Da reconstrução à glória: assim foi a passagem de Klopp pelo Liverpool
Técnico alemão é o terceiro maior em número de jogos pelos Reds e deixará um legado de conquistas e estilo de jogo
É dito que nada nessa vida dura para sempre não é mesmo? Relação entre pessoas, cargos em empresas, enfim, tudo tem um começo, meio e fim, até mesmo a nossa vida. É neste sentido que vai se findando uma das passagens mais vitoriosas da história do Liverpool, pois o alemão Jürgen Klopp chocou o mundo na manhã desta sexta-feira (26) e virou manchete na Inglaterra e no mundo ao anunciar que vai se desligar dos Reds ao final da temporada, marcando o encerramento de uma das passagens mais emblemáticas da história do futebol inglês.
Porque Jürgen Klopp, desde que se aposentou como jogador defendendo o Colônia, se tornando treinador do próprio clube, tem em seu DNA uma palavra-chave que molda o seu trabalho: reconstrução. Desde o acesso com o seu último time profissional, que depois seria sua primeira experiência como treinador, em 2007/2008, até sua ida para o Borussia Dortmund, clube pelo qual conquistou a Alemanha e quase conseguiu o feito de vencer a Champions League em 2012/2013, ameaçando a hegemonia do Bayern de Munique.
Jürgen Klopp tem por característica fazer trabalhos longevos, que transformam os clubes por onde passam em verdadeiras máquinas de jogar futebol e ganhar títulos. Não à toa, o treinador alemão de 56 anos pegou um Liverpool todo esfacelado e o colocou na rota do mundo, com títulos e um futebol agressivo, intenso, dinâmico, que, assim como o estilo de Guardiola, é utilizado como base de estudo, é a outra grande escola do futebol atual.
Feitos de Jürgen Klopp comandando o Liverpool
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- Técnico com o terceiro maior número de jogos no comando do clube: 464 partidas
- O alemão fica atrás somente de Bob Pailey, com 518 partidas e Bill Shankly com 723;
- Primeiro técnico da história do clube a conquistar o campeonato inglês na era Premier League;
- Quinto maior treinador com número de dias treinados da história do clube, com 3188 dias e nove temporadas;
- Em nove anos comandando o Liverpool, Jürgen Klopp conquistou oito títulos, entre os mais importantes, a Champions League da temporada 2018/2019 e a Premier League da temporada 2019/2020.
Balanço de Klopp pelo Liverpool
- 464 jogos
- 288 vitórias
- 96 empates
- 80 derrotas
- 8 títulos (Champions League, Mundial de Clubes, Premier League, Supercopa da Uefa, duas vezes a Copa da Liga Inglesa, Supercopa da Inglaterra e a Copa da Inglaterra)
2015: o ano da chegada e início do trabalho
Os trabalhos de Jürgen Klopp são pautados pela paciência, projetos a longo prazo e títulos, muitos títulos, foi assim no Borussia Dortmund, quando conquistou a Bundesliga nas temporadas 2010/2011 e 2011/2012, quebrando a hegemonia do gigantesco Bayern de Munique também na Copa da Alemanha, torneio que faturou em 2011/2012, além de duas conquistas da Supercopa da Alemanha em 2013/2014, 2014/2015.
Foi assim em nove temporadas e 318 jogos, que o alemão se tornou ídolo e ícone do Borussia Dortmund, que desde sua saída, nunca mais retomou seu protagonismo no cenário local, muito menos no internacional. Sendo assim, chegamos ao dia 17 de outubro de 2015, data da estreia de Jürgen Klopp no comando dos Reds, nove dias depois de sua apresentação como treinador após a saída de Brendan Rodgers.
Em seu primeiro contato com a imprensa da Inglaterra, Klopp pediu para que a torcida do clube apoiasse o time de forma incondicional, acreditando que sua chegada representaria uma “virada de chave na trajetória da equipe”.
