante. O brasileiro é o encaixe ideal para uma dessas vagas, principalmente na esquerda. Apesar de não ser exatamente a mesma função de seus momentos atuais nos Wolves, Cunha ainda teria liberdade nos meio-espaços e, a depender da combinação com seu centroavante, seria o atacante ideal tanto para descer ao meio e criar, quanto para atacar a última linha de defesa com corridas verticais.

Sua combinação com outros criadores como Bruno Fernandes e Mount, por exemplo, é ainda mais animadora. Pode promover uma reunião de talento pensante no meio ou ser a flecha para estes meias o lançarem.

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Mbeumo é outra versão de Cunha?

Do outro lado, Mbeumo ocuparia a outra vaga de camisa 10, mas como um complemento a Cunha e os demais no ataque. Isso porque o camaronês tem características diferentes do brasileiro.

Destaque no Brentford, o atacante jogou majoritariamente como ponta-direita na temporada passada em um esquema de 4-2-3-1. Mas também formou dupla de ataque quando Thomas Frank decidia jogar com dois atacantes.

A ideia, nos dois casos, era a mesma: Mbeumo não era o estereótipo do ponta que fica grudado na linha lateral para dar amplitude e driblar contra o lateral. Era um meia-atacante completo, que encontrava espaços entre as linhas tão bem quanto atacava a profundidade para receber passes longos.

A tendência é que, como o meia pela direita no United, o camaronês seja o elo entre defesa e ataque na construção por aquele lado — geralmente o lado de Casemiro, que contava com mais apoio do zagueiro na construção e tinha passes mais diretos.

Mbeumo seria o jogador que pode receber entrelinhas e girar nas costas da marcação para abrir espaço pelo meio, ou combinar com o ala para receber infiltrando pela direita, antes de criar para si e para os outros com dribles.

Como ambos ficariam juntos no modelo de Rúben Amorim

Caso mantenha seu 3-4-2-1 padrão, o Manchester United deve ganhar muito com Matheus Cunha e Mbeumo principalmente na segunda fase de construção e nos movimentos de entrada no último terço.

Isso porque o esquema de Amorim prioriza a progressão a partir de triangulações bem definidas nas laterais — na direita, mais direta e incisiva; na esquerda, mais trabalhada com toques curtos.

Geralmente, o lado esquerdo é onde terá o apoio de Bruno Fernandes. Junto do português, Matheus Cunha poderá combinar com o ala, como Patrick Dorgu, e o centroavante, que deve ser Joshua Zirkzee. Na direita, Casemiro é menos impactante com a bola, então o zagueiro pela direita tende a avançar mais para criar a triangulação, que deve ter Mbeumo como ponto central.

Manchester United
Como Matheus Cunha e Mbeumo podem encaixar no Manchester United (Foto: Imago)

Na esquerda, a combinação de Zirkzee, Cunha e Bruno Fernandes esbanja talento com a bola e, se assim Amorim permitir, pode render trocas de posição que têm potencial imenso para tirar marcadores do lugar e abrir espaços na defesa. Isso porque todos têm o controle de meias, mas também chegam bem à área para finalizar.

Uma incógnita considerável vem justamente no lado de Mbeumo, mas não sobre seu papel. Amad Diallo, que se destacou na posição que o possível reforço deve ocupar, pode se tornar o ala-direito da equipe. Não é o ideal do que Amorim mostrou preferir ao longo da carreira — deu mais espaço a jogadores explosivos, físicos, com o pé natural daquele lado e mais combativos defensivamente.

A combinação de Amad e Mbeumo cria diversas possibilidades animadoras ofensivamente. Podem trocar de posição constantemente no ataque e variar movimentos contrários constantemente para que não haja padrão identificável pelos marcadores. Mas pode ser que crie uma debilidade defensiva e sobrecarregue Casemiro por aquele lado.

Números ajudam a deixar o cenário promissor

Mais do que o encaixe tático que parece fazer sentido, ao contratar a dupla, o Manchester United pode reviver algo que não acontece há anos: ter dois artilheiros no elenco.

Desde a temporada 2012/13 os Red Devils não têm um jogador acabando a temporada da Premier League com mais de 20 gols. Na ocasião, no último ano de Alex Ferguson no comando da equipe, Robin van Persie foi o artilheiro do último título da liga do clube, com 26 gols.

Bryan Mbeumo, do Brentford Foto: (Imago)
Bryan Mbeumo, do Brentford (Foto: Imago)

Outra marca ruim pode ser batida: há cinco anos o clube não conta com dois jogadores marcando, cada um, mais de 15 gols na mesma temporada. A última vez que isso aconteceu foi em 2019/20, quando Anthony Martial e Marcus Rashford marcaram 17 cada. Matheus Cunha (15) e Mbeumo (20) atingiram essa marca em 2024/25.

Mais do que os números que podem voltar a crescer, contratar os dois atacantes significa que Old Trafford terá os dois jogadores que mais superaram as expectativas marcando gols na última temporada.

Isso quer dizer que Cunha e Mbeumo tiveram números maiores de gols marcados do que de gols esperados (xG) na campanha passada — um feito significativo para atacantes.

  • Matheus Cunha marcou 15 gols em 8,6 xG. Ou seja, marcou 6,4 gols a mais do que o esperado.
  • Mbeumo balançou as redes 20 vezes em 12,3 xG, marcando 7,7 gols a mais do que o esperado.
    • Excluindo pênaltis, o atacante do Brentford teve 15 gols marcados em 7,5 xG — o dobro.

A escolha de contratar tanto Matheus Cunha como Mbeumo é óbvia no sentido literal: dois destaques em criação e artilharia, é natural que melhorem o time. Mas, analisando como essa combinação pode dar certo, é um cenário ainda mais animador para a torcida do Manchester United.

Foto de Guilherme Ramos

Guilherme RamosRedator

Jornalista pela UNESP. Escreveu um livro sobre tática no futebol e, na Trivela, escreve sobre futebol nacional, internacional e de seleções. Passagens por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e Premier League Brasil.
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