Futebol feminino

A jornada da atacante de Gales que trabalhou na prisão e estreará na Euro Feminina

Atacante de 32 anos vai viver primeira Eurocopa Feminina com a seleção do País de Gales

O futebol reúne as mais diferentes histórias de torcedores, técnicos e jogadores, sejam vivências pessoais ou profissionais. Uma dessas histórias inesperadas faz parte da trajetória Rachel Rowe, atacante do País de Gales que disputará a Eurocopa Feminina.

Ainda construindo os seus passos para se tornar uma jogadora profissional, Rowe dividia os compromissos com o futebol com uma função de suporte operacional dentro dos muros da prisão masculina de 160 anos, que fica na Baía de Swansea.

— Eu tive vários empregos. Saí da faculdade e tive que trabalhar. Trabalhei na B&M e depois fui para o serviço prisional. Temos diferentes gerações no nosso grupo que tiveram experiências diferentes: aqueles que vão para a faculdade e se tornam jogadores de futebol em tempo integral a partir daí, mas a minha jornada foi completamente diferente, mas me moldou na pessoa que sou hoje — contou em entrevista à BBC.

Mas a divisão de funções não foi apenas ao serviço público na unidade prisional. Rowe ainda teve a experiência como aprendiz de administração de empresas no governo galês, até receber as primeiras oportunidades.

As primeiras (e poucas) chances aconteceram no Swansea, ainda na temporada 2009/10, onde atuou em seis jogos ao longo de três temporadas. Em seguida, foi para o Cardiff City, onde também teve rápida contribuição, com apenas três jogos em duas temporadas.

Borehamwood, England, March 12th 2023: Rachel Rowe (23 Reading) in action during the Barclays Womens Super League game b
Rachel Rowe em passagem pelo Reading FC (Foto: IMAGO / Sports Press Photo)

A jornada era exaustiva para realizar o sonho de viver do futebol — enquanto precisava atuar em outras atividades — esteve presente ao longo de aproximadamente seis anos, quando Rachel recebeu a chance de se tornar semiprofissional no clube inglês Reading FC.

Três vezes por semana, Rowe costumava fazer a viagem de ida e volta de 480 quilômetros de Swansea a Berkshire, após um dia inteiro de trabalho. Ela chegava em casa depois da meia-noite e, como contou à BBC, acordava vestida com seu uniforme, pronta para fazer tudo de novo.

— Fiz isso por um ano e estava exausta. Felizmente, vencemos a liga, o que nos levou à WSL (campeonato inglês feminino) — relembrou a jogadora.

E foi no clube onde conseguiu alavancar a sua carreira. Pelo Reading, Rachel atuou em 139 jogos, marcando 17 gols em oito temporadas. Depois, seguiu para uma passagem pelo Rangers por um ano, antes de uma transferência para o Southampton em 2024.

— A oferta de um contrato profissional mudou minha vida, mesmo que o salário envolvido não fosse nada comparado ao pago aos jogadores de primeira linha. Já faz 10 anos desde que [me tornei totalmente profissional], o que realmente parece estranho — relatou à BBC.

Consolidação na seleção do País de Gales e vaga inédita na Eurocopa

Ao longo do processo, a atacante ganhou títulos em Glasgow, teve novas experiências no Saints e precisou lidar com lesões graves. Apesar das dificuldades durante a carreira, Rachel conquistou a consolidação na equipe nacional, onde passou a ser peça fundamental no crescimento do futebol do País de Gales na última década.

Em 2025, a atacante de 32 anos entra em um novo capítulo da sua vida e carreira: disputará, pela primeira vez, a Eurocopa na estreia da seleção na competição. A consolidação do sonho se materializou durante a chegada à competição.

— Quando chegamos aqui e vimos o ônibus com todos os logotipos da Euro, foi uma questão de engolir tudo e não ficar com lágrimas nos olhos porque realmente parecia real. Acho que todos os jogos serão assim porque é um momento precioso do qual todos nós podemos participar — explicou à BBC.

Wales v Republic of Ireland – UEFA Women’s Euro 2025 Qualifying – Play Offs – Round 2 – 1st Leg – Cardiff City Stadium
Rachel Rowe em atuação pela seleção do País de Gales (Foto: IMAGO / PA Images)

Este ano, o torneio acontece na Suíça, com a estreia das galesas neste sábado (5), contra a Holanda. E, apesar do nervosismo para a primeira partida, Rachel relembra a importância de conquistar a vaga na competição, a representatividade para o futebol feminino do país e destaca a emoção em vivenciar um momento histórico para a seleção do País de Gales.

— Acho que todos os jogos serão assim [emocionantes] porque é um momento precioso do qual todos nós podemos participar. Estamos nos preparando para sábado, controlando o nervosismo. Seria uma injustiça para nós mesmos se chegássemos aqui, sentíssemos toda a pressão e não gostássemos de estar aqui — reforça.

Não foi fácil chegar a esta posição. Vocês estão sobre os ombros de muitas pessoas que se esforçaram muito por duas ou três décadas para nos levar a esta posição, e nós as trazemos conosco. Tenho algumas memórias incríveis desde que cheguei aqui e não acho que seria tão especial se eu não tivesse passado por tudo isso.

Foto de Carol Guerra

Carol GuerraRedatora de esportes

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), com passagens pelo Globo Esporte, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco.
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