“Precisamos parar de duvidar e começar a acreditar”, foram as palavras de Klopp em sua primeira entrevista pelo Liverpool.
Autêntico, original e muito convicto do sucesso de seus trabalhos, Klopp ainda afirmou, em uma declaração histórica, que se não vencesse um título em quatro anos pelo Liverpool, talvez teria de ir para a Suíça para executar seu trabalho.
Em seu primeiro jogo no comando do Liverpool, Klopp encarou o Tottenham de Mauricio Pochettino, atualmente no Chelsea, no antigo White Hart Lane, pela 9ª rodada da Premier League da temporada 2015/2016 e arrancou um empate por 0 x 0.
Escalado com Mignolet; Clyne, Skrtel, Sakho e Alberto Moreno; Emre Can, Lucas Leiva e Milner; Lallana, Phillippe Coutinho e Origi, os Reds só conseguiram a primeira vitória com o novo treinador na quarta partida, após três empates consecutivos nos três primeiros jogos, era o prenúncio de que muito trabalho deveria ser feito para conseguir colocar o time no eixo.
Clyne foi o autor do primeiro gol da era Klopp, em triunfo do Liverpool sobre o Southampton pela Copa da Liga Inglesa. Na sequência, o primeiro clássico, diante do Chelsea, em Stamford Bridge. Em show do brasileiro e primeiro ícone da sequência de Klopp nos Reds, Phillipe Coutinho, a equipe bateu os Blues pelo placar de 3 x 1. Pouco tempo depois, a primeira derrota, em casa, diante do Crystal Palace pelo placar de 2 x 1.
Mudança de filosofia e chuva de lesões
O tal do Gegenpressing, termo que vem do futebol alemão e implementado por Klopp em seus times, é uma filosofia de jogo que consiste em pressionar a saída de bola dos adversários logo quando o time perde a mesma, no Brasil é o termo é conhecido como “perde e pressiona”, tão utilizado pelos treinadores da nova geração e pelos especialistas da bola nos programas televisivos.
Acontece que para executar este plano com o máximo de eficiência é necessário muito condicionamento físico, e entrosamento para que o time consiga se coordenar para recuperar a posse de bola da forma mais organizada possível e não sofrer com algum contra-ataque adversário. O primeiro ponto foi comprado pelos jogadores do Liverpool, o grande problema é que a primeira versão dos Reds de Klopp era um tanto envelhecida e não conseguia entregar a intensidade de sua nova forma de jogar.
Tanto é que em sua primeira temporada no comando do clube, os Reds chegaram a ter nada mais nada menos do que 11 jogadores no departamento médico, muito por conta do desgaste físico causado pela nova forma de jogar do time.
Primeira temporada de Klopp no Liverpool foi de oscilação
Com o elenco que tinha em mãos, dá para dizer que Klopp fez até mais do que poderia em sua primeira temporada no comando do Liverpool. Apesar do difícil processo de transição do novo modelo de jogo adotado e das inúmeras lesões que afetaram o time, os resultados em sua primeira temporada no comando dos Reds foi satisfatório, conquistando dois vice-campeonatos, sendo a Copa da Liga de 2015/2016, nos pênaltis, para o Manchester City, já treinado por Guardiola e também o vice da Liga Europa, para o Sevilla de Unai Emery.
Mesmo não tendo conquistado nenhum título, o desempenho do time em campo mostrava aos adversários que, em breve, a equipe iria conquistar seu espaço no cenário. Durante a trajetória dos Reds na Liga Europa, os comandados de Klopp eliminaram o Manchester United nas oitavas de final e nas quartas, o Borussia Dortmund, no primeiro confronto do treinador com seu ex-clube, com direito a um jogo inesquecível em Anfield Road, com uma vitória por 4 x 3 de virada, nas semifinais, triunfo convincente diante do Villarreal.
