Holanda

Doença cardíaca de Van Basten coloca AZ em crise imprevista

O AZ chegou para a temporada atual do Campeonato Holandês com certo otimismo. Contratara Marco van Basten como técnico, mantivera grande parte do elenco e dos jogadores principais, teria somente a Eredivisie para jogar… enfim, tudo para fazer uma temporada, no mínimo, sem grandes problemas. Pelo menos, até esta semana. Porque, se o time ainda tem chances plenas de se recuperar por completo no campeonato, terá de fazê-lo sob uma turbulência ligeiramente imprevista.

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Os problemas começaram há três semanas. O AZ informou que Van Basten não treinaria a equipe no jogo contra o Dordrecht, no dia 30 de agosto, devido a uma arritmia cardíaca sofrida pelo treinador. Segundo o clube, a arritmia foi a consequência final de uma crise depressiva, desencadeada pela morte de Joop van Basten, pai de Marco, em 13 de julho, ocorrido em meio aos trabalhos de pré-temporada do AZ, na cidade holandesa de Epe. Joop, ex-jogador, fora o principal incentivador e figura decisiva na carreira do filho dentro das quatro linhas.

Para piorar, Van Basten começou a se exigir demais no trabalho com o AZ. Seu perfeccionismo (que, dizem, torna-o figura ainda mais arredia do que ele já é) estava interferindo pesadamente em seu trabalho. A preocupação excessiva com o trabalho e o baque causado pela perda do pai foram demais para ele, que ganhou duas semanas de licença com a arritmia que o vitimou. Sem problemas: o comando do AZ foi entregue ao auxiliar Alex Pastoor.

Até 15 de setembro, data marcada para o retorno de Van Basten, Pastoor provavelmente conduziria a equipe sem muitos problemas. Afinal, tem certa experiência, tendo treinado Excelsior, NEC – e até passado pelo Slavia Praga, na República Tcheca. Só que o destino começou a interferir já no começo de setembro: num amistoso contra o Mechelen, da Bélgica, durante as datas Fifa, o atacante Steven Berghuis, que vinha sendo o destaque dos Alkmaarders na campanha pelo Holandês, quebrou um osso do pé. Diagnóstico: dois meses fora.

Pior: na 5ª rodada, veio uma derrota para o Heerenveen, por 1 a 0. O AZ caiu para a 12ª posição. E uma notícia do diário “De Telegraaf”, na quinta anterior à derrota, despertou a dúvida: o jornal cravava que Van Basten deixaria o AZ na semana seguinte. A reunião entre o técnico e o clube, para a definição do futuro, já estava prevista desde que a licença a Van Basten fora dada, mas acabou sendo antecipada para o último domingo, de modo a diminuir a boataria acelerada desde a notícia.

A reunião foi dividida em dois dias. Mas na segunda, ao fim de tudo, a notícia aliviava a tensão: Van Basten voltaria ao AZ, solucionando o principal impasse entre ele e a direção. O técnico desejava retornar ao futebol, normalmente; a diretoria (leia-se o ex-jogador americano-holandês Earnest “Earnie” Stewart, diretor de futebol) pretendia afastá-lo definitivamente, até para evitar que os problemas de saúde de Van Basten desembocassem em algo mais grave no futuro.

Mas na terça, a explicação foi mais aprofundada. De fato, o técnico voltaria ao trabalho. Só não seria mais o técnico, tornando-se auxiliar de Alex Pastoor, efetivado no cargo. De quebra, Van Basten confirmou que deixaria definitivamente a carreira de treinador. Uma declaração durante a entrevista coletiva justificava perfeitamente a decisão: “Nos últimos anos, reconheci que o trabalho de ser técnico de futebol me custava muito, física e mentalmente. Por isso, decidi ser honesto comigo mesmo e com o AZ. Queria voltar ao trabalho no campo, mas não mais como técnico”.

Houve certa comoção com o fim abrupto da carreira de Van Basten, mas nada comparável a 1995, quando as lesões no tornozelo forçaram-no a por fim à carreira de jogador. Afinal de contas, bem ou mal, ele seguiria no futebol. E uma mudança de função já era prevista desde a notícia do “De Telegraaf”. Assim, aparentemente, as coisas estavam resolvidas: Alex Pastoor era o novo técnico do AZ, com Van Basten como seu auxiliar, agindo mais nas sombras. E tudo seguiria normal. Até esta quinta-feira, quando do nada veio a notícia: Pastoor estava fora do clube.

Earnie Stewart deu uma declaração meio enigmática: “Após a decisão de tornar Marco assistente, tínhamos a intenção de deixar Alex com o cargo de treinador. E oferecemos a ele um contrato melhorado. Ele não achou que era melhor. E após a última conversa, achamos melhor que cada um seguisse o seu caminho”. As revelações seguintes esclareceram tudo: o técnico efetivado queria assinar um contrato de dois anos, duração do compromisso anterior, assinado como auxiliar. O AZ oferecia apenas um ano. Sem definição, a saída foi inevitável.

De quebra, o demissionário informou que entraria em contato com a VVCS, a associação holandesa de jogadores profissionais, para conseguir manter sua função de auxiliar. Foi definitivo, em entrevista à FOX Sports holandesa: “Quero meu emprego de volta”. Até para evitar ainda mais incertezas, o AZ confirmou Dennis Haar, interino tradicional, como técnico contra o Zwolle, no próximo sábado – com Van Basten no banco. E já está atrás de um novo técnico: John van den Brom, ex-Anderlecht, é o grande favorito, com Bert van Marwijk correndo por fora.

Só que os jogadores já se mostram meio atrapalhados com a roda-viva que tomou conta do cargo de técnico. O armador Gudelj definiu: “Eu tenho a sensação de que entramos num redemoinho. Não se pode dizer que isso não mexe com você”. O lesionado Berghuis foi mais sucinto, mas nem por isso menos claro: “Eu não esperava”. Independente da atuação do time em campo (e Berghuis fez questão de dizer que a incerteza “não é desculpa”), está claro: a saída de Alex Pastoor foi um lance a jogar o clube numa crise inesperada. E pouco desejada.

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