Guia da Premier League 2021/22 – Crystal Palace: Reconstrução
Patrick Vieira está de volta à Premier League e a Londres com uma missão difícil: tornar o Crystal Palace divertido

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Cidade: Londres
Estádio: Selhurst Park (25.456 pessoas)
Temporada passada – 14º lugar
Garantiu a continuidade da maior sequência do Crystal Palace na elite do futebol inglês, entrando no nono ano. Passou novamente na base do mínimo esforço possível e até aquelas vitórias esporádicas sobre os grandes rarearam. A única foi na segunda rodada, contra o Manchester United. Houve alguns outros bons jogos, como a goleada sobre o Leeds. Com Roy Hodgson, nunca fugiu muito disso: estabilidade, segurança e os pontos necessários para ficar na Premier League.
Hodgson talvez tenha levado em conta os sinais de desgaste quando decidiu ir embora. Das quatro temporadas em que foi o comandante do Selhurst Partk, a última foi a que mais perdeu partidas do Campeonato Inglês (18), de longe a que mais levou gols (66), estranho a um time que se baseia em um forte sistema defensivo, e o ataque, embora tenha melhorado em relação aos pífios 31 gols de 2019/20, seguiu muito fraco (41).
Houve três boas notícias. Wilfried Zaha teve a sua temporada mais artilheira na Premier League, com 11 gols. Christian Benteke renasceu das cinzas e marcou 10 vezes. Não chegava aos dois dígitos desde 2016/17, quando chegou ao Crystal Palace. E Eberiche Eze teve lapsos do ótimo jogador que o clube espera que ele seja – antes de machucar o tendão de Aquiles na reta final do campeonato. Decepção enorme ao garoto que havia sido notificado da sua primeira convocação para a seleção inglesa. Faria parte do grupo provisório para a Euro 2020. Agora, perderá boa parte da próxima campanha, grande dor de cabeça ao novo técnico Patrick Vieira.
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Mercado
Principais chegadas: Marc Guehi (Chelsea), Joachim Andersen (Lyon), Michael Olise (Reading), Remi Matthews (Sunderland), Conor Gallagher (Chelsea)
Principais saídas: Andros Townsend (Everton), Patrick van Aanholt (Galatasaray), Mamadou Sakho (Montpellier), Wayne Hennessey (Burnley), James McCarthy (Celtic), Gary Cahill (sem clube), Scott Dann (sem clube)
É a maior reformulação pela qual o Crystal Palace passa desde que subiu à Premier League. Cinco jogadores com presença constante no time de Hodgson, Sakho, que atuou pouco na última temporada por problemas físicos, e o goleiro reserva Hennessey foram embora. Ampliando o que já seria uma temporada de incerteza por causa da troca de comando, o Palace apostou em juventude ao buscar as reposições. E foi buscá-las em dois lugares familiares: a Championship e o Chelsea.
Marc Guéhi, 21 anos, fez apenas duas partidas pelos Blues, mas foi titular do Swansea na segunda divisão. Participou de toda a campanha que levou o clube galês à final dos playoffs, depois de seis meses emprestado no começo de 2020. Também para a zaga chegou o dinamarquês Joachim Andersen, que deu uma ajeitadinha (dentro do possível) na zaga do Fulham. Foram os dois principais investimentos, em um total combinado de € 40 milhões, para suprir as saídas de Cahill e Dann e rejuvenescer a defesa.
Para o setor criativo, arrebatou os serviços de Michael Olise, eleito o melhor jovem da última temporada da Championship e integrante da seleção do campeonato. Pelo Reading, o meia-atacante de 19 anos marcou sete vezes e deu 12 assistências em 44 rodadas. Uma aposta para compor uma dupla eletrizante com Eze no futuro. Outro que teve uma boa participação recente na segunda divisão (e uma menos boa na Premier League pelo West Brom) é o meia Conor Gallagher, cedido pelo Chelsea.
Por fim, pela primeira vez em muito tempo, praticamente não houve especulações fortes de que Wilfried Zaha está afim de ir embora, entrando nos últimos dois anos do seu contrato. Quem sabe isso quer dizer que dessa vez ele realmente vai? Vamos aguardar.
O elenco
A necessidade de renovar era realmente urgente porque, mesmo com as saídas de tantos veteranos, os pilares do Crystal Palace seguem mais perto dos 30 anos. A formação básica de Hodgson era um 4-4-2 clássico: linha de quatro na defesa, dois volantes, geralmente James McArthur e o capitão Luka Milivojevic, Andros Towsend correndo pela direita, Eze aberto à esquerda, e Zaha acompanhado de Benteke ou Ayew no ataque. Houve variações para o 4-2-3-1, com Zaha abrindo pela esquerda e Eze centralizando como camisa 10, ou para o 4-3-3, com a promessa inglesa compondo um trio de meio-campo.
Mas isso ficou no passado. Muitos titulares foram embora e tudo depende do que está na cabeça de Vieira. Nos amistosos de preparação, armou um 4-3-3, com força no meio-campo e velocidade pelos lados com Ayew e Zaha, e sempre usando pelo menos um centroavante – Benteke, o jovem Robert Street ou Jean-Philippe Mateta, contratado por empréstimo do Mainz em janeiro e que fez apenas um gol em sete jogos pelo clube londrino.
Isso indica um time que buscará roubar a bola no meio-campo e contra-atacar em velocidade, o que é um bom sinal porque não foge muito do que vinha sendo feito com Hodgson, mas, se Vieira cobrar mais agressividade, pressão e uma marcação alta, pode gerar uma equipe que entretenha um pouco mais os torcedores.
O técnico
Vieira está de volta à Premier League. Isso é muito legal. Está de volta a Londres. Também muito bacana. E agora a missão é provar que é realmente um bom treinador. Não foi a primeira opção do Palace, que tentou até o fim a contratação de Lucien Favre. O ex-volante teve duas boas temporadas pelo New York City na Major League Soccer e levou o Nice a um excelente quinto lugar no Campeonato Francês antes de ser demitido no final do ano passado, após cinco derrotas consecutivas. Deu sinais promissores, sim, mas ainda não passa de uma aposta, e na última vez que o Palace apostou…
Expectativa para a temporada
Lembre-se deste nome: Frank de Boer. Em 2017, o Palace também tentou substituir um técnico mais old school e britânico com um jovem promissor de uma escola diferente. Foi um desastre. O treinador da Holanda na Euro 2020 durou 77 dias no Selhurst Park, demitido após quatro derrotas seguidas no começo da Premier League. Então fica a dica a Vieira: tente ganhar pelo menos um dos quatro primeiros jogos.
Após De Boer, Vieira é a segunda tentativa da diretoria do Palace de mudar um estilo de jogo que, na época da demissão do holandês, foi descrito pelo presidente do clube, Steve Parish, como “enraizado na segunda divisão, na qual é mais barato jogar no contra-ataque”. Esse plano havia sido peremptoriamente abandonado por quatro anos com a contratação de Roy Hodgson, que deu ao Palace uma muito confortável estabilidade.
Agora, o clube de Londres volta a ambicionar um pouco mais da vida, não apenas comida, mas comida, diversão e arte. Logo, não basta a Vieira escapar do rebaixamento como todos os treinadores do Palace fizeram nos últimos oito anos. Precisa também divertir um pouco mais a galera.