Em sua primeira temporada no comando do Liverpool, Klopp disputou 52 jogos, com 23 vitórias, 17 empates e 12 derrotas, marcando 89 gols e sofrendo 58, sendo o setor defensivo o assunto que mais gerou preocupações ao alemão em seu primeiro contato com o time. Nos confrontos diante dos adversários do Big Six, mais o clássico frente ao Everton, o alemão comandou os Reds em 15 jogos em sua primeira temporada, com cinco vitórias, oito empates e somente duas derrotas.
Era claro que naquele momento, o Liverpool passava por uma certa turbulência devido à troca de comando e mudança drástica no estilo de jogo, mas foi em cima da visionária característica de Klopp e da confiança da diretoria, que o alemão conseguiu mudar para sempre a forma da equipe jogar e foi responsável por uma das eras mais vitoriosas da história do clube.
Trabalho a longo prazo gerou resultados
Klopp deu um prazo de quatro anos para conquistar seu primeiro título com o Liverpool e foi exatamente na quarta temporada à frente do time que o alemão conseguiu um de seus maiores feitos como treinador, vencer a Champions League na temporada 2018/2019, após ter chegado até a final na temporada anterior, mas ser derrotado pelo Real Madrid, em final que ficou marcada pela lesão de Salah após entrada de Sérgio Ramos e também das falhas do goleiro Karius.
Algumas peças chegaram e mudaram o patamar do time, que batia na trave em relação a títulos, mas mostrava bom futebol, o que credenciava o trabalho de Klopp como positivo. Alisson saiu da Roma e veio para os Reds, assim como Salah, que se tornou outro ícone da história do clube após a saída de Coutinho e juntamente de Roberto Firmino, que passou a melhor fase de sua carreira no time inglês, e Sadío Mané, vindo do Southampton, formaram um dos maiores trios de ataque da história do Liverpool.
Sob a batuta do intenso Klopp e um ataque montado exatamente para executar seu plano de jogo com maestria, o Liverpool não só faturou a Champions League em 2018/2019, como dominou o cenário local, conquistando a Premier League pela primeira vez desde que mudou seu formato e faturando a tríplice coroa com os títulos do Mundial de Clubes e da Supercopa da Uefa em 2019/2020, momento conhecido como “A Era de Ouro dos Reds” após anos se aproximando de um título e não conseguindo conquistar.
Desgaste de Klopp e pedido de saída
Após fazer tanto pelo Liverpool e se dedicar diuturnamente ao trabalho de treinador nos últimos 18 anos. Chegou o momento de Klopp parar, dar um tempo, descansar. A decisão de sair do clube inglês veio ainda em novembro de 2023, quando informou a diretoria que esta seria sua última temporada à frente do time. Seu desejo é que a diretoria tenha calma para escolher seu sucessor e faça a transição para o novo comando da forma mais natural possível.
Contei ao clube já em novembro. Tenho que explicar um pouco que talvez o trabalho que faço as pessoas vejam de fora, estou na linha lateral e em treinos e coisas assim, mas a maioria de todas as coisas acontecem em torno desse tipo de coisa. Isso significa que uma temporada começa e você já planeja praticamente a próxima temporada. Quando estávamos sentados juntos conversando sobre possíveis contratações, o próximo verão e se podemos ir a qualquer lugar, surgiu o pensamento: ‘Não tenho mais certeza se estou mais aqui' e fiquei surpreso com isso. Obviamente comecei a pensar nisso.
Klopp deixa o clube por uma questão pessoal e deixou claro que não tem nenhum problema interrno, seja com jogadores, torcedores e principalmente com a diretoria do clube. Intenso em tudo o que faz, o treinador afirmou em entrevista desta sexta-feira que ama absolutamente tudo na Inglaterra, mas está convicto de que esta é a melhor decisão a se tomar neste momento.
“Adoro absolutamente tudo neste clube, adoro tudo na cidade, adoro tudo nos nossos torcedores, adoro a equipa, adoro o staff. Eu amo tudo. Mas o fato de eu ainda tomar essa decisão mostra que estou convencido de que isso é o que deve ser feito”, afirmou Klopp