As diferenças táticas entre Alonso e Klopp que podem atrapalhar o Liverpool
Xabi Alonso deve ser o substituto de Klopp no Liverpool, mas terá dificuldade com algumas diferenças táticas

É o que quase todos pensam, o que muita gente já projeta: Xabi Alonso substituirá Jürgen Klopp no Liverpool ao término da atual temporada. Hoje conduzindo um irresistível Bayer Leverkusen, líder da Bundesliga, o espanhol possui uma forte identificação com os Reds pelo período como jogador. Se mostrando um técnico de qualidade, é o caminho natural. No entanto, apesar de muito competente, terá uns percalços no caminho para adaptar o elenco (ou se adaptar) ao estilo de jogo, um tanto diferente do que é implementando pelo treinador alemão em Anfield desde outubro de 2015.
Confira algumas das distinções entre os trabalhos, que pode (caso Alonso assuma mesmo o clube inglês) atrapalhar o início da trajetória do ídolo dentro do campo como técnico no Liverpool.
Lançamentos x jogo pelo chão, pressão menos intensa e esquema tático: as diferenças de Klopp e Alonso
Como as equipes mais competitivas da Europa, o Liverpool de Klopp e o Leverkusen de Alonso gostam de ter a posse de bola, constroem o jogo desde a defesa pelo chão, possuem linhas de defesa altas para pressionar o adversário no campo de ataque e sabem construir com paciência, rodando a bola de um lado para o outro em busca de espaço. No entanto, os Reds utilizam (e muito) algo que o clube alemão não gosta: lançamentos. Agora atuando mais por dentro, Trent Alexander-Arnold tem apostado cada vez mais em bolas longas para os lados do campo (tem média de 5.4 certos por jogo na Premier League, o terceiro no quesito), buscando Mohamed Salah (como no golaço no empate com o Arsenal) ou Darwin Núñez, dupla que pode ser acionada em diagonal ou explorando o corredor. Os zagueiros Virgil van Dijk e Ibrahima Konate também utilizam bem os lançamentos desde o grande círculo. Na temporada, os três citados são quem dão passes em progressão nos Reds.
Os Aspirinas, por outro lado, são totalmente adeptos ao jogo pelo chão – sempre. Com uma saída feita pelo trio de zagueiros, a equipe joga muito por dentro, a partir das movimentações e combinações dos volantes Granit Xhaka e Exequiel Palacios. Ao receber atrás da pressão dos atacantes, a dupla busca acionar os homens entre as linhas adversárias, normalmente Florian Wirtz e Jonas Hofmann.
Duas estatísticas evidenciam essas diferenças. Na Bundesliga, o Bayer troca, em média, 616 passes por rodada, enquanto no Campeonato Inglês o clube de Anfield soma 489 por partida. No quesito bola longa, aí considerando a Liga Europa que ambos atuaram na fase de grupos, a diferença é gritante: 25.3 a 14.7 para o Liverpool.
A aposta do Leverkusen em jogar só pelo chão, no entanto, não impede que a equipe de utilizar o contra-ataque. Quando recupera a bola e tem espaço, parte para cima sem medo, principalmente porque tem os ótimos e velozes Victor Boniface e Jeremie Frimpong. No Campeonato Alemão, eles conseguiram 36 chutes a partir de contra golpes, segundo o The Analyst, de longe o líder no quesito.
Replicando o esquema tático e as funções dos jogadores do Leverkusen no Liverpool, também teriam diferenças. Alonso é um fã absoluto do 3-4-3 – mesmo que no time B da Real Sociedad tenha usado linha de quatro – e adepto ao ataque posicional (pela influência de Pep Guardiola em Alondo dos tempos de jogador). Neste cenário, Arnold voltaria a ser um jogador de lado de campo, praticamente o tempo colado à linha lateral, enquanto Andy Robertson, em boas condições físicas, exerceria a mesma função na esquerda. Salah, que adora partir de dentro para fora, jogaria mais centralizado, se aproveitando das costas da defesa adversária.

Também há uma pequena diferença na forma de ambos em pressionar no campo de ataque. Adepto ao Gengenpressing, a pressão incessante (Heavy Metal, como diria Klopp) que sufoca o adversário pela presença de vários jogadores do Liverpool ao redor do portador da bola, o time permite aos adversários apenas 9,2 passes por ação defensiva (PPDA, na sigla em inglês). Essa métrica, que ajuda a avaliar pressões, consiste em considerar quantas vezes um time deixa que o outro troque passes até executar uma ação defensiva – interceptação, roubada de bola ou corte -, certa ou errada. Se os Reds são líderes na estatística Premier League, o Leverkusen, que permite 13,8 PPDA, é apenas o oitavo na Bundesliga.
Mesmo no curto período como técnico (três anos na Sociedad B e uma temporada e meia no Leverkusen), Xabi Alonso se mostrou um técnico de elite que pode se adaptar a diferentes contextos, como o elenco do Liverpool. Ele não deve chegar (se chegar) mudando tudo, com o pé na porta, mas também não quer dizer que algumas alterações não podem ser bem-vindas. Influenciado por José Mourinho e Carlo Ancelotti, o espanhol sabe bem como gerir um grupo de jogadores e mobilizá-lo.