Inglaterra

Guia da Premier League 2021/22 – Leicester: A prioridade é não perder o fôlego

Após deixar escapar a vaga na Champions duas vezes seguidas nas últimas rodadas, o Leicester melhorou seu elenco para tentar se manter forte até o final

Este texto faz parte do Guia da Premier League 2021/22. Clique e leia sobre todos os times.

Cidade: Leicester
Estádio: King Power Stadium (32.273 pessoas)

A temporada passada – 5º lugar

O Leicester sentiu na pele como a história pode se repetir como tragédia e gostaria muito de evitar que se repetisse como farsa. Em 2019/20, passou a Premier League quase inteira na zona de classificação à Champions League, mas perdeu três das últimas quatro rodadas e ficou em quinto lugar. Na última temporada, passou a Premier League inteira (dessa vez, desde a primeira rodada) na zona de classificação à Champions League, mas perdeu três das últimas quatro rodadas e… ficou em quinto lugar.

Que a sua melhor sequência de campanhas desde 1927-29 seja tida como uma decepção é testamento do patamar em que Brendan Rodgers colocou o Leicester, mas a janela que tinha para se inserir no G4 parece ter fechado, agora que Manchester United e Chelsea estão reforçados e com trabalhos sólidos, o Liverpool está novamente inteiro e o Manchester City é favorito ao título. Mas, se as Raposas fizessem apenas o que se espera delas, não seriam o clube que mais evoluiu na Inglaterra nos últimos anos.

Quando um fracasso ocorre duas vezes seguidas quase da mesma maneira, é impossível não questionar se há algo, talvez algum fator psicológico, impedindo os jogadores do Leicester de completarem o serviço. Mas é preciso destacar que as lesões foram novamente um problema e que geralmente equipes com a parte mental fraca não conquistam a Copa da Inglaterra derrotando o campeão europeu.

Uma análise rápida da tabela do Leicester mostrava que, após enfrentar o Manchester City no começo de abril, ele precisaria aproveitar uma sequência contra West Ham, West Brom, Crystal Palace, Southampton e Newcastle para somar os pontos que precisava antes de fechar a campanha contra Manchester United, Chelsea e Tottenham. Perdeu dos Hammers, apenas empatou com os Saints e perdeu também do Newcastle. Foi ali que deixou escapar a vaga na Champions League.

Mas há mesmo algumas questões a serem resolvidas. O Leicester goleou o Manchester City, derrotou o Chelsea e o Liverpool, mostrou que tem capacidade de enfrentar os melhores times do país de igual para igual, mas sofreu contra equipes que se defenderam muito atrás. Isso em parte explica a campanha fraca como mandante, apenas a oitava da liga – e a terceira como visitante. E se há algum fator que impede o time de chegar em forma às últimas rodadas, físico ou mental, isso precisa ser solucionado também.

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Mercado

Principais chegadas: Patson Daka (Red Bull Salzburg), Boubakary Soumaré (Lille), Ryan Bertrand (sem clube), Jannick Vestegaard (Southampton)
Principais saídas: Christian Fuchs (sem clube), West Morgan (aposentado)

A melhor notícia é que o núcleo duro do Leicester foi mantido. Primeira vez desde o título inglês que nenhum titular precisou ser reposto. Logo, abriu-se a oportunidade de contratar jogadores para melhorar a profundidade do elenco para cobrir eventuais lesões e também para permitir que Brendan Rodgers administre melhor a parte física fazendo rotações.

Mesmo com a ascensão de Iheanacho na última temporada, uma necessidade urgente era encontrar um atacante que pudesse ao mesmo tempo atuar ao lado de Jamie Vardy e assumir as rédeas quando o grande ídolo das Raposas se aposentar. Com 22 anos e 68 gols em 125 partidas pelo Red Bull Salzburg, Patson Daka é uma ótima tentativa. Rápido, inteligente, com faro de artilheiro e boa finalização.

Aproveitando que as finanças dos clubes franceses que não são financiados pela família real do Catar estão aos pedaços, o Leicester também contratou Boubakary Soumaré do Lille por € 20 milhões. Um volante muito promissor de 22 anos que talvez consiga fazer com que os jogos sem Wilfried Ndidi sejam menos dolorosos. Ryan Bertrand será uma importante opção de experiência para as laterais, uma das posições mais afetadas pelas lesões recentemente.

Jannick Vestegaard chegou do Southampton na véspera da primeira rodada para aumentar as opções na defesa, desfalcada com a lesão de Wesley Fofana na pré-temporada, e o Leicester ainda procura um jogador de lado de campo de primeiro nível que tem lhe faltado.

