Inglaterra

Como Klopp, Ancelotti e Guardiola apoiaram Alisson no momento mais difícil da vida

Goleiro sofreu com morte trágica do pai em 2021 e recebeu uma onda de solidaridade no mundo do futebol

O goleiro Alisson Becker viveu uma tragédia em fevereiro de 2021. Em meio à pandemia da Covid-19, o pai do jogador morreu depois de um mergulho em uma barragem no Rio Grande do Sul. À época, no meio da temporada pelo Liverpool, ele não pôde viajar ao Brasil para acompanhar o funeral pelas restrições e contou com o apoio de grandes nomes do futebol, como contou em carta publicada pelo site “The Players' Tribune”.

Nos momentos posteriores a sua perda, o arqueiro da seleção brasileira recebeu uma onda de solidariedade de seus colegas e até de adversários. Entre as flores que recebeu dos compatriotas Roberto Firmino, Fabinho, Thiago Alcântara e outros colegas dos Reds, também chegaram duas cartas de condolências de Pep Guardiola, técnico do Manchester City, e de Carlo Ancelotti, à época no Everton, principal rival da cidade.

— Os dois ou três dias seguintes foram nebulosos. A primeira coisa que me lembro foi de todas as flores chegando em nossa casa. De Virgil Van Dijk, do Andy Robertson, do Fabinho, do Firmino, do Thiago… e assim por diante. Todos os meus irmãos. Todos nos enviaram flores, manifestando seus sentimentos — detalhou Alisson.

— E não apenas dos meus companheiros de equipe, mas também de Pep Guardiola e Carlo Ancelotti, que me enviaram cartas de condolências. Isso realmente tocou meu coração. A cada 10 minutos, havia outra batida na nossa porta, com um entregador segurando flores. Não acho que essas pessoas consigam entender o quanto aquele pequeno gesto representa quando você está sofrendo. Foi um lembrete de que até seus maiores rivais reconhecem o ser humano debaixo do uniforme — completou.

O papel ainda maior de suporte a Alisson dentro do futebol veio de Jürgen Klopp, então técnico do Liverpool e considerado por ele um “segundo pai”. Naquele momento, o time de Anfield estava em baixa e lutava por uma vaga na Champions League da temporada seguinte. O brasileiro, mal por perder os treinos, recebeu o afago do treinador.

— Nunca vou esquecer, Klopp me ligou, e eu estava me sentindo muito culpado por perder o treino, porque estávamos fora das quatro primeiras colocações, e precisávamos de todos os pontos possíveis. Mas Klopp me disse para levar o tempo que precisasse.

Alisson e Jürgen Klopp se abraçam após jogo do Liverpool, em 2022
Alisson e Jürgen Klopp se abraçam após jogo do Liverpool, em 2022 (Foto: Imago)

O alemão também lidou com a perda de figura paterna em um momento como o do goleiro e soube como compreender e apoiar o comandado.

— Klopp havia perdido seu próprio pai mais ou menos na mesma idade, e ele entendia muito bem a minha dor. Ele não era apenas um técnico para mim, era como um segundo pai. Acho que todos podiam ver isso. […] Houve tantos momentos que o público nunca vê, quando ele se sentava comigo no ônibus retornando depois de uma partida e brindávamos a vitória com uma cerveja como um verdadeiro alemão e um verdadeiro brasileiro. Klopp me permitiu ter tempo para cuidar das minhas dores, e poucos treinadores seriam tão compreensivos — finalizou.

Alisson conta bastidores do gol histórico que salvou temporada do Liverpool

Muriel, José Agostinho e Alisson Becker
Muriel, José Agostinho e Alisson Becker (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Um dos momentos mais marcantes do arqueiro no Liverpool foi pouco depois da morte do pai. Em maio do mesmo ano, em jogo em que os Reds empatavam por 1 a 1 com o West Bromwich pela 36ª rodada da Premier League, Becker decidiu se aventurar na área adversária em um escanteio aos 49 minutos do segundo tempo e marcou um gol para a eternidade.

— O que sei é que em seguida a bola está vindo na minha direção. Eu viro minha cabeça e caio no chão. Então estou cercado por um calor. Essa é a única maneira que posso descrever. Todos estão me abraçando. Thiago está me abraçando e chorando. Firmino está me abraçando, chorando e rindo ao mesmo tempo. Salah está comemorando como uma criança, pulando em cima de mim. Nunca o vi tão feliz depois que outro companheiro marcou um gol — disse.

Após a empolgação dos colegas, Alisson fez uma emocionante homenagem: apontou para o céu e relembrou de José Agostinho Becker. O gol histórico foi essencial para que a equipe se classificasse para Champions seguinte, na qual terminaram como vice-campeões em 2022.

— Foi ainda mais especial porque estávamos jogando com os estádios vazios, sem o grito da torcida, porque a única coisa que eu conseguia sentir era o amor dos meus companheiros de equipe, que me ajudaram a passar pelo momento mais difícil da minha vida. Todo o nosso banco, a equipe e os roupeiros… estavam todos gritando tão alto que parecia que estávamos diante das arquibancadas cheias novamente. Lembro que olhei para o céu e era um daqueles dias cinzentos e chuvosos na Inglaterra. Mas para mim, o céu estava cheio de luz. Eu disse: “Pai…. pai….. É para ti, pai” — contou Alisson.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
Botão Voltar ao topo