‘Vergonhoso’: tribunal inglês toma decisão sobre torcedor que foi racista com Salah
Joel Barwise foi flagrado no dia 21 de outubro de 2023 cometendo tais atos, poucos minutos antes do clássico de Mereyside entre o Everton e o Liverpool

Um torcedor do Everton foi banido de frequentar estádios de futebol por três anos após ter insultado de forma racista o craque egípcio Mohamed Salah e ter zombado do caso da Tragédia de Heysel, quando 39 pessoas morreram esmagadas antes da final da Champions League entre Liverpool e Juventus, na temporada 1984/1985. Joel Barwise foi flagrado no dia 21 de outubro de 2023 cometendo tais atos, poucos minutos antes do clássico de Mereyside entre o Everton e o Liverpool, vencido pelos Reds pelo placar de 2 x 0, com dois gols do atacante.
A ordem de proibição do torcedor de 26 anos foi proferida pelo Tribunal de Magistrados de Sefton. Joel se declarou culpado dos crimes de assédio racial ou religioso, causando alarme ou angústia por meio de palavras, ou escrita. Além do banimento dos estádios, Barwise foi condenado a pagar uma multa no valor de 500 libras (pouco mais de R$ 3.100,00 reais). Segundo informações publicadas pela BBC, o indivíduo foi flagrado por um comissário do jogo gritando abusos racistas e fazendo outros gestos.
A polícia de Mereyside identificou Joel Barwise por meio do sistema de segurança do Estádio Anfield Road e pouco tempo depois o prendeu. Segundo o Serviço de Procuradoria da Coroa, Crown Prosecution Service (CPS) em inglês, o torcedor inicialmente negou que tenha cometido tais atos, alegando ser um erro de identidade, entretanto, admitiu ser o responsável pelos insultos. Perguntado sobre os motivos que o levaram a cometer tal conduta, Barwise foi claro: “Fiz porque sou um idiota”.
A football fan who shouted racist abuse about Liverpool's Mohamed Salah and mocked the Heysel stadium disaster has been banned from matches. Joel Barwise shouted when Salah's name was announced at Anfield on 21 October before the Merseyside derby. https://t.co/G0yvQimACW
— LawNewsIndex.com (@TheLawMap) February 14, 2024
Joel Barwise não poderá assistir a um jogo sequer no estádio
O torcedor terá uma série de restrições a serem cumpridas durante seu período de banimento do futebol, entre elas, a proibição de assistir a qualquer jogo em todo o Reino Unido. Além disso, o torcedor deverá entregar o seu passaporte quando os jogos de seu time, o Everton, forem realizados em outro país. A restrição de Barwise é severa ao ponto de não poder sequer se aproximar do Estádio Goodison Park e dos estádios no qual o seu time for jogar fora de casa na Premier League.
Joel Barwise também está proibido de se aproximar da estação Liverpool Lime Street em dias de jogos e será acompanhado de perto por todo o sistema de monitoramento da Inglaterra. A promotora Angela Conlan considerou o comportamento do torcedor do Everton como “vergonhoso”. Em seu relato, a profissional afirmou que suas ações envergonharam o seu clube do coração e a si próprio como torcedor de um importante time da Inglaterra.
“Joel Barwise sem dúvida se considera um torcedor leal do Everton, mas suas ações envergonham seu clube. Ele zombou de um trágico desastre no futebol e gritou insultos racistas quando o nome de um jogador importante do Liverpool foi anunciado”, disse a promotora.
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O que foi a Tragédia de Heysel?
Quem acompanha o futebol europeu e sabe o que representou para a Inglaterra a Tragédia de Heysel, na Bélgica, sabe que os insultos de Joel Barwise são muito graves. No dia 29 de maio de 1985, Liverpool e Juventus se enfrentariam na final da Liga dos Campeões. A polícia local temia por uma confusão sem precedentes e preparou todo um aparato de segurança, com diversas restrições para proporcionar um espetáculo seguro aos torcedores, de nada adiantou.
A polícia local proibiu a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos próximos ao estádio, além de revista em todos os torcedores e mais 1500 policiais foram convocados para reforçar a segurança do grande evento. Entretanto, boa parte dos comércios se mantiveram abertos, servindo os torcedores de Liverpool e Juventus. Testemunhas informaram na época que um tumulto se iniciou após provocações da torcida do Liverpool, que estavam embriagados.
A confusão aconteceu fora do estádio, com ingleses e italianos trocando provocações. Uma joalheria foi roubada, tendo um prejuízo de mais de 150 mil euros. Antes mesmo do horário previsto para a abertura dos portões do estádio, uma multidão já se encontrava no local para entrar. Do outro lado do estádio, uma barreira pequena de policiais tentavam conter uma multidão de torcedores dos dois times, que não paravam de se provocar.
Meia hora depois, os ingleses começaram o ataque, como em uma faísca que gera um grande incêndio, a confusão começou a tomar proporções incontroláveis. As grades que separavam as bancadas cederam por conta da pressão feita pelas pessoas, o que causou a tragédia. Milhares de torcedores foram pisoteados e diversos hooligans utilizaram barras de ferro para agredir os rivais. O pânico tomou conta do recinto, causando a queda de um muro de proteção do estádio, agravando ainda mais a ocorrência.
Mesmo com um registro acentuado de pessoas feridas, a Uefa determinou pela realização da partida por conta do forte apelo do jogo. A polícia belga não efetuou nenhuma detenção. O balanço final da tragédia registrou 39 mortos e um alto número de feridos.
Os torcedores do Liverpool foram responsabilizados pelo incidente, o que resultou na proibição das equipes da Inglaterra de participar das competições europeias por um período de cinco anos. A Juventus venceu o confronto pelo placar de 1 x 0, mas o resultado ficou em último plano, já que toda a comunidade inglesa reprovou a atitude dos hooligans ingleses, com a alta cúpula do Reino Unido defendendo a suspensão dos times da Inglaterra.