O elenco

A Supercopa mostrou um retorno ao 4-2-3-1 após terminar a temporada passada com três zagueiros – provavelmente porque não havia nem dois de verdade em condições de jogo. A formação com um trio na defesa buscava aproveitar principalmente a excelente fase de Iheanacho sem precisar tirar Jamie Vardy da partida. Antes, a que ganhou do Manchester City foi até mais utilizada. Até todo mundo estar disponível, impossível saber qual Rodgers priorizará. Nos amistosos de preparação, com Fofana ainda saudável, usou mais a linha de quatro na defesa.

Parece impossível, mas Kasper Schmeichel chega com ainda mais moral após a Euro 2020. Ricardo Pereira gostaria muito de tentar disputar uma temporada inteira na Inglaterra sem se machucar porque, quando conseguiu, em 2018/19, foi um dos melhores laterais direitos da Premier League. Timothy Castagne pode atuar nos dois lados, assim como o reserva James Justin, outro que perderá o começo da temporada por lesão. Ryan Bertrand chegou justamente para dar mais tranquilidade diante desses problemas físicos.

Fofana deve ficar pelo menos seis meses afastado após quebrar a fíbula e deslocar o tornozelo em amistoso contra o Villarreal. O retorno de Jonny Evans é esperando apenas para setembro, e Wes Morgan (finalmente) se aposentou. O único zagueiro de primeira disponível era Caglar Söyüncü, que foi acompanhado por Daniel Amartey contra o Manchester City em Wembley – soma apenas 29 jogos de Premier League pelo Leicester nos últimos quatro anos. Por isso, o Leicester foi atrás de Vestergaard, zagueiro alto e forte de 29 anos que estava no ano final do seu contrato com o Southampton.

Ndidi é o grande pilar do meio-campo e a perspectiva de perdê-lo para a seleção nigeriana que disputará a Copa Africana de Nações em janeiro já deve tirando o sono de Rodgers. Hamza Choudhoury e Nampalys Mendy fazem um trabalho ok quando o substituem, e Soumaré chegou para tentar ser um escudeiro melhor. O volante dá sustentação para a dupla de armadores criativos formada por Youri Tielemans e James Maddison, que ainda precisa reencontrar o seu melhor futebol.

Outro grande gargalo do elenco está nas pontas porque Ayoze Pérez e Harvey Barnes são os únicos com essa característica e não estão conseguindo atuar bem com regularidade – Barnes, especialmente, teve uma queda de rendimento preocupante. Vardy ainda é o principal atacante, mas foi superado nos números por Iheanacho na última temporada (19 gols x 17). Daka aumentará a concorrência nesse setor.

O técnico

Brendan Rodgers teve que dar um passo atrás para dar dois à frente. Sempre foi um excelente acertador de time que ganhou destaque ao comandar o “Swanselona” (eu juro que isso existiu) antes de receber a chance da carreira ao ser convidado para comandar o Liverpool. Fez um trabalho de altos e baixos, entre chegar perto do título da Premier League em 2013/14 e se despedir de Steven Gerrard levando 6 a 1 do Stoke City. Ninguém conseguiu contestar a decisão de demiti-lo para dar espaço a Jürgen Klopp. Subiu um pouquinho mais a ilha para comandar o Celtic e fez história ao conquistar títulos no atacado. Retornou à Premier League para tirar o Leicester de Claude Puel do marasmo e está entregando ainda mais do que se esperava. Até Nuno Espírito Santo mostrar que Tottenham está montando, Rodgers comanda o time mais forte e seguro da Inglaterra depois de City, United, Liverpool e Chelsea. Não é pouca coisa.

Expectativa para a temporada

Então… apesar de todos os elogios que o Leicester merece, e do bom mercado que está conduzindo para ampliar o seu leque de opções, esta é uma temporada em que o G4 parece muito inflexível. Difícil imaginar o campeão europeu reforçado por Romelu Lukaku, o vice-campeão inglês reforçado por Jadon Sancho e Raphaël Varane, o Liverpool inteiro ou o Manchester City ficando fora das quatro primeiras posições. Mas o Leicester tem que ficar esperto porque uma epidemia de lesões pode sempre mudar o panorama e o clube tem um histórico recente de conseguir o impossível. Talvez seja uma oportunidade de focar um pouco mais nas copas, especialmente na Liga Europa, e buscar o quinto lugar pela terceira vez seguida, o que historicamente seria um grande feito ao clube.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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