A jornada da atacante de Gales que trabalhou na prisão e estreará na Euro Feminina
Atacante de 32 anos vai viver primeira Eurocopa Feminina com a seleção do País de Gales

O futebol reúne as mais diferentes histórias de torcedores, técnicos e jogadores, sejam vivências pessoais ou profissionais. Uma dessas histórias inesperadas faz parte da trajetória Rachel Rowe, atacante do País de Gales que disputará a Eurocopa Feminina.
Ainda construindo os seus passos para se tornar uma jogadora profissional, Rowe dividia os compromissos com o futebol com uma função de suporte operacional dentro dos muros da prisão masculina de 160 anos, que fica na Baía de Swansea.
— Eu tive vários empregos. Saí da faculdade e tive que trabalhar. Trabalhei na B&M e depois fui para o serviço prisional. Temos diferentes gerações no nosso grupo que tiveram experiências diferentes: aqueles que vão para a faculdade e se tornam jogadores de futebol em tempo integral a partir daí, mas a minha jornada foi completamente diferente, mas me moldou na pessoa que sou hoje — contou em entrevista à BBC.
Mas a divisão de funções não foi apenas ao serviço público na unidade prisional. Rowe ainda teve a experiência como aprendiz de administração de empresas no governo galês, até receber as primeiras oportunidades.
As primeiras (e poucas) chances aconteceram no Swansea, ainda na temporada 2009/10, onde atuou em seis jogos ao longo de três temporadas. Em seguida, foi para o Cardiff City, onde também teve rápida contribuição, com apenas três jogos em duas temporadas.

A jornada era exaustiva para realizar o sonho de viver do futebol — enquanto precisava atuar em outras atividades — esteve presente ao longo de aproximadamente seis anos, quando Rachel recebeu a chance de se tornar semiprofissional no clube inglês Reading FC.
Três vezes por semana, Rowe costumava fazer a viagem de ida e volta de 480 quilômetros de Swansea a Berkshire, após um dia inteiro de trabalho. Ela chegava em casa depois da meia-noite e, como contou à BBC, acordava vestida com seu uniforme, pronta para fazer tudo de novo.
— Fiz isso por um ano e estava exausta. Felizmente, vencemos a liga, o que nos levou à WSL (campeonato inglês feminino) — relembrou a jogadora.
E foi no clube onde conseguiu alavancar a sua carreira. Pelo Reading, Rachel atuou em 139 jogos, marcando 17 gols em oito temporadas. Depois, seguiu para uma passagem pelo Rangers por um ano, antes de uma transferência para o Southampton em 2024.
— A oferta de um contrato profissional mudou minha vida, mesmo que o salário envolvido não fosse nada comparado ao pago aos jogadores de primeira linha. Já faz 10 anos desde que [me tornei totalmente profissional], o que realmente parece estranho — relatou à BBC.
Consolidação na seleção do País de Gales e vaga inédita na Eurocopa
Ao longo do processo, a atacante ganhou títulos em Glasgow, teve novas experiências no Saints e precisou lidar com lesões graves. Apesar das dificuldades durante a carreira, Rachel conquistou a consolidação na equipe nacional, onde passou a ser peça fundamental no crescimento do futebol do País de Gales na última década.
Em 2025, a atacante de 32 anos entra em um novo capítulo da sua vida e carreira: disputará, pela primeira vez, a Eurocopa na estreia da seleção na competição. A consolidação do sonho se materializou durante a chegada à competição.
— Quando chegamos aqui e vimos o ônibus com todos os logotipos da Euro, foi uma questão de engolir tudo e não ficar com lágrimas nos olhos porque realmente parecia real. Acho que todos os jogos serão assim porque é um momento precioso do qual todos nós podemos participar — explicou à BBC.

Este ano, o torneio acontece na Suíça, com a estreia das galesas neste sábado (5), contra a Holanda. E, apesar do nervosismo para a primeira partida, Rachel relembra a importância de conquistar a vaga na competição, a representatividade para o futebol feminino do país e destaca a emoção em vivenciar um momento histórico para a seleção do País de Gales.
— Acho que todos os jogos serão assim [emocionantes] porque é um momento precioso do qual todos nós podemos participar. Estamos nos preparando para sábado, controlando o nervosismo. Seria uma injustiça para nós mesmos se chegássemos aqui, sentíssemos toda a pressão e não gostássemos de estar aqui — reforça.
Não foi fácil chegar a esta posição. Vocês estão sobre os ombros de muitas pessoas que se esforçaram muito por duas ou três décadas para nos levar a esta posição, e nós as trazemos conosco. Tenho algumas memórias incríveis desde que cheguei aqui e não acho que seria tão especial se eu não tivesse passado por tudo isso.